Deseje-me se puder - Capítulo 64
Dane piscou, atordoado.
‘Que porra tá acontecendo aqui?’
A confusão durou só um instante antes de seu cérebro finalmente processar a cena. Ele arregalou os olhos e gritou, alarmado:
— Que merda você está fazendo?! Ficou maluco?!
O instinto mandava correr e puxá-lo para dentro, mas o vento era forte demais, e um movimento errado significaria o fim de tudo. Grayson estava de costas para o vazio da porta aberta, de frente para Dane, com os braços dobrados segurando a parte superior. Se por acaso escorregasse… Dane nem queria imaginar.
— Para com isso, caralho! Sai daí! Você vai morrer!
Ele se inclinou para a frente, tentando manter o equilíbrio enquanto berrava. O helicóptero balançava e o vento era tão cortante quanto uma navalha, mas Grayson continuava ali no mesmo lugar, respirando com dificuldade antes de finalmente falar:
— Eu não aguento mais. Eu vou sair.
Dane sentiu um frio na espinha.
— Sair para onde, seu idiota?! Fique aí, merda! Eu vou te ajudar, só não se mexa!
Dane gritou desesperadamente. O rosto pálido e trêmulo de Grayson mostrava claramente o medo que ele estava sentindo. Ele estava em pânico totalmente fora de si.
‘Merda, ele tá em pânico.’
Dane tentou dar um passo à frente. Foi nesse momento que Grayson falou:
— Adeus, foi divertido enquanto durou.
O coração de Dane quase parou.
— Não…!
O momento em que Grayson soltou a mão ficou especialmente gravado em sua visão. Como se estivesse vendo em câmera lenta, cada dedo se separou lentamente, tornando aquele instante interminável. Seu corpo, que avançava correndo enquanto gritava, parecia anormalmente pesado e lento, talvez por causa da resistência do vento ou por algum outro motivo. Dane estendeu a mão. Quando percebeu que sua tentativa de segurar Grayson resultava apenas em um gesto vazio no ar, sentiu-se impotente.
De repente, Grayson agarrou o braço de Dane. Ele perdeu o equilíbrio por um instante e, antes que pudesse reagir, sentiu Grayson segurá-lo firme e sussurrar bem perto de sua orelha:
— Te peguei.
— O quê…?
Dane ergueu o olhar e viu o rosto de Grayson pairando acima do seu. O desgraçado estava sorrindo de canto, claramente se divertindo com a situação. E então, no segundo seguinte…
— UWAHHH!
Grayson simplesmente se jogou no vazio, levando Dane junto. Dane gritou sem nem pensar e, por reflexo, abraçou o outro com toda a força.
— AHAHAHAHAHAHA!
O riso escandaloso de Grayson ecoava ao seu redor, transbordando uma alegria psicótica. Dane, por outro lado, rosnava xingamentos entre os dentes.
A risada alta de Grayson ecoou em seus ouvidos. Ele ria como se estivesse genuinamente parecendo um completo louco. Dane cerrou os dentes e repetiu mentalmente.
‘Filho da puta, filho da puta, filho da puta! É assim que vai acabar? Morrendo de uma maneira tão ridícula por causa desse maldito louco.’
Os corpos despencaram a uma velocidade absurda. Era o fim: ele ia se estilhaçar todo no chão, com o vento cortante quase rasgando sua pele durante a queda, incapaz de segurar a raiva, Dane gritou:
— EU VOU TE MATAR, SEU FILHO DA P…!
Foi nesse momento que—
— UAGH!
Algo puxou seu corpo de repente, fazendo um grito estranho escapar da sua boca. A queda desacelerou bruscamente, e o vento impiedoso perdeu força.
Demorou um segundo para ele entender.
Grayson tinha aberto um maldito paraquedas.
Ainda tentando processar o que aconteceu, Dane ficou apenas de boca aberta, sem conseguir falar nada. Nesse momento Grayson soltou novamente uma risada, alta e triunfante.
— Hahahahah, surpresa! Você caiu direitinho, hein?
Dane piscou, incrédulo. Foi então que tudo fez sentido.
A forma como Grayson ficou de costas para o vazio antes de puxá-lo…
Ele tinha escondido o paraquedas de propósito.
‘Filho da mãe.’
‘Por que eu não vi isso vindo?’
Dane queria se xingar por não ter notado, mas, para ser justo, ninguém pensaria direito enquanto é arrastado para a morte por um lunático. A situação perigosa havia se desenrolado de forma tão repentina que sua visão não estava clara. Tanta concentração na ideia de se livrar do Grayson que ele não conseguiu pensar com calma e, naquele momento, só queria dar um chute não nele, mas na própria bunda.
Mas, de qualquer jeito, isso só ia acontecer quando chegassem no chão. Por enquanto, ele não tinha opção senão agarrar o Grayson com todas as forças para não cair.
Rangendo os dentes, ele apertou os braços ao redor de Grayson – e então sentiu algo.
‘…Esse desgraçado?’
