Deseje-me se puder - Capítulo 75
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— Direita! É a direita, droga!
— Espera! Ainda não é seguro entrar!
— Tem certeza de que tem gente lá dentro? Alguém confirmou?
O incêndio consumia o prédio, as chamas subindo alto enquanto os bombeiros jogavam água sem parar, gritando ordens uns para os outros em meio ao caos. E, no meio de toda aquela confusão, já colocando o capacete e avançando sem hesitação, lá estava ele.
Dane Striker.
— Droga, isso é tão irritante — resmungou, irritado.
Grayson franziu o cenho ao ouvir aquilo. Ele sempre fingia estar de mau humor, mas já sabia exatamente o que ia acontecer. Dane podia reclamar o quanto quisesse, mas sempre era o primeiro a correr direto para o lugar mais perigoso.
As pessoas dizem coisas que não condizem com o que sentem de verdade. Grayson sempre soube disso. Mas recentemente, percebeu que ninguém era mais descarado nesse aspecto do que Dane Striker. E, como esperado, antes mesmo de terminar de colocar a máscara, Dane já estava sumindo no meio das chamas. Grayson observou a cena e suspirou.
‘Eu sabia. Óbvio que ele ia fazer isso.’
Ficou ali, encarando o ponto onde Dane havia desaparecido. Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Desde aquele dia, Grayson já tinha presenciado a mesma cena inúmeras vezes. Sempre a mesma história.
Dane era o primeiro a entrar no fogo e o último a sair. Sem exceção. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, ele sempre assumia o papel mais arriscado. Mas o que realmente irritava Grayson não era isso. O que o deixava furioso era o fato de que todo mundo ao redor aceitava aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Eles faziam belos discursos sobre companheirismo e que arriscavam a vida juntos, mas, na prática, era sempre Dane Striker quem ficava exposto ao maior perigo. Era isso que eles chamavam de “companheirismo”?
Uma raiva surda começou a crescer dentro dele.
Bando de inúteis…
Mas, no fim das contas, Grayson não era diferente. Ele também não se movia. Ficava apenas parado ali, esperando. Torcendo para que Dane saísse inteiro.
E então, finalmente, ele apareceu.
— Dane!
— Aí está você! Bom trabalho!
— Você está bem? Achou alguma coisa lá dentro?
— Então foi só um alarme falso?
Os outros correram para recebê-lo, fazendo perguntas de todos os lados. Grayson, que estava um pouco afastado, soltou o ar lentamente, sentindo a tensão se esvair.
Dane explicou a situação para o comandante enquanto tirava o capacete e bagunçava os próprios cabelos, que estavam completamente encharcados de suor. Foi só então que seus olhos encontraram os de Grayson, que continuava parado no mesmo lugar, observando.
Dane ergueu uma sobrancelha e, sem a menor cerimônia, soltou:
— Que foi, porra?
Ele soltou o palavrão como se fosse a coisa mais natural, mas, em vez de encarar Grayson com um olhar desafiador como antes, ele deu um sorriso de canto. Em seguida, Dane se virou e correu para o próximo lugar onde era necessário.
Grayson apenas o acompanhou com o olhar.
— Ei, Miller.
Naquele momento, Ezra, que estava passando por perto, chamou seu nome. Relutantemente, Grayson virou o olhar, e Ezra disse com um sorriso:
— Já terminamos aqui, então você pode cuidar daquela área ali? Só falta extinguir os focos menores.
Como sempre, davam a ele apenas tarefas insignificantes. Mas Grayson não se importava. No momento, sua cabeça estava em outro lugar, mas antes que Ezra se afastasse, ele o chamou.
— Ezra.
— O quê?
Grayson hesitou por um segundo. Depois, disse:
— Preciso te perguntar uma coisa.
— O quê?
Ezra piscou, confuso. Grayson apenas sorriu para ele, como qualquer pessoa faria numa situação dessas.
***
O bar era o de sempre, e Ezra estava sentado à frente de Grayson quando recebeu o presente. Seus olhos quase saltaram das órbitas.
— E-ei, isso aqui não é de verdade, né?
Ele ficou tão chocado que até gaguejou. Grayson, em vez de responder diretamente, apenas mudou de assunto.
— Desculpa por não ter ido à festa de aniversário da sua filha. Mas achei que ainda devia te dar um presente.
— Ah, tudo bem, eu entendo… Mas, espera aí. Isso aqui é de verdade? São mesmo diamantes?
