Escape - Capítulo 20
Assim que cruzaram a fronteira russa com a Bielo-Rússia, alugaram um pequeno hotel modesto localizado em uma vila rural. Vendo que o grupo de Ilya parecia suspeito, o dono do hotel tentou denunciar secretamente à polícia, mas foi pego por Viktor e trancado em um quarto. O dono do hotel assentiu aterrorizado quando ouviu a ameaça, de que o humor do chefe não estava bom e que, se ele quisesse continuar vivo, deveria obedecer às suas exigências.
Como era um hotel pequeno, não havia funcionários adicionais. Assim que, os membros do grupo de Ilya tiveram que procurar e trazer o que precisavam. O mesmo acontecia com a preparação das refeições.
Andrei bateu na porta do quarto de Ilya com a comida que comprou em um restaurante e em uma pequena loja da aldeia. No entanto, nenhuma resposta veio de dentro. Ia bater mais uma vez, mas resolveu respirar fundo e girar a maçaneta. Como esperado, a porta não estava trancada.
Quando abriu a porta e entrou, encontrou Ilya sentado em uma cadeira, olhando para Jin, que estava deitado na cama. Desde que deixaram a Bielo-Rússia, seu rosto não mostrava nenhuma emoção. Vendo seu rosto duro como uma escultura, ele não sabia dizer se o homem estava chocado, com raiva ou desesperado.
“Ele não está morto!Está vivo!”
Quando Natasha gritou isso no carro, foi a única vez que seus olhos tremeram por um momento. Talvez felizmente ou não, a bala de Ilya parecia não ter acertado por milímetros o coração de Jin. Natasha estancou o sangramento às pressas, mas como ele já havia derramado muito sangue, ela alegou que seria impossível movê-lo por muito tempo.
Natasha ordenou ao motorista do carro que parasse em uma cidade próxima e ligasse para o médico da organização. Era uma ordem dela, não do chefe, mas os membros da equipe a obedeciam como se estivessem enfeitiçados. Além disso, Ilya manteve a boca fechada e apenas energia fria fluiu dele, então eles decidiram que salvar Ryu Jin era fundamental.
Quando o médico da organização disse que precisavam fazer uma transfusão de sangue, eles imediatamente enviaram um helicóptero para trazê-lo até lá. Depois de verificar a condição de Ryu Jin, o médico suspirou e disse que era um milagre que, apesar de ter sangrado tanto, ele ainda estivesse vivo.
Embora a transfusão de sangue tenha sido realizada, não havia garantia de que ele recuperaria a consciência. Devido à falta de oxigênio e por causa sangramento excessivo, poderia haver danos cerebrais e, no pior dos casos, ocorrer morte cerebral. Quando o médico lhes disse que só saberia até o final da noite, os membros da organização sentiram como se estivessem viajando entre o céu e o inferno.
Eles estavam com medo até de imaginar o que o chefe faria se Ryu Jin morresse assim. A guerra com Imran seria o primeiro passo de sua vingança e essa guerra precipitada poderia destruir a organização. Apesar do fato de Ryu Jin ser a causa de muitos dos problemas que tiveram ultimamente, todos os membros rezaram para que ele acordasse com segurança.
《Chefe, eu trouxe comida.》
Andrei colocou a refeição que trouxe em uma mesinha do quarto. Ilya nem olhou para trás, como se não estivesse interessado no cheiro de comida. Seus olhos estavam fixos no rosto de Jin, que estava tão pálido que era impossível dizer se estava vivo ou morto.
《Ele vai acordar. Como sabe chefe, ele não é um cara comum.》
Foi o maior conforto que Andrei poderia lhe dar. Ao ouvir suas palavras, Ilya suspirou por um longo tempo. Supôs que não podia negar que Jin não era um cara normal.
A arma de Ilya foi colocada ao lado da cama de Ryu Jin. Era a mesma arma com a qual ele havia atirado nele. Andrei, que olhava alternadamente para o rosto de Jin e para a arma, virou-se para Ilya.
Ilya estava olhando para sua mão. Então, franziu a testa enquanto olhava para ela silenciosamente. Não foi a primeira, nem a segunda vez que ele atirou em alguém… a sensação intensa de puxar o gatilho estava gravada no fundo de sua mente e ele não conseguia apagá-la. Foi a primeira vez em dez anos que isso aconteceu com ele.
