Deseje-me se puder - Capítulo 93
‘O mundo deve estar prestes a acabar. Talvez hoje à noite seja o último dia da humanidade.’
‘Preciso ligar para os meus pais e dizer que os amo.’
‘Acho que finalmente vou me declarar para ela.’
‘Droga, se eu soubesse disso antes, não teria assinado aquela porcaria de plano anual da OTT. Um mês teria sido suficiente!’
No meio desse turbilhão de pensamentos, todos no quartel dos bombeiros estavam focados na mesma cena: Dane, encostado na janela com uma expressão de puro desgosto, enquanto Grayson, colado atrás dele, o abraçava com força e esfregava o rosto contra a nuca do ruivo sem o menor pudor.
— E-ei… Miller?
Quem quebrou o silêncio foi Ezra, com o rosto pálido. Representando o grupo, ele se aproximou cuidadosamente deles e apontou alternadamente para os dois com o dedo.
— O que… o que está acontecendo? Por que… vocês estão… fazendo isso…?
Ele mal conseguiu formar uma frase decente, mas Grayson só sorriu preguiçosamente, como um gato se espreguiçando ao sol. Seus lábios tremiam, como se estivesse prestes a soltar uma bomba de tão empolgado, mas ao mesmo tempo se deliciando com o suspense. Sem resposta vinda de Dane, que apenas fumava o cigarro como se aquilo fosse a única coisa o mantendo são, Ezra tentou de novo.
— Aconteceu… alguma coisa boa, certo? Você não quer contar? Ah, e já que estamos nisso… pode explicar por que exatamente vocês estão assim?
Ele apontou para os dois com o dedo, sem conseguir nomear o desastre que estava vendo. Grayson riu baixinho, suspirou satisfeito e finalmente decidiu acabar com o mistério.
— Nooós, estamos namoraaandooo.
A declaração bombástica finalmente explodiu, e todos que estavam segurando a respiração e ouvindo atentamente não conseguiram reagir imediatamente. Após alguns segundos de silêncio pesado, Diandre foi o primeiro a falar.
— Espera um minuto. O que esse cara acabou de dizer? Acho que ouvi errado.
Isso abriu as comportas da negação coletiva.
— Hahaha. Hahahahaha. Pronto, o Miller perdeu de vez a sanidade.
— Estamos saindo em missões demais ultimamente. É isso. O cansaço bateu, e agora estamos tendo alucinações em grupo.
— Ei, vocês viram o mercado de ações hoje? Só desgraça, tudo vermelho… Ah, espera, não, tudo azul. PQP, foi tanto prejuízo que eu até buguei.
Cada um reagiu de uma forma diferente, fugindo da realidade. Mas todos tinham o mesmo pensamento: Dane? Namorando? Não um caso de uma noite. Não uma transa casual. Mas um relacionamento de verdade?
E com Grayson Miller?
Definitivamente, algo estava muito errado, só podia ser um delírio coletivo.
— Isso não faz sentido, com certeza nossos olhos e ouvidos estão nos enganando!
Enquanto trocavam os endereços de seus oftalmologistas e otorrinolaringologistas, apenas Ezra teve a coragem de enfrentar a realidade.
— Dane… me explica. O que o Miller acabou de dizer? Porque, sinceramente, eu não estou conseguindo processar.
Ele soltou uma risadinha nervosa, mas Dane nem se dignou a olhar para ele. Apenas tragou o cigarro, ignorando completamente a pergunta. O silêncio caiu novamente, agora carregado de tensão. No fim, foi Grayson quem respondeu, com a voz cheia de satisfação:
— A partir de hoje, nós somos um casal. Eu sou o namorado do Daneee.
E para selar sua vitória, esfregou o rosto no ombro de Dane como um animal carente, e deslizou uma das mãos que estava em sua cintura para cima, agarrando firmemente o peito do outro. Imediatamente, as veias da têmpora de Dane saltaram, e ele finalmente reagiu.
— TIRE ESSA MÃO DAÍ, SEU MALDITO PERVERTIDO!
Ele gritou, tentando empurrar Grayson para longe, mas alfa continuou rindo, agarrado à sua cintura, enquanto acariciava o peito dele com uma das mãos. Ezra, vendo essa cena, sentiu o mundo escurecer ao seu redor. Ao mesmo tempo, os outros bombeiros finalmente pararam de fugir da realidade e começaram a gritar como se o prédio estivesse pegando fogo.
***
Dane, que estava encostado na parede externa do quartel dos bombeiros, soltou uma longa baforada de fumaça e, ao sentir uma presença, virou-se reflexivamente, mas assim que viu quem era, relaxou imediatamente.
— Ah, então era aqui que você estava, Dane.
Ezra sorriu sem graça enquanto se aproximava. Dane não respondeu – apenas lançou um olhar rápido por trás dele. Ezra, entendendo o que aquilo significava, se apressou em tranquilizá-lo.
— Eu consegui despistar o Miller. Você pode ficar sossegado.
