Deseje-me se puder - Capítulo 88
As poucas pessoas que aguardavam na sala de espera ficaram atônitas, sem saber como reagir, e apenas assistiam à cena se desenrolar. No meio desse caos repentino, Dane tentou entender o que diabos estava acontecendo, mas obviamente era impossível. Tudo o que ele podia fazer agora era deixar sua posição bem clara.
— Eu só vim porque Sabrina me pediu para acompanhá-la. Mas e você, quem diabos é?
A mulher não se intimidou com a reação ríspida dele e arregalou os olhos, encarando-o com fúria.
— Eu? Eu sou a doadora de esperma do bebê que ela está carregando!
— …O quê?
— O quê?
— Oh, meu Deus!
Exclamações chocadas vieram de todos os lados, inclusive de Dane. Mas Larien nem piscou e continuou gritando.
— Isso mesmo! E você se atreve a dar ordens à minha mulher? Tá querendo morrer, é?
Dane, ainda tentando processar aquela loucura, virou-se para Sabrina com uma expressão incrédula, claramente esperando alguma explicação plausível.
Sabrina olhou em volta, sem saber o que fazer. Vendo aquilo, Dane suspirou. Ele estava tão frustrado que olhou para o teto, quando de repente uma memória desagradável veio à mente.
<Eu te avisei. O que vier depois é culpa sua.>
De repente, Sabrina franziu a testa e disse:
— Larien, você está enganada. Esse bebê não é seu.
A atenção de Larien se fixou nela num instante.
—Tem certeza? Absoluta? Fala sério Sabrina. Se você me disser a verdade, eu prometo que posso perdoar qualquer coisa.
Ao contrário do tom que usou com Dane, sua voz agora era suave e reconfortante, deixando todos ao redor boquiabertos. Além disso, o gesto carinhoso de acariciar a bochecha de Sabrina fazia parecer que ela estava completamente apaixonada. Sabrina também olhou para Larien com um olhar apaixonado, como se tivesse esquecido completamente o mundo ao seu redor.
— Eu… não sei, Larien. Me desculpa.
No fim, acabou confessando e abaixou a cabeça, com os olhos marejados.
— Talvez seja do meu ex. Eu não sei.
— Então pode ser meu filho!
Larien insistiu, como se isso resolvesse tudo.
Dane observava tudo aquilo em silêncio. Era óbvio para qualquer um que Sabrina estava envolvida com duas pessoas ao mesmo tempo… Aliás, pensando bem, três não seria um número mais justo?
Antes que pudesse aprofundar essa linha de raciocínio, Larien segurou a mão dela de repente.
— Não se preocupe com nada, Sabrina. Case comigo.
— …Hã?
Dane ficou ali parado, olhando para as duas, completamente sem palavras.
***
‘Hora de ir.’
Grayson parou de assobiar e se levantou. Já tinha enrolado o suficiente enquanto reorganizava o equipamento, só para passar o tempo. Agora, era hora de ir embora.
Alguém teria que limpar a bagunça que, com certeza, já estava formada. E quem melhor para isso do que alguém que sabia exatamente o que estava acontecendo?
Alguém como Grayson Miller.
Colocou as mãos nos bolsos, cantarolando enquanto se dirigia ao escritório do chefe para anunciar que estava saindo.
Foi nesse momento que a sirene disparou.
WEEEOOO – WEEEOOO.
O barulho estridente da sirene fez com que ele parasse por um instante, sem pensar. Outro incêndio em algum lugar, pelo visto. Como esperado, os bombeiros que estavam espalhados pelo quartel começaram a correr, vestindo os equipamentos e subindo nos caminhões. Grayson apenas observou, alheio à correria, e se virou para ir embora.
Foi quando ouviu.
— Qual é a localização?
— O conjunto habitacional Snowflake ao lado do Lincoln!
Os bombeiros passaram correndo por ele, trocando informações. Grayson parou no meio do caminho. Ficou ali, imóvel.
‘…O que foi que ele disse?’
— Vamos logo, porra!
Diandre, o último a subir no caminhão, gritava para o motorista quando se sobressaltou.
— Que merda, cara?!
Grayson segurou a porta do veículo, impedindo que fosse fechada.
— Que bairro você falou? — perguntou, a voz séria.
