Deseje-me se puder - Capítulo 58
No meio do barulho, Ezra conseguiu, de alguma forma, entender o que Grayson tinha dito. Ele tomou um gole de cerveja antes de perguntar:
— Hã? Você está falando de Dane? Você também disse que viu ele lá naquele dia, não foi?
Grayson olhou para o rosto confuso de Ezra e confirmou com um pequeno sorriso nos lábios.
— Sim.
Um leve sorriso apareceu em seus lábios.
— Eu encontrei ele.
— Viu? Eu sabia!
Ezra riu satisfeito, virando mais um pouco da cerveja. Enquanto isso, Grayson ouvia as bobagens do outro e pensava no que faria a seguir.
***
— O quê? Você quer que a gente vá para uma boate?
Dane, que ouviu a proposta de Ezra, franziu a testa e perguntou de volta. Ezra, que estava animado para compartilhar a notícia, acenou com a cabeça e acrescentou uma explicação.
— O Miller não se enturmou direito com a gente ainda. Então pensei que essa seria uma boa oportunidade para nós aproximarmos. No fim das contas, ele faz parte da equipe, certo?
Dane, no entanto, não parecia nem um pouco convencido.
— Ele só vai ficar aqui por um ano. Agora já devem faltar uns… dez meses?
Fazendo uma conta rápida, tirando o tempo que já tinha passado, ele jogou o número aproximado. Ezra, por sua vez, torceu o nariz e deu dois tapinhas no braço dele.
— Dane, mas enquanto ele estiver aqui, não custa tentar, né? A gente podia pelo menos tentar se dar bem.
Ezra tentou apelar para o lado racional.
— Miller também é uma pessoa normal como nós. Só tem uma genética diferente, só isso.
Dane não hesitou nem um segundo antes de retrucar:
— Ezra, você está bêbado?
O outro apenas o encarou com um olhar estreito, sem responder. Então suspirou fundo e tentou mais uma vez, agora mudando de abordagem.
— Dane, nós estávamos enganados. O Miller não é tão babaca quanto pensávamos. Se dermos uma chance, pode ser que ele melhore muito.
— Você é mole demais, Ezra.
Dane continuou irredutível. Mas Ezra sabia muito bem como lidar com a teimosia dele. Ele já tinha criado três filhas em plena fase rebelde, então convencer um bombeiro cabeça-dura não era nada.
— Tá bom, ok. Eu entendi o seu ponto. De qualquer forma, vamos todos juntos. Ele está tentando se aproximar de nós, e seria rude recusar, não acha? Vamos só aparecer, curtir um pouco e depois voltar. Se quiser sair mais cedo, é só usar sua gata como desculpa. O importante é aparecer, certo?
Ezra insistiu com um tom persuasivo. Dane ficou quieto, claramente irritado, mas no fim soltou um longo suspiro e passou a mão pelo rosto.
— Não é desculpa. A Darling realmente fica preocupada se eu chego tarde.”
— Claro, claro, eu sei.
Ezra deu uns tapinhas nas costas dele, como quem diz “tá bom, tá bom”, e logo abriu um sorriso vitorioso.
— Então está decidido? Você vai, certo? Hã?
Dane revirou os olhos e fez um gesto com a mão, mandando Ezra sumir antes que ele se arrependesse. Se ele insistisse mais um pouco, com certeza ia tomar um fora de verdade. Sabendo disso, Ezra bateu em retirada com um sorriso satisfeito.
Agora, ele poderia resolver o mal-entendido com Dane.
Com um leve sorriso nos lábios, Ezra caminhou de volta, com passos leves. Ter bebido com Grayson na noite anterior tinha sido uma ótima escolha. Aquelas horas foram mais úteis do que ele imaginava – desfizeram boa parte dos mal-entendidos e até fizeram Ezra reconsiderar sua opinião sobre o cara. Agora, ele diria que Grayson era… até que um sujeito decente.
‘A primeira impressão não foi grande coisa, mas, sejamos honestos, fomos nós que começamos a briga primeiro, né? Enfim, se termina bem, então tá tudo certo. Talvez agora as coisas começassem a se encaixar direito.’
***
Dane observou as costas de Ezra sumindo e levou a lata de refrigerante à boca, virando tudo de uma vez. O gás explodiu na língua e queimou sua garganta.
‘O que diabos esse cara tá pensando?’
Com a cara fechada, ele ponderou. ‘Grayson Miller não é tão ruim assim? Que piada.’ Ezra estava completamente iludido.
Ele sempre foi muito bondoso com as pessoas, e isso fazia com que visse o mundo através de lentes cor-de-rosa, um de seus poucos defeitos. Ele nunca parou para pensar por que os alfas dominantes são chamados de psicopatas.
‘Bem, todos os seres humanos tem um lado ruim’.
Não é só porque são psicopatas. Os humanos são naturalmente cruéis e desprezíveis. Então, o que Ezra disse não está totalmente errado. Alfas dominante são apenas pessoas comuns, como todo mundo.
‘Comuns na falta de vergonha, comuns na cara de pau.’
Dane riu de canto. ‘No fim, eu também não sou muito diferente.’
