Deseje-me se puder - Capítulo 87
O vento, que normalmente soprava fresco, parecia estranhamente frio naquele momento. Grayson olhou fixamente para as costas de Dane, que estava parado no mesmo lugar. Com passos lentos, começou a se aproximar enquanto a ligação continuava. Após apenas alguns passos, ele estava atrás de Dane e a voz que vinha do celular chegou aos seus ouvidos.
[Eu acabei me confundindo da outra vez e fui até sua casa… Você se lembra disso, não?]
A urgência repentina na voz dela fez Dane reviver a memória. Ele passou a mão pelos cabelos, soltando um suspiro pesado.
— Sim, lembro.
Do outro lado, a mulher soltou um suspiro de alívio. Mas Dane já estava em outro pensamento. Sempre viveu evitando se envolver nos problemas dos outros, mas ultimamente… estava se enfiando em tudo. Até com uma mulher com quem só tinha passado uma noite.
‘Depois dessa, acabou. Nunca mais faço esse tipo de coisa.’
Ele se obrigou a essa promessa antes de ir direto ao ponto.
— Já decidiu? Quando vai fazer? Se puder marcar num dia que eu esteja de folga, melhor ainda.
Diante da pergunta direta, ela respondeu rapidamente.
[S-Sim! Claro, eu farei isso. …E obrigada.]
A voz dela foi sumindo ao fim da frase, mas Dane não reagiu. Apenas avisou sobre sua folga e desligou. Jogou o celular no bolso e já ia seguir em frente quando, ao virar a cabeça sem pensar muito, deu de cara com Grayson parado logo atrás dele.
— Puta merda, caralho!
Xingou no susto, franzindo a cara. Grayson apenas ergueu o olhar de forma preguiçosa.
Dane, que inadvertidamente voltou seu olhar para Grayson com o rosto franzido, percebeu que ele estava olhando para o bolso onde ele guardou o celular.
— É aquela mulher?
A pergunta veio sem rodeios. Dane nem se deu ao trabalho de disfarçar.
— Sim. Você viu ela também.
Respondeu sem ânimo, mas notou quando o rosto de Grayson ficou sombrio no mesmo instante. Antes que pudesse processar direito o que isso significava, Grayson quebrou o silêncio.
— Você vai mesmo com ela ao hospital?
A voz era calma. Demais. Mas tinha algo nela que fez Dane sentir um arrepio na espinha. Mesmo assim, ele respondeu no mesmo tom de sempre.
— Sim. Eu prometi.
Grayson ficou quieto de novo.
‘Mas que merda é essa agora?’
A tensão no ar ficou pesada. Grayson estreitou os olhos, franzindo a testa.
— …Você não está realmente pensando que é seu filho, está?
Dane piscou.
— O quê?
Então era isso que ele estava pensando.
Dane não sabia se ria ou se ficava puto. Apenas o olhou com um misto de tédio e incredulidade.
— Você sabe qual é o meu gênero não é? Eu pareço um idiota para você?
A ironia foi certeira. Grayson deu um passo para trás.
— …Não, mas…
— Mas o quê? O que diabos você quer dizer?
Dane rosnou, impaciente. Grayson pareceu ponderar algo por um instante. Então, do nada, sorriu.
Dane parou.
‘Que merda.’
Vendo a expressão de Dane, o sorriso de Grayson desapareceu tão rápido quanto surgiu. Ele percebeu que aquele não era o momento de sorrir.
— …Quero dizer…
Grayson começou a falar, mas foi só até aí. Ele ficou parado, pressionando a testa com a mão, sem conseguir continuar. Parecia… confuso.
Ou talvez fosse só impressão de Dane. No fim, quem poderia dizer o que era real ou fingimento vindo daquele cara? Ele mesmo talvez não soubesse. Só reproduzia as expressões certas para cada situação, como uma máquina.
Dane não perdeu mais tempo. Virou-se e saiu a passos largos, deixando Grayson apenas observando suas costas.
Então:
— Não desperdice seu tempo com algo sem valor.
A voz baixa veio por trás, fazendo Dane hesitar.
— Aquela mulher só está te usando.
A voz de Grayson ficou mais firme.
Dane revirou os olhos e balançou a cabeça, descrente. ‘Que besteira.’ Continuou andando, mas Grayson insistiu.
— Você vai se arrepender. Vai perceber que foi uma perda de tempo.
O tom de reprovação o fez parar de novo. Dane inclinou a cabeça para trás e soltou um longo suspiro, então, devagar, virou-se para encará-lo. Seus olhares se cruzaram. Dane lançou um olhar frio antes de abrir a boca.
