Lamba-me se puder - Capítulo 24
Era a primeira vez. Só de pensar que Ashley realmente havia ligado para ele, Koy ficou extremamente nervoso e perguntou novamente:
— O que foi? Ainda não dormiu?
Ao ouvir sua própria voz soar mais aguda e estranha do que o normal, seu rosto esquentou. Envergonhado, Koy abaixou a cabeça, e Ashley respondeu:
[Vou dormir agora… É só que… queria saber se você chegou bem.]
As últimas palavras vieram depois de uma pequena pausa. Koy sem perceber essa breve hesitação, respondeu com uma voz animada:
— Sim, cheguei bem. Estou na frente de casa agora.
[Na frente de casa?]
— Uhum.
Diante da pergunta de Ashley, Koy respondeu com sinceridade:
— Meu pai bebeu. Se eu entrar agora, não vai ser bom. Mas está tudo bem, ele vai dormir logo. E não está tão frio.
Era mentira. O vento frio da noite fazia seus ombros tremerem involuntariamente. O calor de ter pedalado já havia passado fazia tempo, e tudo o que restava era o ar gelado da noite.
[O quê?]
‘Droga.’
Ao ouvir Ashley repetir, Koy se sobressaltou. ‘Isso é ruim, ele está desconfiando.’ Ele tentou se explicar às pressas.
— Ah, não… É que quando meu pai bebe, ele sempre me segura e fica reclamando de tudo. Tenho que ficar ouvindo, e é chato, sabe.
[Mesmo assim, ficar na rua…]
— Está tudo bem, sério! Vou entrar logo. Não se preocupe.
Ele não queria que Ashley soubesse que, às vezes, era agredido pelo pai. Então, se esforçou ao máximo para manter o segredo.
‘Preciso mudar de assunto.’
Koy rapidamente desviou a conversa.
— Ah…., Ash, muito obrigado por hoje, foi o dia mais incrível da minha vida. Nunca vou esquecer esse jantar. O pôr do sol estava lindo, a comida estava ótima…
‘E você também estava lá.’
Seu rosto ficou imediatamente quente, ele rapidamente passou a mão nas bochechas, que ardiam.
[Isso está errado, Koy.]
Ashley respondeu sério, contrariando as palavras dele, apesar da sinceridade. Koy ficou surpreso, e ele continuou:
[Você ainda vai ter muitos dias incríveis pela frente. No próximo ano, no outro, e no seguinte também.]
‘Mas você não vai estar lá.’
O coração de Koy ficou apertado. As palavras de Ashley o confortaram de forma tão doce… mas a ideia de que ele não estaria com ele nessas ocasiões o entristeceu de novo.
— …Obrigado, Ash.
Ele sussurrou baixinho, e Ashley não respondeu. Enquanto Koy hesitava, tentando encontrar algo para dizer, ele finalmente quebrou o silêncio:
— Aqueles bonecos de edição limitada… sabe quando vai chegar de novo?
— Hã? Boneco?
Confuso, Koy repetiu a pergunta, mas então se lembrou, como se tivesse levado um estalo.
— Ah, aquele da série?
Ele piscou rapidamente, tentando se lembrar.
— Acho que… semana que vem? Não sei ao certo. Desculpa.
Quando respondeu com sinceridade, Ashley disse sem hesitar:
[Me avise quando chegar de novo. Eu vou lá comprar.]
Naquele instante, os olhos de Koy se iluminaram.
— Sério? Você vai mesmo? Vai até a loja onde eu trabalho?
Diante da sequência de perguntas, Ashley respondeu com um leve riso na voz:
[Sim.]
Naquele instante, um som repentino de fogos de artifício ecoou nos ouvidos de Koy. Quando percebeu que, na verdade, era o som do seu coração disparado, ele fechou os olhos com força.
— …Vai ser ótimo!
As palavras escaparam como se estivesse soltando um fôlego preso.
Ah!
Surpreso, ele levou rapidamente a mão à boca. ‘O que foi que eu acabei de dizer?’ Koy piscou apressadamente, mas sua mente estava completamente em branco.
— Ahn, é que, então…
Tentou de tudo para consertar a situação, abrindo a boca, mas as palavras não saíam direito e ele só conseguia gaguejar. Então, se apressou em completar:
— Nós somos… amigos? Não é?
Houve uma breve pausa antes de Ashley responder.
[É.]
Koy soltou um leve suspiro e Ashley continuou com naturalidade:
[Então, Koy, até logo.]
— Uhum, até. Obrigado por hoje, de verdade.
Ao expressar sua gratidão mais uma vez, Ashley respondeu:
[Eu também. Obrigado por trazer o remédio.]
— De nada.
Sentindo-se meio orgulhoso, Koy corou e sorriu satisfeito. ‘Não quero desligar.’ Queria conversar mais com Ashley, mas sabia que não podia. Com o coração apertado, ele disse:
— Então, é… boa noite…
Como sua voz foi se apagando no fim da frase, Ashley se adiantou para encerrar a conversa:
[Sim, boa noite.]
— Boa noite.
Koy prendeu a respiração e ficou em silêncio, escutando com atenção. Ashley também não desligou imediatamente. Parecia que ambos estavam esperando que o outro encerrasse a ligação primeiro, apenas ouvindo a respiração um do outro. Até que, finalmente, Ashley foi quem desligou. Koy ficou mais alguns segundos parado, imóvel, e depois falou baixinho:
— Ash…?
