Deseje-me se puder - Capítulo 96
— Haaah……
Dane jogou os braços para trás, apoiando-os no encosto da cadeira, e soltou um longo suspiro em direção ao teto. Seus olhos vagavam sem foco, perdidos no vazio. Como foi que as coisas chegaram a esse ponto?
Pensou nos eventos que o levaram até ali, mas no fim das contas, a conclusão era sempre a mesma.
‘Por que diabos eu fui me meter onde não devia?’
Se naquele dia ele tivesse ignorado aquela pontada de empatia, se não tivesse acompanhado Sabrina até o hospital, teria conseguido reagir melhor quando as coisas saíram do controle. Talvez sua casa não tivesse virado cinzas, Darling não teria corrido perigo e, mais importante, sua brilhante vida noturna não teria sido arruinada.
Mas agora era tarde para arrependimentos. Dentro do clube, onde a música alta ecoava por todos os lados, Dane continuava largado na cadeira, encarando o teto, quando murmurou:
— Como é que você consegue aparecer toda vez e estragar tudo…?
Grayson riu, olhando para ele de cima.
— Você acha mesmo que eu não previ que você ia fazer isso de novo?
Dane apenas rolou os olhos para ele antes de voltar a encarar o teto.
Ele já tinha perdido a conta de quantas vezes isso tinha acontecido. Depois da primeira vez em que Grayson estragou seus planos, Dane resolveu ser mais cuidadoso. Começou a trocar de clube, sempre verificando se não estava sendo seguido. Mas não importava quantas estratégias usasse, Grayson inevitavelmente surgia do nada, fazia seu alvo fugir, arrastava-o para o carro e, claro, fazia questão de colocar para tocar aquela maldita música “Peitos Peitos/ Boobs Boobs” enquanto dirigia até o motel.
E então a história se repetia. Clube, Grayson, alvo fugindo, “Peitos Peitos”, carro, motel. Clube, Grayson, alvo fugindo, “Peitos”, carro, motel. Clube, Grayson, alvo fugindo, “Peitos Peitos”…
‘Puta merda, CHEGA!’
Dane sentiu um impulso quase incontrolável de arrancar os próprios cabelos. Já estava começando a acreditar na teoria maluca de um conspiracionista do corpo de bombeiros, que vivia dizendo que o FBI usava 5G para espionar cidadãos. Como mais Grayson conseguiria aparecer com essa precisão absurda?
E hoje, claro, não foi diferente. Mais uma vez, ele surgiu antes que Dane tivesse a chance de fazer qualquer coisa. Era oficial: Ele estava desistindo.
— Como você consegue me seguir o dia todo……
Suspirando, como quem já tinha aceitado o próprio destino, Dane jogou a pergunta no ar. Grayson respondeu sem hesitar:
— Pelo poder do amor, óbvio.
— Cala essa porra de boca.
Dane rebateu sem ânimo, sem nem se dar ao trabalho de soar ameaçador. Ainda largado na cadeira, apenas ergueu a cabeça e lançou um olhar sem vida para Grayson antes de soltar, num tom quase resignado:
— Não dá para você só apertar meus peitos e seguir em frente?
Grayson abriu um sorriso brilhante.
— Claro que não. Se somos um casal, então é óbvio que eu posso apertar seus peitos, eu ia sair perdendo nessa troca. Então, sem chance.
Dito isso, ele estendeu a mão e apertou deliberadamente o peitoral firme de Dane. Para piorar, seu rosto corou, e ele murmurou baixinho:
—Estou pousando na lua.
Dane ficou olhando para ele, sem forças nem para xingar ou reagir.
‘Está claro que minha inteligência está diminuindo por causa desse desgraçado.’
Com um suspiro frustrado, ele se inclinou para a frente e puxou um cigarro do bolso. Levou um tempo até que o isqueiro finalmente pegasse, mas assim que conseguiu acender, soltou a fumaça com uma baforada.
‘Três meses.
É tempo demais.
Três semanas já seriam o suficiente.
Não três dias.
Três horas…’
Mais uma vez, perdido em arrependimentos inúteis, Dane tragou o cigarro com força antes de soltar a fumaça de um jeito irritado.
— Qual é o seu problema, afinal?
Grayson inclinou a cabeça, como se a pergunta o tivesse deixado confuso.
— Problema? Do que você está falando?
— Você nunca parou para pensar que é estranho ficar me seguindo assim? Mesmo que sejamos um casal, cada um tem sua própria vida, sabia? Ou você acha normal ficar me perseguindo feito um psicopata desse jeito?
Quando Dane despejou as palavras rapidamente, Grayson finalmente calou a boca. Será que finalmente caiu a ficha?
Dane alimentou uma pequena esperança. Claro que foi um erro. Aos poucos, um sorriso surgiu no rosto de Grayson, e seu olhar se estreitou. Algo naquilo fez Dane hesitar. Então Grayson finalmente abriu a boca.
