Deseje-me se puder - Capítulo 71
Não Pode Ser Nada Além de Amor (It Must Be Love)
Como se um interruptor tivesse sido acionado, os olhos de Dane se abriram de repente. Ele permaneceu deitado de lado na cama, movendo apenas os olhos de um lado para o outro. Enquanto sua mente confusa começava a se organizar, as memórias do que aconteceu na noite passada voltaram com clareza, fazendo com que ele soltasse um suspiro alto e ofegante.
O calor do corpo forte atrás dele deixava claro que nada daquilo havia sido um sonho.
— Isso…
‘Espere um pouco.’
Dane tentou se levantar em um salto, mas parou no meio do movimento e olhou para baixo. A mão grande de Grayson estava segurando descaradamente um de seu peito. E isso não foi a única coisa que o deixou perplexo.
Mesmo dormindo profundamente e respirando de forma tranquila, ele ocasionalmente mexia os dedos, massageando o peito de Dane, como se estivesse prestes a acordar e logo depois como se estivesse satisfeito, mergulhava de volta no sono.
— …Ugh!
Indignado, Dane tentou empurrar a mão de Grayson e se levantar, mas foi então que sentiu uma dor aguda no estômago. Ele havia recebido uma genitália grossa dentro de si antes de adormecer, então aquela sensação estranha e a dor provavelmente eram por causa disso.
…Ou pelo menos foi o que pensou, até perceber que estava completamente enganado.
A cada movimento, uma sensação densa e pesada pulsava dentro dele, fazendo seus olhos se arregalarem.
‘O quê…?’
Com um pressentimento, ele levou a mão até as nádegas e tocou, confirmando a realidade que tanto queria negar. O pênis de Grayson ainda estava dentro dele. E não apenas isso, estava completamente enterrado, preenchendo-o até o fundo.
‘Esse desgraçado…!’
Dane soltou um palavrão e tentou se afastar rapidamente. Ao mesmo tempo, um choque intenso percorreu todo o seu corpo.
— Ah… ugh…
Ele engoliu um gemido e encolheu o corpo. — Haah, haah… — sua respiração saiu pesada e entrecortada sem que percebesse. Sentia um vazio profundo no ventre, como se algo essencial lhe tivesse sido arrancado, e, sem querer, foi tomado pelo impulso de preenchê-lo novamente.
‘Não pense uma merda dessas. Acorde para a realidade.’
Dane balançou a cabeça com força e desceu da cama cambaleando. Nesses momentos, deveria acontecer o clássico desenrolar da situação onde o parceiro simplesmente desaparece. Na ficção clássica, era comum acordar e descobrir que a pessoa com quem você passou a noite havia desaparecido.
‘Mas que droga, nas histórias pelo menos não ficavam presos!’
Ele xingou mentalmente e lançou um olhar para Grayson. Queria socá-lo ali mesmo, mas sabia que, se ele acordasse, lidar com a situação seria ainda mais difícil. A verdade era que nem ele conseguia processar tudo o que havia acontecido.
‘Eu realmente pulei em cima de Grayson Miller…?!’
No fim, a única opção que lhe restou foi fugir para o banheiro.
***
O som da água correndo parecia vir de algum lugar próximo. Grayson, ainda meio adormecido, deixou seus sentidos despertarem lentamente.
‘…Já é de manhã?’
Com esse pensamento vago, ele esfregou o rosto contra o travesseiro. Mas, no instante seguinte, as memórias da noite anterior voltaram de uma vez, e seus olhos se abriram abruptamente.
O som contínuo da água ecoava pelo ambiente. Ele passou a mão ao redor, percebendo o espaço vazio ao seu lado, e se sentou devagar. Com os olhos ainda pesados de sono, olhou para as próprias mãos.
Aquela sensação maravilhosa que havia segurado tão firmemente antes… agora havia desaparecido, restando apenas o vazio do ar.
Soltando um suspiro frustrado, ele virou a cabeça para o lado. O som vinha do banheiro conectado ao quarto.
Grayson ficou olhando fixamente na direção do banheiro por um tempo, depois se levantou da cama com movimentos lentos e desajeitados. Só havia um lugar para onde ir. O som da água estava cada vez mais próximo. Ele abriu a porta do banheiro devagar, avistou o homem lá dentro e, então, cruzou os braços, encostando-se na moldura da porta. O barulho da água corrente ainda ecoava.
Dane, que estava se barbeando na pia com a torneira aberta, já sabia que Grayson tinha se levantado e aberto a porta do banheiro. Mas ele não tinha coragem de olhar para o rosto do homem, então manteve os olhos fixos no espelho, fazendo movimentos sem sentido com a lâmina, apesar de já ter o queixo completamente liso.
