Deseje-me se puder - Capítulo 92
Um silêncio constrangedor se instalou entre os dois.
Dane olhou para Grayson, incrédulo, enquanto o outro simplesmente sorria como se nada estivesse acontecendo. Na verdade, seus olhos brilhavam cheios de expectativa, como os de uma criança esperando por um doce.
‘Que merda esse lunático está pensando…?’
Dane sentiu até sua visão ficar turva de tanta perplexidade.
— Você… quer saber? Esquece.
Ele balançou a cabeça e se virou para ir embora. Perder tempo discutindo com Grayson Miller era tão produtivo quanto argumentar com uma parede. Além do mais, ele já tinha problemas suficientes para lidar.
Mas, obviamente, Grayson não ia desistir tão fácil.
— Pensa direito. — Com poucos passos saltitantes, ele alcançou Dane de novo. — São só três meses. Se depois disso nada mudar, eu saio da sua vida. Desisto de tudo, até do Corpo de Bombeiros.
Dane parou por um segundo, e Grayson aproveitou para fincar a última estaca:
— Eu desapareço para sempre.
Dane apenas olhou para ele. Como diabos alguém ia confiar na palavra de um homem cuja irmã era uma golpista e que, ele próprio, mentia sem nem piscar?
Grayson percebeu a hesitação e, claro, sorriu ainda mais.
— Não parece tentador? Três meses e – puff! – nunca mais vai precisar olhar pra minha cara.
‘O que você sabe sobre o futuro.’
Dane pensou, mas era verdade que seu coração estava balançando. Essa não era a primeira vez que alguém tentava barganhar por um relacionamento com ele. Ele sempre recusou firmemente e nunca aceitou nenhuma oferta.
Mas então ele olhou de relance para a ambulância e viu Darling deitada no banco de trás.
E, logo ao lado, Grayson com o rosto ainda manchado de fuligem, e os fios loiros chamuscados em alguns pontos, ele permanecia do jeito que saiu do incêndio.
Dane soltou um suspiro longo e pesado antes de finalmente falar.
— Você jura que vai sumir?
— Juro.
— E que vai sair do Corpo de Bombeiros?
— Sim.
Grayson respondeu sem hesitar. Dane ainda desconfiava, mas no fim, que mal havia nisso? Ele não tinha nada a perder. A conclusão já estava determinada desde o início.
— Se é isso que vai te fazer aceitar um ‘não’ no final, então… beleza. — Dane finalmente se decidiu. Estendeu a mão para Grayson e completou: — São três meses. Nem um dia a mais.
Grayson segurou a mão de Dane com um sorriso radiante. Dane pensou em soltar logo depois do aperto, mas, do nada, sentiu um puxão forte. Completamente desprevenido, ele foi arrastado para os braços de Grayson, que o prendeu num abraço firme e murmurou em seu ouvido:
— A partir de agora, você é meu namorado.
— O quê…?
Sentindo a respiração quente contra sua orelha, Dane abriu a boca para protestar.
— Não se esqueça de que você disse ‘três meses como teste’.
— Claro, eu sei.
Grayson abraçou Dane com mais força. Por um momento, Dane ficou sem ar, surpreso com o aperto forte, mas, felizmente, Grayson logo o soltou. Quando Dane recuou rapidamente, como se estivesse escapando, Grayson falou como se estivesse esperando por isso.
— Então, o que você vai fazer agora? Eu sou seu namorado, então eu também preciso saber.
A audácia de Grayson, atravessando a linha sem um pingo de hesitação, fez Dane franzir a testa. Mas a culpa era dele mesmo. Suspirando, ele passou a mão pela testa antes de responder:
— Primeiro, preciso levar Darling ao hospital. Depois, preciso encontrar um lugar para ficar…
— Fica na minha casa.
Antes mesmo que Dane terminasse a frase, Grayson se adiantou com a sugestão. Ele parou por um segundo e o olhou de canto de olho, mas Grayson não perdeu tempo:
— Se você ficar na minha casa, não precisa gastar um centavo. Além disso, minha casa é confortável. Tem nove quartos – pode escolher o que quiser. Depois do trabalho, você pode relaxar no spa, e quando o sol estiver se pondo, dá para tomar um drink na varanda do seu quarto enquanto aprecia a vista. Tem uma adega no subsolo, piscina ao ar livre… e se achar a água muito fria, tem a piscina aquecida dentro de casa também…
A forma como ele começou a listar as vantagens, com a empolgação de um corretor de imóveis desesperado, fez Dane sentir a alma saindo do corpo.
