Lamba-me se puder - Capítulo 30
— Você só vai precisar de mim pelo resto da sua vida.
— Hã?
Koy deixou escapar um som meio confuso. Ashley sorriu de novo. Se continuava sorrindo daquele jeito, com certeza algo bom tinha acontecido. Koy pensou, mas logo inclinou a cabeça, confuso. O que poderia ter acontecido de bom enquanto estavam na cantina?
‘Será que foi o ingresso para o baile de boas vindas?’
Pensou, mas logo riscou essa ideia da cabeça. Ele tinha recebido os ingressos para ir com a namorada, e agora estava dizendo que queria ir com Koy? Com certeza não era por isso. Será que aconteceu alguma coisa com a namorada dele?
‘Talvez por isso ele queira ir comigo?’
‘Mas então, por que ele veio comprar o ingresso para o baile, afinal?’
Nada fazia sentido. O começo, o meio e o fim — tudo parecia fora de ordem.
‘O que está acontecendo?’ Não entendo nada!’
Com a cabeça toda embaralhada, Koy acabou se rendendo. Nada do que Ashley dizia fazia sentido. A única coisa clara era que, não importava o que Ashley dissesse, ele acabaria seguindo tudo sem questionar.
— Você vai mesmo? Comigo? No baile de boas vindas?
— Vou.
Ashley respondeu:
— Eu quero ir com você.
Aquela frase deixou Koy imensamente feliz, mas havia uma dúvida que ele não conseguiu conter.
— Dois garotos… podem ir juntos?
Ashley devolveu a pergunta, com a voz tranquila:
— Você não quer ir comigo?
— O quê? Não! De jeito nenhum, claro que eu quero!
Koy se agitou, abrindo os braços e gesticulando sem parar. Ashley sorriu de novo.
— Então tá tudo certo.
— Ah… Sim.
Parecia que tudo tinha se resolvido rápido demais, de um jeito meio confuso, mas, de qualquer forma, a decisão estava tomada. Koy, ainda com a expressão atordoada, olhou para Ashley que o encarou também — ou melhor, seus olhos se fixaram, sem querer, nos lábios entreabertos dele.
‘Quero beijá-lo.’
O impulso foi tão forte que ele precisou cerrar os punhos com força.
‘Segure-se, Ashley Dominic Miller. Você nem confessou seus sentimentos ainda.’
— Isso é tudo que falta?
Ashley de repente olhou ao redor e perguntou. Koy correu atrás dele, que já havia começado a andar.
— Ah, é. Só falta organizar essa parte aqui.
— Então vamos terminar logo.
— Hã?
Koy arregalou os olhos, surpreso, enquanto Ashley já levantava uma das caixas.
— Vamos terminar isso logo e sair daqui. Estou morrendo de fome.
— Espera, mas… isso é o meu trabalho. Eu posso fazer sozinho.
— Mas se fizermos juntos, terminamos mais rápido. Aí podemos sair para comer alguma coisa.
Ashley apontou para um canto vazio e perguntou:
— É ali que coloca?
— É… é, isso mesmo, mas…
Antes que Koy terminasse de falar, Ashley já tinha empurrado a caixa para a prateleira. Aquela mesma que Koy tinha que subir num banquinho para alcançar com esforço. O garoto resolveu o problema num instante.
— Tem mais?
Virando-se rápido, ele perguntou com naturalidade. Koy tentou impedi-lo de novo.
— Você não precisa fazer isso, Ash. Esse é o meu trabalho, eu ganho pontos de voluntariado com isso.
— Koy, eu estou com muita fome agora
Ele disse, suspirando fundo.
— Vamos terminar logo e sair. Você também não jantou, certo? Aquilo que você trouxe era seu jantar, não era?
Ashley lançou um olhar de soslaio. Koy, seguindo instintivamente o olhar dele, também olhou para a lixeira onde estava o saco de pão embolorado.
— Se não for pegar aquilo e comer, então vamos acabar logo com isso. Se ficar muito tarde, não vai ter nada para comer além de hambúrguer barato.
A determinação de Ashley era inabalável. No fim, Koy não conseguiu vencê-lo e acabou levantando as mãos em rendição. Enquanto organizavam o restante das coisas conforme as instruções, Ashley olhava de vez em quando na direção dele.
‘Não posso ter certeza se o coração dele sente o mesmo que o meu.’
Mesmo com o coração batendo enlouquecidamente, ele se forçou a manter a cabeça fria e analisar a situação com calma. Koy já havia dito várias vezes que gostava dele. Mas ele não podia se iludir.
‘Talvez, para ele, eu seja apenas um amigo. Um amigo por quem ele sente um carinho enorme.’
Era uma conclusão dura, mas realista. Mesmo que os sentimentos fossem recíprocos, era incerto se ele distinguiria isso de amizade. Claro, isso já era uma visão muito otimista da situação. Não era a conclusão mais agradável, mas Ashley reconheceu.
‘Talvez eu esteja começando a sentir uma paixão não correspondida.’
***
— Obrigado mesmo por hoje, Ash.
Koy agradeceu com sinceridade. Ashley, que havia retirado a bicicleta velha dele do porta-malas e colocado na calçada, olhou para ele e perguntou:
— Tem certeza de que vai ficar bem? Posso te levar até a sua casa.
