Deseje-me se puder - Capítulo 50
Já era tarde demais para perguntar isso, mas Dane não conseguiu se segurar. Joshua, por outro lado, não hesitou em responder.
[É claro. Você acha que eu ia te ligar a essa hora só para contar uma piada sem graça?]
Dane bufou. Infelizmente, fazia sentido, mesmo assim, sua expressão se contorceu em puro desagrado.
— Você é um desgraçado maluco, sabia?
Do outro lado da linha, Joshua soltou uma gargalhada. Um riso claro e envolvente, do tipo que provavelmente faria qualquer um baixar a guarda. Mas, infelizmente para ele, Dane era imune a esse tipo de truque. Continuava de cara feia enquanto Joshua, ainda rindo, respondeu:
[Eu gostaria de dizer que estou são, mas… bem, talvez você esteja certo.]
Dane não retrucou. Ele sabia que se meter nisso era uma péssima ideia. Mas ao mesmo tempo… a oferta era boa. Muito boa. Se livrar de um pé no saco como Grayson Miller era uma tentação por si só. E Joshua era eficiente, discreto, sabia cobrir os rastros. Não era do tipo que fazia merda sem pensar. Ele já tinha garantido que Dane não se envolveria diretamente, prometeu um pagamento generoso e, acima de tudo, deixou claro que não haveria risco. Em resumo: era um esquema sem desvantagens.
O problema era o alvo.
Grayson Miller.
Dane mal conhecia o cara, mas não precisava de muito pra entender que se meter com ele era cilada. Grayson parecia do tipo que, se pegasse rancor, caçaria a outra pessoa até o fim da vida para se vingar. Dane não fazia ideia do motivo pelo qual Chase queria ferrar o próprio irmão, mas uma coisa era certa: Grayson não ia aceitar isso quieto. Dane já tinha dor de cabeça suficiente por causa dele, e agora ia se meter ainda mais nessa confusão?
Sem chance.
— Não conte comigo. Não vou fazer isso.
[O quê?]
Joshua pareceu genuinamente surpreso, mas Dane não hesitou.
— Não gostei da ideia. Mas não se preocupe, vou fingir que essa conversa nunca aconteceu.
Joshua salvou a vida de Dane uma vez, mas essa dívida já tinha sido paga fazia tempo. E ainda bem. Se ainda estivesse devendo, não teria como recusar agora.
Provavelmente, Joshua estava se arrependendo amargamente de ter desperdiçado aquele único favor tão boba.
[Dane, pense mais um pouco.]
— Já disse que não. Eu estou fora.
Como esperado, Joshua insistiu, mas Dane não deu espaço.
— Deixe os Miller resolverem os problemas da família Miller. Eu não quero me envolver.
O silêncio do outro lado indicava que Joshua estava pensando no que dizer. Fazia sentido. Devia ter quebrado a cabeça para escolher a pessoa certa para ajudar nisso, e agora estava ouvindo um “não” logo de cara.
Mas isso não era problema de Dane.
Felizmente, Joshua não demorou muito para desistir. Depois de um suspiro curto, falou com resignação:
[Tudo bem. Se cuida, Dane.]
— Você também.
Sem mais conversa, Dane desligou. Doía perder a chance de fazer um check-up completo para Darling, mas paciência. Era melhor assim. Se se envolvesse nesse tipo de merda, só ia arranjar dor de cabeça.
<Maltratava? Eu? Você acha que eu fui maltratado?>
A memória veio sem aviso. O rosto de Grayson Miller, com aquela expressão genuinamente confusa, como se não fizesse ideia do que estavam falando.
Dane ficou parado por um momento, imóvel.
Então soltou um suspiro, balançou a cabeça e seguiu andando como se nada tivesse acontecido.
Já passava da uma da manhã. Hora de dormir.
Guardou a cerveja de volta na geladeira e foi para o quarto. Darling o seguiu, roçando nas suas pernas.
‘Um ano passa rápido. Vai ficar tudo bem.’
Com esse pensamento, deitou-se na cama com a gata nos braços, ela ronronou, se aconchegando. O calor da gata peluda era confortável.
Dane pegou no sono pouco depois.
* * *
Sim, não era algo estritamente necessário.
Grayson dirigia de volta para casa, refletindo. Não fazia tanto tempo assim. Não o bastante para que os feromônios se acumulassem. Poderia ter passado sem isso por mais alguns meses.
Foi aí que percebeu: fazer sexo sem o menor interesse era praticamente uma forma de tortura. Nunca tinha entendido quando Keith dizia que estava de saco cheio de transar, mas agora fazia sentido. Ele lembrava bem: Keith falava que só fazia porque precisava, senão enlouqueceria ou teria danos cerebrais. No fim, aquele cara que reclamava tanto acabou casado e com dois filhos.
