Deseje-me se puder - Capítulo 63
O moreno bonitão disse isso com toda a calma do mundo, mas o loiro atrás dele cuspiu as palavras com raiva:
— Só de ouvir o nome “Miller”, já me deixa nervoso. Eu só estou aqui por causa do maldito dinheiro.
— Henry, por isso que eu falo para você parar de apostar…
— Você pode calar a boca?
Assim que outro homem de cabelos castanhos falou, Henry lhe deu um chute na canela.
— AARGH!
Ele gritou e começou a pular em um pé só. O homem que parecia ser o mais velho suspirou ao ver a cena.
— Henry, para de bater no Isaac.
Mas, apesar das palavras, ele não parecia minimamente empenhado em impedir a briga. Era como se dissesse aquilo apenas por formalidade, como se esse tipo de coisa acontecesse o tempo todo. Logo depois, ele voltou sua atenção para Dane.
— Bom, a gente já fez a nossa parte. Agora vamos embora.
Assim que ele terminou de falar, os outros três homens se afastaram apressadamente. Parecia que haviam tocado em algo que não deviam ou visto algo que preferiam esquecer. Dane arqueou a sobrancelha, vendo os caras sumirem sem nem olhar para trás.
— O trabalho foi bem feito, mas quem diabos eram aqueles caras? Eles fugiram como se tivessem visto um fantasma.
Antes que o helicóptero decolasse, ele ligou para Joshua, só para transmitir a situação. O outro riu do outro lado da linha.
[Ah, eram meus colegas seguranças. Eles não estavam muito animados para participar disso, mas acabou que todos queriam a mesma coisa.]
Dane já imaginava qual era o interesse deles na história, mas Joshua completou:
[Vejo você daqui a pouco. E, um aviso.]
A voz dele ficou um tom mais sério.
[Não acredite em nada que o Grayson disser. Nada mesmo. Esse desgraçado mente com a cara mais lavada do mundo.]
Dane revirou os olhos.
— Eu sei.
Dane olhou para Grayson, que ainda estava de olhos fechados, e murmurou:
— Eu também sei um pouco sobre esse merda.
[Parece que você também sofreu bastante nas mãos dele.]
Joshua comentou com um tom de leve compaixão, o que fez Dane franzir a testa. Como se estivesse vendo sua reação do outro lado da linha, Joshua continuou:
[Não baixe a guarda até o fim. Grayson Miller não é do tipo que cai fácil.]
Dane riu sem humor e retrucou:
— E mesmo sabendo disso, você realmente achou uma boa ideia jogar tudo nas minhas costas? Meio imprudente da sua parte, não acha?
Joshua soltou uma risada curta.
[Você dá conta.]
Dane não quis ouvir mais nada e desligou na cara dele.
E agora estava ali. Só ele e Grayson naquele helicóptero militar enorme, a caminho de uma mansão isolada. Quer dizer, tecnicamente, havia também o piloto, mas isso não fazia tanta diferença.
No máximo, levaria dois dias para terminar, ele pensou.
Ele relembrou o plano. Já tinha avisado ao chefe que ia tirar uma semana de folga, usando o corte de salário como desculpa. Na verdade, pegou um tempo extra só para garantir, mas se tudo corresse bem, voltaria antes. O chefe, parecendo mais desanimado do que o normal, só assentiu sem discutir.
Também deixou Darling no hospital para um check-up. Para garantir que não ficasse ansiosa, esfregou bastante suas roupas nela antes de ir. Assim, pelo menos, o cheiro familiar ajudaria a acalmá-la.
Tudo o que poderia ser um problema, ele já tinha resolvido ou, pelo menos, minimizado. Agora, só sobrou esse cara.
Dane observou Grayson, ainda inconsciente, com os olhos fechados.
O melhor desfecho para isso tudo era óbvio…
Dane tentou imaginar como as coisas iam se desenrolar. Chase Miller jogando na cara do Grayson tudo o que teve que aguentar por culpa dele, completamente irritado, enquanto ele e Joshua assistiam de camarote.
‘Será que Grayson Miller sequer sabe o significado de “remorso”?’
Claro que não. Dane descartou a ideia na hora, mas logo acrescentou outro pensamento.
‘Bom, é para isso que estamos aqui, certo? Para ensinar.’
Se Grayson pedisse desculpas à família do Joshua e prometesse sumir da sua vida, não teria mais nada a desejar. Mas, por mais que tentasse, Dane não conseguia imaginar uma situação mais absurda do que essa. Era mais fácil um alienígena aparecer na sua frente e revelar os números vencedores da loteria do que Grayson fazer algo remotamente decente. Ele suspirou, já se arrependendo de estar metido nessa bagunça.
‘Isso tudo não é só uma perda de tempo?’
Pelo menos Darling estava fazendo o check-up. Isso já era um lado positivo. Os exames levariam dois dias e, caso algo desse errado e ele não pudesse buscá-la ou tivesse problemas mais sérios, já tinha combinado com Yeonwoo para cuidar dela. Yeonwoo aceitou sem hesitar, até fez questão de conhecer Darling antes e a acompanhou no hospital, agindo como se fosse o verdadeiro responsável por ela.
Tudo isso porque, um tempo atrás, Dane ajudou Yeonwoo em uma situação complicada, a pedido de Joshua. Foi coisa pequena, um favor simples, mas o homem ainda era grato até hoje.
Bom, também teve várias outras situações depois que só fizeram ele se sentir mais culpado, então meio que fazia sentido.
