Deseje-me se puder - Capítulo 85
No exato momento, a porta do vestiário se abriu, e o outro protagonista dessa situação apareceu.
Assim que Grayson Miller entrou, o lugar mergulhou num silêncio constrangedor. Ninguém disse nada. Todos, de repente, encontraram algo muito interessante para fazer – checar o celular, arrumar a toalha, encarar o próprio reflexo no armário. Mas o jeito forçado com que ignoravam sua presença deixava claro que, na verdade, estavam completamente cientes dela.
— E aí, Miller.
A única pessoa que o cumprimentou foi Ezra, sempre aquele cara legal que falava com todo mundo. Ele sorriu, de forma amigável como sempre, e Grayson retribuiu com um sorriso também.
— E aí, Ezra. Bom dia.
Dane continuou se trocando, ouvindo o diálogo casual e se perguntando: ‘Será que ele sabe o que acabou de acontecer aqui?’ Parte dele sentiu uma curiosidade mórbida sobre como Grayson reagiria se soubesse, mas não o suficiente para testar.
A última vez que viu o cara, estava explodindo de raiva e meteu o pé dali sem olhar para trás. Mas pelo retrovisor, viu que Grayson ficou parado no mesmo lugar por um bom tempo, sem nem se mexer, só olhando na direção do carro. A imagem ficou gravada na sua mente de um jeito esquisito – até o fez pensar, por um segundo, se o idiota iria pegar o carro e persegui-lo. Felizmente, isso não aconteceu.
‘Bom, já deu merda o suficiente. Ele que não resolva piorar tudo agora.’
Mas conhecendo Grayson Miller… Dane já estava esperando o pior.
E foi então que o pior aconteceu.
Grayson fechou o armário e se virou, ficando cara a cara com Dane. Por alguns segundos, ficaram apenas se encarando. O silêncio entre eles durou, no máximo, dois ou três segundos, mas Dane já estava pronto para responder qualquer merda que o outro decidisse cuspir. Se fosse provocação, ele revidaria. Se fosse piada, ele derrubaria aquele sorriso da cara dele com um soco.
Só que, em vez disso, Grayson sorriu.
Não um sorrisinho irônico. Não aquele olhar de quem vai soltar uma frase ácida só para irritá-lo.
Não.
Ele simplesmente… sorriu. Um sorriso amplo, mostrando os dentes alinhados, com uma expressão radiante.
— E aí, Striker.
‘…Hã?’
Dane congelou.
E não foi o único.
Os outros caras, que estavam atentos mesmo fingindo que não estavam, ficaram tão confusos quanto ele. Ninguém falou nada, apenas esperaram pelo desdobramento dessa cena surreal.
Mas não houve desdobramento.
Grayson assobiou baixinho, abriu o armário, pegou suas roupas e começou a se trocar como se nada estivesse acontecendo. Quando terminou, simplesmente saiu do vestiário, sem se importar com os olhares presos nele. Só depois que a porta se fechou com um clique é que o vestiário pareceu voltar ao normal.
— Err….
Alguém tentou dizer algo, mas foi interrompido por outra voz:
— Então… era verdade? Eles estavam mesmo só atuando?
Esse comentário foi o estopim. De repente, todos começaram a falar ao mesmo tempo.
— Não, aquilo foi realmente uma encenação?
— Dane sabe atuar? Desde quando?
— Hah! Eu achei a performance meio exagerada, para ser sincero.
— Foi Miller que ficou estranho. A atuação de Dane não foi ruim. Eu caí na dele.
— Ah… meio decepcionante.
Dane ficou parado, tentando entender o que diabos tinha acabado de acontecer. Mas uma coisa era certa: Graças a esse idiota, tudo realmente tinha virado só mais um evento sem importância.
O problema era que… ele não fazia a menor ideia de por que diabos Grayson Miller havia agido daquela forma…
‘Eu realmente preciso saber?’
Dane rapidamente mudou de ideia. No fim das contas, o problema estava resolvido, e talvez Grayson só tenha percebido depois que passou dos limites. Ele podia até não ter sentimentos – mas com certeza sabia o que era manter as aparências.
Com essa conclusão conveniente, ele terminou de se vestir e fechou o armário. Se tudo acabasse assim, seria ótimo. Estava mais do que satisfeito com isso.
Mas claro, esse era um pensamento ingênuo.
Nem fodendo que seria tão fácil.
Do lado de fora, parado diante da porta do vestiário, Grayson ouvia a conversa abafada do grupo lá dentro. Seu rosto estava neutro, mas sua mente não parava.
A reação explosiva de Dane no dia anterior já tinha deixado tudo bem claro. Grayson ficou parado olhando ele ir embora porque, naquele momento, percebeu que tinha errado na abordagem. E quando finalmente saiu do torpor, sabia que precisava reformular toda a estratégia.
A maneira como fez as coisas antes? Estava totalmente equivocada.
