Lamba-me se puder - Capítulo 04
— Não, eu quero dar o meu melhor.
Quando Koy falou com aquela expressão séria, Ashley mudou de tática e foi direto ao ponto:
— Você não pratica nenhum esporte, né?
— Prático sim.
Não era exatamente uma maratona, mas quase todo dia ele fazia exercícios no parquinho. Só que admitir isso em voz alta para alguém que não sabia nada sobre ele seria meio humilhante. Tentou disfarçar o incômodo, mas Ashley não parecia se importar nem um pouco. Ele suspirou de novo, como se tivesse finalmente desistido.
— Certo, o que vamos fazer, então?
Ashley perguntou enquanto levantava as mãos na frente de Koy, num gesto de rendição. Koy respirou fundo antes de explicar o plano que tinha em mente: “Vamos começar pesquisando os dados, depois veremos como desenvolver o trabalho e marcamos um horário para se encontrar.”
— Eu treino a semana toda.
Ashley cruzou os braços e ficou olhando para Koy, como se esperasse uma solução. Koy já tinha uma resposta preparada:
— Meu treino termina às 18h. Que tal às 19h? Dá tempo de terminar o treino e tomar um banho, sim?
Por um momento, Ashley pareceu cansado. Ele perguntou desconfiado enquanto Koy se perguntava se tinha falado alguma besteira.
— Você não é meu perseguidor, é?
— O quê? Claro que não!
Ashley deu uma risadinha ao ver Koy assustado.
— Tô só brincando.
“Seu narcisista!” Koy pensou, arregalando os olhos de irritação.
— Não é nada disso. Eu só sei quem você é porque você faz parte do grupo de esportes.
“É por isso que eu não gosto de gente bonita”, Koy pensou, sentindo o rosto esquentar.
— Se você acha que todo mundo gosta de você, tá bem iludido.
— Que alívio, né?
Koy ficou ainda mais irritado quando viu Ashley suspirar e colocar a mão no peito, como se estivesse aliviado. Sem pensar muito, ele continuou:
— Hoje às 19h eu estou livre também, então vamos começar logo. Não seria melhor para você acabarmos com isso de uma vez?
— Beleza.
Koy estava prestes a combinar de se encontrarem no refeitório quando Ashley completou:
— Então te vejo no Green Bell às 19h.
— Hã?
Koy ficou surpreso. “Green Bell? Num lugar caro desses? Tá de brincadeira!”
— Peraí, Ashley… Quer dizer, Ash, espera aí!
Ashley já ia se virando para sair quando Koy o segurou de novo. Não dava para ignorar aquilo.
— Sério que precisamos ir nesse restaurante? A gente podia só conversar no refeitório da escola…
— Às 7 da noite?
Ashley perguntou, parecendo espantado. Koy ficou sem reação por um momento. É claro… O refeitório fechava às 17h.
Enquanto Koy tentava achar uma resposta, um amigo chamou Ashley. Ele tirou a mão de Koi com naturalidade e perguntou de novo, só para confirmar:
— Hoje às 19h no Green Bell, certo?
Koy não tinha muita escolha. Os outros lugares que ele podia pagar já estavam fechados ou eram longe demais.
Ashley soltou a mão dele e foi embora para perto dos amigos. Sozinho, Koy soltou um longo suspiro e bagunçou o próprio cabelo, frustrado.
***
Ashley apareceu no Green Bell às sete em ponto. A maioria dos times de maratona termina uma hora antes do time de hóquei, então Koy conseguiu chegar lá antes dele – por uns dez minutos, para ser exato.
Claro que Koy veio de bicicleta, enquanto Ashley provavelmente dirigiu aquele Cayenne bonito.
Koy estava meio emburrado sem motivo quando fez contato visual com Ashley, que olhava ao redor na entrada. Assim que Ashley chegou e se sentou na frente dele, suspirou e comentou:
— Chegou cedo.
Koy respondeu, vendo que não tinha nada na mesa:
— Ainda não pedi nada.
— Sério?
Ashley olhou em volta e logo um garçom apareceu. Ele pegou o menu que estava na frente deles, e Koy teve que engolir seco.
Koy fechou o menu em silêncio, enquanto Ashley folheava as páginas animado. Sem saber o que fazer, Koy ficou mexendo no celular até Ashley decidir o que pedir.