***
A música alta reverberava pelo ambiente, e Ezra já estava começando a sentir a cabeça girar. Luzes piscavam sem parar, os corpos suados se agitavam ao ritmo ensurdecedor da batida, e só de atravessar aquele mar de gente até o bar, ele já sentia que tinha gastado toda a sua energia.
Assim que finalmente conseguiu encostar no balcão e pedir uma cerveja, sentiu-se completamente esgotado.
— Você está bem? Parece que já vai desmaiar.
Diandre riu, se apoiando ao lado dele. Ezra tomou vários goles da cerveja gelada antes de balançar a cabeça.
— Eu não gosto muito desses lugares, sabe. É impressionante, sério mesmo, eu tô exausto só de chegar aqui, e essas pessoas ainda têm energia para dançar.
Ele comentou, admirado, mas antes de dar outro gole, parou. Seus olhos se fixaram em um ponto específico da pista de dança, e, ao lado dele, Diandre também ficou imóvel, encarando a mesma cena.
Dane estava dançando.
Sob as luzes frenéticas, ele se movia com naturalidade, o corpo alinhado ao de uma mulher que se esfregava nele sem a menor cerimônia. A mão dele estava bem firme na cintura dela, e quando a mulher se inclinou e deu um beijo no pescoço dele, Diandre não se segurou.
— Espera aí… não foi esse desgraçado que disse que não queria vir?!
— Disse.
Ezra respondeu automaticamente. Diandre bufou e tomou um gole longo da cerveja.
— Que piada. O cara tá aproveitando mais do que todo mundo aqui.
— Pois é.
Ezra resmungou. Ele ainda estava absorvendo a cena quando, ao lado, percebeu Grayson apoiado no bar, bebendo a própria cerveja.
Por alguma razão, ele se sentiu meio constrangido. De repente, olhou para Grayson, tentando captar alguma reação, mas, com as luzes coloridas piscando sem parar, era impossível decifrar sua expressão.
— Ei.
Chamando em voz alta, Grayson parou e olhou para ele. Ao ver os olhos suavemente curvados de Grayson, Ezra sentiu seu estômago ficar ainda mais pesado.
— Você conversou com o Dane?
Grayson, mais uma vez, só balançou a cabeça em silêncio. Ezra suspirou e deixou os ombros caírem.
Ah, mas é claro. Era óbvio que isso ia dar errado. Ele deveria ter sugerido outro lugar quando o papo de “vamos ao clube” surgiu. Não era nem um ambiente feito para beber de verdade e conversar, e, convenhamos, desde quando Dane entra num clube só pra tomar uns drinks e ir embora?
Agora já era tarde para arrependimentos. E, no fim das contas, a culpa era toda do Grayson. Ele foi quem quis organizar esse encontro, então, obviamente, escolheu um lugar que achava que Dane ia gostar. Talvez tivesse imaginado que um clima mais descontraído ajudaria a quebrar o gelo.
Mas precisava pensar no tipo de pessoa com a qual ele estava lidando. Levar Dane para um clube cheio de gente desesperada por uma noite de sexo era o mesmo que colocar um aquário na frente de um gato e pedir para ele só olhar.
Ezra balançou a cabeça de novo e tomou um gole da cerveja. O primeiro a ir para casa não deve ser o Dane. Deve ser eu.
***
— Quer ir para minha casa depois?
A mulher que estava pressionando os seios contra o corpo do Dane perguntou. Ela havia dito que veio com duas amigas e que fazia tudo com elas, incluindo morar no mesmo lugar. Ou seja, isso incluía aquilo também. Ele já tinha lidado com três de uma vez antes, mas já estava tarde.
— Desculpe, talvez na próxima.
Ele foi educado, deu um beijo profundo em cada uma antes de se despedir e saiu da pista de dança, passando a mão pelos cabelos úmidos de suor enquanto caminhava até o bar. Quando pegou uma cerveja como todo mundo, os outros caras só ficaram olhando com uma expressão amarga.
Ezra observou enquanto Dane virava metade da garrafa de uma vez. Só depois que ele finalmente afastou o vidro da boca, Ezra resolveu falar:
— Parece que você está se divertindo, hein?”
— Não é ruim.
— O quê? Só ‘não é ruim’? ‘Não é ruim’?!
Imediatamente, Diandre, que estava do outro lado, gritou exageradamente.
— Isso é o máximo que você tem para dizer? Cacete, o que mais você precisa para dizer que tá bom? Até agora você estava lá no meio, se esfregando em TRÊS mulheres ao mesmo tempo, e agora me vem com essa?
— E ainda por cima beijou as três!
— Seu desgraçado, você é um inimigo da humanidade! Espero que seja amaldiçoado!
As acusações vinham de todos os lados. Dane, impassível, virou o resto da cerveja. A música martelava em seus ouvidos, a essa altura só um zumbido irritante.
Talvez fosse hora de ir embora. Olhou o relógio, já era bem tarde.
Mas não tão tarde a ponto de sair de mãos abanando.
Ele deixou a garrafa vazia no balcão e começou a escanear o ambiente, em busca de uma companhia mais… interessante. E foi aí que seus olhos cruzaram com os de um cara. Rosto redondo, fofinho, corpo um pouco mais cheinho.
°
°
Continua..