Lamba-me se puder - Capítulo 01
“Eu vou fazer você se arrepender de ter me abandonado.”
***
A rua em frente à escola estava lotada de carros, como sempre. Pais deixavam seus filhos na porta, tentando não se atrasar para o trabalho.
Koy, como de costume, pedalava rápido e passava pelos carros parados no sinal vermelho. Um carro que vinha em alta velocidade o viu e começou a frear devagar. Mas Koy nem ligou, forçou mais as pernas e seguiu direto para dentro do terreno da escola. Ao mesmo tempo, os alunos que chegavam desciam dos carros e começavam as conversas matinais.
— Sara, aqui!
— Você viu Eternity ontem? Chorei demais naquela cena. Como pôde terminar daquele jeito?
— Meu pai quer acampar de novo. Um saco.
Koy estacionou a bicicleta no local de sempre e passou pelos grupos que conversavam sem parar. Ele seguiu direto para os armários. Os alunos se reuniam em círculos, rindo e falando alto, mas ninguém se deu ao trabalho de cumprimentá-lo.
Nada fora do esperado. Koy só abriu o armário no automático e pegou o livro da primeira aula. Quando fechou a porta, um barulho alto chamou sua atenção. Ele virou a cabeça, intrigado com a movimentação repentina. Logo entendeu o motivo.
Seis caras enormes caminhavam pelo corredor. Todos tinham físicos impressionantes e rostos que pareciam ter saído de um comercial. Os seis principais jogadores do time de hóquei da escola.
Claro que eles chamavam a atenção de todo mundo. Além de serem gigantes, eram absurdamente bonitos.
No meio do grupo, quem mais se destacava era Ashley Dominic Miller. Ele andava com a confiança de quem sabia que estava sendo observado, mas fingia não se importar, rindo e brincando com os amigos. E, enquanto ele agia como se nada estivesse acontecendo, os olhares ao redor diziam outra coisa. Todo mundo estava vidrado nele.
Incluindo Koy.
“Você fica mais bonito quando sorri.”
Koy prendeu a respiração sem perceber. Todos na escola conheciam Ashley. Ou melhor, qualquer pessoa que curtisse hóquei conhecia Ashley Dominic Miller. Ele nunca gostou do apelido dele, achava infantil e brega. Mas agora, vendo o cara de perto, não teve escolha a não ser admitir que fazia sentido.
“O Príncipe do Gelo.”
“Ah, meu Deus.”
Koy revirou os olhos e fingiu que ia vomitar. Ele não queria admitir nem por um segundo que concordava com esse apelido ridículo. Mas era impossível negar. Ashley era simplesmente surreal. O cabelo loiro prateado refletia a luz do sol da manhã de um jeito quase cinematográfico. Até as sobrancelhas franzidas eram ridiculamente bonitas. Cílios longos que sombreavam aqueles olhos azul-prateados, lábios carnudos, nariz reto e uma mandíbula tão perfeita que parecia esculpida à mão. O rosto tinha ângulos impecáveis, a pele pálida e lisa como mármore.
E o corpo? Puta merda.
Com quase 1,90m, mesmo sem uniforme e vestindo só jeans e uma camiseta simples, ele conseguia exalar presença. Ombros largos, peito definido, coxas firmes e até os quadris empinados eram perfeitos.
Claro, ele era o capitão do time de hóquei da Buffalo High School. E o time nunca perdia um campeonato.
Koy, que mal tinha músculos suficientes para subir escadas sem ficar ofegante, jamais poderia sonhar em entrar nesse time. Na verdade, só de reconhecer o quão absurdamente lindo Ashley era, já sentia sua consciência pesar. Ele precisava matar esse pensamento o quanto antes.
Mas então, como se sentisse o olhar dele, Ashley virou a cabeça e o encarou.
E sorriu.
E acenou.
Koy congelou.
Koy, que tentava se esgueirar para o lado, foi pego de surpresa com a situação inesperada e arregalou os olhos para Ashley.
‘Hã? Isso foi pra mim?’
Confuso, ele apontou para si mesmo com o dedo, e Ashley apenas sorriu ainda mais, com aquele olhar tranquilo.
‘Ashley Miller me conhece?’
Tecnicamente, eles compartilhavam algumas aulas de AP¹. Claro, Ashley sempre sentava com seus amigos, enquanto Koy ficava sozinho no canto da sala, uma presença tão pequena quanto um grão de areia. Mas isso não significava que a estrela do hóquei realmente soubesse quem ele era. Talvez só estivesse fingindo.
‘Bom… fazemos algumas aulas juntos.’
