Deseje-me se puder - Capítulo 62
***
— Por que vocês estão planejando sequestrar o Grayson?
Antes de darem início ao plano, Dane lançou a pergunta. Joshua suspirou, meio sem graça.
[O Chase sofreu muito por causa daquele filho da mãe.]
— Tipo o que?
Dane perguntou, e Joshua fez uma pausa antes de responder. Ele contou uma por uma as histórias de como Chase, quando era mais novo, tinha sido humilhado pelo irmão mais velho, Grayson. Depois de ouvir tudo, Dane ficou sem palavras. E o último incidente foi particularmente chocante.
— Ele realmente disse essa mentira?
Joshua assentiu.
[Por causa disso, Chase ficou traumatizado. Até hoje ele não gosta de cachorros. Se existe alguém que tem motivos para querer vingança, é ele.]
Dane ficou em silêncio por um momento, depois perguntou:
— Então, se sequestrarmos o Grayson e encher ele de porrada, o Chase vai se sentir melhor?
[Não é sobre bater nele.]
Joshua explicou com calma:
[Primeiro, eu quero deixar o Chase desabafar e falar tudo o que ele sente, toda a raiva e a dor que ele guardou. Extravasar. E claro, a boca do Grayson vai ter que ficar amordaçada. Se ele puder abrir a boca, vai acabar piorando tudo.]
Dane concordou. Grayson com certeza merecia uma lição. Joshua então continuou:
[Se isso não for suficiente… Bom, talvez role um ou dois socos. Mas eu espero que não chegue a esse ponto. O que eu quero de verdade é ajudar o Chase a superar as feridas do passado.]
Ele fez uma pausa e acrescentou:
[Mas se você quiser bater nele, eu não vou te impedir.]
Dane não respondeu à piada e simplesmente desligou o telefone.
Agora ele entendia por que isso era necessário. Às vezes, a violência verbal deixa marcas mais profundas na alma do que a física. Se isso pudesse ajudar Chase a se curar, não seria ruim. E, de certa forma, Grayson estaria pagando pelo que fez. Era justiça.
E, no caso do Dane…
<Você é um ômega, não é?>
A lembrança da voz de Grayson fez Dane franzir a testa.
De qualquer forma, se ele conseguisse tirar Grayson Miller do caminho, já estaria satisfeito.
Afinal, se o plano desse certo, ele poderia causar tanto impacto quanto uma surra.
Pensando nisso, ele voltou à realidade.
O sol brilhava forte, iluminando tudo ao redor. Esse tipo de clima não era o ideal para o que ele estava prestes a fazer. Mas torcer por um dia nublado na Califórnia era tão inútil quanto esperar que um gato não derrubasse um copo de vidro da mesa. Então, Dane já tinha desistido dessa ideia fazia tempo.
A preparação estava impecável. O terreno era muito mais favorável do que um deserto. Além disso, ele mesmo tinha escolhido o local. O método era simples: Só precisava fazer Grayson ir para o lugar errado.
No dia anterior, Dane tinha alterado discretamente o convite de aniversário que o Ezra tinha feito. Na frente, havia um desenho feito por uma criança, e ao abrir o cartão, havia uma mensagem torta escrita por ela: “Você está convidado para minha festa de aniversário!”
E, na parte de trás, o endereço da festa, impresso direitinho por Ezra.
Dane havia recebido o convite antes de todo mundo.
Afinal, foi ele quem se ofereceu para ajudar a fazer os cartões.
<Precisa de ajuda para fazer os convites?>
<Sério? Você faria isso?>
Ezra aceitou a oferta de Dane com entusiasmo. Ele já vinha reclamando, feliz da vida, que mal tinha tempo para fazer tudo, já que ficava brincando com as crianças em casa.
Dane só fingiu que se importava.
Criou um único cartão com um endereço diferente e o colocou no armário de Grayson.
Simples e eficiente.
Agora era só esperar.
Ninguém jamais suspeitaria que só o convite dele tinha um endereço diferente.
Para garantir isso, Grayson recebeu o convite no último minuto, junto com todo mundo. Dane sugeriu de propósito que Ezra entregasse os convites um dia antes do aniversário, só para garantir que ninguém ia ter tempo de pensar duas vezes.
Funcionou como um relógio. Todo mundo pegou o convite já na saída do trabalho, e estavam tão ocupados elogiando os desenhos da criança que mal prestaram atenção em qualquer outra coisa.
Agora, Dane estava escondido no meio do mato, esperando.
Ele escolheu esse lugar a dedo. A estrada de terra era estreita o suficiente para mal caber um carro, e no final dela? Não existia nada. Nenhuma casa, nenhuma saída.
Ele passou dois dias vigiando a área. Nenhum carro apareceu. Nem um único pedestre ou qualquer movimento.
