Deseje-me se puder - Capítulo 46
— Ei…
Assim que desceu do caminhão, Grayson começou a procurar Dane, mas o cara já estava longe. Ele gritou para chamar a atenção dele, pronto para agarrá-lo e exigir uma explicação sobre aquela maldita expressão de antes. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Ezra o notou.
‘Que merda ele está fazendo?’
Seguindo o olhar de Grayson, Ezra entrou em pânico. De repente, uma enxurrada de pensamentos passou pela sua cabeça.
‘Grayson com certeza está tramando algo contra o Dane. Eles tinham se esforçado tanto para manter os dois afastados, então por que agora? Será que ele descobriu que foi Dane quem o nocauteou naquele incêndio? Não, impossível! Ele não deu nenhum sinal de que sabia disso… Então qual era o problema dele? Não importa. O mais importante agora é impedir esse desgraçado.’
Tomando uma decisão em fração de segundos, Ezra correu para frente de Grayson e gritou:
— Miller, Miller! Espera aí!
Ezra se enfiou no caminho de Grayson antes que ele pudesse seguir Dane. Grayson parou, franzindo a testa, claramente irritado com a interrupção. Ezra forçou um sorriso.
— Então… me dá uma mãozinha aqui? Tem uma coisa urgente que preciso resolver.
— Por que eu?— Grayson revirou os olhos e apontou ao redor. —Tem um monte de gente de bobeira aqui. Pede para outro, cara.
— Ah, não, não! Tem que ser você!
Ezra agarrou o braço dele antes que ele pudesse escapar. Como um parasita grudado em uma árvore, ele começou a despejar qualquer desculpa que veio à mente.
— O-o negócio é… Você é o mais alto aqui, certo? Você sabe o quanto sofremos hoje por sua causa? Não que eu esteja dizendo que foi totalmente sua culpa… Afinal, conseguimos salvar a criança, mas, enfim, você também tem responsabilidade nisso, hein? Vai dizer que não? Pô, não seja babaca, cara. O mundo é feito de pessoas que se ajudam! Precisamos uns dos outros para viver! Você não pode simplesmente…
Grayson olhou para Ezra como se ele fosse um caso perdido. Um cara adulto, grudento e tagarelando feito um maluco. Que cena patética.
— Me solta, eu te ajudo depois, está bem?!”
—Nããããããão!
— Filho da—
Grayson quase soltou um palavrão, mas já não fazia sentido. Dane já tinha sumido da vista.
— …Porra.
Sem acreditar no que tinha acabado de acontecer, ele soltou um suspiro exasperado e ficou parado ali, irritado. Ezra, por outro lado, relaxou visivelmente ao ver que Dane estava a salvo.
Passando a mão pelos cabelos, Grayson lançou um olhar nada amistoso para Ezra que, percebendo o perigo, deu um passo para trás. Cerrando os dentes, Grayson rosnou:
— Okay. Que porra de favor é esse?
Seus olhos roxos brilharam de frustração. Ezra sentiu um arrepio na espinha – um passo em falso e viraria pó. Mesmo assim, com o suor escorrendo pela testa, ele esboçou um sorriso cheio de nervosismo.
— Ah… então… qual era mesmo o favor…?
Olhou em volta, mas claro que não havia nada para usar como desculpa. Seus colegas estavam só olhando, sem a menor intenção de ajudar. Sem escolha, ele voltou-se para Grayson, que ainda o encarava com a mesma cara de poucos amigos.
Ezra soltou uma risada nervosa.
— Ah, esqueci! Hahaha!
— Filho da puta.
Assim que Grayson fechou a mão em punho, Ezra disparou feito um raio. Grayson ficou ali, atônito, então soltou um palavrão e deu um chute no pneu do caminhão.
***
— Cara, você podia pegar leve, hmm?
