Deseje-me se puder - Capítulo 98
— Bem-vinda, Darling!
(Lembrando que Darling é uma palavra que se refere à ‘querido’, ‘queridinho’, ‘amado’ ou até ‘meu bem’, dependendo do contexto e do tom da conversa.)
Grayson, que havia se preparado e esperado com antecedência, escancarou a porta e puxou Dane para um abraço apertado. Chamar Dane de “querido/Darling”, como se estivesse dizendo o nome da gata, era uma tática tão óbvia que foi transparente. Dava para ver a intenção a quilômetros de distância. Dane queria empurrá-lo, mas uma mão segurava a caixa de transporte da gata, e a outra, uma bolsa lotada de coisas. Sem saída, ele só conseguiu murmurar baixinho:
— Me solta. Eu to avisando.
Perfeitamente ciente do significado, Grayson esfregou o rosto no ombro de Dane antes de finalmente soltá-lo. Quando levantou a cabeça e deu um passo para trás, suas bochechas estavam coradas.
— Eu esperei por você por muito tempo.
— Muito tempo?
Quando Dane franziu a testa confuso, Grayson sorriu brilhantemente e acenou com a cabeça.
— A minha vida inteira. — Grayson sorriu, todo satisfeito.
— Ah… de novo com essa conversa.
Dane balançou a cabeça como se estivesse farto. Grayson sempre falava sobre destino e coisas do tipo desde que apareceu, então Dane já estava acostumado. – o que não significava que ele acreditava nessa besteira.
‘Bom, cada um com seus sonhos.’
Ele olhou ao redor, observando o lugar.
— E qual é o meu quarto?
Antes mesmo de terminar a frase, Grayson já estava a caminho.
— Vem comigo. Separei o melhor quarto, tem a vista mais incrível da casa.
Subindo a escada, Grayson começou a assobiar uma melodia animada, transbordando alegria. Isso, é claro, só fez Daine se sentir ainda mais estranho.
Quando chegaram ao topo – cinco lances de escada depois – Dane percebeu como o andar de baixo parecia distante. A altura absurda fez com que ele desse uma olhada rápida além do corrimão antes de voltar a seguir Grayson. Ele pensou que, se Darling tivesse vindo aqui quando era mais jovem, teria aproveitado muito mais o lugar, mas logo balançou a cabeça. Afinal, não era sua casa, então de que adiantava?
O corredor era longo e silencioso, com apenas o som dos passos dos dois ecoando pelo espaço. A casa era grande demais para ter só eles dois ali, mas, obviamente, deve haver funcionários. Afinal, as estátuas espalhadas pelos cantos estavam impecáveis, sem um grão de poeira, e o carpete sob os pés brilhava como se tivesse acabado de ser colocado.
— É esse aqui.
Depois de passarem por várias portas, Grayson finalmente parou e olhou para Dane. O timing não poderia ser melhor, ele já estava começando a cansar e cogitava pedir qualquer quarto disponível.
Assim que Grayson abriu a porta e deu um passo para trás, Dane entrou… e congelou.
A primeira coisa que viu foi a janela enorme, ocupando quase toda a parede, e a vista impressionante além dela. A cidade se estendia no horizonte, suas luzes piscando como estrelas, pintando a noite escura com um brilho azul profundo. Ele nunca tinha visto uma paisagem noturna assim antes.
Dane ficou imóvel, hipnotizado.
A casa onde ele morava ficava no topo de uma colina pequena, mas uma montanha logo atrás bloqueava qualquer tentativa de enxergar a cidade ao longe. Às vezes, no caminho de volta para casa, ele via alguns trechos da cidade iluminada pela janela do carro… Mas nada parecido com aquilo.
E, de manhã, provavelmente daria para ver um céu azul infinito, com o verde das árvores se espalhando até onde os olhos pudessem alcançar.
‘Isso sim é um luxo absurdo.’ Dane ficou olhando a vista, meio atordoado. ‘Dizem que o maior privilégio dos ricos é poder comprar as paisagens. Parece que estavam certos.’
— Então, o que achou, Dane? Você gostou?
Grayson se aproximou e perguntou com a voz cheia de expectativa. Para não gostar desse quarto, a pessoa teria que ser um tremendo babaca, completamente sem noção ou, sei lá, um imperador de alguma nação. E Dane, bem… Ele não era tão babaca assim, sabia reconhecer um favor e, convenhamos, estava longe de ser um imperador. Na verdade, era um pobre coitado que tinha perdido tudo que tinha.
