Deseje-me se puder - Capítulo 89
***
O incêndio era muito pior do que ele esperava.
Assim que desceu do caminhão, Grayson ficou momentaneamente paralisado pelo tamanho absurdo das chamas. Os outros bombeiros também pareceram surpresos, mas, ao contrário dele, se moveram com a eficiência de quem já tinha visto esse tipo de caos antes.
— Mangueira! Levem a mangueira primeiro!
— Onde o fogo começou? Tem alguém lá dentro?
— Equipe de entrada, cadê vocês? Preparem-se para entrar!
— Precisamos de mais caminhões, peçam reforços e avisem as outras unidades!
— Rápido! Eu preciso de água aqui, agora!
Os gritos de ordens, o estalar da madeira queimando e o barulho das estruturas desmoronando se misturavam em um caos ensurdecedor. Mas Grayson não prestava atenção em nada disso. Seu olhar estava fixo em um único ponto: uma casa pequena e aconchegante, completamente engolida pelas chamas.
A casa de Dane Stryker.
A porta da frente, que ele mesmo havia chutado com gosto em outra ocasião, agora estava reduzida a um pedaço de carvão, mal se sustentando no meio das labaredas. O fogo começou quando alguém tentou queimar folhas secas no quintal – uma decisão brilhante – e acabou incendiando a própria casa. Dali, o incêndio se espalhou para as casas vizinhas, consumindo cinco casas até agora. Infelizmente, a de Dane foi a terceira a ser devorada. O fogo já havia consumido boa parte da estrutura, e era claro que a casa desmoronaria em breve.
Talvez já fosse tarde demais.
Grayson pensou.
— Pelo menos foi no meio da tarde, então a maioria das casas estavam vazias. E quem estava dentro conseguiu sair a tempo.
Ezra gritou alto. Wilkins acenou com a cabeça antes de se virar para um dos bombeiros.
— Precisamos conter isso antes que se espalhe mais! Ei, você! Jogue essa água mais alto!
Os bombeiros corriam de um lado para o outro, focados na contenção do fogo. Nenhum deles parecia ter percebido que a casa que queimava era de um dos seus colegas.
Bom, faz sentido. Dane nunca leva ninguém para casa, a menos que esteja dormindo com a pessoa.
Grayson aceitou essa lógica sem questionar. Eles provavelmente só sabiam de Darling por acaso ou porque viram uma foto que Dane tinha colocado no armário. E mesmo que soubessem que Darling estava lá dentro, resgatar a gata nessa situação seria impossível…
Ninguém sobreviveria ali dentro.
Foi então que a lembrança surgiu, vívida como se estivesse acontecendo naquele instante. A imagem de Dane entrando no fogo para salvar o cachorro de um completo estranho. Na época, ele não conseguia entender. Na verdade, ainda não entendia. Mesmo que a mesma situação acontecesse agora, Grayson nunca faria o que Dane fez, nunca.
Mas aquela era a Darling de Dane.
Sua mente dizia que era impossível. Que não havia como um gato sobreviver a isso.
Mas Darling já tinha passado por isso antes. Da última vez, aquela gata corajosa sobreviveu, saiu do fogo queimada, cega e surda, mas ainda viva.
Até pouco tempo atrás…
A imagem de Dane, acariciando Darling com todo o cuidado do mundo, chamando seu nome baixinho, passou diante dos olhos de Grayson como uma lembrança indesejada.
Se Darling morresse agora…
O calor das chamas fazia o suor escorrer por sua pele, mas, ao mesmo tempo, um arrepio gelado percorreu sua espinha. Grayson piscou, voltando o olhar para a casa que se desfazia diante dele.
‘Isso é uma loucura.’
Ele mordeu o lábio. Ele sabia. Sabia perfeitamente o quão estúpido era sequer considerar essa ideia.
Mas….
— Miller, o que foi?
Ezra foi o primeiro a notar e chamou por ele. Mas Grayson não ouviu, como se estivesse possuído, seus passos foram se acelerando até que, de repente, ele começou a correr.
— Miller? Miller?!
— O que foi? O que está acontecendo?
Os bombeiros atrás dele gritaram, alarmados. Mas já era tarde. Grayson já tinha se jogado direto para dentro do fogo.
— Que merda foi essa?!
Diandre berrou, ainda tentando entender o que estava acontecendo. Ezra apenas balançou a cabeça, perplexo.
— Não faço ideia, ele simplesmente entrou.
— Entrou?! Como assim, entrou? Por quê?!
— Já disse que eu não sei! Ninguém sabe!
— Caralho, esse desgraçado enlouqueceu! Por que ele sempre precisa causar problemas?!
O caos se espalhou entre os bombeiros. Wilkins, ainda tão confuso quanto os outros, respirou fundo e começou a gritar ordens.
— Ir atrás dele agora é perigoso, primeiro, vamos controlar o fogo! Vou tentar contatar o Miller pelo rádio. O resto de vocês, foquem nesta casa e na última! Não podemos deixar isso se espalhar mais. Andem logo!
Enquanto sua equipe se espalhava, Wilkins pegou o rádio com pressa.
— Miller! Miller, tá me ouvindo? Miller!
Silêncio.