10 anos… o dia em que Ilya conheceu seu pai adotivo e assassinou alguém pela primeira vez.
*
Agora suas memórias não eram muito claras. Mas ele não conseguia esquecer a maldita situação por completo.
A mãe de Ilya era ômega. Isso não teria acontecido se seu pai fosse um Alfa, e se tivesse impresso sua mãe como uma companheira adequada. Eles moravam em um apartamento miserável e não tinham dinheiro suficiente para promover todas as refeições necessárias, mas ainda assim eram uma família normal.
No entanto, a dificuldade em sobreviver era um problema do qual não se podia escapar facilmente. Por mais que seu pai trabalhasse, eles sempre ficavam sem dinheiro. Às vezes, nem conseguiam comprar os inibidores do ciclo de calor de sua mãe a tempo. Ele não sabia por que era tão difícil sair da pobreza quando seu pai nunca bebia nem jogava. Pode ter havido alguma razão, mas Ilya, que tinha dez anos na época, desconhecia tais circunstâncias.
A mãe dele estava passando por um momento difícil naquele dia por causa do ciclo de calor, e o pai saiu dizendo que iria a algum lugar para conseguir dinheiro, e comprar alguns inibidores. Ilya cresceu observando o ciclo de cio de sua mãe desde muito jovem, então durante esse período, ele costumava brincar tranquilamente sem incomodar sua mãe.
Sua mãe estava coberta com um cobertor e exalava sem fôlego, enquanto Ilya brincava sozinho com alguns brinquedos que flutuavam na banheira, para não incomodá-la.
Ele estava com fome, então pensou que gostaria que seu pai voltasse rapidamente. Sua mãe doente não podia fazer nada, então seu pai teria que preparar a comida. Depois de tentar se virar sozinho há um tempo atrás e quase incendiar a cozinha, seu pai nunca mais permitiu que ele entrasse no cômodo. Ele estava reclamando como uma criança quando ouviu um barulho vindo de fora.
A princípio, pensou ter ouvido mal. Sabia que ninguém iria visitar sua casa, ele morava naquele apartamento em ruínas desde que nasceu e sabia que ninguém vinha visitar seu pai ou sua mãe. Os vizinhos estavam ocupados demais com suas próprias vidas para fazer isso. Então pensou ser apenas o som do vento sacudindo a porta.
“Não! Ugh… Não faça isso!”
O breve choro de sua mãe impediu que sua mão batesse na água. “Tem mais alguém aqui além da mamãe?” Ilya saiu silenciosamente do banheiro e foi até o quarto onde sua mãe estava deitada. Ele ficou surpreso ao ouvir algo rangendo lá dentro. E quando abriu a porta com as mãos trêmulas e olhou para dentro, ele congelou.
Um homem, que tinha visto antes estava rasgando as roupas de sua mãe e a forçava. A mãe, que o estava afastando dizendo que não queria aquilo, soltou gemidos estridentes no momento em que pênis do homem a penetrou. Essa não era a mãe que Ilya conhecia. O que havia ali, era apenas uma fera consumida pelo prazer.
Naquela época nem sabia o que acontecia quando um Omega estava no cio. Foi tão chocante que sua mãe estivesse deitada sob um homem desconhecido e gemendo, que seus olhos ficaram rígidos sem nem mesmo piscar.
“Já estou aqui. Ilya”
Seu pai, que caminhava pelo corredor, aproximou-se de Ilya e perguntou por que ele estava parado na frente da porta como uma estátua de gesso. Ele colocou o braço em volta do ombro de Ilya e tentou abaixar o torso, espiando inadvertidamente pela porta aberta. O envelope em sua mão caiu no chão.
“Aargh!”
Seu pai gritou, e correu para dentro do quarto como um louco, atacando o homem que abusava de sua mãe. Socos e chutes iam e vinham. O homem, cuja cabeça virou para o punho de seu pai, imediatamente se levantou e o chutou. Seu pai também revidou sem se intimidar. No meio de toda essa confusão, sua mãe estava ofegante no chão, inconsciente.