— Sim, vou ficar bem. É só virar ali na esquina.
Ashley pareceu não gostar muito da ideia, mas também não insistiu. Ele sabia muito bem quando avançar e quando recuar. E agora era hora de recuar.
— Tá bom, Koy. Vá com cuidado.
Ashley se despediu primeiro, e Koy acenou de volta.
— Tchau, Ash. Dirija com cuidado.
Apesar de terem se despedido, nenhum dos dois se moveu. Ashley percebeu que Koy estava esperando ele ir embora primeiro. Se fosse um encontro oficial, Ashley teria levado Koy até sua casa, esperado até a luz do quarto acender e só então partido. Mas o tempo que passaram juntos hoje não foi um encontro. Então ele decidiu não se apressar.
Ashley entrou no carro, deu a partida, e Koy deu um passo para trás. Como esperado, ele ficou parado no mesmo lugar até que o carro sumisse de vista.
Depois de confirmar pelo retrovisor que Koy não estava mais à vista, Ashley parou o carro no acostamento.
— Haaaah…
Soltando um suspiro profundo, ele se curvou sobre o volante. Só então conseguiu aliviar toda a tensão acumulada.
Nunca tinha se sentido assim antes. Ariel não foi sua primeira namorada — ele já tinha se envolvido com outras pessoas. Todas eram boas companhias, houve sentimento, e mesmo os términos aconteceram de maneira amigável, deixando boas lembranças.
Mas nunca tinha ficado tão nervoso durante todo o tempo com alguém. Parecia que todas as células do seu corpo estavam em alerta para memorizar cada ação e palavra de Koy. Além disso, ele teve que se esforçar muito para conter o desejo de beijá-lo a todo momento.
‘Por que o Koy é tão adorável assim…’
Ele queria saborear um pouco mais aquela felicidade que transbordava, mas ainda havia algo que precisava fazer. Não podia esperar mais, nem adiar. Depois de verificar a hora, Ashley hesitou um pouco e enviou uma mensagem:
[Pode me encontrar rapidinho? Vou até a frente da sua casa.]
Alguns segundos depois, a notificação chegou.
[O que foi?]
[Vamos conversar pessoalmente.]
A resposta também chegou rapidamente.
[Tá bom. Me avise quando chegar.]
Ashley largou o celular e deu partida no carro. A caminho da casa de Ariel, ele se esforçou para esvaziar a cabeça. No fim das contas, ele era o culpado, estava preparado para aceitar qualquer acusação que Ariel fizesse.
E ele levou três tapas na cara.
***
O céu de fim de semana estava claro como sempre. Koy dormiu até mais tarde, algo raro, verificou a geladeira vazia – como de costume – e saiu de bicicleta para comprar comida. Embora tivesse comprado pães antecipadamente para o fim de semana, Ashley havia jogado tudo fora no dia anterior, deixando-o sem nada para comer.
Ele estava a caminho da loja onde costumava vender pães restantes do dia anterior, mas por impulso, mudou de direção e seguiu para a escola.
‘Vou dar uma volta maior se for por esse caminho…’
Mesmo pensando isso, Koy não parou. Provavelmente o time de hóquei estaria treinando naquela hora. Tinha passado a noite anterior com Ashley até tarde, mas queria vê-lo de novo.
Com o coração acelerado, começou a pedalar freneticamente.
Huff, huff…
Ofegante ao chegar na escola, permaneceu sobre a bicicleta enquanto percorria lentamente o campus, olhando para o campo esportivo. Observou o time de hóquei no gelo fazendo treinamento físico, procurou Ashley com os olhos, mas por mais que procurasse, não conseguia vê-lo.
— Ei, Bill!
Aproveitando uma brecha, Koy chamou Bill assim que o viu se afastando do grupo para beber água.
— Oi, Koy.
— Oi, Bill.
Koy respondeu o cumprimento rapidamente, ainda recuperando o fôlego, e foi direto ao assunto.
— Então… não vi o Ash por aí. Ele não veio hoje?
— Hm? Ah, sim.
Bill respondeu enquanto abria a garrafinha d’água.
— Ele disse que estava doente, então vai ficar uns dias de folga.
— O Ash tá doente?
Koy arregalou os olhos com a notícia inesperada. Bill virou a garrafa e bebeu a água de uma vez só. Depois de esvaziar os 500 ml, limpou a boca com as costas da mão e assentiu.
— É. Ele disse que era gripe.
— De novo?
Koy se lembrou da última vez em que Ashley tinha pegado uma gripe forte. Foi por causa daquela gripe que eles acabaram se aproximando, mas isso não queria dizer que ele ficou feliz em saber que Ashley estava doente.
— Ele está muito mal? Se não veio nem treinar…
E ainda por vários dias.
Quando perguntou com cuidado, Bill soltou uma risadinha.
— Vai saber. Bem, pode ser que esteja realmente doente… ou pode não ser um resfriado.
— Hã? Como assim?
Koy franziu o cenho, confuso, e Bill respondeu com naturalidade.
— Ele terminou com a Al. Você não sabia?
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Continua…