Intinerant Doctor/Youyi - Capítulo 53
Capítulo 53 – Mar de Fantasmas
Huang Jinchen foi ao escritório de Kou Tong dizendo que iria dizer-lhe para sair e descansar. Então… os dois não saíram.
A mãe de Kou Tong achou um pouco estranho, mas não bateu na porta. Ela pensou, seu filho estava tão crescido e estava fazendo um trabalho muito importante. Se ela fosse bater na porta e perguntar o que estava acontecendo com cada ninharia, ela definitivamente se tornaria uma velha chata e irritante para ele.
Ela estava imensamente satisfeita com sua própria mente aberta e bom senso, sentindo que havia poucas mães tão bem-humoradas no mundo.
A respeito do indizível pequeno caso de amor gay de Huang Jinchen com seu querido filho, a mãe de Kou Tong ficou em conflito por um tempo, então pensou… Bem, não importa, deixe-o fazer o que quiser.
Por alguma razão, ela não conseguia entrar no clima de controlar o comportamento dele, embora, para seu olhar convencional, esse tipo de combinação não fosse convencional o suficiente. Mesmo chegando à segunda metade do século XXI, ainda não era uma estrutura familiar bem recebida pelo grande público. Mas… ela de repente pensou que também não havia nada de ruim nisso.
Se duas pessoas combinavam uma com a outra, fosse um homem ou uma mulher, velho ou jovem, então que seja.
Houve algumas pessoas que passaram a vida inteira aderindo a regras e normas, e outras que passaram a vida inteira sendo pouco convencionais. Na verdade, era difícil dizer quem era mais feliz.
Depois de muito tempo, a porta do escritório se abriu por dentro. A mãe de Kou Tong tinha uma máscara facial colada no rosto e estava calmamente segurando uma revista de moda para ler, como se ela não estivesse nem um pouco perturbada.
Huang Jinchen carregou Kou Tong para fora. Ele agia como um ladrão… e bem-sucedido, com um sorriso peculiar e lascivo no rosto. Ele olhou furtivamente para a mãe de Kou Tong, então fechou suavemente a porta do escritório com o pé e carregou suavemente Kou Tong, que estava com a cabeça enterrada no ombro e poderia ou não estar acordado, de volta para o quarto.
Só então a mãe de Kou Tong ergueu a cabeça da revista, que ela não vira uma página há muito tempo, e revirou os olhos para o teto. Ela pensou: garoto, você acha que eu não vou ver se você se esgueirar assim? Que dentes afiados morderam o pescoço do meu filho todo vermelho daquele jeito?
Então ela ficou um pouco descontente, mas depois de considerar isso por dois segundos, ela pensou que seu descontentamento não era muito razoável, então ela abertamente o deixou de lado, pegou uma caneta e continuou a rabiscar na revista de moda – esses sapatos eram bons, ela compraria um par; esse vestido também era bom…
Kou Tong ficou imóvel como um peixe morto enquanto Huang Jinchen o limpava e o colocava na cama. Seus olhos estavam semicerrados; ele parecia pronto para adormecer a qualquer segundo.
Olhar não era o suficiente, então Huang Jinchen se inclinou e beijou seus lábios de forma ressonante.
Kou Tong disse, levemente indistinto: “Chega… Você está tão satisfeito consigo mesmo que sua cabeça está prestes a começar a fumegar.”
Huang Jinchen assobiou, depois colocou a mão sobre a cabeça e fez uma forma de S.
“Olha, está fumegante.”
Olhando para seu rosto tolo, Kou Tong ficou em silêncio por um momento, então indolentemente puxou os lábios e começou a rir.
“Puxe-me para cima”, disse Kou Tong. “…E da próxima vez, não belisque minha cintura com tanta força. Tenho cócegas para começar. Não é permitido beliscar.”
Huang Jinchen puxou-o para cima e sentou-se ao lado da cama. Kou Tong deu um tapinha nas costas dele. “Vá buscar algo para comer.”