O mais engraçado? Antes do casamento, Keith era um completo libertino. Mas, depois, virou o exemplo perfeito de confiança e lealdade. No começo, todo mundo achou que ele ia surtar e voltar a aprontar, mas um ano passou, depois dois, e nada mudou. Agora, a conversa tinha virado outra: que diabos esse parceiro dele tem para deixar o cara assim, completamente apaixonado, depois de tantos anos?
Grayson, por outro lado, via de outra forma. Keith sempre caçoou dele por acreditar em destino, mas não dava para negar: aquele casamento provou que uma alma gêmea existia. Sim, Keith tinha encontrado aquela pessoa, a única que realmente importava. E agora, se perguntassem, provavelmente admitiria que todos aqueles anos de farra foram só um desvio até encontrar Yeonwoo. Ele que zombava tanto de Grayson… olha só agora.
‘Bom, pelo menos agora ele não precisa mais comparecer nas festas de feromônio. Deve estar bem tranquilo.’
Grayson acelerou o carro, sentindo uma irritação inexplicável. Fazia tempo que não lembrava por que tinha se tornado bombeiro em primeiro lugar.
<Seu impotente, foda-se!>
A voz de Frankie explodiu na cabeça dele. Ele franziu a testa e olhou para a própria virilha. Sem ereção.
Não. Sem chance. Isso era absurdo. Algumas semanas atrás, estava funcionando perfeitamente bem com outras mulheres.
— Merda.
Ele xingou e bateu no volante. Devia ser só um período de marasmo. Nada demais.
Assim que encontrasse a pessoa, tudo voltaria ao normal. Não teria mais motivo para esse tipo de transa vazia.
‘Sim, só preciso encontrar.’
Mas, no fundo, uma possibilidade incômoda cutucava sua mente. E se seu apetite sexual não voltasse ao normal?
***
‘…Que merda.’
Grayson olhou distraidamente para as costas do homem que subia na escada para instalar uma casinha de pássaros.
— Ei, Dane! Espera, acho que tem que ir mais para direita!
Ezra, que estava a poucos passos de distância, gritou. Dane estalou a língua, irritado, mas moveu a casinha para o lado.
— E agora?
— Mais! Mais um pouco!
Resmungando, Dane fez o que mandaram.
— Aí, perfeito!
Outro cara se aproximou, coçando o queixo.
— Não foi demais, não?
— Cala a boca. Se reclamar, o Dane pode jogar essa casinha na sua cabeça.
Ouvindo o murmúrio baixo, Grayson continuou observando Dane. O homem bonito de cabelos vermelhos estava vestindo uma camiseta de bombeiro e calças do uniforme, fixando a casinha de pássaros na árvore.
A cada movimento dos braços, a camisa esticava por causa das alças do suspensório, deixando os músculos das costas do homem à mostra. Toda vez que isso acontecia, Grayson se pegava prendendo a respiração sem perceber.
Apesar dos ombros largos, a cintura estreita era coberta por aquelas malditas calças largas do uniforme, que exigiam suspensórios para não cair. Grayson sabia que as calças, embora folgadas e sem forma, não deixavam de chamar sua atenção para a bunda de Dane.
— Eu não acredito nisso…
Resmungou, incrédulo. Ele estava mesmo ali, parado, olhando a bunda de um cara?
— Oi… Miller?
Ezra, que também observava Dane, virou o rosto e, de repente, arregalou os olhos. Seu olhar ficou fixo em um ponto específico: a perna de Grayson.
Grayson já sabia. Não precisava olhar. Ele sentia.
Porra. Ele estava de pau duro?
— Cara, eu… eu não tô vendo coisa, né?
Ezra continuou gaguejando, tentando juntar as palavras, mas Grayson só queria que ele calasse a boca. Queria berrar para ele ficar quieto. Mas estava tão chocado consigo mesmo que nem conseguiu xingar.
Ele passou a noite inteira com um ômega praticamente nu, coberto de feromônio, e não teve reação nenhuma. Mas agora, vendo um cara de uniforme frouxo mexendo numa árvore, seu maldito… Virginia resolveu despertar?
Sim, ele chamava o próprio pau de Virginia. Nem sabia mais por quê. Um troço que já tinha sido tão usado não devia ter a audácia de bancar o exigente agora.
Se alguém descobrisse, iam chamá-lo de lunático.
E quer saber? Ele não se importava.
Porque agora Virginia estava ali, inchado e pulsante parecendo completamente desesperado.
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Continua…
joicevidal
Sem palavras 🤣