Baang!
Ao ouvir o tiro, até Ilya, que estava do lado de fora da porta, e sua mãe, que lutava impotente, tremeram. Ele nem percebeu quando o homem sacou a arma. A arma foi apontada para seu pai, e a mão de seu pai, que segurava o estômago, rapidamente ficou vermelha.
“Ah… uhhh…”
Como se tivesse voltando aos sentidos, sua mãe agarrou sua cabeça e começou a sacudi-la de um lado para o outro. O homem puxou o gatilho mais uma vez. Aanrgh! A boca de seu pai encheu-se de sangue. Sua mãe gritou e correu em direção ao homem. No meio da luta, o homem largou a arma e, ela deslizou pelo chão até atingir a porta.
“Il… ya…”
Seu pai, que estava rastejando no chão com os joelhos dobrados, dirigiu-se para a porta. Ele esticou o braço em direção a Ilya e balançou o pulso como se pedisse para ele fugir. Mas os olhos de Ilya estavam fixos em sua mãe e no homem.
Quando o homem viu seu pai cair, riu dele e dominou sua mãe. Ele enterrou o rosto nos seios de sua mãe, mordendo sua pele delicada com os dentes e empurou com força seu maldito pênis. O rosto de sua mãe estava horrivelmente distorcido e encharcado de lágrimas.
Ilya, que assistia a toda a cena, sentiu uma tremenda fúria. Seu medo gradualmente se transformou em raiva. O homem que era dominado por feromônios ômega não se importou com a existência de Ilya. Não sabia se ele tinha observado desde o começo, ou se estava ignorando porque era uma criança.
Quando dobrou os joelhos e estendeu a mão, Ilya pegou a arma que havia parado na frente da porta. Sem hesitar, ele segurou a arma e colocou o dedo no gatilho. Apontou a arma para o homem e puxou. Não teve medo de machucar sua mãe se errasse. Naquele momento, a raiva do homem era a única coisa em sua mente, e ele não conseguia pensar em mais nada.
Bang, bang, bang!
Foram três tiros seguidos. Só então o homem voltou seu olhar para Ilya. Seus olhos se arregalaram, como se ele tivesse sido surpreendido por uma existência inesperada, e então ele caiu de bruços sobre sua mãe. Ilya permaneceu na mesma posição com a arma apontada para o homem, até que sua mãe manchada de sangue rastejou para longe do homem.
“Ilya… Oh, Ilya, meu bebê…”
Sua mãe rastejou até Ilya. Vestígios de sangue foram deixados no local por onde ela passou. A mãe estendeu a mão para agarrar Ilya. Naquele momento, Ilya inadvertidamente recuou. “Eu odiei isso.” Ele odiava admitir, que a pessoa que estava ofegando como um animal momentos atrás, era sua mãe, e que suas mãos queriam tocá-lo.
Todas aquelas emoções estavam refletidas em seu rosto. O rosto de sua mãe, olhando para o filho, estava borrado. Lágrimas encheram seus olhos e rolaram por suas bochechas.
“Desculpe, me desculpe, me desculpe.”
Ela repetiu as mesmas palavras, uma e outra vez. Não sabia do que estava arrependida, ou a quem ela estava pedindo desculpas. Ilya apenas olhou para ela com a boca fechada. Todos os tipos de emoções se misturaram dentro dele até que ficou confuso. Era tristeza, raiva ou apenas repulsa?… Parecia haver emoções demais para uma criança de apenas dez anos suportar.
Sua mãe removeu cuidadosamente a arma da mão de Ilya.
“Esqueça. Todo…”
Ela sorriu. Olhou para o filho, que não suportava ser abraçado, sorriu tristemente e imediatamente apontou a arma para sua cabeça e puxou o gatilho. Bang! Outro tiro quebrou o silêncio novamente. Os olhos de Ilya se arregalaram. Era verdade que tanto sua mãe quanto todas aquelas situações que aconteceram eram terrivelmente nojentas, mas isso não significava que ele queria que ela morresse.
Finalmente, todo o seu corpo começou a tremer. Mesmo com o punho cerrado com força, não conseguia esconder o tremor em suas mãos. Ele nem se atreveu a recuar, apesar da enorme poça de sangue que encharcava seus pés.