O paramédico entregou um creme para as contusões no peito de Dane enquanto o repreendia de leve. Os hematomas do desentendimento com o pai de Santiago começaram a incomodar assim que voltaram para o quartel. Felizmente, parecia que nada tinha quebrado, mas as marcas arroxeadas estavam feias o suficiente para garantir alguns dias de dor de cabeça.
Recebendo o creme e a promessa de que ajudaria a aliviar o inchaço, Dane saiu da enfermaria. O resto dos bombeiros que estavam de serviço com ele já tinham sumido.
‘Óbvio que já foram embora.’
Dane também queria ir direto para casa e desmaiar na cama, mas estava coberto de sujeira. Se não, ia acabar passando toda aquela sujeira para Darling, que sempre esfrega o corpo nele assim que ele chega em casa.
Dane enfiou a pomada no bolso e foi direto para o chuveiro.
***
Grayson estava sentado em um dos bancos do vestiário, olhando para um canto com uma cara de puro tédio e irritação. O resto do pessoal já tinha tomado banho e ido embora. Só sobraram ele e mais um.
Dane Stryker.
Por sorte, Grayson descobriu que Dane tinha ido se tratar com os paramédicos. Mas o cara ainda não tinha voltado. Isso não era problema – ele podia esperar o tempo que fosse nescessário. Se tinha uma coisa que ele tinha de sobra, era tempo.
Ele ia arrancar uma resposta. Que merda foi aquela expressão?
Estava decidido a esperar, mas então…
Grayson captou um barulho de água corrente e virou a cabeça na hora. Prendeu a respiração, focando na audição.
Alguém estava no chuveiro.
A pausa durou um ou dois segundos no máximo, logo ele entendeu a situação.
Aquele desgraçado do Dane foi direto para o banho. Era óbvio o que vinha depois. Grayson se levantou e marchou até lá, a passos largos. Enquanto andava, sua mente fervilhava com todas as perguntas que vinham se acumulando. Dez passos, cinco, um.
Ele abriu a porta do vestiário de uma vez, e o barulho da água batendo no chão encheu seus ouvidos. O vapor quente tomava conta do ambiente, mas só um dos boxes estava ocupado – o mais distante da entrada.
Grayson cruzou os braços e ficou encarando aquele box. A porta era só uma daquelas dobradiças meia-boca, cobrindo só do peito até a coxa. Atrás dela, Dane Stryker estava lá, se lavando, alheio ao olhar fixo sobre ele.
Grayson esperou. Com paciência.
Dane demorou uma eternidade no chuveiro. Tanto que Grayson começou a suspeitar que ele estava fazendo de propósito, porque sabia que ele estava esperando.
O cara ensaboou as mãos, fez espuma e ficou ali esfregando a cabeça por um tempão. Quando terminou o cabelo, começou a ensaboar o resto do corpo, sem pressa nenhuma. Grayson, já irritado, checou o relógio várias vezes. Ele estava por um triz de abrir aquela porta vagabunda e puxar Dane pelo colarinho – se o filho da mãe estivesse de camisa.
Como não tinha colarinho, talvez o pescoço servisse.
Grayson estava realmente considerando isso quando, como se sentisse o perigo, Dane finalmente desligou o chuveiro.
Na mesma hora, Grayson se afastou da parede onde estava encostado e se endireitou, esperando.
Dane saiu do box segurando a parte de cima da porta, abrindo-a como se estivesse em casa, relaxado. Primeiro, apareceram suas pernas compridas. Depois, as coxas fortes e torneadas. Então, o corpo inteiro.
Sem toalha.
Ele achou que estava sozinho então não teve nenhuma preocupação em se cobrir. E Grayson, que tinha toda uma fala pronta na cabeça, viu tudo.
— Ei, o que foi aquela expressão mais cedo…?”
Finalmente, o momento que ele estava esperando tinha chegado. Grayson abriu a boca para soltar todas as palavras que tinha guardado na cabeça. E então, ele travou.
°
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Continua…