Entrega especial - Capítulo 2
—É verdade ou mentira, mas foi ele quem primeiro declarou que estava grávido.
—Gi-joo jogou uma bomba enorme e agiu como se nada tivesse acontecido. Gyu-won, que perdeu completamente a cabeça e ficou em frangalhos depois da explosão, se sentia um idiota solitário.
—Me perguntei se ele tinha encontrado um motivo para querer pedir demissão, mas Gyu-won sabia melhor do que ninguém que ele não era o tipo de pessoa que mentiria com algo tão sério. Ki-joo entregou a carta de demissão dizendo que não queria mais trabalhar, mas não era alguém que pudesse inventar uma mentira assim levianamente.
Gyu-won fechou os olhos em silêncio, e o carro mergulhou numa quietude desconfortável.
—Quantos anos você tem esse ano?
—Trinta.
—Já tem trinta também. Meu irmão tem trinta e três.
—…Eu não perguntei.
Só soube há dez anos. Kim Ki-joo tinha vinte anos quando abriu a porta da sala de prática no porão de uma agência nova e precária, dirigida pelo CEO Baek Hyeon-woo.
Gyu-won mordeu a língua ao lembrar que Ki-joo era apenas um aprendiz pobre que veio procurá-lo com o sonho de se tornar um ídolo. Até mesmo o primeiro grupo masculino que a empresa lançou arriscando tudo, mesmo endividada, mal conseguiu sair do papel e já estava à beira do colapso.
O líder do grupo, Gyu-won, estava sentado no chão da sala com os outros membros quando viu Ki-joo entrar com Hyeon-woo, com um olhar quase piedoso. Os membros, sempre tensos, arregalaram os olhos e examinaram Ki-joo de cima a baixo, achando que talvez fosse um substituto.
Naquele clima tenso, Ki-joo se apresentou de forma simples:
—Sou Kim Ki-joo. Eu componho.
As expectativas estavam erradas. Ki-joo era um aspirante a compositor.
O olhar desconfiado que o grupo lançou como se estivessem diante de um rival perigoso se dissipou. No lugar disso, veio a desconfiança nas habilidades de composição do jovem Ki-joo.
Na primavera do ano seguinte, três músicas compostas por Ki-joo foram escolhidas como faixas lado B do primeiro (e último) álbum do grupo. Mas não importava se as músicas eram boas ou ruins — ninguém sequer sabia o nome do grupo, que fracassou terrivelmente.
Graças a Hyeon-woo, que nem se preocupou em prender os membros com contratos, o grupo se desfez, e cada um procurou seu rumo. O único que ficou foi Gyu-won, líder da antiga boyband. Um dos membros até foi chamado por outra agência, mas só Gyu-won permaneceu.
Naquela época, até os poucos funcionários da empresa começaram a sair um por um. Hyeon-woo usou o depósito do prédio para se mudar para um lugar menor, tentando evitar atrasos salariais. Mesmo assim, os funcionários que ficaram ansiosos foram embora sem olhar para trás.
No fim, só sobraram na empresa o presidente, uma celebridade e um compositor.
Gyu-won ficou por lealdade a Hyeon-woo, seu colega do ensino médio. Mas Ki-joo não tinha esses laços. Parecia que seria o primeiro a sair. Mas, a partir daí, acabou virando o road manager de Gyu-won.
Ki-joo trocou o Cubase pelo volante, e Hyeon-woo começou a levar sucos de saúde às emissoras de dia e frequentar todo tipo de festa à noite, vivendo como uma máquina de beber.
Hyeon-woo conseguiu um trabalho assim e começou a fazer Gyu-won trabalhar como um cachorro. Mas quanto mais Hyeon-woo e Ki-joo sofriam, menos Gyu-won queria fugir.
Pelo contrário, ficaram mais unidos pelas dificuldades compartilhadas. Era uma relação grudenta.
Gyu-won, que se tornou ator de forma inesperada, fez sucesso, e Hyeon-woo decidiu apostar em outro grupo de ídolos. Pela primeira vez, Gyu-won se opôs à ideia.
Disse que deveria ir para uma agência de atores. De qualquer forma, a semente não germinou.
Baek Hyeon-woo usou o dinheiro que tinham ganhado até então e investiu em outro grupo, e Ki-joo compôs cerca de metade das músicas. Os membros chamavam Ki-joo de “PD-nim”.
Mas o grupo surgiu na hora errada e afundou. Nem tudo deu certo.
Quando a empresa voltou a balançar por falta de retorno do investimento, Gyu-won ajudou com eventos de fãs no exterior. Ki-joo assumiu toda a responsabilidade pelos horários internacionais. No fim, ele voltou ao volante.
As músicas de Ki-joo eram descartadas antes mesmo de serem ouvidas, e ele acabou conhecido como um compositor fantasma. Depois que Gyu-won voltou da turnê internacional, ele treinou três dos membros como atores.
