Deseje-me se puder - Capítulo 54
Assim que o carro da Naomi sumiu de vista, Grayson saiu da cafeteria sem perder tempo. Com passos preguiçosos, foi direto para onde George estava – o cara que tinha vindo todo emocionado pagar sua dívida de gratidão, esperava por Dane.
— Ah, você está aí… Hã?
George se virou animado ao perceber alguém se aproximando, mas sua empolgação evaporou no instante em que viu quem era. Ele encolheu os ombros, surpreso.
Grayson sorriu, olhando para ele de cima.
— E aí, George? Tudo bem?
— A-ah… S-sim…
Meio perdido, George respondeu, mas seus olhos não paravam de vasculhar Grayson de cima a baixo, tentando entender quem diabos era esse cara que sabia seu nome. Obviamente, Grayson não deixou passar a oportunidade. Sem aviso, ergueu os braços dramaticamente e exclamou em alto e bom som:
— Nossa, George. Já me esqueceu? Fui eu que entrei naquela casa pegando fogo para salvar o Charles, lembra?
— O quê? H-hã?!
Apoiando as mãos nos ombros de George, Grayson o encarou enquanto o coitado arregalava os olhos, gaguejando sem saber o que responder.
— Você não lembra do fogo vermelho queimando por toda parte? Do quanto você chorou e se desesperou pelo seu cachorro? Eu não aguentei ver aquilo e entrei naquela casa! O calor era insuportável! A fumaça sufocante, mal dava para enxergar um palmo à frente! Mas mesmo assim, eu avancei. Um passo de cada vez, chamando pelo Charles! Charles! Meu Deus, quantas vezes eu quase morri naquela casa… Mas eu achei o seu cachorro! E depois de tudo isso… você simplesmente desapareceu. E agora? Agora você nem se lembra de mim?! Como pode ser tão cruel, George?!
Grayson terminou seu discurso em tom trágico, como um ator de teatro dramático, soltando um longo suspiro e abaixando a cabeça, como se estivesse profundamente magoado.
George, que tinha escutado tudo de boca aberta, ficou ali parado, suando frio, sem saber o que fazer com aquele silêncio repentino.
— E-eu… ahm… hã…
George tentou falar, mas só conseguia gaguejar. Ele ainda estava com os ombros presos sob as mãos de Grayson, completamente travado. O que diabos ele deveria fazer agora? Desesperado, começou a olhar ao redor, procurando por uma saída.
Foi quando Grayson, que estava imóvel até então, ergueu a cabeça de repente. George, assustado, engoliu em seco. O olhar penetrante de Grayson parecia vasculhar sua alma antes dele perguntar, do nada:
— E então?
— E-então o quê?
George piscou, confuso. Grayson se inclinou ligeiramente para sussurrar, como se estivesse compartilhando um grande segredo:
— Você não vai me convidar para o almoço?
— O quê?! E-eu?! Mas por quê?!
George recuou instintivamente, chocado com a sugestão absurda. Mas, antes que pudesse argumentar, passos se aproximaram. Os dois se viraram ao mesmo tempo para ver Dane vindo na direção deles, agora já sem o uniforme.
Assim que seus olhares se encontraram, o rosto de George se iluminou. Grayson, claro, percebeu isso na hora.
— O que vocês estão fazendo aí? — Dane franziu a testa.
Sem perder tempo, Grayson passou um braço ao redor do pescoço de George e o puxou para perto.
— George estava dizendo que quer me pagar um almoço também! Olha que cara generoso!
— O quê? — Dane olhou para George, claramente o intimidando.
George abriu a boca para desmentir, mas, quanto mais tentava falar, mais forte Grayson apertava seu pescoço, tornando impossível se soltar. No fim, tudo que conseguiu foi soltar uns grunhidos sufocados.
— Que cara de bom coração — Grayson suspirou, satisfeito. — Então, vamos nessa? Que tal irmos de carro? George, você dirige, OK?
— Gah, cof, cof, ugh…
Só depois que Grayson aliviou um pouco o aperto, George conseguiu finalmente respirar, dobrando-se para frente enquanto tossia descontroladamente.
— Nossa, tá tudo bem? — Grayson perguntou com a cara mais cínica do mundo, batendo de leve nas costas dele. — Caramba, será que você tem algum problema respiratório? Tenta respirar fundo. Isso, assim.
E então, num sussurro, murmurou bem baixinho:
— Você está caidinho por ele, não é?
George congelou. A tosse parou na mesma hora. Ele ficou completamente pálido, arregalando os olhos para Grayson como se tivesse acabado de ser exposto ao vivo em rede nacional.
Grayson, por sua vez, abriu um sorrisinho.