Sussurrou num tom abafado, como se sua voz estivesse sumindo. Não houve resposta. Como esperado, a ligação já havia terminado. Haaah, Koi suspirou e abaixou a mão que segurava o celular. Seu rosto ainda estava quente.
Haaa…
Inspirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado. Quando puxou o ar pela segunda vez, o toque do celular soou de novo. Surpreso, ele atendeu rapidamente, e uma voz inesperada veio do outro lado:
[Koy?]
— A-Ash?
Ele se assustou com a própria reação e olhou desesperado para a tela. O nome de Ashley realmente estava lá. Levando o celular de volta ao ouvido, ele ouviu Ashley tossir levemente antes de dizer:
[Se você não tiver nada para fazer amanhã… quer vir aqui?]
— Na sua casa?
A pergunta escapou antes que ele pensasse, e seus olhos se arregalaram.
— Te visitar? Na sua casa? De novo?
[Sim.]
Ashley respondeu prontamente e logo perguntou:
[Você tem trabalho amanhã?]
— Ahn? O-o quê?
Koy se atrapalhou, gaguejando. Claro que tinha. Mas… Ashley tinha acabado de convidá-lo, e ele não ia perder essa chance por algo tão trivial.
‘Nem pensar.’
‘Não importa o que aconteça, eu vou!’
Determinado, ele rapidamente tentou pensar em como poderia ir à casa de Ashley, e respondeu:
— Tenho, mas posso ir depois do trabalho.
Ashley riu levemente ao responder:
[Perfeito. Então até amanhã. Vai ser por volta da hora do jantar?]
— Ahn? Ah…
No dia seguinte, Koy teria um turno de trabalho o dia inteiro. Mas, mesmo assim, ele assentiu rapidamente com a cabeça.
— E-eu vou antes do jantar.
[Certo. Boa noite, tchau.]
Ashley se despediu com gentileza, soltando uma risadinha curta e acrescentando:
[Desta vez é um tchau de verdade.]
— Certo.
Koy respondeu, mas por dentro ele gritava com fervor: ‘Pode ligar de novo, pode ligar de novo dez, vinte vezes, quantas vezes quiser!’ Ashley riu mais uma vez e então desligou a ligação.
Koy ficou olhando para a tela do telefone por um tempo, confirmando que a chamada havia terminado. Seu coração palpitava de ansiedade, mas, desta vez, o telefone não tocou novamente.
— Haaah…
Ele soltou um suspiro carregado de decepção e levantou a cabeça. De repente, o motorhome entrou em seu campo de visão. Aproximou-se devagar e colou o ouvido na porta, mas não se ouvia nada lá de dentro. Inspirando fundo, Koy cuidadosamente abriu a porta, a madeira velha rangeu com um som agourento e ele deu um pulo, encolhendo os ombros assustado.
Ficou parado, prendendo a respiração, mas nenhum outro som veio. Koy se moveu com cautela e entrou no veículo. Como esperava, seu pai estava estirado no chão, roncando profundamente. Desviando de uma garrafa de bebida vazia jogada no chão, Koy caminhou na ponta dos pés até sua cama. Nem cogitou tomar banho, no lugar disso, apenas escovou os dentes e lavou o rosto antes de deitar.
‘Assim que o meu pai sair, eu tomo banho.’
Pensou, fechando os olhos. Não poderia encontrar Ashley sujo, sem ter tomado banho desde o dia anterior. Como não sentia o próprio cheiro, não podia arriscar estar fedendo sem saber e ainda assim ir vê-lo.
‘De jeito nenhum.’
Koy repetiu esse pensamento para si mesmo com firmeza, mais de uma vez. Agarrado ao celular, tentou adormecer, ansioso pela chegada do amanhã.
***
Haa… haa…
Koy pedalava com força, ofegante. Mesmo tendo entrado com segurança pelo portão hoje, a subida até a casa no alto da colina não era nada fácil.
Ao ver um carro esportivo passar por ele com arrogância, Koy pedalou com ainda mais determinação. Estava cansado, sim, mas não se sentia fraco. ‘Quero ver o Ashley o quanto antes.’ Isso era tudo que ocupava sua mente.
Finalmente, à distância, a mansão que ele tanto desejava ver começou a surgir no horizonte. O coração de Koy se encheu de emoção. ‘Só mais um pouco… só mais um pouquinho.’
Quando enfim chegou à porta da frente, sentiu tamanha falta de ar que achou que ia desmaiar ali mesmo.
‘Haa… haa…’
Apoiando a mão no peito, ele permaneceu parado, tentando recuperar o fôlego. Foi então que a porta da frente se abriu de repente, e alguém saiu de dentro.
— Koy.
Ele ergueu a cabeça, surpreso, e em sua visão embaçada apareceu o rosto que tanto desejava ver. De repente, a dor no peito desapareceu, sendo substituída por uma alegria avassaladora.
— Ash.
Koi sorriu radiante, sentindo a felicidade transbordar em seu peito. Ashley também sorriu ao vê-lo.
— Entre.
— Sim.
Koy assentiu com a cabeça.
— Eu senti sua falta.
Apesar de ter sido apenas um dia, seu coração ardia de saudade. Como poderia expressar a intensidade do sentimento com tão poucas palavras? Sentiu um pouco de frustração, mas Ashley disse:
— Eu também.
No instante em que ouviu essas palavras, toda a frustração de Koy desapareceu no ar.
°
°
Continua…