O barulho do helicóptero continuava alto como sempre. Dane ficou um tempo só encarando Grayson, que permanecia imóvel, até que decidiu quebrar o silêncio.
— Ei.
Nada.
Com os braços cruzados, ele estreitou os olhos e continuou, impaciente:
— Por quanto tempo você vai fingir? Já deu, abra logo os olhos. Tá ficando chato.
Mas Grayson continuou imóvel, de olhos fechados.
Dane o observou por um instante antes de se levantar, pronto para dar um belo tapa na cara dele. Foi aí que ouviu uma risada baixa.
— Hahaha…
Abaixo dele, Grayson tremia de tanto rir.
Claro. Só podia ser isso. Dane abaixou a mão, sem paciência, e Grayson finalmente abriu os olhos e se sentou.
— Como você sabia que eu estava acordado?
— Sua atuação é uma droga.
Dane voltou a sentar-se, cruzando as pernas. Grayson ergueu as mãos algemadas e sacudiu os pulsos, dando um sorriso que só podia significar encrenca.
— Então foi para isso que você me sequestrou?
Dane permaneceu impassível e apenas ergueu o punho, avisando para ficar quieto que, se ele continuasse falando merda, ia sentir o peso do seu punho no rosto.
— Se estava acordado esse tempo todo, por que ficou fingindo? Poderia ter tentado fugir ou se rebelar.
Grayson respondeu sem pressa, como se não fosse nada demais.
— Queria ver o que você iria fazer.
Dane bufou.
— Você foi sequestrado.
— Sim, eu sei.
A resposta veio tão tranquila que parecia que ele estava se divertindo com a situação. Na verdade, ele nem parecia levar a coisa a sério, o que fez Dane franzir o cenho.
— Você sabe o motivo?
— Sei lá, vou descobrir quando chegarmos lá.
A indiferença dele só irritou ainda mais Dane. Grayson agia como se nada disso tivesse acontecido com ele. Como se fosse apenas um espectador casual e não o sequestrado da história.
O que esse desgraçado estava tramando?
Mas então, percebeu algo estranho.
Grayson ainda sorria, mas tinha alguma coisa… errada.
E então, ele percebeu o motivo.
O corpo de Grayson estava tremendo.
— …O que foi agora?
Grayson piscou algumas vezes, olhando para ele como se não entendesse a pergunta. Mas algo definitivamente não estava certo. Ele piscava rápido demais, e um suor frio escorria por sua têmpora.
Dane apontou para ele com um aceno irritado de queixo.
— O que diabos está acontecendo? Que merda é essa?
— Ah… isso?
Só então Grayson pareceu se dar conta e esboçou um sorriso fraco.
— Eu tenho medo de altura.
— Quê?
Dane se virou para ele, completamente incrédulo.
O rosto de Grayson estava praticamente cinza. Ele ainda tentava rir, mas o suor escorrendo pelas têmporas e a expressão rígida não enganavam ninguém.
Dane, no entanto, não estava convencido.
— Por que não desmaia logo, então?
Grayson soltou uma risada amarga.
— Se eu pudesse, eu já teria feito isso. Mas não é tão simples assim.
O tom de voz dele estava estranhamente derrotado.
Dane queria ignorar, queria acreditar que era só mais um teatro de Grayson, mas…
Mesmo sem querer, algo dentro dele vacilou.
…será que é verdade?
Psicopatas são ótimos atores. Manipular, mentir, fazer as pessoas acreditarem neles – isso é praticamente um talento natural. Eles convencem qualquer um com essa atuação impecável. Assim como ele fez com Ezra.
— Não me faça rir. Você acha mesmo que eu vou acreditar nessa sua encenação barata?
Dane cuspiu as palavras com desprezo.
Grayson riu, mesmo ainda pálido como um cadáver.
— É exatamente isso que eu espero.
A pele dele já estava azulada. A respiração ficou irregular, o tremor no corpo piorou, e agora os ombros sacudiam incontrolavelmente, como se ele fosse ter um ataque.
…Ele está falando sério?
Dane soltou um suspiro irritado, mas no fim, acabou se aproximando.
— Ei, aguenta um pouco? Já tá quase chegando… Ei, ainda falta muito?
De perto, a coisa só piorava. Os olhos violeta de Grayson estavam totalmente desfocados, tremendo na órbita. O cheiro do feromônio dele estava todo desregulado, instável. Se continuasse assim, não seria surpresa se ele entrasse em choque.
‘Merda. Se ele tem medo de altura, por que diabos colocaram ele na porra de um helicóptero?!’
Dane xingou Joshua mentalmente, mas logo percebeu que talvez eles nem soubessem. Não importava. O problema agora era impedir que o desgraçado desmaiasse de vez.
— Grayson, fica acordado! Quer alguma coisa? Precisa de quê? Acorda, porra!
Ele segurou os ombros de Grayson e sacudiu, tentando trazer ele de volta, mas o outro só conseguiu murmurar com a voz fraca e trêmula:
— Á-água… me dá… água.
Ele repetiu desesperado, e Dane girou o corpo, procurando uma garrafa. Achou uma, arrancou a tampa e se virou de volta para ele.
Foi quando sentiu um vento cortante e ouviu um barulho metálico.
— …… O que?
O choque fez sua cabeça se erguer no reflexo.
E foi aí que ele viu.
Grayson estava de pé, com a porta do helicóptero aberta.
°
°
Continua…