Embora às vezes tivesse conflitos entre o que queria fazer e o que devia fazer, Ki-joo sempre manteve a compostura. Até nessa situação absurda, ele parecia calmo.
Gyu-won voltou a olhar para a nuca de Ki-joo, que continuava vivendo sua rotina normalmente, mesmo estando grávido — algo incomum para um homem. Embora fosse o trabalho dele, era tudo muito informal.
—Ei. Tenho uma pergunta pra você.
—O quê?
—Quem é o pai do seu filho?
—Não existe isso.
Ki-joo já passou dos trinta, e eu sou um adulto que sabe disfarçar com um sorriso. Mas ainda lembro daquele garoto que entrou na sala de prática num dia frio de inverno, gripado, com uma guitarra nas costas e um cachecol enrolado, chorando.
Agora esse mesmo garoto estava grávido de um filho sem pai. Gyu-won tirou os óculos escuros e resmungou:
—Não pode ser. Você é a Virgem Maria, por acaso?
O anfitrião não respondeu.
Jin-tae, que esperava no estacionamento, correu para o carro assim que chegaram no set e cumprimentou os dois. Ki-joo, no banco do motorista, abaixou o vidro e acenou.
Oi, Jin-tae.
—Bom dia!
O trabalho de Ki-joo era buscar Gyu-won em casa e levá-lo para o set. Já fazia dez anos que estava na empresa. Não tinha mais número de estagiário, mas também não largava o volante que foi obrigado a assumir quando a empresa era um buraco. Por insistência de Gyu-won.
Hyeon-woo viu Ki-joo continuar dirigindo mesmo sem passar a tarefa adiante e chegou a dar um tapa nele, dizendo que tinha criado Gyu-won como um mafioso. Ki-joo até aceitava isso em parte, mas não podia fazer nada.
Gyu-won é sensível de manhã, especialmente quando vai trabalhar. Por isso, era preciso alguém para cuidar do seu estado emocional. Jin-tae, como segundo ano de manager, ainda não dava conta.
Ele ainda tinha dificuldade com Gyu-won, e os dois mantinham uma relação desconfortável: Jin-tae se deprimia com as provocações de Gyu-won, e Gyu-won mostrava afeto através dessas provocações.
Quando Ki-joo não desabotoou o cinto, Jin-tae perguntou:
Irmão, vai embora agora?
Ficou ao lado da porta do motorista, como se não quisesse deixá-lo ir. Gyu-won o olhou com os olhos semicerrados. Aquilo tudo era demais. Começou a observá-lo com uma certa inquietação.
—Vamos. O que eu tô fazendo aqui? Tá muito ocupado hoje? Não dá pra irmos juntos depois?
—Não tô ocupado, mas preciso ir trabalhar de manhã.
—Então nos vemos na empresa.
Jin-tae fez uma careta de arrependimento. Os cumprimentos inúteis se estendiam. Gyu-won se aproximou de Jin-tae, parado ao lado da janela do motorista, e lançou um olhar pedindo que saísse do caminho — mas Jin-tae não entendeu.
Gyu-won tirou os óculos escuros, achando que era por causa deles que Jin-tae não lia suas intenções, mas ele continuou ali.
—Jin-tae, o café do hyung.
Certo!
Sem vontade, Gyu-won mandou Jin-tae buscar café. Quando ele se afastou correndo em direção ao trailer, Gyu-won disse a Ki-joo:
—Vai pegar uma xícara de café também.
—Tá cedo. Café não.
—Então bebe outra coisa.
Mesmo sabendo que o café era só uma desculpa, Ki-joo mostrou desagrado. Não era que não entendesse o desejo de conversar mais, mas queria evitar aquele lugar. Sua habilidade de escapar de situações desconfortáveis era impressionante.
Um era uma máscara porque era cego demais, o outro era uma máscara porque parecia um fantasma.
—Tem suco de laranja?
Era como se estivesse dizendo: (Não é que eu esteja evitando, só não quero beber café). Gyu-won estreitou os olhos, lendo suas intenções.
—Não tem.
—Então tá.
—Não me peça pra comprar. Fica aqui.
—Tá bom. Jintae é meu manager? Ele é o gerente.
Enquanto Gyu-won hesitava, Ki-joo tentou fechar a janela. Então Gyu-won segurou com a mão.
—Você realmente não vai falar nada?
—É perigoso colocar a mão aí.
—Podia só me dizer isso.
Ki-joo olhou para Gyu-won por um momento.
—Seu hyung sabe o que tem que fazer.
Quando Gyu-won ficou sem palavras, Ki-joo afastou sua mão, fechou a janela e ligou o carro. Gyu-won ficou encarando a traseira do carro.
(Mas… o que eu posso fazer?)
Não era como nos dramas, onde ele poderia agarrar o outro pelo colarinho ou bater com um repolho dizendo:
— engravidou meu bebê precioso e nem me conhece!.
No calor do início do verão, Jin-tae apareceu ofegante com um americano quente e entregou o café.