Percebendo que seu discurso estava sendo ignorado, Grayson rapidamente mudou de estratégia.
— Darling vai adorar minha casa. Tem um quarto onde o sol entra o dia inteiro. E ela gosta de tomar banho de sol no arranhador, não gosta?
A reação foi instantânea. Dane, que até então estava alheio à conversa, focou o olhar nele.
‘Ah, claro. Funciona sempre.’
Grayson já havia percebido que toda vez que mencionava “Darling,” Dane hesitava, nem que fosse por uma fração de segundo. Era quase imperceptível, mas ele pegava no ato. Afinal, toda a sua atenção estava voltada para Dane.
Isso também fazia parte do plano. Ele sabia que, se jogasse a carta certa, Dane não conseguiria negar de imediato. E estava funcionando. Grayson observou em silêncio enquanto ele ponderava seriamente.
Agora era só esperar o momento certo para o golpe final.
Darling…
Dane ficou pensativo, com uma expressão séria. Era difícil acreditar que Grayson Miller realmente se importava com sua preciosa gata. Também era difícil aceitar que ele havia arriscado a vida por ela. No entanto, era verdade que, toda vez que Grayson mencionava o nome “Darling”, Dane não conseguia recusar facilmente. Ele se sentia em um dilema.
Mas não. Isso era exagero.
— Não, isso não vai rolar.
Decidido, Dane cortou o assunto.
— Eu mesmo resolvo onde vou ficar. Não precisa se preocupar com isso. Agradeço a oferta, mas passo.
Foi uma recusa até educada, considerando o quanto ele já estava de saco cheio.
Grayson percebeu e, como sempre, mirou no ponto fraco.
— Mas você não tem um lugar para ficar agora, certo? Então, pelo menos até encontrar um lugar, você pode ficar na minha casa…
— Cala a boca, idiota. Há motéis por toda parte.
No fim, Dane não conseguiu mais segurar e disparou, ríspido. Os três meses que ele concordou em passar juntos como um teste não significavam que ele permitiria que suas ações fossem controladas. Acima de tudo, ele era alguém que amava sua liberdade, e não tinha a menor intenção de se entregar completamente a alguém que não era seu verdadeiro amante, mas apenas alguém com quem estava “pagando uma dívida”.
— Uma casa leva anos para ser construída. Vai ficar num motel até lá?
Grayson tentou argumentar, como se aquilo fosse a coisa mais ilógica do mundo, mas Dane não recuou nem um centímetro.
— E daí? Eu só preciso te aguentar por três meses, dá na mesma.
Grayson parou por um instante, surpreso. Mas logo sua expressão mudou para um sorriso.
— Olha só, você me pegou.
Filho da mãe. Ele já sabia disso o tempo todo.
Dane franziu a testa, irritado. Grayson era assim – qualquer descuido e ele se infiltrava sem aviso. Dane ainda estava lidando com o caos diante dele, e esse desgraçado aproveitava o momento para jogar essas ideias absurdas como se fossem normais.
Dane sabia bem o que passava pela cabeça de Grayson: se ele aceitasse, economizaria dinheiro, e quem sabe depois as coisas mudariam… Mas, ao invés de insistir nesses argumentos baratos, Grayson simplesmente deu de ombros e disse:
— Se precisar de ajuda, é só dizer, Dane. Estarei sempre esperando.
A facilidade com que ele recuou fez Dane desconfiar, mas ele não disse nada. Apenas se virou para buscar Darling. Quando ele cuidadosamente pegou Darling nos braços, Grayson de repente falou de trás dele:
— A partir de amanhã, somos oficialmente um casal, Dane.
Dane parou no mesmo instante e virou a cabeça, desconfiado.
Grayson sorriu e acenou antes de sair correndo para se juntar aos outros, como se nada tivesse acontecido.
Dane ficou ali parado por um tempo, segurando Darling nos braços, sentindo uma sensação estranha e levemente alarmante se instalar no peito. Algo lhe dizia que aqueles três meses iam ser mais longos do que imaginava.
°
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Continua…