Deseje-me se puder - Capítulo 80
Ele não estava errado. Mas ainda assim, a dúvida persistia.
— Então por que diabos fingiu ser um beta esse tempo todo?
Dessa vez, Dane respondeu sem nem hesitar:
— Porque dizer que sou ômega só me traria dor de cabeça. Não houve outra intenção.
Grayson sabia que era verdade. Dane sempre deixou claro o quanto detestava coisas complicadas.
— Se eu não soubesse da sua natureza, ainda assim teria falado isso?
Dane riu de leve.
— Não. Se fosse assim, eu teria dado um jeito de te despachar primeiro.
Grayson quis perguntar por que ele não queria revelar isso para ele, mas não disse nada. Ele já sabia a resposta.
‘Porque eu sou o que mais o incomoda…’
Esse pensamento só piorou seu humor.
Enquanto isso, Dane também não parecia nada bem desde que aquela mulher foi embora. Mais precisamente, desde que soltou seus feromônios. Ele nunca tinha feito isso antes, então não sabia o porquê, mas… desde que passou pelo seu primeiro florescer como ômega, toda vez que soltava feromônios, sentia-se desconfortável.
‘Florescer.’
Os ômegas não conseguem sentir o cheiro de seus próprios feromônios até terem a primeira relação. Somente após a primeira vez que liberam feromônios é que eles percebem. Se dão conta do aroma que atraem os alfas.
E Dane nunca tinha imaginado que isso seria tão irritante. Ele nunca teve a intenção de usar essa “habilidade”, então nunca se preocupou. Mas agora, do nada, aquilo se tornou um problema real.
‘Os malditos alfas dominantes saem por aí espalhando essa porcaria o tempo todo e agem como se não fosse nada…’
Dane estalou a língua, irritado. Realmente, eles eram uns descarados.
—Ei.
Dane chamou Grayson de novo. Ele, relutante, olhou para o outro, que apontou com o polegar para onde Darling estava.
— Já pode ir agora. Preciso preparar meu jantar.
O recado era claro: tire sua foto e caia fora. Grayson percebeu, obviamente, mas não cedeu tão fácil.
— Ainda tenho perguntas.
— Então fala logo.
Dane suspirou, mas ainda assim deu espaço para a conversa. Talvez porque sentisse que essa era a última chance. Grayson também teve essa impressão, como se fosse a única oportunidade de tocar nesse assunto com ele.
— E se você fosse beta? O que teria acontecido nessa situação?
Dane deu de ombros, como se a questão não tivesse importância.
— Nada teria mudado. Se essa parte do meu corpo tivesse esse tipo de utilidade, eu já teria operado há muito tempo.
— …O quê?
Grayson piscou, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. Mas Dane continuou impassível.
— Eu não tenho intenção de ter filhos. Então, para que serviria a fertilidade? Seria muito mais prático fazer uma cirurgia e evitar situações irritantes como essa.
—……Sério, você faria isso?
Grayson murmurou, ainda processando. Mas Dane só deu de ombros.
— Olha, eu uso camisinha até hoje, mesmo sabendo que meu esperma não serve para nada. Você acha mesmo que eu ia sair por aí transando sem preservativo podendo engravidar alguém?
Ele então cutucou o peito de Grayson com o dedo indicador, empurrando-o um pouco para trás. Um sorriso debochado surgiu em seu rosto.
— Mas é claro, vocês alfas dominantes podem controlar a fertilidade, então nunca tiveram que se preocupar com essas coisas, certo?
O sorriso irônico de Dane estava carregado de irritação. Já chega desse assunto. Grayson conseguia ler seus pensamentos com clareza. Agora era a hora de ir embora. Sem mais perguntas, ele apenas deveria fingir tirar algumas fotos de Darling, dar um aceno rápido e sair daquela casa.
O roteiro já estava traçado. Era só seguir o plano.
Mas Grayson não se mexeu.
— E se você engravidar?
— O quê?
Dane respondeu, surpreso com a pergunta inesperada. Ainda dava tempo. Grayson podia simplesmente dizer que não era nada, dar as costas e ir embora.
Mas ele queria saber.
Por que esse homem parecia sentir uma repulsa tão profunda só de pensar na possibilidade de ter um filho?
— Se acabasse engravidando de mim, o que você faria?
— Isso não vai acontecer, e você sabe disso. Eu tomei os remédios, você viu.
Dane foi direto e cortante. Cada célula do seu corpo deixava claro o quanto essa conversa o incomodava. Mas Grayson insistiu.
— E que garantia você tem de que esses remédios realmente funcionam?
— …O quê?
— Nem sequer são oficialmente aprovados, certo? Então como pode ter tanta certeza?