Huang Jinchen não se moveu. Olhando fixamente para ele, ele perguntou calmamente: “Você gosta de mim?”
Kou Tong olhou para ele e perguntou por sua vez: “Se eu disser que não, você está planejando me matar de fome?”
Huang Jinchen, muito abertamente e sem consciência, acenou com a cabeça.
“Amando e partindo.” Kou Tong balançou a cabeça. Com uma expressão amarga, ele disse: “Infiel e caprichoso, seguindo impiedosamente o seu caminho. Um Chen Shimei moderno [1]… Como os recursos limitados do mundo produziram uma escória entre homens como você?”
Huang Jinchen expressou indiferentemente, “Tudo bem, então eu sou a escória!”
Kou Tong riu. “Eu gosto de você, tudo bem?”
Huang Jinchen acenou com a cabeça. Então ele disse: “Acho que foi um pouco falso.”
A expressão de Kou Tong transmitiu seus pensamentos: Foda-se!
Huang Jinchen puxou sua manga e parecia envergonhado. “Bem, eu quero ouvir com sinceridade.”
Kou Tong estreitou os olhos e olhou para ele. “Você pode ter isso sinceramente quando me deixar te foder de volta.”
“Isso não é sinceridade, isso é conversa doce e palavras simplistas para enganar uma garota estúpida”, disse Huang Jinchen de uma só vez.
Kou Tong, segurando sua cabeça, caiu e rolou. “Ah! Eu não aguento, por que você é tão intrometido! Como Ma Wencai gostava de Zhu Yingtai, como Fahai gostava de Lady White Snake, como Zhao Kuangyin gostava de Li Houzhu [2], é assim que eu gosto de você, sua escória, entendeu?!”
Huang Jinchen ficou satisfeito, sentindo que isso era sincero o suficiente – quem sabe qual CPU ele havia usado para julgar isso; provavelmente tinha sido tirado de alguma calculadora…
Em seguida, ele foi obedientemente procurar algo para Kou Tong comer.
Embora houvesse inquietação no mundo e o caminho à frente fosse imprevisível, e houvesse muitos, muitos eventos passados infelizes que eles ainda tinham que recordar juntos; embora todas as vidas no mundo fossem incapazes de escapar da dor da existência…
Embora a noite ainda estivesse se aproximando, eles estavam juntos agora.
Nem antes, nem depois; agora.
Como se em meio a um mar revolto e o ataque de ondas que tornavam impossível ficar firme, uma corrente de repente se esticou e prendeu duas pessoas juntas. Eles sempre foram firmes e, no futuro, seriam ainda mais firmes.
O nome desta rede era ‘estar junto.’
Embora na vida de uma pessoa o sofrimento fosse contínuo e a felicidade dispersa, por causa de alguns pontos dispersos na linha sem limites, as pessoas ainda se sentiam cheias de esperança. Isso havia conduzido os humanos através de uma sociedade primitiva esgotante, através da sociedade escrava sem luz e injusta, através da sociedade feudal na qual eles lutaram para seguir em frente usando jugos apertados, ainda andando passo a passo para a frente.
Porque a ‘expectativa’ ainda estava viva.
Mas esta não foi uma noite tranquila. A mãe de Kou Tong pegou um dos livros ilustrados de quando Kou Tong era pequena e contou a Manman uma longa história para dormir – para a garotinha, isso já era um favor extremo, já que sua própria mãe nunca a tratou assim. Depois, ela obedientemente deitou e foi dormir – ao som de uma canção de ninar extremamente suave.
A mãe de Kou Tong a observou adormecer, planejando ir beber um copo d’água e, em seguida, ter o seu sono de beleza.
Assim que ela apagou as luzes e começou a cochilar, de repente, a perninha de Manman se contraiu, como se ela tivesse se assustado. A mãe de Kou Tong acordou e se sentou, tateando no escuro, e deu um tapinha em suas pequenas costas. Mas Manman de repente se sentou, parou por um momento, então começou a chorar.
