Deseje-me se puder - Capítulo 76

— E qual é o tipo dele, afinal?

Grayson perguntou, ainda com os cantos da boca levantados. Seus olhos estreitos transbordavam irritação, mas Ezra, talvez por estar bêbado, não percebeu.

— Bom, pelo menos alguém do seu tamanho, com certeza, não é. Dane já é enorme por si só, nunca vi ninguém maior que ele. Então, tecnicamente, até agora nunca vi alguém que não fosse do tipo dele. Mas você… bom, você é grande. Tipo, muito grande.

Ezra lançou um olhar sugestivo para Grayson antes de soltar um riso irônico.

— E como eu sei qual é a posição do Dane, acho que com você seria meio complicado.

Grayson não respondeu. Apenas virou outro gole da cerveja que não estava ajudando em nada. Algo naquela conversa o incomodava, Dane já havia dito algo parecido antes. Naquela época, ele também não tinha ficado muito feliz, mas por que agora estava tão bravo? Sem perceber, Grayson deixou escapar o que realmente pensava.

— Você fala como se soubesse alguma coisa sobre ele…

— O quê? O que disse?

Ezra piscou, confuso. Felizmente, o barulho do bar engoliu as palavras de Grayson. Ele não perdeu a chance e, com um sorriso torto, rapidamente mudou de assunto.

— Como ele acabou ficando com aquela gata? Não consigo imaginar o Dane cuidando de ninguém.

— Bom, nisso você está certo. Ele definitivamente não cuida de pessoas. — Ezra concordou prontamente e acrescentou:— Mas com animais é outra história.

— Ele gosta de animais?

— …Gostar? —Ezra inclinou levemente a cabeça, ponderando, antes de continuar: — Ele não é do tipo que se derrete por qualquer animal. Na maioria das vezes, só olha para eles como se não se importasse. Mas se estiverem abandonados ou machucados… bom, aí ele não consegue simplesmente ignorar.

‘Em resumo, ele só intervém quando há uma necessidade. Então, aquela gata também era um desses casos?’

— Tipo a Darling?

— Exatamente. — Quando Grayson perguntou discretamente, Ezra concordou de imediato. — Ela foi a única coisa viva encontrada em um prédio onde fomos chamados para uma ocorrência. Estava escondida num canto, e os ferimentos eram graves. No final, acabou perdendo a visão e a audição. Como o tratamento era caro, quase foi sacrificada, mas o Dane pagou tudo do próprio bolso e adotou ela.

Ezra fez uma pausa antes de soltar uma risada.

— Ele trabalhou dois meses seguidos, sem folga, para cobrir a dívida do hospital. Nem dormia direito. Ficou tão insuportável que ninguém conseguia nem dar bom-dia sem ouvir um palavrão.

Ele balançou a cabeça, como se ainda não acreditasse. Grayson sabia que era o momento certo para rir junto, e acompanhar a conversa… mas, por algum motivo, não conseguiu.

— Mas você não disse que ele ama dinheiro?

Geralmente, pessoas assim são avarentas. E, no entanto, Dane não apenas bancou sozinho o tratamento da gata, como ainda trabalhou dobrado para pagar por isso. Nada ali fazia sentido.

Ezra, no entanto, respondeu sem titubear:

— Sim, ele adora dinheiro. Mas nunca economiza quando se trata da Darling. Ah, e também com quem ele leva para a cama.

Então, Ezra abriu um sorriso malicioso.

— Se realmente gosta de alguém, ele até paga bebidas caras e faz café da manhã.

Ao ouvir aquilo, Grayson franziu a testa e lançou um olhar desconfiado para Ezra.

— Você também já dormiu com o Dane?

A forma como ele falou… Como diabos ele sabia dessas coisas?

Ezra imediatamente perdeu o tom brincalhão e sacudiu a cabeça com indignação.

— Pelo amor de Deus! Eu sou casado! Tenho três filhos! Só estou repetindo o que ouvi por aí.

— E como ouviu?

Grayson ainda não conseguia se livrar da desconfiança e perguntou novamente. Ezra fez uma careta de incredulidade e retrucou:

— Você acha mesmo que entre todas as mulheres com quem você dormiu, nenhuma delas já esteve com o Dane?

— Então tem alguém no quartel que já dormiu com ele?

— Claro. Não que tenha sido com todo mundo, como no seu caso. —Ezra soltou a provocação num tom seco antes de suavizar um pouco a voz. — Além disso, tinha várias mulheres interessadas nele. Algumas até queriam algo sério, mas Dane nunca esteve nessa vibe. Transar, tudo bem. Relacionamento? Nem pensar.

Ele terminou com um sorriso amargo.

