Deseje-me se puder - Capítulo 53
Grayson deu uma leve travada com o comentário dela. Quando finalmente olhou para Naomi, sua expressão era diferente de antes – uma mistura de surpresa e desconforto. E isso, por sua vez, surpreendeu Naomi.
— Espera… É sério? Você realmente encontrou?
— Não.
Antes que ela pudesse se empolgar, Grayson cortou o assunto sem rodeios.
— Aquele cara me odeia.
Naomi piscou, confusa. ‘O quê? Como assim? Esse é um detalhe importante agora? Eu perguntei se ele era seu destinado, não se ele gostava de você ou não!’
— Oh sério? Ele não gosta de você?
Escondendo a animação de quem acabou de pescar um escândalo delicioso, Naomi manteve a cara de paisagem. Era a hora de dar um show de atuação digno de Oscar.
‘Então é isso? Seu foco agora é se ele gosta ou não de você, e não o fato de que ele pode ser seu par destinado? Sério?’
Como se respondendo às perguntas que brotou em seu coração, Grayson respondeu:
‘Sim.’
— Pois é. E olha que eu nem fiz nada pra merecer isso.
Ele deu de ombros, claramente achando aquilo uma injustiça. Naomi fez questão de colocar um tom solidário na voz quando respondeu:
— Nossa, que estranho. Você sempre tenta ajudar as pessoas, não é?
— Exatamente.
Grayson sorriu com pura arrogância, como se fosse o ser humano mais altruísta do planeta. Naomi, claro, sabia muito bem que a definição dele de “ajudar” era… peculiar. Grayson nunca levava em conta a perspectiva alheia. Para ele, o que importava era que ele estava convencido de que estava fazendo algo bom. O problema era sempre esse e, com certeza, a história agora não era diferente.
— Pobrezinho do Grayson… Ninguém entende seu coração enorme.
Fazendo uma expressão de pena exagerada, Naomi passou a mão pelo braço dele. Mas, claro, tudo isso era só a introdução para o que ela realmente queria dizer a seguir.
— Se quiser desabafar, pode falar comigo. Talvez eu possa ajudar. Afinal, todos os seus amigos são Alfas dominantes, então eles não devem entender muito bem como funcionam as emoções das pessoas comuns…
Assim como você.
Naomi engoliu a última parte e jogou a isca com um sorriso amigável. Mas, claro, Grayson não mordeu.
— Agradeço, mas passo. E, antes que você continue, aquele cara não é meu par destinado. Eu só estava observando porque fiquei curioso sobre uma coisa.
Era melhor não dizer mais nada. Naomi estreitou os olhos e sorriu de leve.
— Entendi…
‘Curioso com um assunto que não tem nada a ver com você? Ah, por favor. Como se você se importasse com qualquer coisa que não envolvesse o seu destinado. Isso só torna tudo ainda mais suspeito.’
— Desculpe, eu entendi errado.
Ela recuou sem brigar, mudando de estratégia.
— Então você só está curioso para saber o que aqueles dois estavam conversando, é isso? Tudo bem. Vou te dar uma ajudinha.
Ela deu uma ênfase proposital na palavra, mas se Grayson pegou a indireta ou não, já era outra história. Naomi se levantou, o encarou de cima com um sorrisinho convencido e declarou:
— Espere um pouco, vou te mostrar minhas habilidades.
Com um brilho malicioso no olhar, virou-se e saiu da cafeteria com seu andar leve e confiante.
***
Ao pisar do lado de fora, Naomi percebeu que o ruivo já tinha ido embora. Sem hesitar, ela foi até o outro cara que ficou para trás. O som dos saltos chamou a atenção dele, e quando se virou, seu rosto ficou completamente surpreso.
Naomi manteve seu sorriso profissional.
— Olá!
Os olhos do homem se arregalaram tanto que pareciam que iam saltar do rosto. Naomi já estava acostumada com isso, então continuou naturalmente:
— Prazer, sou Naomi Parker.
— A-ah! Eu, eu sei! P-parker, senhorita!
Ele gaguejou tanto que não conseguiu formar uma frase coerente. Naomi, se divertindo com a cena, resolveu provocá-lo um pouco mais.
— Não precisa me chamar de “senhorita Parker”, só “Naomi” está ótimo.
— N-naomi…
Ele repetiu, ainda vermelho, antes de abaixar a cabeça, parecendo prestes a derreter de vergonha. A timidez dele era até bonitinha. Pelo menos seu orgulho, que Grayson tinha esmagado mais cedo, estava se recuperando um pouco.
— Posso perguntar uma coisa? Qual é o seu nome?
— Ah, s-sim! Claro! Eu sou, eu sou… G-George! George Wright!
Ele praticamente gritou, tenso demais.