A mãe de Kou Tong pensou que ela tinha tido um pesadelo. Ela a abraçou com força. Dando tapinhas nas costas dela, ela disse: “Não tenha medo, não tenha medo. A titia está aqui.”
Manman agarrou com força o punho de seu pijama. Como um gatinho, ela disse: “Tia, minha mãe não me quer.”
A mãe de Kou Tong congelou. Manman continuou: “Eu não sou um monstrinho…”
Então, como se não soubesse como se defender, ela disse, soluçando: “Eu não cresci assim de propósito… Não fiz de propósito.”
A mãe de Kou Tong perguntou suavemente: “O que você quer dizer com sua mãe não quer você?”
“Houve um vazamento de gás uma vez”, disse Manman, soluçando. “Eu li em um livro que quando há um vazamento de gás, as pessoas lá dentro são envenenadas por monóxido de carbono e morrem – eu estava com tanto medo. Eu estava tonta e com vontade de vomitar, mas minha mãe me trancou em casa…”
Os braços da mãe de Kou Tong se apertaram ao redor dela.
“Então usei uma cadeira para bater na janela. Eu bati várias vezes antes de finalmente quebrar. Eu peguei um banquinho e subi no parapeito da janela. Minhas mãos estavam cobertas de sangue. Chamei socorro, mas ninguém me ouviu, porque não consigo falar com a boca… Aí usei o sangue para escrever ‘ajude-me’ na janela e, finalmente, um tio no prédio do outro lado da rua viu e fez com que a polícia viesse…”
A mãe de Kou Tong não sabia o que dizer, porque ela absolutamente não conseguia entender como a mãe de Manman poderia ter feito isso, mas ela também não conseguia explicar grosseiramente a uma criança “sua mãe é uma pessoa má”. E se a criança crescesse pensando que todas as mães do mundo eram pessoas más?
“Tia, acabei de ter um sonho. No sonho, eu não conseguia respirar. Estava tudo preto ao meu redor. Não havia ninguém lá. Havia muitas coisas estranhas flutuando por aí. Eu não podia fugir, não importa o quanto eu tentasse. Eu gritei, mas ninguém ouviu. Desta vez, não havia nem onde escrever para pedir ajuda…”
A mãe de Kou Tong congelou. Ela se lembrou de Kou Tong dizendo a ela que a criança era particularmente sensível aos pensamentos dos outros. Às vezes ela sonhava com coisas especiais. Ela a silenciou, planejando ir falar com Kou Tong sobre isso. Ela enxugou cuidadosamente as lágrimas de Manman. “Não chore, não chore mais.”
Quando ela conseguiu confortar Manman, já era dez minutos depois.
Vendo a pequena Manman se acalmar, a mãe de Kou Tong silenciosamente se levantou e foi bater na porta de Kou Tong. “Tongtong, tenho algo para lhe contar.”
–
Nota da tradutora:
[1] Chen Shimei é um personagem de ópera chinesa que representa um homem sem coração e infiel; ele usa sua esposa para ganhar posição social, então deserta e tenta matá-la.
[2] Respectivamente, os dois primeiros são referências a dois dos Quatro Grandes Contos Folclóricos da China: ‘Os Amantes das Borboletas’, nos quais Ma Wencai é um comerciante com quem Zhu Yingtai, a protagonista, tem um casamento arranjado e pula para a sepultura com seu amante morto para escapar; e ‘A Lenda da Cobra Branca’, em que Fahai é o malvado monge budista que tem ciúmes do personagem titular e tenta repetidamente sabotar seu romance com Xu Xian. A terceira referência é histórica: Li Houzhu (nome de nascimento Li Yu, conhecido por sua poesia ci) foi o último governante do Sul Tang, que foi conquistado por Zhao Kuangyin, imperador Taizu de Song.
**************************
Créditos:
Tradução: Rayani (@faveswonho)