Deseje-me se puder - Capítulo 99
Grayson olhou para Dane de cima e acrescentou, como se fosse a coisa mais natural do mundo:
— Pode ser que você precise de algo no meio da noite. Se precisar, é só me chamar.
Dane ficou tão chocado que seu queixo quase caiu. Antes que ele pudesse processar o que estava acontecendo, Grayson continuou:
— Além disso, quem sabe você mesmo não queira entrar no meu quarto?
O jeito que ele corou e sorriu todo sem vergonha era simplesmente ridículo. Dane ficou apenas boquiaberto, olhando para ele, tentando processar. Ele já tinha perdido a conta de quantas vezes ficou chocado com Grayson, mas esse cara sempre dava um jeito de se superar. Sentindo até uma leve tontura, Dane esfregou a testa, fechou os olhos e respirou fundo. Gritar e xingar de nada adiantaria. Ele já tinha aprendido a lidar com esse lunático. Com um gesto firme, como se estivesse afastando um cachorro animado demais, ele declarou:
— Olha aqui, gracinha, acho que precisamos estabelecer alguns limites.
— Somos namorados, não precisamos de limites.
— Não, justamente porque somos namorados, é que precisamos.
Dane cortou qualquer argumento dele sem hesitar. Só de dizer a palavra “namorados”, sentiu um calafrio percorrer seu corpo, mas ignorou e seguiu falando:
— Se você continuar cruzando os limites assim, vai acabar me cansando. E eu já estou no meu limite. Então, fica no seu canto e para de invadir o meu espaço, entendeu?
Os olhos dele fixaram Grayson com firmeza, deixando claro que, se ele desse mais um passo, as consequências não seriam bonitas.
Após alguns segundos de silêncio, Grayson suspirou baixinho e disse: — Tudo bem. — Ao ver a expressão desanimada de Grayson, Dane quase cedeu, mas logo se recompôs. Mesmo que Grayson tivesse salvo a vida de Darling, isso não significava que poderia simplesmente ignorar seus limites. Ele já tinha sido tolerante demais.
— Me dê a chave.
— Chave?
Grayson inclinou a cabeça, fingindo que não sabia do que Dane estava falando. Mas ele não caiu nessa.
— A chave daquela porta. Você deve ter uma.
— Não tenho.
— Já te disse para não mentir.
Dane falou com autoridade, e Grayson fez um biquinho antes de se virar e ir até uma cômoda. Ele puxou uma gaveta, pegou uma chave pequena e jogou para Dane, que a pegou no ar com a mão.
— A chave tranca dos dois lados. Claro que eu não vou trancar o meu.
A forma como disse isso parecia um aviso. Basicamente, ele estava dizendo que, se dependesse dele, Dane poderia entrar quando quisesse. Óbvio que essa ideia era completamente absurda. E Dane fez questão de deixar isso bem claro.
Sem dizer nada, ele marchou até a porta que conectava os quartos e, sem hesitar, trancou-a com um clique firme. Puxou a maçaneta para testar, estava trancada. Então, virou-se para Grayson, pegou a mão dele e colocou a chave de volta na palma dele, como se estivesse se livrando de algo inútil.
— Mais alguma coisa que eu deva saber?
— Bom… Talvez você fique com medo na primeira noite aqui e queira dormir co—
— Boa noite.
Dane nem deixou ele terminar. Com um empurrão, colocou Grayson para fora e fechou a porta. Só então soltou um longo suspiro, estava finalmente sozinho.
‘Ficar perto desse cara era uma verdadeira batalha mental.’
Depois de balançar a cabeça, Dane finalmente notou a caixa de transporte que havia deixado em cima da cama. ‘Droga, tinha esquecido da Darling.’ Em pânico, ele se apressou para abrir a porta da caixa. Quando liberou os feromônios para a gata, que estava toda encolhida, o felino farejou o ar e emitiu um pequeno miado.
— Desculpa, Darling. Você ficou assustada?
Com a voz suave, ele se desculpou enquanto acariciava delicadamente a cabeça da gata com a ponta dos dedos. Darling esfregou o focinho na mão dele, pedindo mais carinho, mas ainda assim não saiu da caixa.
Dane notou que o tapete higiênico dentro estava molhado, então largou a mochila para ajeitar tudo. Pegou Darling com cuidado, trocou o tapete e o colocou de volta. A gata, sem perder tempo, se enfiou ainda mais no fundo da caixa.
Só depois de ver que ela estava confortável é que Dane pôde finalmente organizar o resto. Pôs os brinquedos favoritos dela em lugares estratégicos, encheu um potinho de ração e preparou a caixa de areia. Por último, colocou o pote de comida bem na frente da caixa de transporte, para Darling comer quando quisesse.
