Deseje-me se puder - Capítulo 55
— A-ah!
No instante em que pensou nisso, George deixou o garfo cair de novo. Seu rosto ficou pálido, como se tivesse acabado de cometer um crime, enquanto isso Grayson o encarava com uma expressão decepcionada.
‘Ah, George, já fez isso antes, você precisa mostrar algo novo. O público vai perder o interesse. Tem que inovar! Se você ficar repetindo o mesmo erro, os espectadores vão fechar o vídeo e partir para outro conteúdo. Já pensou no que vai fazer quando perder todos os inscritos? Vai acabar falindo!’
Enquanto Grayson pensava nisso, George o encarou, parecendo ainda mais em pânico. Grayson aproveitou a oportunidade e balançou a cabeça com um olhar sério, como quem diz “se recomponha”. É importante saber quando apoiar e quando advertir. Só assim ele aprende.
Mas, ao contrário do que todos esperavam, George ficou ainda mais derrotado. Seu rosto se contorceu, ele abaixou a cabeça, e os punhos cerrados debaixo da mesa indicavam que ele estava a um passo de um colapso nervoso.
Foi nesse momento que Dane, cortando a carne no prato sem pressa, resolveu falar:
— E o Charles, como está?
— H-hã?
George levantou a cabeça num susto, piscando como se tivesse acabado de acordar. O olhar perdido dele fez Dane pausar antes de levar o garfo à boca.
— O Charles está bem? Não tem nada de errado com ele, certo?
— Ah… A-ah! Sim, sim! Ele está bem, nada de errado!
O homem, de repente, parecia outra pessoa. Seus olhos brilharam, sua voz recuperou o tom animado e, sem pensar duas vezes, ele já estava puxando o celular.
— Eu tirei umas fotos dele! Quer ver?
Sem nem esperar uma resposta, começou a vasculhar a galeria e, em segundos, estava exibindo uma enxurrada de fotos do cachorro. Dane, ainda mastigando, se inclinou para olhar. Foi aí que George ficou vermelho feito um tomate. Mesmo assim, continuou animado, explicando cada foto com entusiasmo:
— Essa foi ontem, bem na frente de casa! E essa aqui, olha só, no sofá! Essa foi enquanto ele tava brincando… e essa… e essa aqui…
A torrente de comentários não tinha fim. Grayson, ouvindo aquilo, logo ficou entediado.
‘Ah, qual é! O show que você estava dando antes era muito mais divertido. George, você não vê o que as outras pessoas estão esperando? Antes que o interesse desapareça, forneça novo conteúdo, rápido!’
Mas, indiferente aos pensamentos dele, George ficou extremamente animado a partir daquele momento e continuou falando sobre o cachorro o tempo todo. Grayson tinha certeza de que, se juntasse todas as vezes que George falou “Charles” naquela refeição, daria para escrever um livro inteiro.
Dane, por outro lado, parecia só meio interessado, mas George não se abalou. Como todo dono de pet obcecado, ele seguia firme e forte na missão de fazer os outros ouvirem.
Talvez o único assunto que realmente prendesse a atenção de Dane fosse esse. Do outro lado da mesa, Grayson observava a cena com um olhar quase… piedoso. Enquanto Dane mantinha uma expressão indiferente, George parecia não conseguir desviar os olhos dele nem por um segundo, com o rosto vermelho e a voz cada vez mais animada. Qualquer um podia ver que ele estava empolgado.
Totalmente fisgado.
Grayson tomou um gole de vinho, observando o rosto de George. Ou melhor, seus olhos. Ele conhecia aquele olhar, o mesmo que seus pais tinham um para o outro. Olhos de alguém apaixonado. Como se Dane fosse a única pessoa no universo.
O motivo pelo qual George estava vermelho até o pescoço não era apenas por causa do álcool. Dane nem estava reagindo direito, mas o simples fato de estar com ele já o deixava tão feliz que ele não sabia o que fazer.
‘Tá vendo? O amor é exatamente isso.’
Ele sorriu, sentindo que sua crença não estava errada. Dane zombou de Grayson e negou a existência do amor, mas isso era apenas arrogância dele. O amor existe. Está ali, nos olhos daquele homem.
Infelizmente, apesar de ter procurado desesperadamente por seu parceiro destinado, Grayson nunca encontrou alguém assim. Toda vez que ele depositava esperanças em alguém, acabava desapontado, e a cada vez só conseguia criar novas expectativas, o que era frustrante.
