Deseje-me se puder - Capítulo 72
‘Por que diabos eu tenho que passar por essa merda?’
Aos poucos, a raiva começou a ferver dentro dele. ‘Afinal, se esse desgraçado tivesse vivido direito desde o início, ele não teria sido sequestrado pelo irmão! Por que tudo isso está caindo nas minhas costas, hein? Por quê?!’
— Pronto? Já chega. Tem mais alguma coisa que eu preciso fazer?
Dane voltou ao seu comportamento habitual, irritado, e Grayson franziu a testa.
— Eu sou a vítima aqui e você que está com raiva? É sério? Acha que essa é a postura correta agora?
— E o que você quer que eu faça, então?
Não era uma situação que pudesse ser resolvida com dinheiro, nem o oponente era alguém comum. Se ele quisesse que Dane fosse para a cadeia, não havia muito o que fazer. Estuprar um alfa dominante… ele seria o centro das atenções por um tempo, mas logo o assunto esfriaria.
A única coisa que o preocupava era Darling, mas ele sabia que podia confiar em Yeonwoo para cuidar dela. ‘Quantos anos eu terei que cumprir?’ O oponente era o escritório de advocacia Miller. De repente, uma ideia surgiu na mente de Dane, fazendo-o hesitar.
‘…Será que posso pegar perpétua?’
Um calafrio percorreu sua espinha, e o suor frio começou a escorrer quando Grayson, do nada, soltou:
— Vamos sair em um encontro.
Mesmo tendo ouvido as palavras de Grayson, Dane não as entendeu imediatamente. Ele deixou passar mais alguns segundos de silêncio antes de finalmente franzir a testa e perguntar:
— …O quê?
Diante da pergunta curta, Grayson respondeu com uma voz cansada, mas não muito diferente do habitual:
— Estou falando que devemos começar a namorar.
Dane ficou sem palavras, apenas encarando Grayson. Por um momento, eles ficaram ali, olhando um para o outro em silêncio.
— Encontro? Eu e você?
Dane repetiu as palavras, pausando entre cada uma. Ele apontou para Grayson com o dedo e depois para si mesmo, seu rosto era uma mistura de perplexidade e incredulidade. Grayson, por outro lado, permaneceu impassível e simplesmente assentiu. Diante da recusa da própria realidade estampada no rosto de Dane, ele apenas repetiu, sem alterar o tom:
—Sim, vamos em um encontro romântico. Eu e você.
Dane ficou apenas olhando para ele. ‘Mas que porra de ideia sem pé nem cabeça é essa? O que, diabos, passa na cabeça desse maluco?’ Ele estava prestes a perguntar quando seu olhar caiu, involuntariamente, para a ereção óbvia de Grayson sob o roupão.
Naquele instante, decidiu que não valia a pena tentar entender Grayson Miller.
— Olha… — começou, hesitante.
Ele ia sugerir que resolvessem isso com mais uma transa e seguissem em frente, mas então se lembrou do que Grayson havia dito antes: ele nunca dormia duas vezes com a mesma pessoa.
‘Droga.’
Dane tentou outra abordagem.
— Tá certo, toca aqui e acaba logo com isso.
Não era a melhor opção, mas ainda saía no lucro. Se isso evitasse que fosse à falência ou passasse o resto da vida na cadeia, ele podia engolir o orgulho e ir até o fim.
Sem paciência, puxou o roupão para o lado e empurrou o peito para frente. O olhar de Grayson acompanhou o movimento, e a expressão dele suavizou. Seus olhos se tornaram levemente desfocados, e sua mão subiu, hesitante, como se estivesse hipnotizado.
E então, no último segundo, ele se sacudiu como um cachorro saindo da água e recuou de imediato.
— Não, não! Não era isso!
Grayson balançou a cabeça com tanta força que parecia tentar tirar um pensamento sujo da mente na marra. Ele recolheu as mãos e as escondeu atrás das costas, desviando o olhar como se nada tivesse acontecido.
— Eu disse encontro, Dane! Pegar no peito vem depois do encontro! Ou durante. Ou… enfim eu estou dizendo para sairmos em um encontro!
— Só pega logo e acaba com isso. Anda.
Dane tentou seduzi-lo mais uma vez, mas Grayson, teimoso, entrelaçou os próprios dedos atrás das costas e recusou com um movimento firme da cabeça.
‘Desgraçado. Quem diria que ele ia resistir?’
Dane ficou tão irritado que considerou soltar seus feromônios para dar uma lição nele, mas se conteve. Tinha que resolver isso o mais rápido possível. Darling estava esperando, e ele precisava garantir que nada de pior acontecesse.
Dane suspirou, irritado, e então, num tom derrotado, perguntou:
— Está bem. O que exatamente você quer fazer comigo?
Ele apoiou uma mão na cintura e esperou. Grayson franziu a testa.
— Um encontro, eu já disse.
A mesma resposta.
Dane revirou os olhos.
— Certo, mas fazer o quê, exatamente?
A conversa começou a se repetir, mas dessa vez Grayson parou para pensar antes de responder.