“Oh não.”
Ele ouviu a voz de um homem estranho. Uma grande mão cobriu os olhos de Ilya. Depois que sua visão escureceu, sua respiração, que estava bloqueada, explodiu.
“É uma situação lamentável, mas agora você só tem dois caminhos.”
O homem disse a Ilya. Era uma voz amigável, mas fria.
“Você pode ser preso por ser o assassino que matou aquele homem e viver na prisão pelo resto de sua vida…”
A mão do homem se afastou de seus olhos. Mais uma vez, ele pôde ver os corpos de seu pai, sua mãe e o estranho. O homem apontou para o corpo do outro homem com o dedo. Estava apontando exatamente para o local onde Ilya havia atirado nele, como se o tivesse observado.
“Ou você pode me seguir e viver uma nova vida.”
O sussurro do homem era como a tentação do diabo. Ilya virou-se lentamente e olhou para o rosto da pessoa atrás dele. Era diferente do que pensava. O homem, que usava um terno elegante, sorriu quando seus olhos encontraram os de Ilya. Ele era um ser que realmente não se encaixava naquele maldito lugar em ruínas.
Daquele dia em diante, aquele homem se tornou o pai adotivo de Ilya.
O tempo passou devagar. Depois de confirmar que a pressão sanguínea de Jin estabilizou até certo ponto após a transfusão de sangue, eles se moveram para a mansão. Então outra semana se passou. O médico da organização verificava Jin de três a quatro vezes por dia, mas não havia sinal de que ele recuperaria a consciência.
— Poderia realmente ser morte cerebral?
Os subordinados de Ilya murmuraram baixinho. No entanto, ninguém se atreveu a afirmar tal coisa na frente dele. Havia muito trabalho a ser feito, como consertar a mansão e limpar a bagunça causada pelo conflito com Imran. Por fora Ilya parecia ter voltado a sua vida normal, mas quando encara os membros da organização ele parecia tão frio que os homens nem conseguiam respirar.
Ele falava e agia como sempre, mas a maneira como vivia era diferente. Esta foi a primeira vez em suas vidas, em que a maioria dos membros da organização sentiu que seu chefe era extremamente assustador. Costumava haver momentos em que a atmosfera ficava muito fria, mas isso acontecia porque basicamente o chefe era uma pessoa fria e racional. Uma pessoa como ele, que não conseguia expressar bem nenhuma emoção externa, recentemente chegou a um ponto em que nem mesmo Natasha ou Andrei conseguiam se comunicar facilmente com ele.
Ilya ia verificar a condição de Jin, como se fosse um ritual pós-trabalho.
《Como está?》
Ela perguntou a Natasha, que sempre estava cuidando de Jin, durante o dia. Natasha mordeu o lábio e balançou a cabeça. Depois de responder assim, a frieza de Ilya ficou ainda mais intensa.
《Tudo bem… não entrar em contato com a Coreia?》
《Coréia?》
《A família de Jin. Não seria melhor procurar. A palavra órfão não aparece em nenhum lugar em seus registros.》
Ilya riu de suas palavras. As informações de Ryu Jin estavam cheias de coisas estranhas. Claramente, ele não era órfão. Era um estudante normal que não ganhava dinheiro, mas, apesar disso, pagava uma faculdade cara sem problemas, e a casa em que morava era grande demais para morar sozinho. Tinha que haver alguém para cuidar dele, seja um membro da família ou um padrinho. Isso era certo. No entanto, depois do desaparecimento de Ryu Jin, não houve investigação policial ou movimento da mídia para encontrá-lo. Após o sequestro, ficou observando por um tempo, mas nem mesmo foi dado como desaparecido.
《Ele não tem ninguém para chorar por ele, mesmo quando ele morre.》
Ilya estalou a língua. Natasha riu amargamente porque suas palavras soaram bastante contundentes.
《Huh?》
Natasha, que voltou seu olhar de Ilya para Jin, arregalou os olhos.
