Deseje-me se puder - Capítulo 66
Dane acordou num pulo, sentindo um arrepio estranho subir pela espinha. Ele se sentou na cama de imediato, seus olhos varreram o quarto, mas só havia um silêncio absoluto.
‘…foi só impressão minha?’
Nenhuma mudança visível era perceptível. No entanto, a sensação arrepiante não desapareceu. Dane esticou a mão e acendeu o abajur na mesa de cabeceira. Confirmando novamente que estava sozinho no quarto, ele saiu da cama e começou a vagar lentamente pelo ambiente. Ele tocou cada parede, examinou cada canto dos móveis e, finalmente, soltou um suspiro de alívio
‘Foi só imaginação…’
Ou pelo menos foi o que pensou. Até notar algo.
Justo quando ele estava prestes a voltar para a cama, algo chamou sua atenção. Era a janela, coberta por pesadas cortinas blackout. Ele ficou parado, encarando-a por um momento, e então, de repente, abriu as cortinas.
— Porra.
O som escapou baixo, mas cheio de frustração.
Não havia nada além de uma parede negra do outro lado do vidro. Nenhuma paisagem, nenhuma luz do lado de fora. Nada. Dane ficou alguns segundos em silêncio, tentando processar aquilo.
E então, sem pensar duas vezes, arrancou a cortina, enrolou-a no punho e socou o vidro com força. O estalo do vidro quebrando preencheu o silêncio do quarto, seguido pela ardência aguda na mão dele.
— Filho da puta…
A dor aguda que se espalhou fez com que ele soltasse um palavrão e apertasse a mão ferida. Cuidando para não pisar nos cacos, ele tocou o exterior do vidro quebrado, mas, como esperado, não houve erro. A textura áspera que sentiu era claramente uma parede de pedra.
— Mas que merda é essa…
Nada naquilo fazia sentido. Ele ficou parado por um instante, tentando processar a situação, quando um pensamento passou pela sua mente.
‘Não… Não pode ser.’
Dane saiu correndo do quarto, sem nem se importar com o barulho dos passos. Os corredores estavam iluminados por lâmpadas fracas presas às paredes, mas o ambiente parecia escuro demais.
‘A essa hora já devia estar claro lá fora.’
‘Ou não?’
‘Talvez ainda seja madrugada.’
Ele queria acreditar nisso, mas a sensação ruim dentro dele crescia a cada passo. Dane correu pela casa, checando cada canto e então, finalmente, parou no meio da sala.
Ficou ali, atônito. Toda a casa estava do mesmo jeito. Cercada por paredes de pedra.
A casa inteira, que antes ficava na superfície, agora parecia soterrada. Nenhuma saída. Nenhuma janela. Apenas paredes por todos os lados.
— Aquele desgraçado…
Era inacreditável. Mas só havia uma pessoa que poderia explicar essa situação absurda.
O sangue de Dane começou a ferver.
— GRAYSON MILLER!
***
Dane abriu a porta violentamente e entrou, soltando um suspiro de frustração. O culpado por essa situação absurda estava, descaradamente, dormindo profundamente, com uma máscara de dormir nos olhos, tranquilo como se nada tivesse acontecido.
Dane quase riu de nervoso.
— Seu maldito.
Dane não se segurou. Marchou até a cama e arrancou a máscara do rosto dele com um puxão.
— Levanta a casa. Agora.
— Hnnngh…
Grayson resmungou, virando a cabeça para o lado com uma expressão preguiçosa, como se estivesse realmente despertando naquele instante.
‘Dormindo o caralho.’
Dane já tinha caído nos truques dele vezes demais pra acreditar nessa atuação barata. Ficou ali, de braços cruzados, esperando que ele se mexesse. Mas Grayson simplesmente permaneceu deitado, com olhos fechados, e logo murmurou baixinho:
— Só acordo com um beijo.
