Deseje-me se puder - Capítulo 49
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Dane chegou em casa e foi direto para a mesma rotina de sempre. Trocou a areia da gata, encheu a tigela de água e deu um petisco. Darling, como de costume, tentava se lamber de um jeito meio desajeitado enquanto Dane seguiu para o banheiro.
Depois do banho, ele relaxou com a gata e tomou uma cerveja. Quando acabou a primeira lata, ele se levantou do sofá para pegar outra. Pegou Darling com uma mão e foi até a geladeira. Estava prestes a abrir a cerveja quando o celular começou a tocar do nada.
Ele parou no meio do movimento, hesitando. Já era quase meia-noite, uma ligação a essa hora nunca era um bom sinal.
O toque insistiu até ele finalmente pegar o celular na mesa e checar o número. Dane franziu a testa.
‘Que diabos esse cara quer a essa hora?’
—Que foi? Sabe que horas são?
Ele atendeu a chamada, enquanto colocava a gata no chão. Do outro lado, veio uma voz familiar, animada demais para o horário.
[E aí, Dane. Tudo bem? Você está trabalhando?]
Era Joshua Bailey. Os dois serviram juntos por um tempo, e Joshua chegou até a salvar a vida dele uma vez. Fora isso, se davam relativamente bem, saíram algumas vezes, mas não eram próximos o suficiente para Dane relevar qualquer coisa. Ainda mais porque Joshua era casado e já tinha três filhos.
Dane nunca tinha cogitado casamento, muito menos filhos. Na verdade, ainda achava surreal que Joshua – o Joshua Bailey, que era um verdadeiro mulherengo no passado – tivesse largado a farra e se tornado um homem de família.
Ele tinha três filhos. Três.
E, incrivelmente, nunca traiu o marido nem uma vez.
— Já saí do trabalho. O que você quer?
Dane foi direto ao ponto, como sempre. Joshua deu uma risadinha antes de responder.
[Tá ocupado esses dias? Sua voz parece cansada.]
Pois é, normal. Difícil não ficar assim quando um desgraçado específico insiste em aparecer na sua vida.
Dane pensou em Grayson e sentiu uma dor chata na nuca só de estresse.
— Sempre a mesma coisa. O que foi agora?
Enquanto massageava o pescoço, perguntou de novo, já sem paciência. Joshua fez uma pausa dramática antes de continuar.
[Tem alguém aí com você?]
— Estou sozinho. Fala logo.
A voz de Dane já carregava irritação. A última coisa que precisava era desse papo enrolado quando já tinha coisa demais na cabeça. Só depois de confirmar que ele estava sozinho, Joshua finalmente foi direto ao ponto.
[Que tal fazer um bico?Eu pago bem.]
— Eu passo.
Antes que Dane pudesse encerrar a ligação, Joshua disparou:
[Pago o que você quiser. Que tal… um check-up completo para Darling? Você comentou que os rins dela não estavam muito bons, não é?]
Dane congelou.
Joshua percebeu o impacto e aproveitou a deixa.
[Num hospital veterinário de primeira linha, tudo incluso. Ah, e se ela precisar de algum tratamento, eu cubro. Até suplemento e o que mais for necessário.]
Darling, dava bastante trabalho. Além de ter problemas nos olhos e ouvidos, ela já estava velha e precisava ir ao veterinário sempre que possível. O salário de bombeiro não era ruim – aliás, dinheiro e seguro foram exatamente o motivo de Dane ter escolhido essa profissão –, então ele nunca ficou apertado.
O que pegou mesmo foi a parte do check-up premium. A clínica que Joshua mencionou era caríssima e, pior, quase impossível de conseguir um horário. A lista de espera era de um ano, no mínimo. Mas, se você fosse famoso, a história mudava.
E Joshua obviamente sabia que tinha um jeito de botar Dane nessa lista sem esperar.
Isso era por causa de Chase Miller, parceiro dele.
