Deseje-me se puder - Capítulo 84
De repente, o bar inteiro entrou em alvoroço.
— O quê?! Como é que é?! Os dois transaram?! Meu Deus, isso é sério?!
— Isso é a última coisa que eu esperava! Mas como assim? Quando? Por quê?!
— O fim do mundo está chegando, só pode! Amanhã os alienígenas vão invadir! Aliás… será que esses dois já eram alienígenas esse tempo todo?!
— Calma, espera, acho que ainda é cedo para discutir quem ficou por cima ou por baixo. Primeiro, vamos confirmar se eles realmente transaram…
Alguém tentou bancar o racional, mas foi imediatamente massacrado.
— Confirmar o quê, seu imbecil?! Você precisa de um desenho?!
— Você tá surdo ou é só burro mesmo?
— Aposto que ele é o alienígena aqui! Confessa logo antes que a gente arranque sua pele!
Até um conspiracionista entrou na discussão, e o pobre coitado que duvidou foi praticamente engolido vivo. Logo, o debate voltou ao ponto crucial.
— Foi o Miller.
Ezra foi o primeiro a se manifestar com convicção.
— Eu conheço o Dane, ele nunca ficaria por baixo. Quem foi prensado foi o Miller.
O protesto foi imediato.
— Tá de brincadeira, né? O Miller?! Aquele armário de dois metros?!
— Impossível! Olha pra ele, a constituição dele, ele é um Alfa dominante! Um Alfa desses sendo dominado por um Beta? Isso não faz sentido!
— Verdade, não tem como.
— Eu também acho. Aposto 10 dólares no Dane.
— Eu boto 20!
— Toma aqui, tô dentro!
De repente, o bar inteiro virou uma casa de apostas. Mas Ezra insistiu:
— Beleza, o Miller é maior, mas pensem bem… vocês realmente conseguem imaginar o Dane por baixo? Conseguem?
O silêncio caiu como uma pedra.
Todo mundo se entreolhou. Lentamente, as mãos que tinham apostado no Dane começaram a pegar de volta o dinheiro e colocá-lo no outro lado.
— Miller que ficou por baixo.
— É… Dane sendo prensado? Não consigo imaginar isso.
— Cala a boca, porra! Só de imaginar me deu arrepios!
O consenso foi formado. Mas, como sempre, tinha que ter um teimoso.
Aquele mesmo cara que duvidou da história no começo hesitou, olhou para os lados e, com uma mão trêmula, jogou uma nota de 1 dólar no lado oposto. O ambiente inteiro ficou tenso.
— Eu só… não consigo ver o Miller como passivo.
— TRAIDOR.
— Você claramente não conhece o Dane.
— Nunca invista no mercado de ações.
Depois de um minuto de insultos, alguém levantou um ponto importante:
— Tá, mas e esse único dólar? Como vamos dividir?
O bar caiu na gargalhada.
— Cara, UM DÓLAR?! Sério?!
— Caramba, se fosse pelo menos cem, dava para discutir.
— Dane-se, deixa pra lá. A gente finge que ele nem apostou.
— Aliás… o que a gente faz com todo esse dinheiro? A gente apostou tudo na mesma coisa.
A aposta estava decidida, até o cara de um dólar finalmente se rendeu.
— Tá certo, e agora? O que a gente faz com esse dinheiro todo?
— Pelo amor de Deus, já não discutimos isso? Qual era o motivo dessa festa mesmo? Vai para o fundo de arrecadação!
A sugestão foi aceita sem questionamento. O dinheiro foi recolhido e entregue a Ezra e Sandra, que receberam a doação com um misto de gratidão e resignação. Um brinde foi feito com cerveja, os risos ecoaram pelo bar, e a noite terminou em pura euforia.
***
‘Droga, o que eu faço agora?’
Dane estava sentado no banco do motorista, cobrindo o rosto com uma mão. Ele já havia chegado ao trabalho, mas ainda não conseguia entrar.
Depois de pisar fundo no acelerador e ir para casa na noite anterior, ele ainda estava fervendo de raiva. Precisou se segurar para não assustar Darling, mas foi difícil – tão difícil que acabou tomando um banho frio e socando a parede umas boas vezes para se acalmar.
Mas o pior veio depois, quando a fúria começou a ceder e a realidade bateu. Ele percebeu. Percebeu onde tudo aquilo tinha acontecido.
— AAAAAAAAAARGH!
Enterrou as mãos nos cabelos e gritou novamente. Tinha perdido as contas de quantas vezes já tinha feito isso desde que percebeu a merda em que tinha se metido.
Como ele ia sair dessa? Merda, por que aquele desgraçado tinha que estar lá? Pior ainda, por que ele mesmo tinha que fazer aquela palhaçada no bar? Se ao menos tivesse sido mais frio…
E não era só o vexame. Ele tinha ferrado um evento beneficente. A festa era para ajudar a esposa do Ezra, e ele tinha transformado tudo em um espetáculo ridículo. Agora, além de humilhado, sentia-se um lixo por isso.
‘Tudo culpa daquele filho da puta.’
Grayson Miller vivia cutucando ele, mas o grande problema era que Dane mordia a isca toda santa vez. Era só ignorar, era só isso que ele precisava fazer. Mas não, tinha que cair no jogo dele e, no fim, causar essa catástrofe.
‘Acabou. A partir de agora, esse desgraçado não existe mais para mim.’
Dane cerrou os dentes e decidiu. Mas, por enquanto, havia um problema mais imediato, ele não podia ficar ali para sempre.