Por um tempo, Grayson apenas ficou parado, observando Dane em silêncio. Dane estava nu, com apenas uma toalha grande enrolada na cintura. E claro, não havia mais nada acima do quadril. Grayson suspirou fundo e passou a mão pelo rosto.
‘Eu fiz toda essa loucura só para confirmar isso.’
Eles haviam feito tantas vezes – por horas, dias, quem sabe – e, no final, ele nem sequer tinha visto o que queria. A ideia de verificar a borboleta em sua pélvis havia simplesmente desaparecido da mente, ocupada apenas pela sensação de estar dentro de Dane e por aqueles peitos. Era o resultado esperado.
Grayson pensou que, com a bagunça que os dois fizeram, já tinha provas o suficiente.
Ele continuou ali, parado, observando Dane até finalmente quebrar o silêncio.
—É a primeira vez que sou… estuprado.
— Ugh.
Dane soltou um grunhido abafado, surpreso com a confissão repentina. A mão que segurava o barbeador escorregou, e ele rapidamente verificou se não havia se cortado. Ao ver Dane suspirar de alívio, Grayson continuou:
— Já tentaram várias vezes, mas nunca conseguiram.
Era verdade. Ele havia estado perto de ser forçado várias vezes antes, mas sempre escapava facilmente. Grayson Miller era um predador, e ninguém ousava dominá-lo. Ele estava no topo da cadeia alimentar.
Mas a confiança foi completamente destruída. No fim das contas, havia alguém mais forte do que os alfas dominantes no mundo. Embora fossem extremamente raros e encontrá-los fosse próximo de um milagre, ainda assim existiam. Papai também tinha a mesma constituição que Dane, mas ele jamais despejaria feromônios em seu pai para provocar um rut. Então, apesar de saber que isso era teoricamente possível, nunca imaginou que realmente aconteceria.
Grayson esperou, como se estivesse desafiando Dane a dizer algo. Dane, que ficou em silêncio por um momento, falou casualmente:
— Também foi a primeira vez que usei a parte de trás.
Ele deu um sorrisinho, como se isso empatasse o jogo, mas Grayson não riu. O silêncio gelado fez a expressão de Dane endurecer.
No fim, nada mudava o fato de que Dane tinha estuprado Grayson. Mas isso não significava que ele não tinha nada a dizer.
— Se você não tivesse me mantido preso, nada disso teria acontecido.
Ele achou que dessa vez tinha conseguido rebater direito, mas Grayson continuou impassível.
— Se você não tivesse tentado me sequestrar, nem estaríamos aqui.
A bola voltou para ele de novo. Mas Dane não ia desistir.
— Você também acabou gostando no final.
O olhar de Grayson ficou sombrio. No momento em que Dane percebeu que havia cometido um erro, Grayson resmungou com uma voz ainda mais baixa do que antes:
— Você tem noção do quão merda foi esse comentário que você acabou de fazer?
— …Haa.
Esfregando o rosto com as duas mãos, Dane finalmente soltou um suspiro profundo. Negar e se esquivar seria covarde. Por mais que estivesse lidando com Grayson Miller, ele precisava assumir o que tinha feito. Ele pode ter vivido de forma libertina, mas nunca fugiu das próprias responsabilidades.
— Desculpa.
Dane suavizou o tom de voz e se desculpou com sinceridade. Ele enfrentou a situação de frente, como sempre fez em sua vida, mas sabia que precisava estar preparado.
Isso não ia acabar aqui.
Mesmo o cara mais devasso do mundo ficaria abalado com uma coisa dessas. Principalmente para um alfa dominante, com um ego que toca o céu, ser violentado por um ômega.
E se ele o processasse…?
A ideia mal tinha se formado na cabeça de Dane quando Grayson quebrou o silêncio:
— Peça desculpas para a Virgínia também.
— …Virgínia?
Dane franziu a testa, confuso, mas Grayson, em vez de explicar, apenas deu leves batidinhas com os dedos em seu próprio órgão genital. Mesmo sob o roupão, era impossível não notar a protuberância evidente daquela… coisa enorme.
Dane piscou, processando.
— O quê… isso?
A ficha começou a cair, mas as palavras travaram na garganta dele. Já era absurdo o suficiente dar um nome para o próprio pau, mas… Virgínia?! Que porra era essa?!
A escolha do nome era tão ridícula que Dane nem teve coragem de criticar. Esse desgraçado…!
Ele torceu o rosto, indignado, mas Grayson não cedeu. Com os braços cruzados e um olhar ameaçador de cima para baixo, ele esperou a resposta.
Dane desistiu de resistir. Tudo aquilo já tinha passado dos limites.
— …Desculpa.
Com um suspiro, Dane repetiu as palavras, enquanto uma dor de cabeça começava a surgir. Ele definitivamente não conseguiria dizer o nome “Virgínia” em voz alta.
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Continua..