— Não é comum um beta gostar de outro cara. Interessante. Agora eu estou curioso… O que será que ele acha de você? Quer que eu pergunte? Eu posso ajudar…
— P-para! Para com isso!
George se apavorou, sua voz saiu num sussurro alto e desesperado. Ele olhou para trás, só para conferir se Dane ainda estava ali. E estava. Merda. Voltando-se rapidamente para Grayson, ele praticamente implorou:
— Tá, tá bom! Eu te convido! Vou pagar o almoço! Mas, por favor, só não fale sobre isso…
George agora parecia um fantasma de tão branco, completamente sem sangue no rosto.
Grayson, satisfeito, finalmente soltou um suspiro teatral.
— Ah, George. Espalhar a vida pessoal dos outros por aí é falta de educação.
Ele sorriu de canto e soltou o homem, que ainda estava tentando entender o que tinha acabado de acontecer.
Então, sem perder tempo, virou-se para Dane:
— Parece que ele está melhor agora. Vamos indo?”
Dane, que tinha assistido tudo com os braços cruzados e uma expressão suspeita, estreitou os olhos para Grayson e depois olhou para George.
— Ei, você.
— H-hã? O quê?!
George deu um pulo, completamente nervoso.
Dane o encarou por um momento e então perguntou:
— Tá tudo bem mesmo? Fala a verdade, não me faça ter que te dar primeiros socorros no meio do almoço. Para mim, não faz diferença se vamos hoje ou outro dia.
O tom de voz brusco de Deane dificultava saber se ele estava genuinamente preocupado ou apenas incomodado. George, sem saber o que fazer, balançou a cabeça, ainda hesitante, e murmurou um “Estou bem”. Dane olhou para ele com um olhar desconfiado, mas não insistiu por muito tempo.
Vendo que ele se movia em direção ao carro, George rapidamente o seguiu.
— E-ei, ei, espera…
Ele gaguejou ao chamar Dane, dando uma olhada rápida para trás e sussurrando:
— Ei, você, está… bem com isso? Com aquele cara também vim junto…?
Dane, com um olhar indiferente, respondeu sem emoção:
— Se você está pagando, é problema seu decidir quem convida. Não tenho nada a ver com isso.
— Ah, é… — George murmurou, derrotado.
Era verdade. Sem saber o que mais dizer, ele abaixou a cabeça, e Dane, olhando-o com um olhar afiado, fez uma pergunta direta:
— Se tem algo que você quer falar, fale logo. Não quer que o cara vá com a gente?
— Não, claro que não.
No exato momento, Grayson apareceu por trás de George, dando-lhe um tapão nas costas de maneira bastante exagerada, e o segurou firme. Sem que George pudesse sequer gritar, Grayson, tentando parecer afetuoso, falou de forma debochada:
— O George adora a minha companhia, não é? Ele com certeza quer que eu vá junto.
E com um sorriso de canto, ele sussurrou de forma ainda mais sugestiva:
— Afinal, nós compartilhamos segredos, não é?
George, assustado, deu um pequeno pulo e, hesitando, finalmente murmurou um “sim”. Dane, que observava toda a cena em silêncio, logo virou a cabeça com um olhar indiferente. Pelo visto, ele já tinha dado a oportunidade para George se expressar. Se ele não fez isso, o problema era dele.
Por fim, George, ainda sem coragem, sentou-se no banco do motorista. Dane se acomodou no banco do passageiro, e Grayson ficou no banco de trás. Eles seguiram para um restaurante que ficava a uma distância razoável.
***
O barulho do prato caindo no chão foi ensurdecedor, quebrando o silêncio da sala. Todos os olhares se voltaram para George, que ficou pálido, sem saber o que fazer.
— Mi, mil desculpas, desculpa…
Enquanto um funcionário se apressava para limpar a bagunça, George continuou a se desculpar sem parar. Grayson, vendo a cena, assobiou baixinho. George olhou para ele, com o rosto contorcido de vergonha, mas Grayson, com um sorriso tranquilizador, levantou o polegar, como quem dizia “relaxa, George, vai dar tudo certo”.
Durante todo o tempo, o homem estava visivelmente nervoso, sempre preocupado com o que Grayson poderia falar. Ele derrubou talheres, chamou o funcionário errado e até quebrou um prato cheio de comida. Mas, em cada erro, Grayson estava lá, assobiando, dizendo “uau”, até batendo palmas para cada falha de George, como se fosse a coisa mais empolgante do mundo.
Não poderia haver um almoço mais emocionante. Grayson estava se divertindo muito, esperando ansiosamente pelo próximo erro de George. “O que será que ele vai aprontar agora?”, ele pensava com o coração acelerado.
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Continua….