Era perfeito. Agora só precisava esperar Grayson Miller.
O mato alto dos dois lados da estrada era ideal para se esconder. Dane ficou de tocaia, espiando a estrada, com a armadilha pronta. Um arremesso rápido, coisa de um ou dois segundos, e pronto. Grayson não teria a menor chance de escapar.
E então—
Bip, bip.
O rastreador que Grayson nem sabia que estava no carro começou a emitir um sinal. Antes, Dane tinha considerado a possibilidade de ele aparecer com outro veículo, mas, por via das dúvidas, colocou o rastreador mesmo assim. No fim, não precisou se preocupar – Grayson veio exatamente no carro esperado. Mas, mesmo que tivesse escolhido outro, ninguém além dele usaria essa estrada isolada, então o plano ainda daria certo.
Dane se abaixou, escondido na vegetação.
Ao longe, um carro europeu caro apareceu na estrada de terra, vindo na direção dele. A velocidade aumentava, como se o motorista não tivesse a menor ideia do que estava prestes a acontecer.
Grayson estava tranquilo ao volante, sem saber que em poucos segundos ia cair direto na armadilha.
Três. Dois. Um.
No exato momento, Dane jogou a armadilha de espetos no chão.
***
“♪ Beijo na bochecha, beijo no pescoço, ah, eu beijo seu peito grandão… ♪”
— Peito, peito, peito, peito…
Cantando o refrão da música, Grayson dirigia pela estrada de terra. Ele ainda tinha tempo de sobra para chegar na hora que a festa ia começar. Talvez até fosse o primeiro a chegar. Ele olhou para o relógio do carro, relaxado, enquanto dirigia.
No banco de trás, estava o presente da aniversariante. Ezra insistiu para ninguém gastar mais de 50 dólares, mas Grayson… bom, ele não fazia ideia do que custava 50 dólares. Ou de onde comprar algo assim. Então foi em uma joalheria conhecida e comprou um colar de diamantes.
E, porque não queria ir contra o pedido, fez um recibo falso dizendo que custou 49 dólares e colocou junto. Problema resolvido.
Trabalhar em um lugar fixo, ser convidado para o aniversário da filha de um colega, comprar presente para criança… Era tudo novo para ele. Na verdade, ele até estava se divertindo. Afinal, era só mais um passo para alcançar seu objetivo.
Essa festa era uma oportunidade perfeita. Ezra convidou todos os bombeiros, inclusive Dane Striker.
<Essa é a sua chance de esclarecer as coisas com o Dane e se darem bem.>
Ezra deu um tapinha encorajador no braço de Grayson.
<Ah, claro.>
Grayson murmurou com um sorriso irônico.
— Eu mal posso esperar por isso, Ezra.
De repente, o cheiro do feromônio de Dane Stryker veio à tona na memória de Grayson. Ele quase já tinha esquecido aquele aroma. E então, como se algo tivesse despertado dentro dele, surgiu um desejo absurdo de senti-lo de novo.
Foi exatamente nesse momento que uma sombra negra passou voando na frente do carro.
E, no instante seguinte—
BANG!
O pneu explodiu com um barulho ensurdecedor.
***
BANG! BANG! BANG!
O carro, que estava em alta velocidade, derrapou e saiu da estrada devido ao pneu que estourou de repente. Girou loucamente na pista antes de sair voando para fora da estrada. Rolou ladeira abaixo, capotando com um estrondo feroz.
Nada disso foi uma surpresa.
Dane saiu calmamente do esconderijo e ficou observando o carro virado de lado, imóvel, mas não houve nenhuma reação. Se Grayson saísse do carro por conta própria, o plano B já estava preparado. Mas… nada aconteceu.
Dane esperou cinco minutos.
Depois, desceu o barranco.
***
O barulho estridente de um helicóptero atingiu seus ouvidos.
Ele não esperava ouvir esse som novamente.
Dane suspirou fundo, sentado de braços cruzados.
Quando Joshua disse que tinha conseguido um helicóptero, ele não mencionou que era um militar.
Na hora que chegou ao ponto de encontro e viu aquela coisa gigante esperando, Dane só conseguiu pensar:
“Como diabos um civil consegue isso?”
Mas logo ele se corrigiu.
Não era um civil.
Era um Miller.
Os Miller nunca saíram do topo da lista dos mais ricos do país. E agora, além de dinheiro, eles estavam a um passo de colocar o próprio sobrenome na Casa Branca.
O filho de um cara desses podia conseguir o que quisesse.
Dane deu de ombros e subiu no helicóptero.
Com esse pensamento, Dane subiu no helicóptero. Lá dentro, só estavam o piloto, ele e Grayson. Os caras que ajudaram no transporte não embarcaram.
— O serviço que nos pediram termina aqui.
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Continua…