Deseje-me se puder - Capítulo 73
Grayson abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. Ele parecia completamente perdido, sem entender o que estava acontecendo, e Dane ficou curioso por um momento. Será que aquela era uma reação genuína do homem, ou apenas mais um reflexo condicionado por seu treinamento?
— As farmacêuticas precisam de cobaias, então espalham essas drogas assim. Se alguém não pode comprar um remédio do jeito convencional, ou se o objetivo da droga é questionável, ela acaba circulando desse jeito. Só que a um preço bem mais alto, claro.
Dane estava falando mais do que o normal. Talvez fosse a forma dele de compensar por ter acabado de gastar o dinheiro de Grayson. E, conhecendo esse sujeito, era exatamente isso.
— Propósito questionável?
Grayson perguntou, ainda processando as informações. Dane, mais uma vez, respondeu sem hesitar:
— Por exemplo, um remédio que pode transformar um beta em ômega ou alfa.
Grayson franziu a testa de novo. Ele parecia perdido desde o começo da conversa, mas Dane não parecia mais interessado no assunto e simplesmente mudou de tema.
— E agora, o que você quer fazer?
— Hã?
Grayson, que parecia absorto em seus pensamentos, hesitou antes de responder. Dane respondeu com o mesmo tom casual de sempre.
— Eu já fiz o que precisava. Agora é a sua vez. O que quer fazer?
Grayson o encarou, ainda com a expressão meio fechada. ‘Esse cara não faz a menor ideia do que é um encontro, faz?’
Ele já tinha sido descoberto há tempos, mas Dane, completamente alheio à suspeita de Grayson, continuava agindo naturalmente. Com seu conhecimento limitado sobre romance, ele achava que simplesmente passar tempo juntos já contava como um encontro.
A verdade era que Dane nunca teve algo que pudesse ser chamado de relacionamento. A maioria das suas interações eram encontros casuais e, nas poucas vezes em que passou mais tempo com alguém, o objetivo sempre foi o mesmo. No fundo, para ele, tudo isso era apenas uma extensão dos jogos de sedução.
‘Esse cara acabou de chamar isso de “encontro”?’
Quanto mais pensava, mais absurdo parecia. Como diabos um psicopata podia ser mais romântico do que ele, que supostamente tinha um cérebro perfeitamente funcional? Se ao menos Grayson tivesse simplesmente sugerido transar de novo, ele não estaria tão confuso assim.
No fim das contas, era simples: quem quer alguma coisa, fala o que quer e pronto. Como Darling ainda ia ficar internada por mais tempo, não tinha necessidade de voltar cedo para casa. E depois de uma maratona de sexo até o dia seguinte, sair procurando outro parceiro não estava exatamente em seus planos.
Na verdade, seu corpo ainda doía em lugares que preferia não admitir. O incômodo estava lá, profundo e persistente, mas não ao ponto de deixá-lo incapacitado. Então, fingiu que estava tudo bem. Depois de matar tempo com Grayson Miller, planejava simplesmente voltar para casa e dormir até o mundo acabar.
Porque, no fim das contas, se passar o tempo juntos não era um encontro, então o que diabos seria?
Olhando para Dane, que estava parado ali, de braços cruzados e a cabeça levemente inclinada enquanto esperava sua resposta, Grayson foi tomado por uma súbita sensação de vazio.
‘O que eu estou fazendo aqui?’
Passou a vida inteira procurando alguém que valesse a pena. Quando finalmente encontrou Dane Stryker, teve certeza de que era ele – porque ele era um ômega dominante, porque tinha o corpo perfeito para ser seu parceiro ideal, porque… fazia sentido. Mas agora, essa certeza estava começando a ruir.
Ok, Dane tinha seios grandes e era um Ômega dominante, mas isso significava que ele era realmente o par destinado de Grayson?
Quantas vezes ele já achou que tinha encontrado sua alma gêmea, só para perceber que estava errado? Basicamente a vida toda. Mas agora, ele poderia afirmar com absoluta certeza que dessa vez era a pessoa?
Porque, se fosse ser honesto, Dane Stryker estava a quilômetros de distância do que ele sempre considerou o seu tipo ideal. As pessoas que Grayson costumava achar que eram sua alma gêmea eram sempre gentis, dóceis, e acima de tudo, o adoravam.
E Dane Stryker? Bom… ele não fazia nada disso.
Ele era grosseiro, sempre pronto para dar um soco, e vivia reclamando que tudo era um incômodo… E para piorar, Grayson lembrou do último detalhe, que ele preferia esquecer.
‘Ele me trata como se eu fosse insignificante.’
Levando tudo isso em consideração, não tinha a menor chance de Dane Stryker ser seu destinado. Um cara sem noção, que provavelmente nem sabe o que é um encontro, e que só vive à caça de aventuras de uma noite. Era esse o grande amor da sua vida, a pessoa que ele esperou por tanto tempo?
Quanto mais pensava, mais raiva sentia. Não que ele fosse santo – tinha levado uma vida tão promíscua quanto. Mas, pelo menos, tinha suas desculpas. No mínimo, ele dormia com quem, na hora, acreditava amar. Ainda que esse amor durasse tanto quanto uma explosão de fogos de artifício, no momento, parecia real. E se não fosse por isso, havia um outro motivo: feromônios. Às vezes, não tinha escolha, era uma necessidade biológica. Era como legítima defesa.