Só então Dane desviou o olhar e voltou a levar o cigarro à boca. O desconforto era evidente em sua expressão, e Ezra, percebendo isso, ficou ao seu lado, esperando o momento certo para falar.
Ele não teve que esperar muito. Assim que Dane soltou mais uma nuvem de fumaça, Ezra quebrou o silêncio.
— Ei, Dane… O que aconteceu? Sério, eu quase tive um infarto… Todos estão preocupados.
— Preocupados?
Dane repetiu a palavra num tom seco, como se fosse um conceito estranho para ele. Ezra apenas assentiu.
— Você sabe que essa situação está longe de ser normal, certo? Algo deve ter acontecido. Se a gente puder te ajudar de algum jeito…
— Não tem nada para ajudar.
A resposta de Dane foi firme e definitiva. Ele queria dizer que não havia problema algum? Ou que era um problema que ninguém poderia resolver? Ezra hesitou por um momento, mas não desistiu.
— Então… é uma situação difícil de falar?
Dessa vez, Dane nem se deu ao trabalho de responder. Apenas continuou fumando, tragando de forma tão insistente que parecia querer se esconder atrás da fumaça.
Aquela atitude só fez Ezra se preocupar ainda mais.
— …O Miller está te chantageando, é isso?
— Não.
A resposta veio curta e irritada. Mas os olhos de Ezra ainda estavam cravados nele, esperando algo mais. Dane suspirou e, junto com a fumaça, finalmente soltou a verdade:
— Ele sugeriu que namorássemos por três meses. E eu aceitei.
Ezra piscou, atordoado.
‘Dane… você aceitou?’
A ideia de Grayson propondo isso já era absurda, mas o fato de Dane ter concordado – por vontade própria? Como diabos essa conversa aconteceu? Antes que Ezra pudesse formular mais dúvidas, Dane cortou o assunto antes mesmo que ele começasse.
— E não, ele não me chantageou.
Ezra fechou a boca. Dane continuou, num tom indiferente:
— Ele salvou a vida da Darling. Eu não podia simplesmente recusar. Além disso, ele prometeu que, se eu aguentar esses três meses, vai sumir da minha vida para sempre.
Ezra arregalou os olhos.
—‘Sumir’? Como assim?
Dane deu de ombros.
— Ele disse que, se, no final dos três meses, eu ainda não mudar de ideia, ele sair do quartel e desaparecer da minha vida.
— …Ele falou isso de verdade?
— E você acreditou?
Ezra perguntou, incrédulo, mantendo uma distância. Dane continuou olhando para longe, respondendo de forma desinteressada:
— Só me resta acreditar na palavra dele. Se ele resolver mudar os termos no meio do caminho… Aí eu lido com isso quando chegar a hora.
— É… faz sentido…
O final da frase de Ezra saiu ainda com um pouco de dúvida, e Dane olhou para ele de relance.
— O que foi? Se tem algo para dizer, diga.
Dane soltou as palavras sem rodeios. Ezra coçou a bochecha, meio sem graça, desviando o olhar antes de murmurar:
— Não, é só que… talvez, quem sabe você mude de ideia…
— Ezra.
Antes que ele continuasse com essa esperança inútil, Dane cortou sem hesitação:
— Eu estou muito satisfeito com a minha vida do jeito que ela é. Por que diabos eu complicaria isso entrando em um relacionamento? Qual seria o motivo para eu me meter numa encrenca dessas?
— Desculpa se te ofendi, sinto muito
Ezra se apressou em se desculpar. O que só piorou o humor de Dane. No fim das contas, ele estava descontando a irritação na pessoa errada, o verdadeiro culpado era aquele desgraçado do Miller.
Mas uma dívida é uma dívida. De qualquer forma, ele tinha que pagar a dívida pela vida de Darling. Se o preço a pagar por isso fosse aturar aquele lunático por três meses, até que sairia barato. A vida de Darling era incomparavelmente mais valiosa do que isso.
— Eu não vou mudar de ideia. Nunca tive intenção de me envolver seriamente com ninguém.
— …Claro, eu entendo.
Ezra pareceu finalmente aceitar, recuando. Logo depois, ele forçou um sorriso, como se nada tivesse acontecido.
— Então vou indo. Espero que o Miller não te encontre.
Dane nem se deu ao trabalho de olhar para ele. Apenas ergueu uma mão num gesto displicente de despedida. Quando os passos de Ezra sumiram, ele voltou a levar o cigarro à boca, tragou fundo e soltou a fumaça devagar.
Foi nesse momento que a lembrança veio.
<…Que alívio.>
<… Hã?>
Do nada, a voz de Ezra, algo que ele nem tinha prestado atenção na hora, ressurgiu com força em sua cabeça.
<Que bom que você e o Miller não tem nada…>
Dane parou de se mover, sem nem piscar. A fumaça do cigarro pairou ao seu redor por um momento antes de se dissipar sem rumo.
°
°
Continua…