Deseje-me se puder - Capítulo 90
***
Com um rugido, chamas vermelhas e ardentes, como labaredas do inferno, subiram alto, consumindo a casa. Ao mesmo tempo, um som assustador de algo desmoronando ecoou.
— Darling!
O grito de Dane fez os bombeiros ao redor se virarem, confusos. Mas Dane não tinha tempo para explicações. Ele se lançou para frente, pronto para entrar na casa sem qualquer equipamento.
Ezra, vendo aquilo, gritou em pânico.
— Espera, Dane!
— O que você tá fazendo?!
Antes que ele cruzasse a linha de fogo, várias mãos o agarraram. Ele se debateu, tentando se soltar, mas com vários brutamontes o segurando, era impossível.
— Me soltem! SOLTEM!
— Se acalmale, Dane! O que há com você?!
— Darling está lá dentro! Darling!
— …O quê?
— O que ele disse?
Os bombeiros se entreolharam, trocando olhares atordoados. Dane morava ali?! Darling?! A gata?! O que deveriam fazer com essa informação? Enquanto expressões de dúvida e perplexidade tomavam conta de seus rostos, Wilkins interveio.
— O que todos estão fazendo aqui? Todos movam-se! Dane, o que você está fazendo aqui?
— É minha casa!
Dane berrou antes que alguém dissesse qualquer coisa.
—Minha casa tá pegando fogo e DARLING ESTÁ LÁ DENTRO! Eu tenho que salvá-la! Ela está sozinha lá dentro! DARLING!
— Dane, PARA! Se acalme, cara!
Wilkins o agarrou por trás, imobilizando-o. Ex-lutador profissional, o chefe dos bombeiros nem precisou fazer força para conter Dane, que se debatia como um peixe fora d’água.
— É tarde demais! Como alguém iria sobreviver lá dentro?! DESISTA! Até o Miller entrou lá e a gente nem conseguiu tirar ele ainda! NINGUÉM pode entrar! A menos que seja um completo lunático!
Ao ouvir isso, Dane parou de se debater. Ele se virou lentamente, e Wilkins, com um olhar sombrio, acenou com a cabeça.
— Sim. Estamos tentando controlar o fogo antes de entrar, mas já tem um maluco lá dentro. E ainda não conseguimos resgatar ele. Agora imagine um gato.
Dane piscou, atordoado.
‘O QUÊ?!’
— Grayson Miller entrou lá? Na minha casa?
Ele olhou diretamente para Wilkins, incrédulo.
— Por quê?
Wilkins soltou um suspiro exausto.
— Quem diabos sabe o que se passa pela cabeça daquele cara.
Foi nesse instante que um murmúrio atravessou o grupo. O tipo de silêncio que só surge quando algo inacreditável acontece. Dane, sem querer, seguiu os olhares ao seu redor, seus olhos se arregalaram. Todos que olhavam na mesma direção tiveram a mesma reação. Eles ficaram parados, de olhos arregalados, incrédulos. Até Wilkins, que parecia não acreditar no que estava vendo.
Porque, saindo cambaleante do meio das chamas, estava um homem.
Grayson Miller.
Alguém sussurrou seu nome, como se não acreditasse no que estava vendo.
O homem que sempre andava impecável, sem um fio de cabelo fora do lugar, estava agora um desastre ambulante. Seu rosto estava sujo de fuligem, e seu cabelo loiro-platinado – sempre alinhado – estava queimado em algumas partes. Seus olhos violetas, normalmente cheios de arrogância, agora pareciam apagados, exaustos. Seu peito arfava e seus ombros estavam caídos.
Por um momento, ninguém soube o que dizer.
Ele parecia alguém que tinha acabado de voltar da guerra. O que, aliás, não era muito longe da verdade.
— …Miller.
Dane murmurou, quase para si mesmo. Wilkins, vendo que ele finalmente parou de se debater, o soltou com cautela. Mas Dane já não estava mais prestando atenção nele. Seu olhar estava fixo no pequeno ser que Grayson segurava contra o peito.
‘Darling.’
A gata estava aninhada dentro do capacete de Grayson, inalando oxigênio, com os olhos fechados. Grayson cambaleou, avançando devagar na direção de Dane. Quando finalmente parou diante dele, estendeu os braços e, sem dizer nada, entregou a gata.
Dane recebeu Darling com todo o cuidado do mundo. Foi só nesse momento que ele percebeu o quanto as mãos de Grayson tremiam.
Ele segurou a respiração enquanto inspecionava a gata. Suas mãos ansiosas deslizaram pelo corpinho dela, e, por um segundo, não houve reação. Então, Darling se encolheu e soltou um “miau” fraco, esfregando a cabeça contra o peito de Dane. A tensão finalmente se dissipou. Um suspiro profundo escapou dos lábios de Dane.
— Espere um momento.
Pedindo a compreensão a Grayson, ele correu apressadamente para a ambulância. Os paramédicos rapidamente pegaram a gata, deitando-a com delicadeza no banco traseiro, onde começaram os primeiros socorros. Um deles, após examiná-la, deu seu veredito:
— Acho que você pode respirar aliviado. Precisamos levá-lo a um veterinário para exames mais detalhados, mas por enquanto pode ficar tranquilo, considerando as circunstâncias, ela está surpreendentemente bem. Uns pelos chamuscados, mas nada sério. Também não parece ter inalado muita fumaça.
Ele sorriu enquanto segurava o capacete que havia sido retirado da gata.
— Parece que um certo herói emprestou seu próprio fôlego para salvar sua querida Darling.
