Deseje-me se puder - Capítulo 65
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[Dane! Você está bem? O que aconteceu?!]
— Haaaah…
Assim que ouviu a voz de Joshua, a primeira coisa que Dane fez foi soltar um longo suspiro.
Depois de jogar fora o paraquedas inútil e andar por horas numa estrada de cascalho até finalmente chegar à tal casa, ele vasculhou o lugar inteiro. Para sua surpresa, encontrou um telefone. E, pelo visto, a internet também funcionava, já que tinha até um computador ali. Era tão ridículo que só de ver aquilo, Dane sentiu as forças indo embora.
Mas o que precisava fazer primeiro já estava decidido. Pegou o telefone e ligou para Joshua. Depois de tocar por um longo tempo, ele finalmente atendeu. No começo, pareceu desconfiado do número desconhecido, mas sua postura mudou assim que reconheceu a voz de Dane.
— Aconteceu um acidente… — Dane admitiu, esgotado. — Foi mal, eu baixei a guarda.
Joshua suspirou do outro lado da linha.
[Tudo bem. No fim das contas, a culpa também foi minha por jogar essa responsabilidade toda nas suas costas. O Grayson não é alguém fácil de lidar, eu devia ter sido mais cuidadoso… Mas enfim, o importante é que você está vivo. Vou te buscar o mais rápido possível.]
— A localização daqui é…
[Não precisa me dizer. Eu já sei onde vocês estão.]
Dane franziu a testa.
— Sabe?
Joshua respondeu antes mesmo que Dane pudesse terminar a frase.
[Sim. O Grayson está aí com você, não está?]
— Sim, e o que isso tem haver?
Houve um breve silêncio antes de Joshua pigarrear e admitir:
[Todos os membros da família Miller têm um rastreador implantado no corpo.]
Dane ficou calado.
Ele piscou, processando aquela informação absurda, enquanto Joshua continuava:
[Então, se algo acontecer, como perder contato, por exemplo, usamos o rastreador para localizá-los. O sistema é conectado a satélites, então podemos encontrá-los mesmo que estejam no fundo do mar.]
— Pff…
Dane soltou um riso incrédulo. ‘Gente rica realmente faz de tudo, hein.’ De qualquer forma, isso tornava as coisas um pouco menos complicadas para ele. Soltando um suspiro pesado, ele perguntou:
— Certo… Então, quanto tempo vai levar?
[Já estávamos nos preparando. Mas como está anoitecendo, é difícil partir agora. Espere só mais um dia, assim que amanhecer, iremos até você.]
— … Certo.
Ter que passar a noite com Grayson Miller não era nem um pouco animador, mas ele não tinha escolha.
Depois de se despedir rapidamente, Dane desligou e saiu para a sala de estar. Estava vazia. O silêncio só fez com que sua irritação aumentasse. Com o estômago revirando, ele decidiu procurar algo para comer.
A casa era exatamente como Grayson tinha descrito: bem cuidada e confortável. Provavelmente havia alguém que fazia a manutenção de tempos em tempos, porque o lugar não parecia nem um pouco abandonado. Se não fosse por toda a situação absurda, até daria para imaginar umas férias tranquilas ali.
Se as circunstâncias fossem outras.
Dane abriu a geladeira. No mesmo instante, qualquer ilusão que pudesse ter desapareceu.
Havia apenas um único pão velho lá dentro.
Ele pegou o pacote e olhou desconfiado. O prazo de validade era uma incógnita. Rasgou a embalagem e cheirou o pão, tentando descobrir se ainda dava para comer.
Foi nesse momento que sentiu uma presença atrás dele.
Virando-se, viu Grayson, recém-saído do banho, vestindo apenas um roupão e esfregando os cabelos molhados com uma toalha.
— … O que foi?
Grayson parou no meio do caminho, percebendo que Dane o encarava de um jeito suspeito. Ele franziu a testa, mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa, Dane simplesmente estendeu o pão na direção dele.
Grayson olhou do pão para Dane, confuso.
— Come.
— O que é isso?
O olhar desconfiado de Grayson fez Dane responder no mesmo tom seco de sempre:
— É pão.
—E por que eu deveria comer isso?
Ele continuou olhando para o pão como se fosse uma armadilha. Dane pensou que fazia sentido – quem vive enganando os outros, sempre acha que estão tentando enganá-lo também. Bem feito. Deveria ter sido uma pessoa melhor.
— Por fora parece normal, mas vai saber como tá por dentro. Então experimenta primeiro.
Grayson olhou para Dane com incredulidade.
— Eu pareço um rato de laboratório para você?
Dane ignorou completamente o comentário sarcástico.
— Você não vai morrer se comer isso. Então experimenta logo.
— … Haah.
Com uma das mãos, Grayson massageou a testa e desviou o olhar, claramente desistindo de argumentar. Abriu a boca para rebater, mas ver Dane ainda segurando o pão na cara dele só o fez perder a vontade.
No fim, ele pegou o pão num movimento brusco e deu uma mordida enorme, mastigando sem cerimônia. Em questão de segundos, metade já tinha ido. Sem dizer nada, ele devolveu o resto para Dane, que só então levou o pão à boca.