Ezra segurava a gargantilha, virando-a de um lado para o outro, deixando a luz refletir no que parecia serem pedras preciosas. Ele estava respirando com dificuldade, como se nunca tivesse segurado algo tão luxuoso na vida.
Tinham ido ao bar depois do trabalho porque Grayson pediu um tempo para conversar. E foi lá que ele entregou os presentes que já havia preparado antes: um ursinho de pelúcia e a tal gargantilha.
No começo, Ezra riu ao ver o urso e aceitou de bom grado. Mas assim que abriu a pequena caixa que o bichinho segurava, sua reação mudou drasticamente. Seus olhos se arregalaram, sua respiração ficou irregular – por um momento, ele parecia prestes a ter uma crise. Desesperado, ele pegou uma garrafa de cerveja e virou tudo de uma vez. Só depois de esvaziar a garrafa é que finalmente conseguiu processar a situação e olhar para Grayson.
— I-i-isso custa uma f-fortuna… C-como você…
— Relaxa. Custou 49 dólares.
— O quê?
Ezra, que parecia prestes a desmaiar, congelou no lugar. Ainda tentando entender, abriu a caixa novamente e encontrou o recibo lá dentro. Sim, estava escrito bem claro: 49 dólares. Assim que confirmou o valor, ele soltou um longo suspiro de alívio, passou a mão no peito e, por fim, caiu na risada.
— Ah, claro! Porra, eu quase infartei!
Ele continuou rindo, repetindo as mesmas frases, mas Grayson percebeu um certo amargor por trás daquela reação. Ezra estava aliviado, sim, mas… um pouco desapontado também?
No meio daquela confusão de sentimentos, Grayson apenas ergueu a cerveja recém-chegada.
— Feliz aniversário para a sua filha.
— obrigado.
Eles brindaram e deram um gole. Depois de um tempo conversando sobre trivialidades, Grayson finalmente entrou no assunto que realmente lhe interessava.
— E o Dane? Como é a família dele?
— Dane?
Ezra repetiu o nome com uma expressão confusa.
— Sei lá. Ele nunca fala sobre isso.
Grayson xingou mentalmente. Achou que Ezra teria mais informações. Talvez estivesse errado, mas não ia desistir tão fácil. Mesmo que Ezra não soubesse sobre a família de Dane, com certeza teria outras informações úteis.
— E por que ele virou bombeiro?
— O salário.
A resposta veio na hora, sem nem precisar pensar.
— Sério? — Grayson arqueou a sobrancelha. Ele não esperava por isso.
E então continuou perguntando.
— E o que mais?
— Estabilidade, plano de saúde.
Mais uma vez, Ezra respondeu sem hesitar.
— Já ouvi isso antes. Dizem que ser bombeiro é uma boa porque é estável e paga bem.
Ezra, que parecia ter informações bem sólidas, riu alto logo em seguida.
— Dane é do tipo que vive dizendo que nada vem de graça.
Ele esperava que Grayson risse junto, mas isso não aconteceu. Em vez disso, Grayson o encarava com uma expressão completamente neutra, quase como se usasse uma máscara. O riso de Ezra morreu na garganta, e ele piscou algumas vezes, confuso.
— Miller? O que foi?
Assim que Ezra chamou seu nome, Grayson sorriu de leve, como se nada tivesse acontecido.
— Entendi. Então, o que o Dane gosta é de dinheiro?
— Bom, pode-se dizer que sim…
Ezra coçou o queixo, revirando a memória por um instante, e então murmurou para si mesmo:
— E da Darling, talvez.
Mesmo no bar barulhento, Grayson conseguiu ouvir aquilo perfeitamente. Sua testa franziu na hora.
— Darling? Aquela gata feia?
Ezra arregalou os olhos, surpreso.
— Você viu a Darling? Como? O Dane não leva ninguém para casa a menos que… bom, você sabe.
A expressão dele se tornou levemente desconfiada.
Grayson balançou a cabeça de imediato.
— Foi só um acaso. Não é nada disso.
Os olhos de Ezra se estreitaram. Ele analisou Grayson por um momento, claramente não convencido.
— Não é — repetiu Grayson, desta vez com mais firmeza.
O fato de ele ter dormido com Dane era algo que só os dois sabiam. E ele pretendia que continuasse assim. Além disso, não era mentira – ele nunca tinha ido à casa de Dane.
Ezra o fitou em silêncio por mais um tempo, até que, de repente, desviou o olhar.
— É, faz sentido. Você não é nada o tipo do Dane.
Ele levou a cerveja à boca e riu.
Grayson também riu, mas seus olhos permaneceram frios.
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Continua…