Deseje-me se puder - Capítulo 94
— Haaah…
Dane soltou um suspiro tão pesado que parecia capaz de afundar o chão. Sua cabeça latejava de dor e seu peito estava pesado. No trabalho, Grayson o seguiu como uma sombra irritante o dia inteiro, e mesmo quando conseguia despistá-lo, sua liberdade durava míseros cinco, no máximo dez minutos. De algum jeito sobrenatural, Grayson sempre o achava. Se alguém dissesse que ele tinha implantado um rastreador em Dane sem que ele soubesse, não seria tão absurdo assim.
Absurdo, claro. Mas ainda assim.
Dane franziu o rosto enquanto pensava. Finalmente, depois de escapar do trabalho e se livrar de Grayson, ele voltava para um motel barato. Sua casa pequena, mas confortável, não existia mais, e agora ele estava condenado a viver indefinidamente em um quarto sujo e velho de um motel. A situação era tão lamentável que ele sentia raiva de si mesmo.
Pelo menos havia um consolo: o dinheiro do seguro que ele havia acumulado ao longo dos anos cobriria algumas parcelas do aluguel. Junto com o empréstimo que ele conseguiu, seria possível reconstruir a casa. O problema era encontrar um lugar para ficar. Como ele não tinha muito dinheiro, estava tendo dificuldades para encontrar um lugar decente. Ele não podia se dar ao luxo de ser exigente, mas também não queria acabar num apartamento de quinta categoria, onde tiros e invasões a domicílio eram parte da rotina.
Especialmente, porque Darling também estaria lá.
Mas ficar num hotel para sempre também não era opção…
Dane suspirou e passou a mão pelo corpo macio de Darling, que estava esparramada sobre suas pernas. O lugar onde estavam por enquanto era seguro, mas não poderia continuar ali por muito tempo. Construir uma nova casa levaria anos. Ele precisava encontrar um lugar para ficar logo, antes que—
Ele parou e balançou a cabeça.
No fim, ele sabia exatamente o motivo de estar tão estressado. Fazia tempo que não extravasava do jeito certo. E ele tinha uma solução muito clara para isso.
Pegando Darling nos braços, Dane depositou um beijo barulhento na cabecinha dela antes de deitá-la de volta no lugar. A gata soltou um pequeno miado e se enroscou no meio da almofada funda que, felizmente, parecia aprovada como seu novo trono.
Sem perder mais tempo, Dane pegou a chave do hotel, e o suficiente para pagar algumas bebidas. Ele já sabia exatamente para onde iria.
***
— Olha só quem apareceu! Dane!
— Caramba, você sumiu, hein?
— Dane, Dane!
Mal pisou na boate, e já estava cercado. Ele respondeu com um aceno vago e se dirigiu direto ao balcão. Pediu uma cerveja, e enquanto esperava, alguém se sentou ao seu lado.
Um rosto familiar.
Um alfa com quem já tinha passado uma noite. Ele se lembrava bem de ter colocado o cara num táxi depois. Ele provavelmente nunca imaginou que o homem que tinha transando com ele fosse um Ômega.
O homem apoiou o queixo na mão e sorriu.
— Oi. Sentiu minha falta? Como está a Darling?
Dane apenas respondeu com um curto:
— Mais ou menos.
Então, deu uma olhada em volta.
Se fosse possível, ele queria encontrar alguém novo. Mas hoje o tempo era curto. Tinha deixado Darling sozinha e, antes de tudo, só queria aliviar a tensão. Talvez por perceber isso – ou talvez porque já tivesse esse plano desde o início – o alfa deslizou a mão pela coxa de Dane, subindo devagar.
Mais precisamente, ele massageou lentamente o membro rígido que pressionava contra a perna de Dane.
Ele estreitou os olhos e sorriu de canto.
— Para onde você está olhando? Eu estou bem aqui.
O homem falou como se estivesse irritado, mas seu rosto estava vermelho, claramente mostrando sua excitação. Como ele havia sido bastante provocativo da última vez que transaram, Dane achou que não seria ruim repetir a experiência.
Ele segurou o queixo do homem e o puxou para cima. O alfa abriu a boca e fechou os olhos, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Dane então cobriu seus lábios com os próprios e chupou a língua do homem. Não precisavam perder muito tempo com preliminares. O cheiro da excitação do alfa já era suficiente para fazer o próprio corpo reagir.
— Se estivéssemos na minha casa, eu já teria te jogado na cama.
Dane sussurrou enquanto mantinha os lábios pressionados contra os do homem, que riu com um som suave.
— Jogado? Assim como fez da última vez?
— E depois meteria em você sem dó.
Ao repetir as palavras exatas do que haviam feito da última vez, o homem olhou para Dane sem fôlego, com olhos brilhando de excitação.
— Então… vamos para sua casa hoje?
Se pudesse, Dane aceitaria sem pensar duas vezes. Mas, infelizmente, a realidade não ajudava. Ele soltou um suspiro curto antes de recusar:
— Péssima ideia. Minha casa pegou fogo.