Só então resolveu cuidar de si mesmo.
— Ufff…
Ao mergulhar no banho quente, finalmente começou a se sentir mais como gente.
Dane inclinou a cabeça na borda da banheira e olhou para o teto. Assim como o resto da casa, o banheiro tinha um teto alto, metade coberto por vidro, permitindo uma visão clara do céu noturno. Durante o dia, o sol devia inundar o espaço através daquela janela. Olhando para as paredes, ele viu que, assim como no quarto, havia uma grande porta de vidro que, se aberta, permitiria um banho com uma vista espetacular do céu noturno e o ar fresco da noite. Ele entendeu porque Grayson se gabava de que este era o melhor quarto da casa. E, por mais que relutasse, ele teve que admitir: não só não odiava o quarto, como estava bastante satisfeito com ele.
— Haah…
Ele soltou um suspiro carregado e mergulhou em seus pensamentos. Pensando bem, essa situação era algo que Dane sempre sonhou. Uma vida sem preocupações financeiras, aproveitando ao máximo cada dia. No papel, era perfeito. Mas…
O problema era que Grayson Miller era um desocupado.
O que Dane queria era um parceiro que tivesse um emprego fixo, que saísse para trabalhar e viajasse a negócios de vez em quando, deixando Dane com bastante tempo livre para fazer o que bem entendesse. Mas Grayson? Esse cara era do tipo que grudava o dia inteiro, sem descanso.
Na verdade, a posição ideal para Dane seria ser o 35.896.425º amante de uma mulher rica e poderosa. Alguém que não desse muita importância à sua existência, permitindo que ele vivesse uma vida despreocupada, aproveitando o dinheiro sem chamar muita atenção. Nem precisava ser muito dinheiro. O suficiente para mimar Darling, sair de vez em quando e não se preocupar com o amanhã. Para sempre.
Mas para Grayson, Dane não era uma figura insignificante. E isso era um problema.
Se ele aceitasse entrar nessa relação, já sabia o que aconteceria. Só de imaginar sentiu um arrepio na espinha.
Era bem capaz do cara literalmente se pendurar nele o tempo inteiro.
A imagem mental de Grayson agarrado nas suas costas como uma tartaruga presa, apertando seu peito com aquele sorriso atrevido, fez Dane estremecer de horror.
Ele sacudiu a cabeça, tentando expulsar o pensamento. Respirando com dificuldade, ele murmurou com o rosto pálido:
— Definitivamente, não dá.
Ele sempre esteve pronto para ir embora no momento que quisesse. Sempre viveu assim. E ninguém – nem mesmo Grayson Miller – ia mudar isso. Nunca.
Dane esfregou o corpo com uma esponja cheia de sabonete líquido, como se estivesse tentando esfolar fora qualquer fraqueza da própria mente.
***
Um miado baixinho fez com que uma parte de sua consciência despertasse. Parecia que Darling estava chamando por ele.
— Mmmh… Ele soltou um ruído arrastado antes de abrir os olhos. Darling estava ali, esfregando a cabeça contra seu rosto como se estivesse esperando que ele acordasse.
Dane a abraçou com um sorriso preguiçoso.
— Dormiu bem, Darling?
Deu um beijo leve no topo da cabeça dela e voltou a fechar os olhos. Hoje ele estava se sentindo absurdamente bem. Desde quando a cama de motel era tão macia assim? Os lençóis envolviam seu corpo com um toque suave, e o colchão parecia abraçá-lo por completo. Involuntariamente, ele sorriu.
— Hm…— Ele murmurou de puro conforto… e então seus olhos se abriram num estalo.
Ficou um tempo deitado, rolando os olhos de um lado para o outro sem mover a cabeça, antes de finalmente se erguer devagar para não assustar Darling.
A luz forte do sol entrava pela enorme janela, iluminando o ambiente luxuoso e ainda estranho para ele. Só então se deu conta de onde tinha dormido na noite anterior.
— Haa…
O suspiro saiu sozinho.
Mesmo olhando várias vezes, ainda não conseguia se acostumar com aquele quarto. Provavelmente seria assim até o dia em que fosse embora. Dane se preparou para sair da cama, movendo-se preguiçosamente. Mas, ao virar a cabeça sem pensar, seu corpo travou no lugar.
Não. Ele definitivamente tinha visto errado.
Apenas para garantir, virou-se de novo – bem devagar. E no momento em que confirmou o que seus olhos estavam mostrando, congelou completamente.
Do outro lado da janela fechada, Grayson estava sorrindo de orelha a orelha e acenando para ele. E como se a situação já não fosse absurda o suficiente, assim que seus olhares se encontraram, ele animadamente soltou:
— Bom dia, querido!
Ahhhhhhh!
Dane abriu a boca e soltou um grito silencioso.