— No conjunto habitacional Snowflake, aquele bairro tranquilo ao lado do Lincoln.
Outro bombeiro respondeu por Diandre. Não era uma informação nova, era a mesma que ele já tinha ouvido. Mas, por algum motivo, seu peito ficou pesado.
‘Não pode ser. É impossível. Há muitas casas lá, pode ser outra.’
Era a explicação mais lógica. Dentre tantas casas naquele bairro, justo aquela estaria pegando fogo? Improvável. Além do mais, só havia uma gata cega morando lá. Dane estava no hospital com aquela mulher insuportável.
‘Não havia razão para haver um incêndio.’
— Miller o que você está fazendo? Dá o fora daí ou entra logo, cacete!
Diandre gritou de novo. Grayson não se mexeu.
Diandre gritou. Mas Grayson ainda estava parado, incapaz de se mover. Ele precisava ir ao hospital agora. Resolver a situação, mandar Larien embora com aquela mulher, explicar a Dane o que havia acontecido e então o ômega perceberia que havia feito algo desnecessário, e que ele tinha razão.
‘A gata.’
O raciocínio de Grayson foi interrompido.
‘Aquela gata feiosa.’
— MILLLER, SAI DA FRENTE!
Dessa vez, várias vozes gritaram. O tempo para pensar tinha acabado, sabia disso e ele tinha uma escolha a fazer.
A escolha era simples.
Tirar as mãos da porta. Dar meia-volta. Informar ao capitão que estava saindo mais cedo.
Era isso que ele deveria fazer.
Mas, antes que pudesse concluir esse pensamento, seus pés se moveram.
— Mas que porra…?!
No meio dos olhares atônitos, Grayson subiu no caminhão. Fechou a porta por dentro, sem hesitar.
— VAI LOGO!
Sua voz cortou o silêncio. Ezra, no volante, pisou no acelerador, os outros bombeiros se entreolharam, atordoados, enquanto Grayson cruzava os braços e se recostava no banco, com a expressão fechada. Seu pé começou a balançar, nervoso.
***
E então, do outro lado da cidade…
— CASA COMIGO!
Após a declaração de Larien, um silêncio tenso pairou na sala de espera. Os corações de todos batiam forte, diante de uma situação mais emocionante do que qualquer drama que haviam visto recentemente. Todos os presentes estavam concentrados na cena, foi então que Sabrina, ainda de olhos arregalados, abriu a boca devagar.
— …Você está falando sério?
Larien arqueou as sobrancelhas e sorriu, confiante.
— Claro, minha querida Sabrina. Como eu poderia te abandonar?
Larien, como se estivesse fazendo um juramento, segurou o rosto de Sabrina e deu um beijo firme em seus lábios. O rosto dela, que antes estava tenso, agora brilhava com um sorriso. Sabrina, olhando para Larien, piscou os olhos e perguntou cautelosamente:
— Mas e a April?
— …O quê?
O sorriso de Larien congelou.
Sabrina acabou de tocar num pequeno problema. Um detalhe quase insignificante.
— Você é casada com a April certo? Então primeiro tem que se divorciar.
— O quê? Casamento?
— Meu Deus, é uma traição?!
— Duas ao mesmo tempo, ela está com duas ao mesmo tempo!
O burburinho começou a tomar conta do ambiente. Suspiros, cochichos, caras de escândalo. Depois de uma onda de alvoroço, veio o silêncio sufocante. Todos aguardavam ansiosamente a resposta de Larien. Até Dane parecia interessado no desenrolar da história.
Larien soltou um suspiro dramático e balançou a cabeça.
— Isso não vai dar, Sabrina. A April está esperando um filho meu.
— Espera aí… Então quer que eu seja sua segunda esposa?!
Sabrina gritou imediatamente. Enquanto os murmúrios recomeçavam, Larien coçou a bochecha com o dedo indicador e fez uma expressão constrangida.
— Hm… Então… Tecnicamente, você seria a nona.
— O QUÊ?!
— MEU DEUS!
— SOCORRO, QUE ABSURDO!
— Senhora, a sua consulta…
— Espera um pouco! Isso aqui tá mais emocionante que o noticiário!
No meio da confusão, Sabrina fez uma expressão de puro choque e incredulidade.