‘Mas e esse cara? Ele ri da ideia do amor e vivia no meio de uma suruba ambulante…. Isso faz sentido?’
Para piorar, o desgraçado ainda teve a audácia de tomar um contraceptivo de emergência bem na frente dele, sem nem ao menos discutir antes. O mínimo seria dar um aviso antes de jogar na cara assim. Tomou a decisão sozinho e depois só comunicou? Isso era o mesmo que tratá-lo como um maldito brinquedo sexual. Esse cara deveria ser o seu parceiro destinado?
‘Que piada.’
Grayson rangeu os dentes. Depois de sair daquele mundinho em que estavam presos, ele parecia ter finalmente voltado a enxergar direito. Estava tão afogado no feromônio de um ômega que tinha perdido a noção do bom senso. Ele realmente considerou ter um encontro com um cara desses?
Embora os peitos de Dane fossem realmente impressionantes, se um dia encontrasse seu verdadeiro par, essa pessoa certamente teria peitos ainda melhores. Não era possível que aqueles fossem os melhores do mundo. Sim, eram os melhores que já tinha visto… Mas ele também não tinha visto todos os peitos do mundo.
Com esse pensamento, Grayson enterrou a última gota de hesitação.
— Merda… perdi meu tempo de novo.
Resmungou, xingando alto, quando o som de uma música barulhenta o interrompeu. Um monte de gente estava reunida mais à frente. Ele parou, desviando o olhar, e logo entendeu o motivo.
Um desfile estava acontecendo. Parecia que havia algum tipo de evento.
— Eu te amo! Eu amo você! Amo demais!
— Você é incrível! Olha aqui, por favor!
— Bênçãos para todos! Amor para todos!
No topo da carruagem, uma mulher exuberantemente vestida lançava punhados de pétalas ao ar, enquanto trompetistas espalhados pelos cantos faziam soar seus instrumentos. Atrás dos quatro cavalos que puxavam o cortejo, uma banda tocava animadamente, seguida por um grupo de artistas fantasiados, cada um mais espalhafatoso que o outro.
De ambos os lados da rua, uma multidão – claramente esperando por esse momento há um bom tempo – gritava eufórica, cantava junto e dançava ao ritmo da música. Para qualquer um, aquilo era uma cena vibrante, um espetáculo cheio de alegria.
Mas, claro, Grayson não era “qualquer um”.
— Mas que palhaçada, puta que pariu…
Ele resmungou outro palavrão, irritado. Nada estava saindo como deveria. Passou a mão nos cabelos, bagunçando-os com força, enquanto observava a cena com total desgosto. Ao seu lado, Dane, que assistia ao desfile em silêncio, finalmente se virou para ele.
— Vai ficar aí parado? Ou a gente vai embora?
— O quê?
Grayson resmungou, distraído. Dane, no mesmo tom entediado de sempre, respondeu sem nem olhar para ele:
— Você disse que queria jantar e fazer alguma coisa. Tanto faz. Se quiser ficar plantado aí e depois cada um seguir seu rumo, por mim tudo bem.
‘Olha só isso. Esse cretino realmente me vê como um nada.’
Não havia a menor possibilidade de um cara desses ser sua pessoa ideal. Ele deveria apenas dar de ombros, rir da própria ilusão e ir embora, como sempre fazia. Mas, por algum motivo, dessa vez isso parecia impossível.
E, em vez de diminuir, sua irritação só aumentava. Por quê? Qual era o motivo?
— Você…
Grayson abriu a boca para falar, mas não teve tempo de terminar a frase.
BOOM! CRASH! BOOM!
Uma explosão ensurdecedora sacudiu o chão.
Os gritos começaram imediatamente. Pessoas corriam em todas as direções, se empurrando em pânico. Grayson e Dane automaticamente se viraram para o local da explosão, onde uma densa fumaça cinza começava a subir. Em meio ao caos, alguém gritou:
— Uma bomba! Alguém detonou uma bomba!
— É um ataque! Um ataque terrorista!
O pânico se espalhou como fogo. O que antes era uma multidão animada virou um verdadeiro pandemônio, com pessoas gritando, chorando e correndo para todos os lados.
Grayson fez exatamente o que qualquer um faria: virou-se e começou a correr na direção oposta. Mas, depois de apenas alguns passos, algo pareceu… errado.
Um incômodo. Um sentimento estranho.
Ainda correndo, ele lançou um olhar para trás – e então parou abruptamente.
Em meio à multidão desesperada, um único vulto ia na direção contrária. Rápido. Decidido.
Era Dane Stryker.
Quê…?
Grayson ficou parado, observando atônito enquanto as pessoas passavam por ele em pânico. No meio do caos, lá estava ele, sozinho, encarando a silhueta de Dane se afastando, indo diretamente para o lugar de onde todos fugiam.
Quase sem perceber, murmurou para si mesmo:
— O que diabos esse cara tá fazendo…?
°
°
continua…