Dane ficou em silêncio, olhando para o capacete. A viseira estava trincada, o casco cheio de fuligem. Ele não se moveu por alguns segundos.
***
Grayson estava sentado sozinho, um pouco afastado da zona do incêndio.
Sentado na calçada, segurando uma garrafa d’água vazia enquanto encarava o nada. Diferente dele, o restante da equipe ainda corria de um lado para o outro, apagando os últimos focos de fogo e organizando a bagunça.
Dane caminhou até ele.
— Miller.
Grayson estremeceu levemente e levantou a cabeça devagar. Seus olhos roxos, sempre afiados e carregados de arrogância, agora estavam turvos, como se ele ainda não tivesse voltado completamente para a realidade.
Se já tinha sido um espetáculo vê-lo antes, agora era ainda pior. Seu cabelo loiro-platinado estava uma tragédia – partes queimadas, pontas chamuscadas. O rosto, sempre impecável, estava sujo de fuligem e poeira, com cortes espalhados aqui e ali, onde o sangue já começava a coagular.
Dane soltou uma risada irônica.
— Nossa, princesa. O que aconteceu com o seu rostinho bonito?
Esperava que Grayson retrucasse. Uma piada ácida. Um revirar de olhos dramático. Um comentário metido sobre como ele ainda estava mais apresentável do que Dane jamais estaria.
Mas nada.
Grayson apenas o encarou. Em silêncio.
Isso… era inédito.
Talvez o choque ainda não tivesse passado. Bombeiros novatos costumavam ficar assim depois de sua primeira experiência real com o fogo. Mas Grayson? Dane jamais imaginou que o veria nesse estado.
E, mais que isso – por que ele sequer tinha entrado lá? Ele sabia que poderia ter morrido, certo?
Dane tinha mil perguntas. Mas naquele momento, só uma coisa precisava ser dita. Ele respirou fundo e disse, com leveza:
— Obrigado.
Grayson piscou. Pela primeira vez desde que saiu daquele inferno, reagiu de verdade. Enquanto mantinha o olhar fixo nele, Dane continuou a falar.
— Darling está bem. Vou precisar fazer exames mais detalhados, mas… de qualquer forma, foi graças a você. Obrigado.
O tom era suave – coisa que Dane nunca tinha usado com ele antes. Grayson, por outro lado, só piscou mais uma vez, atordoado, como se as palavras não estivessem sendo processadas direito. A reação dele foi tão estranha que Dane acabou coçando a nuca, desconfortável.
— Mas eu fiquei muito surpreso. Nunca imaginei que você fosse se jogar no meio do fogo para salvar a Darling…
Ele tentou aliviar a tensão, mas, inesperadamente, Grayson abriu a boca. Seus lábios se moveram algumas vezes antes que finalmente conseguisse soltar um som:
— Eu pensei que você me odiaria.
Seja por causa da fumaça que inalou ou por outro motivo, a voz de Grayson estava rouca. Dane hesitou e olhou para ele. Mas Grayson parou de falar e fechou a boca novamente. Era como se ele quisesse dizer algo, mas não conseguisse encontrar as palavras.
Dane esperou, não pressionou, apenas ficou ali, dando tempo para ele encontrar as palavras.
Grayson abaixou a cabeça e tentou mais algumas vezes até finalmente conseguir se explicar:
— Se Darling morresse, você me odiaria pelo resto da vida. E só de pensar nisso…
Ele parou de novo, como se precisasse puxar o fio do próprio raciocínio.
— …meu coração disparou, fiquei tonto, minha boca ficou seca… e antes que eu percebesse, já estava lá dentro.
Dane observou quando as mãos de Grayson começaram a tremer de novo, como se seu próprio corpo estivesse revivendo a experiência.
— Só conseguia pensar que precisava salvá-la.
Grayson soltou um longo suspiro e fechou os olhos por um instante. Seu rosto estava pálido como papel.
Dane inclinou a cabeça.
— Isso que você está sentindo agora… as pessoas chamam de medo.
Grayson congelou, ele lentamente, ergueu os olhos para encará-lo. Dane sustentou o olhar e repetiu, com paciência:
— Isso é medo, Grayson. Ou algo bem parecido.
Grayson piscou algumas vezes, assimilando a ideia como se fosse uma criança descobrindo algo pela primeira vez.
Então, quase num sussurro, ele murmurou:
— …Eu estava com medo.
— Sim.
Dane se abaixou e, sem aviso, puxou Grayson para um abraço.
— Você fez um bom trabalho, Miller.
Ele deu dois tapinhas nas costas de Grayson, como se estivesse parabenizando uma criança. O que ele não esperava era que Grayson ficasse completamente imóvel em seus braços.
O coração dele batia com força, mas não era de medo. Não agora. A tontura, a falta de ar – eram as mesmas sensações de antes, mas a causa… Não. Definitivamente não era medo.
E foi nesse exato momento, antes que pudesse se impedir, que Grayson soltou:
— …eu gosto de você.
Dane parou e por alguns segundos, ficou completamente imóvel.
Devagar, ele se afastou o suficiente para olhar o homem nos olhos. A distância entre os dois era mínima – qualquer movimento em falso e estariam se tocando de novo.
Grayson o encarou, parecendo tão surpreso quanto determinado. E então, como se quisesse ter certeza de que Dane tinha ouvido direito, repetiu com um suspiro:
— Acho que estou apaixonado por você.
Crash!
E, como se fosse uma piada de mau gosto, a casa atrás deles finalmente cedeu, desmoronando com um estrondo.
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Continua…
Duda
Cinema
Piranha da noite💋✨
Aí MEU DEUSS🤗