Dane estreitou os olhos ainda mais. Ele abriu a boca, pronto para retrucar, mas no final suspirou fundo e jogou a cabeça para trás, fechando os olhos.
— Haa…
Ele passou a mão pelo rosto e respondeu, já mais cansado do que irritado.
— Tá bom. Eu vou ao hospital e vou confirmar, pronto? Tudo o que você quer é ter certeza de que não tem nenhuma criança envolvida, não é?
‘Ele só está preocupado com a possibilidade de uma dor de cabeça no futuro.’
Era a única explicação que fazia sentido para Dane. Grayson podia ficar falando sobre um destinado o quanto quisesse, mas, no final, não era tão diferente dele. Tinha aproveitado sua cota de noites sem compromisso e agora, só queria garantir que não teria nenhuma consequência para lidar depois.
— Se você estivesse grávido, eu também teria direitos.
A linha de pensamento de Dane foi brutalmente interrompida. Ele abaixou os olhos do teto e encarou Grayson. Seu olhar estava frio, carregado de raiva.
— Que direitos? —Dane estreitou os olhos, e sua voz ficou mais áspera. — Direitos? Você acha que tem direitos sobre mim? Que tipo de merda você está falando? Só porque dormimos juntos uma vez, você acha que pode decidir qualquer coisa sobre o meu corpo? Não me faça rir.
Grayson abriu a boca para falar, mas Dane foi mais rápido.
Ele agarrou a gola da camisa do alfa e o puxou para perto, cuspindo as palavras com fúria.
— Quantas vezes eu tenho que repetir? Eu. Não. Estou. Grávido. E mesmo se estivesse, “não estaria” , entendeu? — Ele o soltou com um empurrão. — Porra, pare de me encher o saco e caia fora!
— Gritar comigo e bancar o irritado não vai mudar o que aconteceu entre nós.
— E o que exatamente aconteceu, hein? Nós transamos? E daí?
Dane estava pronto para partir para a briga se Grayson desse mais um passo em falso. Grayson só queria pedir para ele se acalmar, mas sabia que isso só pioraria a situação, então, em vez disso, ele tentou argumentar da forma mais racional possível.
— Foi sua primeira vez.
Não foi a melhor abordagem.
— E daí? Você vai bancar o responsável agora?
Dane soltou uma risada incrédula, cheia de desdém. ‘Esse maluco do caralho.’ Ele rangeu os dentes, murmurando consigo mesmo.
— Grayson Miller.
Ele cuspiu o nome como se fosse algo amargo na boca.
— Você sabe por que eu nunca usei a minha parte de trás até agora?
Grayson hesitou com a pergunta inesperada. Foi o suficiente para Dane cravar nele um olhar cortante antes de dar a resposta.
— Porque eu não queria correr o risco de ter um filho.
Antes que Grayson pudesse reagir, ele continuou despejando as palavras, rápido e afiadas como uma lâmina.
— Eu nunca quis filhos e nunca vou querer. Não importa com quem. E aí você vem me falar de direitos? Que porra de direitos alguém pode ter sobre algo que nem existe?
— Dane…
— CALA A BOCA!
Grayson tentou intervir, mas Dane o calou com um berro.
— Desde quando você é assim, hein? Todo sentimental, todo grudento? Achei que seu lema era uma vez só e nunca mais!
Grayson ficou pálido na mesma hora, como se tivesse levado um soco no estômago. A reação dele, agindo como se fosse uma pessoa normal, só deixou Dane mais enojado. Ele provavelmente estava fingindo de novo.
— Cai fora. Agora. Some da minha casa.
— Espera…
Grayson tentou falar mais alguma coisa, mas Dane nem quis ouvir. Agarrou o colarinho dele e o arrastou até a porta, abriu-a sem cerimônia e, sem hesitar, empurrou-o para fora.
Grayson tropeçou e quase caiu de cara no chão. Antes que pudesse sequer recuperar o equilíbrio, Dane bateu a porta com força.
BAM!
Logo em seguida, o som dos trincos sendo passados ecoou pelo corredor.
— …Tsk.
Grayson passou a mão pelo cabelo, soltando um longo suspiro. O quão patético foi aquilo? Jogado para fora como um maldito cachorro.
Ele olhou para os próprios pés e percebeu que só estava com um dos chinelos. O outro pé, apenas coberto por uma meia preta, estava firmemente plantado no chão frio. Ele bufou, frustrado, arrancou o chinelo que restava e jogou-o de lado, calçando os sapatos que havia deixado arrumados ao lado antes.
— Merda.
E, só para descontar um pouco da irritação, desferiu um chute forte na porta de Dane.
Alguns minutos depois, Dane, ainda na poltrona da sala, viu pelo vidro da janela o carro de Grayson finalmente indo embora.
°
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Continua…