— Peraí… Você é muçulmana?
— O quê? Não, claro que não!
Larien abanou o dedo, indignada com a suposição. Em seguida, abriu os braços com solenidade e, com a cara mais lavada do mundo, declarou:
— Minha religião é o amor.
Dane, que assistia a tudo de braços cruzados, sentiu um calafrio. Algo nessa cena ridícula parecia absurdamente familiar. O rosto de Larien começou a se sobrepor ao de outra pessoa. ‘Não, não pode ser…’
E, no exato momento em que Dane percebeu o porquê daquele déjà vu desgraçado, Sabrina soltou um grito de guerra e se jogou em cima de Larien.
— Sua desgraçada mentirosa!
— Sabrina, acalme-se. Você está grávida, lembra!
— NÃO É SEU FILHO, EU TE ODEIO, MORRA , MORRA!
— Meu docinho não diga mentiras, você fica tão linda quando grita assim… Hahaha!
No meio das pessoas que observavam com expressões atônitas Sabrina batendo descontroladamente em Larien, que ria enquanto levava os golpes, alguém de repente pareceu ter um estalo e gritou:
— Espera aí, acho que já vi essa pessoa na lista de procurados!
— O quê? Tem certeza?
— Absoluta! Eu checo a lista do FBI todo santo dia. Olha aqui, vesta vendo?
— Meu Deus, é verdade!
— O que ela fez? Fraude? Foi golpe, né?
— Golpe romântico! Dizem que tem vítimas aparecendo em tudo quanto é canto!
— Alguém chama a polícia! Rápido! …Ué? Cadê ela?
Todos pegaram seus celulares em pânico, mas já era tarde demais. Larien havia sumido. Junto com sua adorável Sabrina, deixando para trás apenas Dane completamente confuso.
***
‘Droga, se eu me meter nos problemas dos outros de novo, que eu seja amaldiçoado.’
Dane praguejou enquanto girava a chave na ignição. Conforme dirigia, tentando engolir a irritação, sua cabeça fervilhava de perguntas. Aquela mulher também era uma Miller? Provavelmente. Uma alfa dominante com aquele rosto ridiculamente parecido? Só podia ser.
Os Miller tinham seis filhos, também sabia que entre eles havia meninas. E era só isso que Dane sabia. Ele tinha descoberto cedo que Chase era um deles, graças a Joshua, mas com Grayson… só percebeu quando o próprio Joshua mencionou. Apesar de serem tão parecidos.
‘E quer saber? Isso não é problema meu.’
Ele achou que já tinha se livrado dos Miller, mas não. Lá estava outro, caindo do céu. E ainda por cima, mulher – o que significava que ele não podia nem descontar a raiva direito. Se fosse um dos irmãos, já teria agarrado pelo colarinho e resolvido na porrada.
— Merda!
Num acesso de fúria, ele socou o volante. A única pessoa que podia explicar essa bagunça era Grayson Miller. Aquele comentário enigmático que ele soltou antes… definitivamente o cretino sabia de alguma coisa.
‘Não que… ele tenha realmente armado isso, né?’
Dane queria descartar essa ideia. Mas ao mesmo tempo… ele bem que era do tipo capaz de fazer uma dessas.
Foi então que algo chamou sua atenção. No céu azul e límpido, uma densa coluna de fumaça negra subia lentamente.
‘…O quê é isso?’
Um pressentimento ruim tomou conta dele. Conforme se aproximava, o cheiro de queimado ficou mais forte, e a fumaça mais densa. Não, não pode ser. Com certeza não é…
Ele repetia isso mentalmente, como se pudesse mudar a realidade, mas a cada metro que avançava, sua negação ia ruindo.
— Dane!
Ele freou bruscamente e saltou do carro. Ezra o viu e gritou seu nome, mas Dane já estava paralisado diante da cena.
Dane parou abruptamente, pálido. Sua preciosa casa estava envolta em chamas vermelhas, queimando furiosamente.
Por um momento, ele ficou imóvel, com a mente completamente vazia. O brilho alaranjado do fogo refletia em seus olhos enquanto a dura realidade finalmente se infiltrava em sua consciência.
E então, ele gritou. Um grito cortante, carregado de desespero.
— Darling!
°
°
Continua…