— Se quiser, pode ver os outros quartos antes de decidir.
Grayson sugeriu sem esperar a resposta. Dane abriu a boca para falar, mas um ruído estranho saiu:
— Hum… — e ele teve que tossir para disfarçar.
— Não precisa. Esse aqui está ótimo.
— É mesmo? Que alívio!
Grayson sorriu, genuinamente satisfeito. Já Dane, por outro lado, estava começando a se sentir meio perdido. O quarto era maior que a sala inteira do antigo apartamento dele – aliás, se juntasse as três salas que tinha, ainda não chegaria perto do tamanho desse quarto. Uma parede deslizante dividia o espaço, separando a parte do dormitório de algo que parecia uma segunda sala, com sofá, TV e uma mesinha de centro. Se ele quisesse, poderia passar dias sem nem precisar sair dali.
E a cama… Bom, a cama era um evento à parte. Dane nunca tinha visto uma tão grande. Ele podia se esticar inteiro e ainda sobraria espaço. Claro, Grayson era mais alto que ele, então fazia sentido, mas para alguém que sempre achou que colchões padrão eram pequenos demais, aquilo parecia feito sob medida. Ele sentiu até vontade de se jogar ali e testar.
Só que nada daquilo chamou tanto a atenção dele quanto o objeto ao lado da janela.
Um imenso arranhador para gatos.
Dane ficou paralisado. Ele queria comprar um desses fazia meses. Tinha até conseguido um – de presente do próprio Grayson, aliás – mas o negócio nem chegou a ser montado antes de virar cinzas. Depois disso, reabastecer a conta bancária virou prioridade e a ideia de comprar outro foi deixada de lado.
— Meu deus…
As palavras saíram antes que ele pudesse evitar. O arranhador era enorme, já montado e com vários níveis. Darling ia amar. Dane até quis pegá-la no colo e colocá-la ali em cima para ver a reação, mas teve que se segurar. O bichano já tinha passado por mudanças demais e precisava de tempo para se acostumar ao novo ambiente.
Ainda assim, ele não resistiu a passar a mão pelo tecido. Mal fez isso e, claro, Grayson apareceu colado nele de novo.
— Darling vai gostar, certo?
Dane hesitou.
— Bem…
Dane não pôde negar e deixou a frase incompleta. Ele não esperava que Grayson fosse tão atencioso. Enquanto estava parado, com sentimentos conflitantes, Grayson falou novamente:
— É um presente. Você pode levar quando for embora.
— O quê..?
Dane virou a cabeça, surpreso e Grayson sorriu sem hesitar.
— É um agradecimento por você ter vindo.
Dane ficou encarando ele, desconfiado. Mas que diabos esse cara estava falando…?
Para Grayson, gastar dinheiro assim devia ser um troco qualquer. Ele sabia disso. Mas, para quem recebia, era diferente. E, principalmente, considerando a natureza desse relacionamento – temporário e forçado – isso não parecia certo.
— …Miller.
Dane finalmente falou, sem expressar emoção alguma.
— Eu não gosto desse tipo de presente exagerado. Agradeço a intenção, mas vou recusar.
— Isso não é um presente exagerado.
— Para você, não. Mas para mim, é.
Dane recusou sem hesitar, com a voz firme.
— Se você não mantiver os limites adequados, não importa se for me perseguindo ou qualquer outra coisa, eu vou embora daqui.
E ele não estava blefando, Grayson percebeu isso na hora.
— Entendi… Mas aceite esse, pelo menos. Prometo que não compro mais nada.
Havia um tom meio amargo na voz dele, e Dane ficou em silêncio por um instante antes de finalmente ceder com um aceno. Esse cara nem tinha gato, e seria um desperdício jogar fora.
Em seguida, Grayson puxou os cantos da boca para cima e sorriu. Dane sentiu um desconforto com a reação dele, mas não comentou. Em vez disso, apontou para uma porta e perguntou:
— Essa é a porta do banheiro?
— Hã? Não. O banheiro é naquela porta.
Grayson corou levemente ao responder.
— E essa porta aí… Fica conectada com o meu quarto.
Dane virou a cabeça devagar e encarou Grayson com uma expressão ilegível.
— …O quê?
O silêncio durou alguns segundos antes de Dane finalmente franzir a testa e soltar a pergunta.
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Continua…