No momento em que sentiu isso, Dane olhou para o rosto de Grayson, e notou que ele estava com as bochechas ligeiramente coradas. Antes que pudesse processar o horror da situação, Grayson soltou um suspiro que fez sua espinha gelar e murmurou, com um sorriso satisfeito:
— Seria incrível fazer sexo enquanto caímos.
E com essa frase absurda, ele ainda teve a audácia de apertar a bunda de Dane.
Ao falar isso, Grayson agarrou com força a bunda de Dane com a mãe grande. Dane deu uma rápida olhada na distância até o chão e, naquele instante, jurou:
— Eu vou te matar, vou te matar de verdade, seu filho da puta!
***
Assim que os pés tocaram o chão, os dois se embolaram e rolaram pelo chão. Claro que o primeiro a se levantar foi Dane, já recuperando o equilíbrio. Grayson, meio atrapalhado por causa do paraquedas, tentou se levantar alguns segundos depois, mas Dane não teve piedade e desferiu um chute nele.
— UGH!
Ele rolou alguns metros para trás, mas Dane não parou. Continuou desferindo chutes cheio de ódio:
— Morra, morra, morra, seu filho da puta! Morra logo!
Cada golpe ressoava no ar, mas, por algum motivo, sua raiva não diminuía.
— Hehehe, hahaha!
Mesmo sendo atingido repetidamente, Grayson continuou sacudindo o corpo de tanto rir.Essa atitude só alimentou ainda mais a raiva de Dane. No fim, foi ele quem cansou primeiro, ofegante, com os ombros subindo e descendo enquanto tentava recuperar o fôlego. Já Grayson, mesmo completamente sujo de terra e com sangue escorrendo pela boca, continuou rindo, como se algo fosse incrivelmente divertido.
— Quando foi que você tirou as algemas?
Dane perguntou entre respirações pesadas. Grayson, sem a menor preocupação, ergueu as mãos livres e sorriu.
— Quando ninguém estava olhando. Isso é moleza. Basta descolar o polegar assim…
Empolgado, começou a explicar como fez. Dane olhou para ele, incrédulo. Foi um erro colocá-lo no avião primeiro e depois entrar. Ele realmente pensou que Grayson estava inconsciente naquele momento, mas aparentemente ele já estava acordado desde então.
Dane soltou um longo suspiro e massageou as têmporas latejantes antes de cruzar os braços e encarar Grayson, que continuava largado no chão.
— E agora, o que a gente faz?
Ele cerrou os dentes involuntariamente. Estavam no meio do nada, sem a menor ideia de como sair dali. Quem ia achá-los? Como? E quanto tempo isso ia levar?
A única esperança era que o piloto tivesse avisado Joshua e que ele viesse resgatá-los. Mas isso podia levar horas. Dias. No calor escaldante da Califórnia, sem uma gota d’água, o peito de Dane começou a queimar só de pensar nisso.
‘E tudo por culpa desse desgraçado.’
A vontade de enfiar outro chute nele voltou com força. Mas antes que Dane pudesse sequer se mover, Grayson abriu a boca – como se tivesse sentido o perigo.
— Tem uma casa de veraneio do meu pai aqui por perto.
‘Ah, então era por isso que ele estava tão tranquilo. Será que pulou já com isso em mente?’ Dane pensou, mas algo nisso parecia… estranho.
— Casa de veraneio? No meio desse fim de mundo? Para quê?
Grayson se levantou sem pressa e respondeu com a maior naturalidade do mundo:
— Provavelmente para prender meu papai.
Dane franziu o cenho. Mas que merda ele tava falando agora? Grayson abriu um sorriso, mas logo se encolheu ao sentir o corte no lábio arder. Então, suspirando, explicou:
— Meu pai tem várias casas com esse propósito. Não sei quantas ele realmente usou, mas… ele sempre mantém algumas prontas. Se conseguirmos chegar lá, pelo menos, poderemos descansar.
Ele falou como se estivesse comentando o que comeu no café da manhã – sem um pingo de emoção. Dane o encarou por um instante antes de desistir. ‘Porque eu ainda tento entender esse maluco? O importante agora é sair dessa merda.’
— Onde fica isso? Fala logo.
Quando Dane pressionou, Grayson começou a bater a poeira da roupa, ajeitou o colete e esticou as mangas do paletó todo amassado, como se tentasse se recompor. Mas, com o cabelo desgrenhado e as roupas rasgadas, parecia um mendigo tentando se arrumar para um jantar de gala. Dane ficou só observando, de braços cruzados, curioso para ver até onde ia essa palhaçada.
Por fim, Grayson passou a mão no cabelo e apontou na direção. Dane, que estava prestes a se virar, parou e olhou para Grayson. O rosto que antes estava pálido agora parecia completamente normal
Ele estreitou os olhos e perguntou entre os dentes:
— Você está mentindo, não é?
Grayson sorriu de canto.
— Você é ômega ou não?
PÁ!
Com um soco certeiro, Dane acertou a mandíbula de Grayson, fazendo-o voar para o lado.
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Continua….