Grayson ficou em silêncio, girando a garrafa de cerveja entre os dedos. Quanto mais tentava entender Dane Stryker, mais confuso ficava.

‘Que tipo de homem ele é, afinal?’

No fim, só restava beber para tentar processar aquela frustração.

***

Naomi estava no momento mais tranquilo do dia, recuperando o fôlego após a sessão de ioga, quando o toque do celular quebrou sua paz. Seu rosto se contraiu levemente com a interrupção, mas, depois de um suspiro resignado, ela estendeu a mão para pegar o aparelho da mesinha ao lado.

No entanto, ao ver o nome “Grayson Miller” na tela, qualquer irritação desapareceu. Seu rosto se iluminou e ela rapidamente atendeu.

— Oi, Grayson? Que surpresa!

‘Pois é, que surpresa. Será que finalmente encontrou o que procurava? Ou foi chutado? Está se sentindo miserável e arrependido da vida que levou até agora? Está batendo no próprio peito e chorando de frustração? Diz onde você está, porque eu corro até aí agora! Quero ver sua cara derrotada com meus próprios olhos!’

Já se preparando para oferecer um lenço dramático, Naomi prestou atenção ao telefone, esperando sua voz abatida.

[Você tem cachorro, certo?]

Diante da pergunta inesperada, Naomi piscou algumas vezes. Ela afastou o celular do ouvido e olhou para ele por um momento antes de colocá-lo de volta e perguntar:

— Sim… Quer ver uma foto?

— Não, não precisa.

Do outro lado da linha, Grayson resmungou algo, quase como se falasse sozinho:

[Foi realmente inútil.]

Ela mal teve tempo de processar aquilo antes de ouvir o som seco da chamada sendo encerrada.

— O quê? O quê?!

Era claramente um comentário para si mesmo, mas foi o suficiente para irritar Naomi. E o que a deixou ainda mais furiosa foi o fato de Grayson ter desligado o telefone sem mais explicações na cara dela.

Filho da mãe!

Naomi cerrou os punhos, respirando fundo enquanto a raiva fervia dentro dela. Mas, mesmo assim, ainda não foi o suficiente para conter a indignação. No fim, precisou soltar o grito entalado na garganta:

— Mas que grandíssimo filho da puta!

***

Grayson estava sentado à mesa de chá, de cara fechada, completamente imerso em seus pensamentos. Depois de algumas ligações inúteis, restaram apenas o vazio e a frustração, e ele não fazia ideia do que fazer a seguir.

O que ele costumava fazer em situações assim?

Agradar alguém nunca tinha sido um problema. Era simples: passar tempo suficiente ao lado da pessoa, observar suas expressões, captar o que queria através de olhares e gestos. Dinheiro não era um obstáculo, e tempo, menos ainda. Se o que desejavam era um presente atencioso, ele comprava. Se fosse um evento extravagante, organizava. Sempre dava certo. Nunca houve uma situação em que ele não conseguisse o resultado esperado. E dessa vez não deveria ser diferente.

O problema era que passar tempo a sós com Dane era praticamente impossível.

Como se leva para um encontro um homem que nem sequer parece entender o conceito de um? Ele ainda tinha uma única chance, mas não queria desperdiçá-la de forma patética. Quando aquela dívida absurda de um encontro fosse paga, Dane Stryker simplesmente daria as costas e seguiria em frente sem nem olhar para trás.

Havia alguma outra maneira de descobrir mais sobre ele?

‘A gata e dinheiro.’

Grayson franziu a testa, pensativo. Por enquanto, eram os únicos pontos fracos que ele conseguia identificar. E um deles, bem… ele tinha de sobra.

Assim que finalmente chegou a uma conclusão, pegou o telefone e fez uma ligação. O telefone mal havia tocado quando a chamada foi atendida. Sem rodeios, Grayson ordenou ao chefe da equipe de assistentes que resolvia as tarefas domésticas e pessoais da sua família:

— Descubra quais são os melhores produtos para gatos. Agora.

[… Perdão? Gatos? O senhor tem um gato?]

A pergunta, repleta de surpresa, fez Grayson revirar os olhos. Não estava com paciência para explicações.

— Não, é um presente. Quero algo que qualquer dono de gato adoraria.

[Entendido.]

O homem respondeu prontamente e, como se estivesse compartilhando um segredo, acrescentou suavemente:

[A propósito, quem tem gato não é chamado de dono, a palavra correta é servo.]

— O quê?

Grayson franziu a testa, mas o secretário apenas se despediu rapidamente e desligou o telefone. Ele ficou olhando para o telefone, sem acreditar no que havia acabado de ouvir.

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Continua…