— Você nunca teve um encontro?
‘Filho da mãe.’
Dane se sentiu ligeiramente atingido, mas não demonstrou.
— Com você? Nunca.
Ele desviou habilmente da pergunta, mantendo uma expressão indiferente enquanto olhava para Grayson. A reação despretensiosa de Dane, como se fosse óbvio que ele já tinha saído com outras pessoas antes, deixou Grayson um pouco confuso, mas ele acabou deixando para lá.
— Jantar juntos, talvez… Passar um tempo um com o outro. Seria bom.
Dane arqueou uma sobrancelha.
‘Parece que esse cara também não tem muita ideia do que está fazendo.’
Dane pensou por um momento e, finalmente, deu um aceno de cabeça, sem hesitar.
— Tudo bem, mas antes, não tem algo que você precisa fazer?
Ele apontou para cima com o dedo, e Grayson, como se já esperasse por isso, virou-se e saiu. Alguns minutos depois, uma leve vibração tomou conta da casa inteira, e logo eles estavam subindo para a superfície.
***
‘Esse cara claramente nunca saiu para um encontro romântico na vida.’
Grayson estava começando a duvidar disso. Não era para menos: depois de sair da mansão num helicóptero, a primeira coisa que fizeram foi começar o tal “encontro”, mas ao invés de qualquer tipo de interação, Dane estava apenas cuidando dos próprios assuntos.
O primeiro lugar em que pararam foi uma clínica veterinária. Grayson ficou completamente confuso, sem entender por que estavam ali, enquanto Dane, do nada, começou a procurar uma gata. Depois de ser informado de que o animal precisaria ficar mais alguns dias internado para exames, ele simplesmente saiu do local.
E então, Grayson pensou, agora sim o verdadeiro encontro vai começar. Mas não. Dane fez uma parada inesperada para comprar um celular, e logo depois fez uma ligação. Em seguida, encontrou-se com um homem que claramente parecia um marginal, conversou com ele por alguns minutos, e então chamou Grayson.
— Ei!
Grayson, que até então estava andando por aí sozinho, se aproximou lentamente de Dane ao ser chamado pela primeira vez. Com uma expressão claramente desconfiada e cautelosa, ele olhou para Dane, que apenas balançou a mão de forma casual.
— Me dá o dinheiro.
— O quê?
— Rápido.
Se alguém que não conhecesse os dois visse a cena, com certeza ia achar que o Grayson estava sendo extorquido. O que… não era exatamente mentira.
Sem saber o que estava acontecendo, Grayson vasculhou os bolsos e tirou uma nota de cem dólares, entregando-a. Ele já sabia que, se pedisse explicações a Dane, só receberia xingamentos e apenas perderia mais tempo. Para acabar logo com aquilo, era melhor dar o que ele queria. Poderia descobrir o que era isso depois.
— Valeu. É a primeira vez que compra esse tipo de remédio. Alguém deve ter aprontado bonito.
O homem que recebeu o dinheiro sorriu de maneira nojenta e entregou os comprimidos embalados para Dane. Sem se preocupar com Grayson, que franzia a testa, Dane cumprimentou o homem com um aperto de mão rápido e seguiu o caminho de volta. Então, sem a menor hesitação, despejou os comprimidos na palma da mão e começou a mastigá-los no meio do caminho, como se fossem apenas um lanche qualquer.
— O que é isso?
Grayson acelerou o passo para alcançá-lo e perguntou sem rodeios. Dane continuou andando como se nada tivesse acontecido.
— Pílula do dia seguinte.
Grayson, que estava andando com passos largos, parou abruptamente. Dane, sem se importar com a reação dele, continuou andando enquanto falava.
— Transamos sem preservativo, pode acontecer, certo? Se tem chance, melhor garantir. Esse tipo de coisa funciona até um mês depois, então pronto, menos uma preocupação.
Grayson ficou parado, completamente atordoado, até que finalmente recuperou o controle do próprio corpo e saiu correndo atrás dele.
— Espera, por que você não comprou na farmácia…?
Ainda alguns passos atrás, Grayson fez a pergunta. Dane olhou para trás com um olhar desinteressado e respondeu.
— Seu idiota, se vendesse na farmácia eu não estaria comprando aqui, né? Você acha que o governo aprovaria um remédio como esse?
A expressão de Grayson logo mudou para uma palidez completa.
— O quê? Então você está tomando um remédio que nem foi devidamente testado assim, sem nem pensar?
Dane soltou um suspiro impaciente, como se achasse a pergunta completamente irrelevante.
— Se for necessário, tenho que tomar. Não há outra escolha.
Grayson ficou sem palavras, apenas olhando para a nuca dele. Percebendo o olhar, Dane acrescentou com um tom mais leve do que antes:
— Não leve isso tão a sério. É um remédio feito por uma farmacêutica, só que não foi aprovado.
— Ou talvez não tenha sido aprovado de propósito?
Diante da pergunta de Grayson, Dane deu uma risadinha e olhou para ele de lado.
— Você é perspicaz.
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Continua…