Lavanda Lullaby - Capitulo 02
Lavender Lullaby
Capítulo 2: Véspera de Ano Novo
*J-Jesus Cristo! Ele está sangrando demais!*
Os lábios do menino de cabelos escuros estavam ficando um pouco azuis. Não havia tempo a perder. Ignorando o pedido anterior do jovem de manter sua distância, Joseph aproximou-se dele, sentado na cadeira mais próxima.
Ele segurou sua mão esquerda, que já estava tão suada e fria, e o outro menino tremia, com os olhos bem abertos em descrença.
“Eu lhe disse para…”
“Deixe-me ajudá-lo. Eu sou médico”.
“Não fale comigo, doutor”. O menino de cabelos escuros se retirou da mão de Joseph, puxando seu manto sobre sua lesão. Suas mãos estavam tremendo à vista de todos, mas ele também estava carrancudo. Seus olhos âmbar eram como os de um falcão ferido, pronto para ir contra o médico se ele se atrevesse a tocá-lo novamente.
A mão de Joseph doía onde o jovem a tinha esbofeteado.
” Com licença? Você está sangrando como um porco abatido!”
“SILÊNCIO!”
“Por que diabos você está sendo tão mal-educado? Só estou tentando ajudar, por…”
Ele voltou a si quando o outro garoto começou a ofegar novamente. A gritaria deve tê-lo feito ficar sem fôlego.
O garoto de cabelos escuros levantou a cabeça, os olhos meio fechados, e uma rápida linha de suor correu de sua testa até seu queixo, pintado com as luzes laranja e vermelha da taverna. Seus olhos encontraram os de Joseph.
“Se al-alguém lhe perguntar você… v-você… não me conhece. E eu… s-só… que-ria… sen-sentar-me”.
Joseph abriu a boca confuso a tal comando.
BAAAAAAMMMM!
Um estrondo repentino assustou os rapazes e todos na taverna.
Alguém arrombou a porta da frente.
Joseph viu três homens, todos vestidos com uniformes cinzentos e pretos chapéus tricornados. Dois deles eram enormes, com bigodes grossos e espadas desembainhadas, e eles vistoriaram todo o edifício com seus olhos. O terceiro, muito provavelmente seu líder, era menor, mas ainda tinha um físico musculoso. Em seus chapéus e casacos, havia um brasão com uma cruz, uma espada e um ramo de árvore. Esse era o casaco de armas da Ordem dos Jesuítas.
“Guardas? Guardas da Igreja?”
O “líder” foi imediatamente ao balcão da Sra. Nováková. A pobre mulher, em seus trajes folclóricos festivos para celebrar o Ano Novo, estava tão pálida. Seus cinco filhos, que a ajudaram com os clientes, a cercaram. Joseph nunca havia visto uma briga lá, mesmo com muitos clientes estrangeiros. É por isso que ele gostava tanto de estar lá.
“Desculpe meus modos, senhora… Trabalhamos para a Igreja Romana e viemos prender um criminoso perigoso, em nome do Arcebispo de Beenhower”.
Ele tirou uma folha amarrotada de seu casaco e a colocou sobre o balcão. Foi provavelmente um mandato de busca, dada a preocupação que a senhora e seus filhos trocaram.
“Gostaríamos de procurar por aí, certo?”
“Oh! É claro, senhor!”
Antes que ela pudesse terminar sua afirmação, os guardas do tamanho de um gorila já estavam fazendo seu percurso entre as mesas, na direção de Joseph, com espadas prontas.
Joseph não sabia se estava mais aterrorizado com os guardas ou com o fato de que todos os olhos da taberna estavam sobre ele, e isso poderia arruinar para sempre seu precioso anonimato.
“Eles estão vindo para cá!”
“E-eles estão atrás de mim. Fa-faça o que eu lhe disse, por-por favor”. O de cabelos escuros menino respirou fundo, reunindo suas forças. Ele apoiou seu peso sobre a mesa com as mãos, e ficou de pé em um instante.
Joseph pensava que estava planejando fugir antes que os homens pudessem chegar à mesa, mas antes que ele pudesse dar um passo, o jovem foi cercado com três espadas no pescoço.
“Eu imploro a você para não incitar nenhum drama, meu príncipe, pois este lugar é cheio de pessoas inocentes”, o guarda mais baixo assobiava no ouvido do garoto.
Os olhos de Joseph arregalaram.
“Príncipe?”
O “príncipe” lutou um pouco, mas foi facilmente contido pelos braços de guarda tipo gorila.
“Seria uma grande infelicidade para seu pai… se alguém fosse ferido por sua causa, não acha?” disse o guarda, segurando o rosto do garoto, obrigando-o a olhar para cima e expondo sua garganta à espada.
Um dos outros guardas lhe deu um soco em suas costelas, perto da lesão.
“Ugh…” Ele cambaleou, com falta de ar, mas os guardas o mantiveram de pé.
Joseph engoliu em seco.