Ele sempre via o afeto nos olhos das pessoas que o olhavam, mas nunca conseguia encontrar isso em si mesmo. Como seria esse sentimento? Grayson queria tanto saber. Era tão irracional que algo que claramente existe, ele não conseguia encontrar.
Ele esvaziou a taça, sentindo um gosto amargo que não era só do vinho.
No fim da noite, George já estava completamente bêbado. A fala embolada, o sorriso idiota grudado no rosto. Parecia flutuar num sonho, perdido na própria felicidade. Quando finalmente saíram do restaurante, ele mal conseguia andar.
— Eu vou dirigir, me dê as chaves.
Quando Dane estendeu a mão, George riu e balançou a cabeça.
— Nããão, eu que vou levar vocês…
— Você está bêbado.
Dane lançou um olhar rápido para Grayson antes de voltar a encarar George.
— Eu sou o único que não bebeu. Então eu dirijo.
— Mas é o meu carrooo…
George continuou resistindo, mas Dane não tolerou perder tempo assim. Ele franziu a testa e de repente deu um tapinha no ombro de George, que, desprevenido, cambaleou para trás. Ele quase caiu e passou por uma cena ridícula, mas foi segurado por um homem atrás dele, que o impediu de cair. Ele conseguiu se equilibrar, ainda cambaleando. Se não fosse pelo armário humano que era Grayson, teria ido direto para o chão.
— Segure ele.
Sem esperar resposta, Dane enfiou a mão no bolso de George e pegou a chave sem o menor esforço, já se virando para o carro.
— Hiiing…
Grayson olhou para o homem, que fez um som de cachorrinho desanimado, e deu tapinhas no ombro que ainda estava segurando.
— Anime-se, pelo menos tivemos um almoço agradável, não foi? Isso já é o suficiente.
George levantou a cabeça, esticando o pescoço para encarar Grayson.
— Você acha?
— Claro. Isso vai virar uma lembrança inesquecível. Um dia, quando estiver velho, tomando chocolate quente na frente da lareira, vai se lembrar disso e pensar: ‘Ah, aqueles dois caras… eram tão lindos e incríveis’.
— Dois caras?
— Sim.
Grayson apontou primeiro para Dane, depois para si mesmo, como se fosse óbvio.
George piscou, meio perdido, e então murmurou, olhando para Dane com os olhos vidrados:
— É verdadeee… ele é bonito mesmo… e tem um corpo…
— Tá vendo? Você tem sorte.
— Você acha.
— Com certeza. Então, para de drama.
Ele só soltou essas palavras genéricas de conforto, mas George fez um barulho digno de um filhote abandonado. Grayson revirou os olhos, rindo baixo.
Nesse momento, Dane apareceu ao lado do carro, abrindo a porta do passageiro.
— Me dê ele.
Sem muito esforço, ele pegou George nos braços e, antes de se virar, olhou para Grayson.
— Vou levar George para casa, então você pode voltar sozinho.”
— O quê?
Surpreso com a situação inesperada, Grayson não pôde evitar de responder, mas Dane, no entanto, continuou com uma expressão indiferente, como se não se importasse com a reação dele.
—Você pode pegar um táxi ou algo assim. Então, eu vou indo…
— Espera aí—
Grayson abriu a boca para protestar, mas foi interrompido. George, ainda encostado no peito de Dane, ergueu a cabeça e piscou devagar, meio grogue.
— Ei… que tal ir lá em casa para mais uma bebida?
A voz arrastada fez Grayson franzir a testa, mas Dane reagiu de um jeito totalmente inesperado.
— Boa ideia.
Ele sorriu de leve.
George arregalou os olhos e, num instante, estava perfeitamente acordado.
— Sério?!
Grayson ficou pasmo com a súbita clareza na voz e no olhar dele.
— Ué, você não estava bêbado?
George congelou, hesitando. Depois, coçou a nuca e murmurou:
— Ah, eu… eu só fico sóbrio rápido…”
Dane então disse calmamente:
— Ótimo. Eu não durmo com alguém bêbado.
— ….
Os olhos de George ficaram do tamanho de um prato.
E Grayson também só conseguiu encarar Dane, completamente perplexo.
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Continua…