Dane, em vez de dar um beijo, deu uma forte bofetada na bochecha de Grayson. O outro arregalou os olhos, levando a mão ao rosto com um olhar atordoado, mas não teve nem tempo de reagir. Dane já tinha agarrado a gola da camisa dele e o puxado com força, arrastando-o sem cerimônia para a sala.
Com um ploft, jogou Grayson no sofá e cruzou os braços, olhando para ele de cima.
— Agora fala.
As palavras saíram entredentes, carregadas de raiva. Mas Grayson? Ele só virou o rosto de lado, de braços cruzados, ostentando uma expressão de puro mau humor. Do tipo “Estou muito bravo” – e deixando bem claro que queria que Dane soubesse disso.
O que só piorava as coisas.
Aliás, que merda era aquele pijama? Grayson, um grandalhão cheio de atitude, sentado ali emburrado… com um pijama fofo cheio de cachorrinhos.
Isso irritou Dane ainda mais.
‘De onde ele tirou isso?’
Tudo bem, fazia sentido ter algumas roupas espalhadas pela casa. Mas precisava ser essa?
Sacudindo a cabeça para afastar o pensamento inútil, Dane se inclinou para frente e rosnou:
— O que diabos está acontecendo? O que você está tramando? Anda, fala logo antes que eu—!
Ele levantou a mão de novo, pronto para dar outro tapa, mas parou no meio do caminho.
‘…Ashley Miller.’
‘Aquele desgraçado podia ter batido no próprio filho.’
Claro, podia ser mais uma das mentiras descaradas de Grayson. Mas agora que essa merda tinha surgido na cabeça de Dane, de repente, bater nele não parecia tão simples.
Suspirando pesadamente, ele jogou o corpo para trás, afundando-se no sofá em frente. Quando falou de novo, o tom saiu mais baixo.
— Me explica.
Tentou manter a calma. O que não era nada fácil.
Grayson ficou encarando por um momento. Então, com um tom irritante de pura provocação, respondeu:
— Eu te disse antes.
— Disse o quê?
Dane teve que se segurar para não socar aquele rosto cínico.
Grayson só moveu os olhos na direção dele e… sorriu. Com aquela cara de quem sabia exatamente como irritá-lo ainda mais.
— Eu te falei. Esse chalé foi feito pelo meu pai para prender o meu papai.
— E o que eu tenho haver com isso?
A palavra “prender” incomodou Dane de um jeito estranho.
— Você está dizendo que eu estou preso? Você tá maluco?
Ele riu de nervoso e apontou as falhas óbvias na lógica de Grayson.
— Josh está vindo. Ele é especialista em buscas. Você acha que ele não vai nos encontrar aqui? — Enquanto falava, Dane não conseguiu evitar uma risada de incredulidade. Ele apontou para Grayson com o dedo e continuou: — E você está esquecendo de um detalhe: aquele chip no seu corpo? Ele rastreia todos os seus passos. Como diabos você acha que vai me prender aqui? Isso não tem a menor chance de dar certo.
Dane se recostou no sofá com um sorriso de puro deboche. Mas do outro lado, Grayson também sorriu.
E foi aí que bateu um mau pressentimento.
— Eles não vão encontrar.
Dane franziu o cenho. O quê…?
Demorou um segundo para processar. Então, endireitou o corpo, com os olhos fixos em Grayson.
— O que foi que você disse?
— Que ninguém vai encontrar esse lugar.
Seu tom era leve, mas o sorriso só tornava tudo mais perturbador.
Dane sentiu o estômago revirar. Sua voz saiu mais baixa, mas carregada de tensão.
— Me explica direito essa porra.
Sua voz saiu áspera, cheia de raiva. Grayson, no entanto, continuou falando com uma calma irritante.
— Este chalé foi construído pelo meu pai para prender o papai.
— Você já disse isso antes, merda.
Dane já estava de saco cheio de ouvir a mesma coisa repetidamente. Mas Grayson apenas sorriu daquele jeito irritante mais uma vez.