Koy observou Ashley se aproximando enquanto pensava nisso. Foram só alguns segundos, mas para ele pareceram uma eternidade.
O capitão do time de hóquei, com aquele cabelo platinado e um sorriso fácil, estava ali… olhando para ele. Mesmo sabendo que Ashley era sempre assim, aquilo foi o suficiente para distraí-lo por um momento. Além disso, a ideia da pessoa mais popular da escola fingindo conhecê-lo fez seu coração acelerar um pouquinho.
— Eu não…
Koy abriu a boca, ainda tentando entender a situação, mas antes que pudesse terminar a frase, alguém passou correndo ao seu lado como um furacão.
No mesmo instante, o olhar de Ashley mudou naturalmente para a pessoa que se aproximava.
— Oi, Ash.
A garota sorriu e o beijou no rosto. Era a namorada de Ashley, obviamente. A capitã das líderes de torcida.
Olhando para o casal perfeito – o astro do time de hóquei e a líder de torcida – Koy sentiu um baque na realidade.
‘Ele estava sorrindo para a namorada.’
O calor da vergonha subiu pelo seu rosto na mesma hora. Normalmente, ele se sentia mal por ser invisível na escola, mas agora… estava agradecendo por isso. Pelo menos ninguém tinha percebido o mico que ele quase pagou.
Mas a vergonha mal teve tempo de se dissipar antes que um dos amigos de Ashley passasse por ele, sem nem olhar, e soltasse um comentário seco:
— Sai da frente, idiota.
Sem querer, Koy estava bloqueando o caminho, então o cara simplesmente o empurrou para o lado, como se ele não fosse nada. Ele bateu no armário, mas ninguém prestou atenção. Todos os olhares ainda estavam grudados no grupo que passava, e em segundos eles já tinham desaparecido pelo corredor. Ele esfregou o braço dolorido e abaixou a cabeça.
‘Ashley Miller não me conhece.’
Claro que não. Para ele, Koy era só mais um colega qualquer. Quanto mais pensava nisso, mais desconfortável se sentia. Ele fechou a porta do armário rapidamente, pronto para ir para a aula, quando –pá!
Um tapa forte acertou a parte de trás da sua cabeça.
— Ah!
Koy deu um passo à frente com o impacto, mas não teve tempo nem de reagir. Outro garoto arrancou o livro de suas mãos e o jogou no chão. Ele tentou pegá-lo no ar, mas foi tarde demais. O livro bateu no chão com um plaf.
— Seu merda.
— Acorda pra vida, imbecil.
Nelson e seu grupinho passaram rindo, sem nem olhar para trás.
Koy suspirou, pegou os livros do chão e saiu rápido para não se atrasar.
Quando chegouna sala, quase todos os lugares já estavam ocupados. Como sempre, Ashley e seus amigos estavam bem no centro. Normalmente, os seis sentavam juntos, mas naquele momento só havia três deles ali. Os outros deviam estar em aulas diferentes.
Koy passou o olhar por eles conversando animadamente e seguiu direto para o canto da sala. Queria ignorá-los, mas não teve escolha a não ser ouvir a conversa.
— Então, como vai ser? Vamos achar alguém nessa altura do campeonato?
— Acho que não vão mudar a coreografia. Ouvi dizer que estão tentando encontrar alguém melhor.
— Você ouviu algo, Ash?
Ashley deu de ombros.
— Também tô curioso para saber se vai dar para achar alguém que possa entrar no time das líderes de torcida e nos acompanhar na temporada de jogos. Acho mais fácil mudar a coreografia.
— Assim, do nada? E se a Ariel não gostar da ideia?
— Ouvi dizer que ela quer manter essa coreografia.
— O que tem de tão incrível nessa coreografia, afinal?
Ashley deu de ombros para a pergunta do amigo.
— Sei lá. Se não der certo, a Ariel provavelmente vai desistir também.
Depois de dizer isso, ele virou a cabeça e olhou direto para Koy.
Koy, que estava passando bem naquele momento, se assustou. Era a segunda vez naquele dia. Assim que seus olhos se encontraram, Ashley sorriu daquele jeito despreocupado de sempre… e logo virou o rosto de novo.
“Sério isso?”
Um pouco frustrado, Koy puxou a cadeira e se sentou, enquanto Ashley e os amigos continuavam conversando e jogando conversa fora.
Ele tentou se concentrar na aula, mas sua mente logo começou a divagar para coisas aleatórias – o placar do jogo que assistiu em uma noite, a discussão besta que teve com o irmão mais novo em casa…
Logo a professora entrou na sala. O burburinho cessou e ela começou a aula no mesmo ritmo de sempre.
Era só mais uma manhã como qualquer outra.
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Continua…