O rapaz estava prestes a desmaiar devido à lesão, e eles pareciam estar brincando com ele, como fazem os pirralhos malvados quando caçam um animal.
Mesmo que ele fosse realmente um criminoso… isso não parecia certo. Especialmente vindo de alguém que trabalhava para a igreja.
“Se você não nos seguir em silêncio, mataremos todos nesta taverna e enviem suas cabeças para seu pai”.
O príncipe ergueu a cabeça, seus olhos de falcão brilhando de raiva e desespero. Os outros clientes não ouviram, mas Joseph ouviu, em alto e bom som.
A noite do médico havia passado de saudades de sua família, de ouvir músicas de marinheiros, de compartilhar sua mesa com um estranho, para estar em perigo de ser executado por quais… razões?
Suas pernas estavam tremendo tanto que ele sabia que iria cair se tentasse fugir imediatamente.
Outra coisa de que meu pai deve se envergonhar, suponho…
Seus olhos não podiam desviar o olhar da tragédia shakespeariana que aconteceu bem diante dele, na qual ele agora tinha um papel não intencional, junto com todos na taverna.
O menino de cabelos escuros continuou falando, agora num tom mais baixo, rangendo seus dentes:
“Sua igreja mata pessoas inocentes por causa de seus negócios? Quem são os verdadeiros demônios aqui?”
N/T: Afrontoso esse “príncipe”, adorei… Uma crítica a igreja no nosso tempo já pode ser considerada um pecado, imagina na época em que eles estão que, além de serem extremamente regidos por ela, ainda tinham que obedecer tudo que as autoridades religiosas falavam…
O guarda sorriu em desdém e, ao invés de responder a pergunta do príncipe, olhou para Joseph.
“Você, rapaz! Você o conhece?”
O príncipe olhou para Joseph com olhos arregalados, tornando-se ainda mais pálido.
O jovem médico se lembrou de suas “ordens”.
Ele olhou para o guarda, carrancudo.
“Não-não. De jeito nenhum, senhor. Ele apenas pediu para compartilhar a mesa, já que, como você pode ver, esta taverna está em pleno funcionamento”.
O guarda ficou olhando para ele por um tempo, e Joseph manteve o olhar fixo.
“Muito bem. Pegue o príncipe e saia”.
Os guardas arrastaram o rapaz como se estivessem carregando um saco de batatas.
Entretanto, antes de lhe darem a volta, seus olhos encontraram os de Joseph.
E ele sorriu para ele. Um sorriso pacífico de alívio.
Joseph corou, e seu peito de repente se sentiu tão apertado. Ele percebeu alguma coisa…
O jovem havia recusado sua ajuda porque estava apenas se escondendo e não queria envolver pessoas inocentes.
O médico engoliu com força. Ele olhou novamente para seu prato vazio, apertando os punhos até se machucarem sob as luvas.
*Quem são os verdadeiros demônios aqui?*
Suas palavras ecoaram na cabeça de Joseph, seu coração pesado de remorso por gritar de volta para o rapaz quando ele estava apenas tentando poupar a todos.
*Como eu poderia ser tão imbecil? Se eu tivesse notado isso imediatamente, eu poderia ter sido de mais ajuda para ele.*
O jovem médico instintivamente levantou sua cabeça novamente para olhar para ele uma última vez.
O príncipe parou de repente, endireitando seu corpo.
“Mexa-se, Príncipe Cigano!”
De repente, ele pisou em um dos pés dos guardas como um cavalo selvagem, o empurrando no estômago do outro e socando o “líder” em seu queixo, fazendo o homem girar e perder seu equilíbrio.
“Whoaaa!! Belo soco, rapaz! Que rapaz!” Os homens na taverna agitaram seus copos em um brinde, completamente bêbados e desconhecedores de seu abate quase iminente.
Joseph não podia acreditar em seus olhos. Um pequeno sorriso de esperança se estendeu sobre seu rosto.
“EI!”
O guarda que tinha sido socado se recompôs, mas era tarde demais. O príncipe estava cambaleante, mas já correndo através da rua de pedra em direção aos cortiços.
“Eu vou te matar! SUA PRAGA!”. Os três trogloditas perseguiram-no novamente.
“Ei! Joseph, rapaz! Venha aqui e observe-os!” Dois homens o convidaram para ver a cena se desdobrar pela janela.
“Aquele rapaz está correndo para os cortiços. Somente aqueles que os conhecem muito bem podem navegá-los sem se perder”.
“Ele está acabado de vez. Se os guardas não o pegarem, os excêntricos e os gangsters lá dentro irão.”
O sorriso de Joseph desapareceu completamente. O “príncipe” ainda estava em perigo, e agora os guardas não eram a única ameaça.
Ele remexeu dentro de seus bolsos, pegando alguns trocados.
“Por favor, pague a Sra. Nováková pela cerveja, Sr. Adamovsky!”
“Er… É claro, rapaz!”
Antes mesmo de o homem poder levar as moedas, Joseph já estava no caminho para o outro lado da rua.