— Eu já sabia que não seria fácil.
A resposta calma pegou Dane desprevenido. Havia algo estranho naquela expressão. Era uma atuação bem ensaiada ou… Ele realmente parecia meio melancólico? Dane não tinha como saber. No fim, só conseguiu soltar um suspiro longo, aproveitando a fumaça do cigarro como desculpa.
‘Isso é o que chamam de carma?’
Ele se viu repassando suas próprias escolhas. Todas as pessoas que já se aproximaram com intenções sérias, ele afastou sem hesitar. Algumas aceitaram e foram embora, outras reclamaram, outras o xingaram até o inferno. Ele ignorou todas. Agora estava recebendo o troco?
Dane passou a mão pelo rosto e, depois de um momento, murmurou:
— …Tudo bem.
Com a voz resignada, completou:
— Vou parar de vir ao clube por um tempo. Satisfeito?
— Espera, sério?
Grayson perguntou com uma voz animada, diferente de antes. Dane ficou incomodado, mas não tinha muito o que fazer. Como poderia capturar pardais com um espantalho vivo agitando os braços ao seu lado? Ele só precisava aguentar três meses. Depois disso, estaria livre.
— Vou te levar.
Grayson estendeu a mão como se fosse a coisa mais natural. Dane, sem pensar, pegou as chaves do bolso e entregou. No segundo seguinte, percebeu que não tinha sequer bebido naquela noite. Mas já era tarde demais – Grayson já tinha as chaves. Sem escolha, Dane saiu do clube e, como sempre, foi parar no banco do passageiro. Como de costume, a caminho do motel, a maldita música “Peitos Peitos” tocava de fundo.
***
— Você já não está cansado de morar em um motel?
Parado ao lado do carro, Grayson fez a pergunta ao entregar as chaves. Dane não respondeu. Só arrancou as chaves da mão dele e virou as costas. O próximo passo seria levá-lo para sua casa?
Nem fodendo.
Sem olhar para trás, ele entrou no prédio.
Sozinho mais uma vez, Grayson ficou parado do lado de fora, esperando. Como sempre, não demorou até Dane reaparecer no segundo andar, atravessando o corredor até seu quarto. Só depois de vê-lo entrar e fechar a porta, Grayson finalmente se moveu.
Ele pegou o celular e chamou um carro. Depois, enfiou as mãos nos bolsos e começou a assobiar enquanto esperava. O vento fresco da noite soprava, e ele era a única pessoa no amplo estacionamento. Grayson vagou lentamente, sem pressa, caminhando sem rumo pelo estacionamento. Um passo, depois outro. Como se não tivesse nenhum propósito, como se o tempo de espera fosse longo demais para suportar. Mas lá atrás, na escuridão, uma sombra se moveu.
E então..
PÁ!
Alguém golpeou suas costas com força. O som alto do impacto ecoou pelo estacionamento silencioso, seguido pela respiração pesada e tensa de um homem. Grayson cambaleou para frente com a pancada nas costas, mas girou o corpo no mesmo instante e chutou o agressor.
— Ugh!
O golpe acertou a cabeça do sujeito em cheio, fazendo-o cambalear para trás. O taco de beisebol que ele segurava caiu no chão com um som seco e, em um piscar de olhos, já estava nas mãos de Grayson.
— Agora sim.
Ele sorriu, um sorriso afiado que se desenhou sob a luz fraca do estacionamento, lançando sombras sinistras sobre seu rosto.
— Agora é legítima defesa.
E sem perder tempo, começou a revidar com o taco. Sem piedade.
***
— Miller! Que porra aconteceu? E esse machucado?
Assim que Grayson tirou a camisa, Ezra arregalou os olhos. Suas costas estavam cobertas por um hematoma enorme, uma mistura de roxo e vermelho, nada bonito de se ver. Os outros também ficaram igualmente alarmados. Sob o olhar de todos, Grayson respondeu com naturalidade:
— Me assaltaram. O cara tentou me acertar na cabeça com um taco de beisebol.
A tranquilidade na voz dele fez o silêncio pesar na sala. Então, um a um, os olhares surpresos se transformaram em puro choque.
— Assalto? Onde?
— Em que tipo de lugar você estava para encontrar um assaltante?
As perguntas surgiram de imediato.
No mundo deles, dinheiro era sinônimo de segurança. Grayson Miller, o segundo filho da riquíssima família Miller, provavelmente vivia em uma mansão com segurança máxima, usava roupas de grife, dirigia carros de luxo e até os restaurantes que frequentava eram os mais exclusivos, inacessíveis para pessoas comuns.
Então como, ele acabou cruzando com um assaltante armado com um taco de beisebol?
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Continua…