《Está se movendo! Ele moveu o dedo!》
Assim que ela terminou de falar, Ilya caminhou até a cama onde Jin estava deitado e olhou para seu rosto pálido. Suas pálpebras, que estavam bem fechadas e pareciam não se mover por dias, tremulavam. Ugh. Jin, que gemeu baixinho, ergueu as pálpebras bem devagar. Então, franziu a testa por um momento, como se a luz fluorescente parecesse muito forte para ele.
— Existe uma pessoa no submundo que se parece com Ilya.
Jin murmurou em coreano, como se sua visão estivesse ficando mais clara. Ilya, que parecia ter ouvido seu nome, mas não conseguia entender o que ele estava dizendo, franziu a testa.
— Com um rosto lindo… acho que não é… um anjo. Mas é a cara dele. Então é o diabo?
Ele continuou, com os lábios trêmulos, e então sorriu sem energia.
— Fala em inglês. Ou em russo.
Incapaz de suportar, Ilya respondeu friamente.
— Uau… até no submundo, é considerado o idioma. Você não deveria simplesmente entender tudo?
Jin respondeu em inglês, enquanto reclamava.
A boca de Ilya se curvou suavemente em uma linha. Ele gostou que houvesse respondido em inglês, como lhe havia dito.
— Você disparou arbitrariamente e agora diz que está na vida após a morte.
Jin piscou em perplexidade.
— Você não está morto.
Acrescentou Ilya, e alguns segundos se passaram em silêncio.
— Uhhh? Ugh!
Jin, que estava gritando, distorceu o rosto enquanto gemia por causa da dor na região do peito. Ilya entrou em pânico e gritou para chamarem o médico imediatamente.
— Não, está tudo bem.
Ele estendeu a mão e tentou agarrar Ilya, mas seu braço, que não tinha força, parou no caminho.
— Ahh…
Jin sorriu como se estivesse envergonhado. Vendo o rosto de Ilya endurecer, ele balançou a cabeça dizendo que estava tudo bem.
— Doeu um pouco por isso gritei. Mas não precisa chamar um médico para isso.
《Você está bem agora?》
Natasha, que ele nem sabia que estava ali, colocou o rosto na frente de Jin e apoiou a testa dele com a palma da mão.
《Não toque.》
Ilya agarrou seu pulso e a puxou para longe de Jin. Natasha balançou a cabeça animadamente, olhando para ele como se não pudesse acreditar.
《Bom, vou embora. Como já o vi acordar, irei descansar um pouco.》
Como se quisesse deixar os dois sozinhos, ela acenou e se virou imediatamente. Depois que saiu, o silêncio invadiu o quarto novamente.
Jin olhou para o teto e exalou. Era um telhado familiar. Era o quarto de Ilya.
Eu realmente pensei que ia morrer desta vez… pareço ser mais forte do que pensava. Deveria parar de ser tão imprudente.
Jin, que estava refletindo sobre o que havia acontecido, virou a cabeça para o peso que sentia em seu peito. Ilya estava olhando para ele com a mão sobre o ferimento. Seu rosto era inexpressivo, mas ele não parecia zangado.
— Não faça isso de novo.
— Se eu fizer isso de novo, vou morrer nas mãos do chefe desta vez?
Jin brincou e sorriu, mas não houve mudança na expressão de Ilya.
— Não. Nunca morra na minha frente.
Seu rosto estava tão sério que Jin não pôde deixar de sorrir quando o viu. Ele respirou fundo, porque não conseguia encontrar mais nada para dizer.
— E não me chame de chefe.
Isso era o que ele sempre dizia quando faziam sexo. Lembrou que Natasha havia dito a ele que Ilya não gostava de ser o chefe.
— Você não se tornou chefe porque queria ser?
Tardiamente arregalou os olhos ao se dar conta da pergunta inútil. Ilya franziu a testa como se pensasse a mesma coisa que ele. Bem, também estava um pouco nervoso. Mas não pode evitar porque estava extremamente curioso.
— Eu não me importo se você não responder….
— Porque eu tive que matar o antigo chefe.
— Huh…?
O que significa isto? Você não matou o antigo chefe porque queria ser o chefe, mas porque tinha que matá-lo? Ele se perguntou se algo estava errado.
— Posso perguntar por quê?