Quando finalmente fez sua escolha, Ashley chamou o garçom, que se aproximou com um bloco de notas e uma caneta na mão. Assim que o garçom se preparou para anotar, Ashley começou a pedir:
— Sanduíche de salada de atum, dois hambúrgueres com batata em dobro. Tira toda a cebola e coloca duas fatias de queijo em cada. Também quero panquecas com banana, bacon e dois ovos cozidos. Ah, e xarope de bordo. E… mais dois hambúrgueres com batata em dobro. E também…
— O quê? Pera, pera aí!
Koy ficou apavorado com aquele pedido gigantesco e interrompeu Ashley, que olhou curioso para ele.
— Você não acha que é muito? Tipo, somos só nós dois.
— Nós dois?
Ashley piscou, claramente confuso. Vendo Koy sem reação, ele explicou:
— Eu vou comer tudo isso sozinho.
— Hã?
Os olhos de Koy se arregalaram. Sem se importar, Ashley continuou o pedido, adicionando o prato mais famoso do restaurante: um bife enorme. Finalizou com água com gás e fechou o menu, satisfeito.
— Sua vez.
Koy, que tinha ficado meio hipnotizado pelo sorriso de Ashley, demorou a reagir. Abriu o menu às pressas, mas acabou pedindo só uma coisa:
— …Uma Coca. Sem gelo.
— Só isso?
Ashley perguntou antes mesmo do garçom. Parecia tão surpreso que Koy sentiu o estômago embrulhar, mas tentou não demonstrar.
— Já jantei antes de vir.
— Ah, entendi.
Ashley não insistiu, para alívio de Koy. O motivo do pedido simples? Com o dinheiro que tinha, só podia pagar uma Coca-Cola.
Quando o garçom foi embora, Koy decidiu focar na tarefa:
— Então… para esse trabalho, eu estava pensando…
Ele pegou o laptop e abriu enquanto continuava:
— Temos que escolher um país latino e pesquisar sobre a cultura. Você tem algum em mente?
— Não.
A resposta curta foi desanimadora. Koy já esperava, mas a falta de interesse era desmotivante. Vendo a cara de decepção de Koy, Ashley soltou:
— Eu odeio pensar em qualquer coisa quando estou com fome.
— Hã?
Koy piscou, surpreso com aquela “desculpa”. Ashley bocejou alto antes de continuar, num tom cansado:
— Mas pode continuar. Tô ouvindo.
“Você deve estar morto de cansaço”, pensou Koy, antes de retomar o assunto:
— Eu separei algumas opções. Quer ver agora ou prefere que eu escolha sozinho?
— Pode escolher você.
— Certo.
Koy assentiu, já acostumado com a atitude despreocupada de Ashley. Como já tinha se preparado para fazer a maior parte do trabalho, continuou animado:
— Eu pensei na Argentina. Tem uma culinária bem interessante. Pode falar sobre comidas, cafés, sanduíches… É um jeito diferente de contar a história do país.
— Beleza.
Ashley respondeu de forma simples, e Koy continuou, já esperando essa reação:
— Então, a gente pesquisa os dados e depois organiza o índice e os capítulos com base nisso.
— Não é melhor dividir a pesquisa? Aí, se algo se repetir, eu comparo e organizo depois.
— Boa ideia. Vamos fazer assim.
Koy ficou impressionado com a sugestão. Será que Ashley estava animado com o projeto? A partir daí, eles começaram a conversar mais. Ashley ouvia na maior parte do tempo, mas também dava opiniões e sugestões, e Koy ouvia com atenção.
Ashley se mostrou um bom conversador. Ou talvez fosse só a empolgação de Koy. Ficou claro que Ashley não era popular só pela aparência. Depois de uns 30 minutos de conversa, Koy já estava meio “encantado” com ele.
Era difícil acreditar que Ashley era só um colega de classe. Especialmente quando aqueles olhos azul-parateados olhavam para ele e Ashley sorria… Koy até esquecia que estavam falando de um cara. Seu coração disparava sem ele nem perceber.
Que confusão de sentimentos.
Com um suspiro, Koy voltou à realidade e continuou tomando notas. Quando verificava as anotações no celular, finalmente chegou o pedido de Ashley.
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Continua…