Naomi repetiu o nome uma vez, memorizando, e então lançou um olhar rápido para a direção em que o ruivo tinha desaparecido antes de perguntar casualmente:
— Então… aquele cara com quem você estava conversando agora há pouco. Poderia me dizer quem é aquele homem?
***
Naomi voltou para a cafeteria uns dez minutos depois, tão confiante quanto quando saiu. De queixo erguido, puxou a cadeira e sentou-se de frente para Grayson, que fingia estar mais interessado no café do que nela.
Ela esperou um pouco, olhando distraidamente para as unhas antes de finalmente soltar a informação:
— O nome dele é George.
— É mesmo? Poxa, eu jurava que era Chupa Chups.
Naomi soltou um riso involuntário antes de disfarçar, levando a xícara de café à boca. Mas não podia negar – Grayson tinha um talento irritante para apelidos ofensivos. O cara era magrelo, baixinho, com ombros estreitos… realmente lembrava um pirulito com aquele cabeção. Mas, mesmo que a comparação fosse perfeita, ainda era pura maldade. Sentindo-se levemente culpada por ter rido, ela pousou o copo na mesa e mudou de assunto.
— Você já atendeu um chamado de incêndio por aqui? Acho que vi no YouTube. Parece que o cara salvou o cachorro daquele homem, um tal de Charles.
Grayson franziu a testa.
— Charles?
Era um nome comum, mas algo nele o incomodava. Ele revirou a memória, nada feliz.
— Ah, sim. Ele fez um escândalo, chorando e implorando para salvar o cachorro. Então era aquele homem.
— Nossa.
Naomi piscou os olhos, fingindo surpresa, e então lançou a cartada final.
— Aquele ruivo bonitão foi quem resgatou o cachorro, certo? O tal George foi agradecer e insistiu tanto que conseguiram permissão do chefe para saírem para almoçar juntos. Ele parecia bem animado.
Ela acrescentou a última frase de propósito e viu, satisfeita, a expressão de Grayson se contorcer. Ah, isso era divertido. Naomi teve que se segurar para não cair na gargalhada, e então jogou mais lenha na fogueira, fingindo despreocupação:
— É só um almoço, não é grande coisa. Que diferença faz? Até porque, o ruivo nem é o seu destinado, certo?
Ela cutucou de propósito, e Grayson percebeu a provocação. Respirou fundo, relaxou a expressão e recuperou o sorriso despreocupado de sempre.
— Ah, meu Deus, nada de pior pode acontecer. O mundo vai acabar, eu fui abandonado. Ai, isso é tão urgh…
Ele colocou uma mão no peito e fingiu um gemido sofrido, antes de soltar uma gargalhada exagerada, como se achasse a própria piada genial.
Naomi o observou, percebendo claramente o teatro. Ele estava, mais uma vez, transformando a situação em uma piada para não ter que lidar com o incômodo de verdade. Típico. E, claro, não queria que ela percebesse isso.
De fato, se ele não percebeu nada mesmo depois de provocá-lo tanto assim, é porque o nível de inteligência dele é realmente questionável.
Mas, por hora, Naomi decidiu não cutucar mais. Era melhor recuar um pouco… pelo menos por enquanto. Isso não significava que ela iria desistir ou sumir de cena. Longe disso.
— Bom, acho que já vou indo. Foi bom te ver depois de tanto tempo.
Ela se levantou e sorriu ao se despedir. Grayson, como sempre, apenas retribuiu com um sorrisinho indiferente. Mas, antes de sair, Naomi se inclinou levemente e sussurrou bem perto dele:
— Quando você finalmente aceitar o óbvio, me avisa primeiro, está bem? Quero ser a primeira a te dar os parabéns.
Com um sorriso enigmático, ela se virou e saiu. Seus passos eram os mesmos de sempre – leves e calculados – mas seu rosto já não trazia mais vestígios de diversão. Em vez disso, uma frieza cortante tomou conta de sua expressão.
<É preciso distinguir entre alguém com quem você faz sexo e alguém com quem você pode se casar.>
A lembrança da frase fez sua raiva subir de novo. Era um pensamento que insistia em ressurgir, e agora não foi diferente. Naomi respirou fundo, segurando a vontade de xingar em voz alta enquanto abria a porta do carro.
Antes de dar a partida, fechou os olhos por um instante e inspirou devagar.
‘Talvez ele esteja errado de novo.’
Quantas vezes já tinha visto ele jurar ter encontrado “a pessoa” para, pouco depois, dar meia-volta sem a menor cerimônia?
Mas dessa vez… Desta vez parecia diferente. E Naomi confiava na própria intuição. Se Grayson realmente tivesse escolhido aquele ruivo, dessa vez as coisas não seriam fáceis.
Ela riu baixinho, ligou o carro e saiu dali, ansiosa para ver o desenrolar dessa história.
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Continua….