Ele estava um pouco cauteloso, embora já tivesse falado. No entanto, se perguntou se Ilya responderia ao que acabara de perguntar. Talvez estivesse arriscando a própria vida.
— Meu ex-chefe sequestrou e estuprou a amante de Natasha.
— Huh?
Essa foi uma coisa inesperada. Ele estava apenas curioso sobre a história de Ilya, mas não esperava que a história de Natasha se misturasse com a dele.
— Espere espere. Não acho que isso é algo que eu deva ouvir.
Por mais curioso que fosse, ele sabia que precisava ser prudente. Queria apertar a mão dele, mas realmente não tinha nenhuma força em seu corpo, então ela apenas revirou os olhos.
— Eu não me importo de dizer a você.
Não, eu não acho que você deveria me contar isso… A reação dele foi o completo oposto da cautela de Natasha ao contar a história de Ilya.
— Ela é de uma beleza notável, e quando ele esbarrou nela no início de seu ciclo de cio, ele ficou obcecado. Embora soubesse que ela era amante de Natasha, ele a sequestrou e tentou forçá-la a ficar ao seu lado e usá-la como um brinquedo sexual.
— Então, Natasha…?
— Não.
Ilia estalou.
— Detesto ver esse tipo de coisa. Isso é tudo.
Você é tão frio. Jin mal engoliu as palavras que quase saíram de sua boca e sorriu sem jeito. De qualquer forma, Natasha teria agradecido a Ilya. Mesmo tendo dito isso, Ilya mesmo tendo dito isso, Ilya, foi até às últimas consequências para salvar a amante de Natasha.
Afinal existe um canto amigável mesmo nos lugares mais estranhos. Ele não é tão frio quanto parece. Para mim também…
— Você poderia ter matado o chefe e passado a posição dele para outra pessoa.
De qualquer forma, ser um chefe da máfia não pode ser considerado um bom trabalho. Sendo Ilya um Alfa dominante, ele não seria capaz de fazer outras coisas?
— Você subestima muito o mundo em que vivemos. Se você se tornasse o novo chefe, não teria medo do homem que matou o antigo chefe? Não importa o quanto apoie o novo chefe, no momento em que ele se sentasse no trono eu me tornaria um alvo.
— Acho que você ainda quer viver.
Ele respondeu casualmente, mas os lábios de Ilya se endireitaram. Ilya não refutou a expressão de que queria viver. Bem. Desistir da própria vida não era algo fácil, mesmo nas piores circunstâncias. Jin sabia disso melhor do que ninguém.
Mesmo quando foi estuprado por seus amigos, quando seu irmão mais velho o ridicularizou por dias e sua família o ignorou com todas as suas forças, ele realmente queria morrer, mas isso foram apenas desejos momentâneos. No final, Jin de alguma forma escolheu viver e saiu de casa para morar sozinho.
Mas desta vez ….
Os olhos de Jin se voltaram para o rosto de Ilya. Mas Ilya se virou como se sentisse o olhar dele, e franziu a testa um pouco insatisfeito novamente. Então, Jin murmurou que estava cansado e fechou os olhos, Ilya não disse nada. O homem parecia o observar fixamente porque havia quase morrido.
De alguma forma, lutei para permanecer vivo, mas por que não hesitei em enfrentar a arma de Ilya desta vez e puxar o gatilho com minhas próprias mãos?
Nunca tive sentimentos persistentes sobre a vida. Fui eu que escolhi viver em vez de morrer, mesmo que não tenha me arrependido, mas, por que fiz isso…?
“Eu não vou fazer nada com você. Só vamos dormir.”
“Não faça barulho e durma tranquilamente, para que eu possa dormir também.”
Aquele dia foi o começo. Com isso, Ilya foi capaz de forçar um caminho em seu sistema hermeticamente fechado e entrou silenciosamente, estabelecendo-se mais profundamente dentro dele. Jin foi forçado a sair de uma realidade onde não parecia estar vivo mesmo quando sorria ou respirava, Ilya o coloriu livremente com sua própria cor. Isso o fez querer confiar nele, o fez querer vê-lo novamente.
Quando voltou para os braços de Ilya, Jin aceitou e admitiu seus sentimentos. Ele nunca quis ter um relacionamento especial com o homem, mas fora isso, tinha certeza de que Ilya havia se tornado uma pessoa especial para ele.