Wilkins xingou entre os dentes e passou a mão pelo rosto, frustrado. O fogo continuava rugindo, se erguendo para o céu sem dar sinal de que iria ceder.
***
— Nossa.
O fogo explodiu à sua frente com um estalo assustador, obrigando Grayson a recuar rápido. Por pouco ele não foi engolido pelas chamas. E olha que estava com roupa de proteção. Mesmo com o traje de bombeiro, ser atingido pelas chamas não seria nada bom.
Ele nunca tinha parado para pensar que o fogo poderia literalmente gritar enquanto queimava tudo. Sentindo-se desconfortável, ele suspirou brevemente e olhou ao redor. O ambiente estava um inferno: fumaça e cinzas por todos os lados, pedaços do teto caindo e o chão tão irregular que andar sem tropeçar já era um desafio.
Haah, haah. Haah, haah.
Ele respirava pesadamente dentro do capacete, o suor escorrendo pelo rosto.
— Darling! Darling, onde você está? Venha aqui, Darling!
Ele gritou, mas sua voz foi engolida pelas chamas como se nunca tivesse existido. Tentou secar o suor da testa por reflexo, mas tudo o que fez foi esfregar a luva no capacete.
‘Então é assim que é aqui dentro. Um inferno absoluto.’
A vontade de sair correndo dali era quase irresistível.
‘Por que caralho eu estou fazendo isso? É só um gato. Um gato velho, surdo, cego e feio. Não ia viver muito de qualquer jeito. Aliás, provavelmente já morreu nesse fogo.’
Então por que diabos ele estava se esforçando para procurá-la?
— Darling, porra! Apareça logo!
Ele gritou novamente, misturando palavrões. Sua respiração pesada ecoava dentro do capacete, machucando seus ouvidos. Seja por falta de oxigênio ou por pânico, ele começou a sentir uma leve tontura.
— Droga… onde essa gata foi se enfiar…
Grayson murmurou para si mesmo e soltou mais um palavrão. A sala já estava completamente consumida pelo fogo. A torre para gatos onde Darling costumava deitar preguiçosamente para pegar sol já havia desmoronado há muito tempo. Ele já tinha vasculhado todo o primeiro andar. Só restava o segundo. O problema é que a escada estava meio destruída. Se não morresse queimado, podia muito bem despencar e acabar partido ao meio.
<Gatos se escondem em situações de perigo.>
Uma memória aleatória surgiu na mente dele. Alguma vez tinha ouvido essa frase sobre gatos. Mas como um dono de cachorro, nunca deu bola, só sorriu e seguiu em frente, achando uma idiotice. Era exatamente por isso que considerava gatos tão inúteis quanto passarinhos. Não protegiam a casa, não arriscavam a vida pelos donos e, ainda assim, agiam como se fossem da realeza. Eles não vinham quando chamados e, em situações de emergência, se escondiam, deixando todos preocupados. Um monte de pêlos inúteis.
E era exatamente como ele tinha pensado.
Grayson xingou entre dentes. — Darling o quê? Só se fosse o próprio Lúcifer. — Praguejando o nome do diabo, ele se lançou escada acima. Atrás dele, outra parte da casa desabou em meio às chamas.
— Darling! Darling! Caralho, apareça logo!
Gritando a plenos pulmões, ele vasculhou o segundo andar. A casa era pequena, só tinha três quartos. Como uma gata minúscula podia ser tão difícil de achar?
Revirou uma estante caída, meteu o machado no que restava do armário embutido e chutou um pedaço de teto que tinha desmoronado. Mas nada.
‘Onde diabos essa praga se meteu?!’
Revirando a casa destruída em busca da gata, ele, num acesso de raiva, jogou um colchão para o lado. No momento seguinte, ele parou abruptamente, congelado. Entre a parede e o colchão, havia um monte de pelos escondido no espaço estreito. Encurralado e imóvel, não havia dúvida: era a gata que Grayson tanto procurava.
— Darling!
Grayson estendeu a mão, aliviado. Mas isso foi um grande erro.
A gata não podia mais enxergar nem ouvir, mas com certeza lembrava do calor do fogo. Assim que a barreira do colchão sumiu e o calor a atingiu diretamente, o pânico tomou conta dela. Soltando um miado desesperado, Darling saiu disparada.
Cega. Em um prédio desabando no meio de um incêndio. Grayson ficou pálido.
— Darling, não! Pare!
Ele se lançou atrás dela, mas a gata parecia ter se tornado um raio de pelos. Onde foi parar a preguiçosa que passava o dia inteiro largada no arranhador? O contraste era absurdo.
— Pare, cacete! Fique aí!
Ele continuou chamando a gatola e correndo atrás dela. Quando parecia que Darling ia descer as escadas que mal se sustentavam, de repente ela escalou a parede.
Até o ano passado, quando ainda tinha forças, ela adorava escalar as paredes da casa de Dane por pura diversão. Mas agora? Agora, suas articulações não eram mais as mesmas. Em uma situação de perigo, seu corpo lembrou-se dos velhos tempos e tentou escalar a parede, mas a realidade não colaborou. Suas pernas falharam no impulso e, no instante seguinte, enquanto ela tentava desesperadamente se agarrar a alguma coisa, o chão desmoronou com um barulhão.
— Darling!
Grayson gritou e se jogou para pegá-la.
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Continua…