Depois de mais um gemido frustrado, ele finalmente saiu do carro.
***
— OLHA SÓ QUEM CHEGOU!
— DANE STRYKER, O MITO, A LENDA!
Assim que ele abriu a porta do vestiário, os colegas que estavam conversando se levantaram e começaram a aplaudir. Eles ignoraram completamente a expressão abatida de Dane e, como se estivessem esperando por ele, gritaram, ergueram os punhos e assobiaram.
Dane congelou na porta.
‘Ah, caralho.’
Dane cobriu o rosto com uma mão e resmungou um palavrão. Não havia o que fazer. Ele só podia ignorar e fingir que nada havia acontecido. Enquanto ele caminhava lentamente em direção ao seu armário, os bombeiros ao seu lado aplaudiam e soltavam comentários.
— Cara, você realmente conseguiu colocar um Alfa dominante de quatro? Isso foi histórico.
— Dane Stryker, senhoras e senhores. Você é demais.
— Nosso heroi! Nosso guardião! Nossa lenda viva!
Dane abriu o armário e, por um segundo, considerou seriamente se virar e descer o braço em cada um deles. Ele estava fechando o punho quando Ezra se aproximou.
— Então, Dane…
— Ah.
Ao ver Ezra, Dane afrouxou o punho. A vergonha logo tomou o lugar da raiva.
— É… olha, me desculpa. A festa era para Sandra, e eu estraguei tudo.
— Ah, que isso. Esta tudo bem, sério, não precisa se preocupar.
Ezra pareceu surpreso com a tentativa de desculpa e balançou a cabeça, quase apressado. Olhou de relance para os outros ao redor, baixando a voz antes de continuar.
— Na verdade, a Sandra se divertiu muito.
— …O quê?
Dane piscou, confuso, mas Ezra seguiu, animado:
— Ela disse que foi o evento mais divertido. Desde que ficou doente, foi a primeira vez que ela se divertiu tanto. Ela passou a noite sem dormir, falando sobre isso! Cara, fazia muito tempo que eu não via minha esposa rir tanto.
— Ah… é mesmo…?
Dane ficou um instante sem saber como reagir. Aquela história de que o lixo de um é o tesouro de outro nunca tinha parecido tão literal. Pelo menos, não tinha sido um desastre completo. Ele quase sentiu um alívio – até que Ezra perguntou:
— Mas foi só teatro, né? Você e o Miller combinaram isso para animar a Sandra, certo?
…Hein?
Dane congelou.
Ezra, por outro lado, parecia bem seguro da própria teoria.
— No começo, eu até caí. Mas depois a Sandra me disse que vocês dois provavelmente encenaram tudo só para animar a festa. Ela achou incrível. Até pediu para agradecer a todo mundo por ela.
Dane apenas piscou, tentando processar. Mas os outros já estavam se metendo na conversa.
— Ah, qual é, como é que alguém encena uma coisa dessas?
— Desde quando o Miller toparia isso? E o Dane, se atuasse tão bem assim, já tava em Hollywood.
— Foi verdade, porra! Eles transaram MESMO!
— Dane, você realmente conseguiu botar o Miller por baixo, não foi?
Diante do bombardeio, Dane percebeu a oportunidade se desenhando na sua frente. Se Ezra realmente acreditava nisso, ou se só estava tentando lhe dar uma saída… tanto faz. Era a chance perfeita para escapar.
Então, ele sorriu daquele jeito despreocupado de sempre e deu de ombros.
— Claro. Eu forcei o Miller para gente atuar juntos. Foi só para animar a Sandra.
— …Espera, O QUÊ?!
— Mentira! Não pode ser!
— Você forçou o Miller? Como? Com o quê? Você nem dinheiro tem!
Os questionamentos vieram de todos os lados, mas Dane apenas ergueu as mãos num gesto casual.
— Os detalhes não importam. O que importa é que a Sandra se divertiu, certo? Ou…
Ele fez questão de encarar cada um ali, os olhos levemente afiados.
— Vocês estão dizendo que preferiam que fosse verdade?
Silêncio.
A turma trocou olhares, alguns até recuaram um passo. Até que, depois de um tempo, um deles teve coragem de perguntar:
— Então… você está dizendo que foi tudo encenação? Que você e o Miller não têm nada?
Dane deu um meio sorriso e cruzou os braços.
— Me dê um único motivo para eu querer dormir com aquele desgraçado.
Ninguém respondeu. No final, eles tiveram que aceitar a palavra de Dane.
— Ah, que coisa. Faz sentido, não estava batendo.
— Bom, pelo menos rendeu boas risadas.
— É impossível imaginar aquele idiota do Miller por baixo.
Dane soltou um suspiro discreto enquanto via o grupo se dispersar, ainda debatendo. Será que deu certo? Justo quando achou que sim, Ezra, que ainda estava ali, abriu a boca:
— Obrigado por encenar aquilo com o Miller. De verdade.
‘Eu é que deveria te agradecer, Ezra.’
Dane apenas sorriu, sem dizer nada, e deu dois tapinhas no braço do amigo antes de puxar a camisa por cima da cabeça para se trocar. Ezra ficou observando a cena por um momento e então murmurou, quase para si mesmo:
— …Que alívio.
— O quê?
Dane parou no meio do movimento e olhou para ele.
Mas Ezra apenas sorriu e balançou a cabeça.
— Nada, esquece.
E saiu, sem mais explicações.
Dane ficou ali por um segundo, intrigado. Mas logo deu de ombros e voltou a se vestir.
°
°
Continua…