Não queria incomodar Ilya. Já tinha feito o suficiente com o golpe das criptomoedas o colocando em apuros.
Se não resolvessem o problema de Imran rapidamente, estava claro que ele iria interferir persistentemente no trabalho de Ilya. Ele podia recuperar o dinheiro que perdeu com criptomoedas com sua própria habilidade, mas não poderia fazer o mesmo com Imran. Era uma área que Jin não conseguia controlar.
Aquele homem era obcecado por Ryu Jin. Apenas ver seu sorriso suspeito o fez perceber que ele faria a mesma coisa repetidamente, até conseguir Ryu Jin. Portanto, só havia uma maneira de acabar com essa obsessão. Morrer na frente dele, como Imran mesmo disse.
Odiava ter que ser um fardo para Ilya, mesmo que na hora da morte. Era uma questão de orgulho para Jin. Ele estava cansado de ser tratado como um ômega promíscuo por sua própria família de Alfas, mas além disso, não suportava que os membros da organização pensassem que foi ele quem colocou Ilya em apuros.
Se perguntassem a ele se o orgulho era mais valioso que a vida, pensando por esse lado, então era. ‘Não consegui nem mesmo morrer. De qualquer modo, não importaria se eu morresse sozinho, porque isso não daria sofrimento a ninguém.’ Ele pensou levemente.
Mas acho que estava errado.
Podia sentir o calor cobrindo as costas de sua mão. Ele e Ilya eram os únicos naquele quarto, então não precisava confirmar quem era o dono daquele calor. Seria uma ilusão pensar que os dedos de Ilya cobrindo sua mão pareciam tremer levemente?
Ilya Galyaev, o chefe da máfia, tremia com uma mistura de ansiedade e de alívio com o fato de um homem asiático não ter morrido e ter acordado são e salvo. Foi agridoce, porque não estava feliz com isso. Tinha medo de que sua existência se tornasse a fraqueza de Ilya… Jin ficou realmente assustado com isso.
Jin voltou a dormir, talvez porque ainda não tivesse força física. Ilya, que esperou até que seu peito subisse e descesse uniformemente, chamou um subordinado que esperava do lado de fora do quarto e pediu-lhe que trouxesse o médico. Em cinco minutos, o médico entrou correndo, quase sem fôlego. Quando ele disse que Ryu Jin havia acordado, seu rosto recuperou a cor. Se Jin morresse, ele tinha a sensação terrível de que sua vida estaria em perigo.
Assim, ele não apenas monitorou os sons de sua respiração, mas também verificou sua pressão sanguínea, pulso e temperatura corporal.
《Quanto tempo ficou acordado antes de voltar a dormir?》
《Cerca de dez minutos.》
Tirando uma pequena conversa, na verdade não fiquei acordado durante muito tempo.
《É provavelmente porque ele ainda não recuperou sua energia. Vou prescrever alguns suplementos nutricionais. Agora que ele recuperou a consciência, você pode descansar por algumas horas.》
《Existe a possibilidade de ter outros problemas?》
《O que exatamente…? Bem, uma vez que ele acordou, significa que não está com morte cerebral, pode haver paralisia em algumas partes do corpo, mas uma vez que comece a se mover, terá que passar por uma reabilitação. Os testes não mostraram danos nos nervos, então você não precisa se preocupar muito.》
Depois que o médico saiu, Ilya levantou a mão e passou pelo rosto. Como se a tensão acumulada ao longo dos dias tivesse sido liberada de uma vez só, o cansaço se instalou. Ele se sentou na cadeira que havia arrastado para perto da cama, suspirou e encarou Jin, que estava dormindo.
Desde quando…
Seu coração parou quando os dedos apertaram o gatilho. No momento em que o viu cair enquanto se despedia, seus olhos ficaram brancos. O chão sob seus pés tremeram como se tivesse desaparecido. Isso não pode ser definido apenas como ‘posse’.
Antes que percebesse, Ryu Jin havia se tornado uma existência insubstituível para mim. Já não podia se imaginar perdendo ele, nem queria que ficasse fora de sua vista.
°
°
Continua…