A proposta era boa demais para ser verdade, e Dane quase cedeu de cara, mas a desconfiança veio logo em seguida. Nada vinha de graça. Quanto melhor a oferta, maior o preço.
Mesmo assim, Dane hesitou. A tentação do hospital veterinário era forte o suficiente para fazê-lo pensar em quebrar sua própria regra de nunca se meter nos problemas dos outros.
Joshua ficou quieto, esperando pacientemente. O silêncio entre os dois se arrastou até que, por fim, Dane suspirou e falou, com um tom já um pouco derrotado:
—Tudo bem. O que você quer?
Joshua sorriu de leve e soltou a bomba.
[Nada demais. Só tem um cara em quem eu quero dar um susto.]
— E como exatamente?
Como esperado, Dane não perguntou “por quê?”. Ele nunca se importava com essas coisas. Se não fosse pelo bem-estar da gata, nem teria escutado até aqui. Sem esse incentivo, teria mandado Joshua se ferrar logo de cara.
Joshua sabia disso.
[Isso eu resolvo. Você só precisa me ajudar a sequestrá-lo.]
— Sequestrar.
Dane repetiu a palavra, testando o peso dela na boca.
[Isso mesmo.] – Joshua confirmou sem pressa. – [O cara não é qualquer um. Sozinho, acho que não dou conta. Mas se for com a sua ajuda. Sei que não vai abrir o bico pra ninguém.]
Qualquer um teria ficado chocado ao ouvir um pedido desses num tom tão casual, como se estivessem combinando um passeio. Mas tudo que Dane fez foi soltar um som indefinido, como se estivesse considerando a ideia.
Joshua sorriu. Era exatamente esse tipo de cara que ele precisava para o serviço.
[Se der alguma merda, eu garanto que você não vai se ferrar. E não precisa se preocupar com a sua gata também. Vou arrumar um advogado tão caro que você sai no mesmo dia, sem nenhuma acusação.]
Se fosse qualquer outra pessoa falando isso, Dane teria mandado tomar no cu sem pensar duas vezes. Mas Joshua não era de falar besteira. E, mais importante que isso, ele tinha um marido que podia bancar esse tipo de promessa: um ator milionário, queridinho de Hollywood e, ainda por cima, pai de família.
—Tudo bem. Quem é o alvo?
Dane perguntou com o tom de quem já estava se arrependendo. Num país onde dinheiro pode trazer de volta até quem já deveria estar morto, ajudar num sequestro provavelmente nem contava como crime.
Joshua sorriu, como se já esperasse essa pergunta.
[O irmão do Chase.]
Dane franziu a testa. Quem?
Chase era o tal parceiro do Joshua. Um ator ridiculamente famoso. Então, se ele tinha um irmão… Espera, quantos irmãos Chase Miller tinha mesmo? Dane tentou puxar pela memória quando Joshua resolveu esclarecer.
[Grayson Miller.]
Dane travou no lugar. Levou um segundo para processar.
— …Grayson Miller?
[Isso mesmo.]
Ouviu de novo o mesmo nome. Não podia ser. “Miller” era um sobrenome bem comum. Tinha que ser coincidência, né?
Mas aí veio a lembrança. Chase era um Alfa dominante. Se ele tinha um irmão chamado Grayson Miller… então era aquele Grayson Miller. E só existia um no mundo.
Dane soltou um gemido frustrado, sentindo um puta peso no peito. Joshua, que aparentemente não percebeu o surto interno dele, seguiu falando:
[Você não vai se prejudicar com isso, eu prometo. Vai ser rápido. Eu mesmo resolvo a parte de trazer ele de volta, então você não precisa se preocupar com—]
Dane já não estava ouvindo direito. A voz de Joshua parecia um ruído ao fundo.
[Dane? Você está ouvindo?]
— …Sim. Quer dizer, não.
Dane passou a mão no rosto, exasperado, e por fim soltou:
—Você está falando sério?
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Continua…