— E quem te perguntou?
Sem esperar resposta, virou-se e saiu sem olhar para trás.
Grayson ficou parado, observando-o se afastar. Quando Dane estava abrindo a porta dos fundos do quartel, ele soltou uma última frase.
— Eu te avisei. O que vier depois é culpa sua.
Dane parou na porta e olhou para trás. Grayson o encarava com um olhar inexplicavelmente frio. Dane estreitou os olhos e respondeu num tom seco:
— Ui, que medo.
E, sem hesitar, bateu a porta com força, bem na cara dele.
**
Idiota.
Dane estava sentado em uma cadeira na sala de espera, com o rosto franzido. Ele estava sentado com as pernas abertas, balançando uma perna rapidamente, e seu rosto estava cheio de irritação.
‘Quem ele pensa que é para me dizer o que fazer?
<Você vai se arrepender.>
‘Já tô arrependido, porra.’
Mas ouvir aquilo da boca de Grayson só deixava tudo pior.
— Merda! —Ele murmurou um palavrão baixinho e imediatamente olhou ao redor para verificar. Felizmente, a sala de espera estava vazia, e outros pacientes ou visitantes estavam sentados a uma boa distância. ‘Que alívio.’ Quando estava se sentindo aliviado por dentro, a mulher que havia trazido água falou.
— Aqui, trouxe água.
A voz feminina o tirou de seus pensamentos.
— Quer café?
— Claro, obrigado.
Ele pegou o copo descartável e tomou um gole. A mulher sentou-se ao lado dele e tomou um gole d’água antes de falar.
— Obrigada por ter vindo comigo, Dane. Eu não tinha mais ninguém para pedir…
Dane olhou para o rosto pálido dela e apenas bebeu o café em silêncio. De qualquer forma, era alguém que ele não veria de novo. Não havia necessidade de ouvir histórias profundas. Foi o que ele pensou.
Mas a mulher pensava diferente.
— Afinal, é melhor não ter um filho se o pai não está por perto, não é?
— …Ha.
Dane soltou um suspiro audível e manteve o olhar fixo em um ponto qualquer, sem encarar ninguém.
— Isso é algo que você tem que decidir. Se não consegue lidar com isso, é melhor não ter.
Sabrina estremeceu visivelmente. Ainda hesitava. Ele percebeu e, depois de um momento de silêncio, murmurou quase para si mesmo:
— Ter um filho nem sempre é a melhor escolha.
— O quê?
— E quem diabos você acha que é para decidir isso, seu merda?
O xingamento repentino fez Dane franzir a testa e erguer o olhar.
Lá estava uma mulher altíssima, mascando chiclete e olhando para eles de cima. Com seu cabelo loiro platinado deslumbrante, ela era uma beleza impressionante o suficiente para fazer as pessoas suspirarem por onde passava. Mas não foi isso que fez Dane hesitar.
Eram os olhos.
Olhos roxos.
A fragrância doce ao redor dela não deixava dúvidas. Que porra é essa?
Dane estava prestes a se levantar, mas Sabrina se adiantou, saltando da cadeira como se tivesse levado um choque.
— Lauren!
O rosto pálido de Sabrina, agora em pânico, estava sendo encarado por uma mulher chamada Larien, que era uma cabeça e meia mais alta do que ela, com um olhar assustador.
***
♬♪♪♩♬♪…
O assovio insistente fez Ezra parar o que estava fazendo e olhar para trás.
Era Grayson, que revisava os equipamentos enquanto assoviava distraído.
— Alguma coisa boa aconteceu, Miller?”
Ao ouvir a pergunta, Grayson interrompeu o assovio e sorriu.
— Não.
O sorriso dele era o mesmo de sempre, perfeitamente ensaiado, mas Ezra não percebeu.
— Sei… Você definitivamente está feliz com alguma coisa.
Ezra lançou um olhar zombeteiro antes de voltar ao que estava fazendo. Enquanto isso, Grayson ergueu os olhos para o relógio na parede, ainda com aquele sorrisinho irritante nos lábios.
Os ponteiros se moveram com um tic.
‘Agora deve estar começando.’
***
— Seu desgraçado! Quem você pensa que é para decidir se ela deve tirar ou não o bebê?!
Laurien cuspiu as palavras como se fossem veneno.
‘Que mulher louca.’
Dane olhou para ela, incrédulo. Era fácil perceber que a mulher ultrapassava 1,80m, e ela não demonstrava a menor intenção de recuar. Pelo contrário, o olhar dela estava cravado nele, como se estivesse pronta para arrancar sua cabeça.
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Continua…