Mas por que ele perdeu a linha daquele jeito?
Com a cabeça mais fria, ele tentou analisar o que aconteceu. Mas nenhuma explicação parecia satisfatória. Ele nunca foi alguém que se deixava levar pelo momento. Nunca reagia por impulso. Nunca se descontrolava.
Exceto quando se tratava de Dane Striker.
Com aquele cara, suas regras simplesmente desmoronavam. Mas não podiam desmoronar mais. Se ele queria Dane, teria que ser mais frio, mais calculista.
E a melhor forma de conseguir isso: era fingir que nada aconteceu e agir com naturalidade. Porque se fizesse isso, mais cedo ou mais tarde, Dane baixaria a guarda.
‘Tempo não é um problema isso eu tenho de sobra.’
Grayson enfiou as mãos nos bolsos e começou a caminhar pelo corredor, assobiando, despreocupado.
‘E quando a hora chegar…’
Só de imaginar a expressão chocada de Dane, fez Virgínia endureceu imediatamente.
Grayson continuou assobiando e caminhando pelo corredor vazio.
***
O céu estava azul como sempre. O sol brilhava forte naquela manhã comum. Mas no alto de um prédio, pendurado na beirada da janela, um homem gritava, enquanto lá embaixo, os bombeiros corriam de um lado para o outro.
— Ei, ei, não deixem ninguém se aproximar. Mantenham as pessoas afastadas!
— O colchão de ar já está pronto? Se ele cair, precisamos estar preparados!
— E a polícia? Eles sempre chegam atrasados, porra!
Dane estava no meio da confusão, correndo de um lado para o outro. Acima dele, o homem pendurado continuava berrando – mas ninguém conseguia entender se ele queria ser salvo ou se preferia ser deixado em paz. Eles continuaram fazendo seu trabalho.
No meio do caos, só uma pessoa parecia completamente desinteressada.
— Miller! Miller!
Wilkins gritou, chamando Grayson. Precisavam de mais uma pessoa ajudando, e ver aquele desgraçado de braços cruzados só piorava seu humor.
— Vem logo ajudar, porra!
Ele fez sinal com a mão, insistente. Mas Grayson só olhou na direção dele com desinteresse.
Do lado, Ezra tentou de novo, impaciente.
— Miller, o que você está fazendo? Venha logo!
Mas nem assim ele reagiu. Diandre, suando enquanto tentava abrir o colchão de ar, perdeu a paciência de vez.
— Vá se foder, desgraçado! E se o cara cair?!
A intenção era fazê-lo agir. Mas para surpresa geral, Grayson apenas bocejou e desviou o olhar, como se nada daquilo fosse com ele.
Eventualmente, todos desistiram.
— Filho da puta… para que diabos esse cara ainda aparece, então? Ele não faz porra nenhuma.
Todos concordaram com o insulto de Diandre. Dane, que estava silenciosamente ajudando a instalar o colchão de ar, olhou de soslaio para Grayson com uma expressão carrancuda, mas não disse nada.
Pelo menos, não naquele momento.
***
— Com essa falta de vontade toda, não seria melhor simplesmente desistir?
A pergunta veio depois que o resgate terminou e o grupo já estava de volta.
Grayson, que bebia calmamente um refrigerante, ergueu o olhar para o cara que falou. O resto do time também se virou para ele, como se só estivessem esperando por aquele momento.
E então, todos começaram a despejar suas frustrações de uma vez.
— Você só atrapalha, parado ali que nem um idiota.
— Para que você virou bombeiro, afinal? Não devia pelo menos fingir que se importa?
— Se você só queria assistir, não precisava se fantasiar de bombeiro, não é?
Grayson piscou os olhos enquanto ouvia as reclamações e finalmente abriu a boca.
— Por que vocês estão dizendo isso para mim?
A resposta foi tão absurda – ou cínica – que a indignação geral só aumentou.
— Tinha um cara prestes a morrer na nossa frente e você nem aí! Como assim “por quê”?
— Você não se pergunta, nem por um segundo, o que poderia ter acontecido se ele caísse?
Grayson os ouviu em silêncio, depois deu de ombros.
— Talvez ele quisesse morrer.
De repente, Dane, que estava observando em silêncio, levantou a cabeça, e todos olharam para Grayson, chocados. Em seguida, Grayson sorriu e acrescentou:
— Se a pessoa quer, quem sou eu para impedir?
O barulho cessou.
A agitação de segundos atrás se dissolveu em um silêncio pesado, desconfortável. Todos pensavam a mesma coisa.
O que foi que eu acabei de ouvir?
— Venha aqui um instante.
De repente, Dane se adiantou e agarrou o braço de Grayson. Sem dizer mais nada, começou a puxá-lo para um espaço mais isolado nos fundos da área, o resto da equipe apenas os observaram, boquiabertos.
°
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Continua…