— O quê?! Como assim?
O outro arregalou os olhos, visivelmente surpreso. Dane, por outro lado, respondeu com indiferença.
— Algum idiota achou que era uma boa ideia queimar folhas secas no quintal… e acabou incendiando minha casa inteira junto. Então, até eu conseguir um novo lugar, estou preso num motel caindo aos pedaços.
— Nossa…
O homem suspirou, parecendo genuinamente comovido, mas logo em seguida lançou um olhar provocante e perguntou:
— Então… que tal ir para a minha casa desta vez…?
O cheiro do feromônio dele ficou mais forte. A voz dele era sedutora, cheia de segundas intenções. Mesmo achando que Dane era um beta, ele não conseguia esconder o quanto estava se sentindo atraído. Dane não respondeu. Apenas deslizou a mão pela cintura do homem, puxando-o para outro beijo.
Ou, pelo menos, era o que pretendia fazer.
— Urgh…!
De repente, uma mão firme agarrou seu ombro e puxou-o para trás. Dane soltou um ruído surpreso antes de se dar conta do que estava acontecendo. O alfa, atordoado com a interrupção abrupta, arregalou os olhos e rapidamente se recompôs.
— Que porra…?
Dane se virou, pronto para xingar, mas congelou no lugar.
Bem ali, encarando-o com uma expressão gélida, estava Grayson Miller.
***
A música estrondava pelo clube, a batida era forte o suficiente para fazer o peito vibrar. O ambiente estava cheio de bêbados se esfregando uns nos outros, corpos misturados no calor e na excitação. Mas, naquele pequeno espaço onde Dane estava, parecia que o mundo havia ficado em silêncio.
Dane estava atônito. Grayson, com uma expressão impassível e o alfa ao lado deles, completamente perdido na situação.
Foi o terceiro quem quebrou o silêncio primeiro.
— E-ei… Dane, o que está acontecendo?
O nervosismo era tanto que a voz dele saiu trêmula.
Dane, no entanto, não se deu ao trabalho de responder. Ele apenas franziu o cenho e cravou os olhos em Grayson.
— …Que porra é essa agora, hein?
Diante do tom ríspido de Dane, Grayson não respondeu de imediato. Ele apenas continuou a encará-lo com aqueles olhos frios e indiferentes antes de desviar o olhar para o lado. Seu olhar encontrou o do outro homem, que ainda parecia confuso com a situação.
E no instante em que seus olhos roxos se encontraram, o alfa congelou de medo.
Olhos roxos.
Ao se deparar com um homem de uma característica que nunca havia visto antes, o homem congelou no lugar. Ele só tinha ouvido falar disso, mas nunca havia visto pessoalmente.
‘O quê… que merda é essa?’
Atônito, ele se virou para Dane, claramente esperando uma explicação. Mas antes que Dane pudesse abrir a boca, Grayson se adiantou.
— Sinto muito, mas você vai ter que desistir dele. Eu sou o namorado do Dane.
— …O quê?
O homem arregalou os olhos e soltou quase um grito de choque. Depois, piscou várias vezes, confuso, olhando para Dane em busca de confirmação. O que só serviu para irritá-lo ainda mais.
— Que merda você está falando do nada…?
— Ué, Dane, esqueceu? Conversamos sobre isso e você fez uma promessa.
Grayson interrompeu novamente, dessa vez com um tom quase petulante. Como se estivesse genuinamente magoado com a ‘traição’.
— E pensar que você ia dormir com outro bem na minha frente… Realmente, não posso tirar os olhos de você…
Ele soltou um suspiro exagerado antes de virar para o alfa e, de repente, abrir um sorriso quase simpático.
— Sinto muito, mas você vai ter que desistir e ir embora.
A voz era doce, mas o subtexto era claro: saia daqui antes que eu faça algo pior.
O alfa hesitou. Ele vinha esperando uma segunda chance com Dane há meses – talvez até mais de um ano. E se deixasse essa escapar, quem sabe quando teria outra?
— …Dane…
Ele tentou chamá-lo mais uma vez, mas foi nesse momento que aconteceu.
Uma onda intensa de feromônio o atingiu em cheio.
— Ugh…!
O ar ficou pesado num instante. O alfa levou a mão ao pescoço, engasgando. O peso da presença de Grayson o esmagava, tornando impossível respirar direito, seu corpo inteiro se encolheu em um instinto de autopreservação. Ele tossiu, desesperado.
— O que você está fazendo? Pare com isso!
Dane rosnou, mas Grayson nem piscou. O alfa continuava lutando para recuperar o fôlego, dobrando o corpo enquanto tentava, sem sucesso, se afastar.
— Grayson Miller, eu disse para parar! Você não está me ouvindo?
Dane gritou, mas Grayson não deu o menor sinal de que iria recuar.
Foi quando Dane explodiu.
— Tudo bem, eu entendi! Eu vou embora! Então pare com essa merda!
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Continua…