— …
Dane deu uma mordida, mas sentiu o olhar de Grayson e franziu a testa. O outro só deu de ombros.
— Eu nunca disse que estava bom.
Dane lançou um olhar afiado para ele, mas no final não teve escolha a não ser engolir o resto do pão com uma careta.
‘… Como que as coisas chegaram a esse ponto?’
A sensação de frustração bateu logo depois. Mas ele sabia o motivo. Porque tinha sido burro o suficiente para cair na encenação daquele desgraçado.
Olhar para a cara de pau do Grayson só fez o sangue de Dane ferver ainda mais.
<Ele merece.>
A frase de Joshua ecoou na mente de Dane. Com certeza, Joshua confiava que ele não cairia nos joguinhos de Grayson. Mas lá estava ele, sentindo um gosto amargo de frustração na boca.
Sem conseguir engolir esse sentimento, Dane descontou a irritação da única forma que sabia.
— Não sabia que você era tão bom em fingir que estava passando mal. Parece que o Chase Miller não é o único na família que tem talento para ser ator.
Como sempre, Grayson apenas sorriu, tranquilo.
— Já ouvi elogios sobre minha habilidade de atuação, mas não sou tão bom a ponto de mudar a cor do meu rosto. Só tive uma pequena ajuda.
— Como assim?
Dane estreitou os olhos. Grayson respondeu sem pressa:
— Tomei um remédio. Uma fórmula especial. Funciona apenas em pessoas com a mesma constituição que a minha.
Dane piscou, tentando processar.
— Você tomou um remédio que piora seu estado de propósito?
— É. Esse remédio me faz sentir como se meu estômago estivesse se retorcendo e eu estivesse prestes a morrer. Dura só uns dez minutos, mas funciona perfeitamente.
Grayson riu de novo, alto e sem se importar. Como se estivesse se divertindo muito com aquilo.
Dane só conseguiu encará-lo, incrédulo.
Os Alfas dominantes não são afetados por drogas ou álcool com facilidade. Para fazer efeito, precisariam consumir quantidades absurdas, então, na prática, essas substâncias não tinham muito impacto neles.
Então, se até Grayson passava mal com esse remédio, o que ele não faria com uma pessoa comum?
Com certeza isso não acabaria de forma tão simples.
— Você anda por aí carregando um negócio desses?
— Sim, no caso de eu me meter numa situação ruim. Mas em dez minutos eu volto ao normal.
Grayson disse isso com um sorriso tão leve que Dane teve vontade de socá-lo.
Situação ruim. Ele devia estar falando de momentos como esse – tipo, ser sequestrado.
<Você não faz ideia de quantos grupos criminosos existem só para caçar Alfas dominantes!>
Dane lembrou das palavras de Wilkins. Será que esse remédio servia para enganar sequestradores e fazê-los baixar a guarda?
Bom… funcionou com ele, então não podia nem reclamar.
‘Que droga bem feita do caralho.’
Enquanto xingava mentalmente, outra coisa lhe veio à cabeça.
— É por isso que você sabe como se livrar das algemas também?
Grayson curvou os lábios num sorriso.
— Aprendi um monte de truques por precaução.
Dane refletiu sobre isso, depois franziu a testa, desconfiado.
— Então é por isso que você é tão bom com bastões?
— Sim. Meu pai me ensinou pessoalmente.
Grayson inclinou a cabeça, curioso.
— Como você sabe? O Bailey te contou?
— Hmph…
Dane sentiu um desconforto, como se tivesse fofocado, e rapidamente mudou de assunto:
— Então, Ashley Miller nunca te bateu?
— O meu pai? Em mim?
Grayson fez uma expressão exageradamente surpresa.
Foi nesse momento que Dane finalmente percebeu o que o incomodava tanto nele. Às vezes, as expressões de Grayson pareciam… excessivas.
Dane nunca tinha parado para pensar nisso antes, mas agora, vendo de perto, parecia quase… ensaiado. Como se estivesse copiando algo que aprendeu, em vez de reagir naturalmente.
— O meu pai nunca bateu na gente — Grayson disse, de forma casual. — Quer dizer, teve uma vez quando eu era criança que ele apertou meu pescoço, mas foi só aquela vez.
Dane ficou olhando para ele.
— O que você acabou de dizer… é verdade?
Grayson sorriu, alargando os lábios devagar.
— Não.
— Filho da puta.
Dane xingou sem nem pensar.
Por um segundo, ele quase caiu de novo naquela merda. E pensar que ele já tinha sido enganado uma vez e ainda estava nessa situação por causa disso.
Dane virou as costas sem dizer mais nada e foi direto para o quarto.
Assim que se jogou na cama, a exaustão bateu de uma vez. Finalmente, o dia tinha acabado.Ele fechou os olhos, desejando que nada mais acontecesse naquela noite. Mas é claro que o universo não ia facilitar as coisas para ele.
E naquela noite, algo inesperado ocorreu.
°
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Continua…