— Ninguém vai te encontrar.
Dane ficou em silêncio. Com os olhos tremendo de ódio, ele olhou para Grayson, que continuou:
— Quando a casa desce para o subsolo, um bloqueador de sinal é ativado automaticamente. Nenhuma comunicação funciona. Portanto, mesmo que sigam o sinal do meu chip, não vão achar nada.
Dane piscou, atordoado. Ele… o quê?
Aquele chalé normal, que parecia um retiro qualquer no meio do nada, tinha essa função absurda? Mas… por quê?
E, acima de tudo, por que diabos Grayson estava prendendo ele ali?
Nada fazia sentido. Mas Dane não tinha tempo para processar tudo agora. Ele precisava focar no problema imediato. Havia uma falha na lógica de Grayson.
Chase Miller.
Se o chalé tinha esse tipo de mecanismo, o próprio Chase deveria saber disso. E se ele soubesse, então…
— Ele não sabe.
A voz de Grayson cortou seus pensamentos, como se estivesse lendo a mente de Dane. Quando seus olhares se encontraram, Grayson suspirou teatralmente e balançou a cabeça, fingindo pena.
— Se ele tivesse se interessado mais pela família desde o início, talvez soubesse desses segredinhos.
Dane sentiu o sangue fugir do rosto.
A realidade bateu com força.
Ele estava mesmo preso?
Sem chance de ser encontrado?
— Isso só pode ser mentira…
— É a mais pura verdade.
Grayson destruiu sua última esperança com um sorriso radiante, como se estivesse se divertindo horrores com aquilo.
— Você não pode sair daqui. Não, até eu decidir te liberar.
Dane ficou completamente atordoado, só conseguia encarar Grayson. O desgraçado ainda riu baixinho, se divertindo.
— Cala a boca e levanta essa casa, agora!
Ele gritou, se levantando em um pulo. Isso era absurdo. Só os dois ali? Ele enlouqueceria. Nem ferrando.
— Você me odeia tanto assim?
— ÓBVIO QUE SIM!
Dane agarrou a gola da camisa de Grayson e o puxou com força, erguendo-o.
— Levanta essa casa AGORA! Ou eu juro que te mato!
Claro que era uma ameaça vazia. Se matasse Grayson agora, ficaria preso nesse inferno para sempre, e ele sabia disso. Mas ele não aguentava mais.
Grayson suspirou.
— Se você quer tanto assim…
‘O quê? Assim tão fácil?’
Dane hesitou, desconfiado. Mas Grayson apenas soltou as mãos dele com calma e se virou. Ele sabia que Dane nunca teria coragem de realmente matá-lo. Isso só tornava tudo ainda mais suspeito. ‘O que esse desgraçado está tramando?’
Dane observou fixamente as costas de Grayson enquanto ele atravessava a sala. Quando Grayson abriu uma gaveta de um armário decorativo, lá estava um controle remoto. Se ele apenas apertasse aquele botão…! No momento em que Grayson colocou o polegar sobre o botão vermelho chamativo, Dane sentiu um lampejo de esperança. Mas então…
Mas então.
— Ops.
Grayson deixou o controle cair no chão. E antes que Dane pudesse reagir, ergueu o pé e esmagou o aparelho sem hesitar.
CRACK.
O barulho do plástico quebrando soou mais alto que qualquer explosão na cabeça de Dane. Ele ficou completamente paralisado, boquiaberto, incapaz de processar o que tinha acabado de acontecer.
Grayson, por outro lado, parecia satisfeito.
— E agora? Que problemão, não é? Eu quebrei sem querer…
Grayson olhou para Dane com um olhar provocante, suas bochechas levemente coradas.
— Vamos nos dar muito bem, Dane Stryker. Afinal, somos só nós dois aqui.
Dane nunca tinha ouvido nada tão aterrorizante em toda a sua vida.
Branco como um papel, ele ficou ali parado, enquanto Grayson apenas sorria.
°
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Continua…