Deseje-me se puder - Capítulo 43
Quando ouviu que a criança que foi levada às pressas para o hospital e estava bem, Dane finalmente soltou um suspiro profundo de alívio. Todo mundo estava feliz, compartilhando algumas palavras animadas, quando Wilkins de repente gritou:
— Ei, espera aí, e o Miller!
Na mesma hora, todo mundo lembrou do que tinha esquecido. O motivo pelo qual estavam ali para começo de conversa.
— Estávamos procurando o Miller, lembra? Alguém conseguiu alguma pista? Alguma denúncia, qualquer coisa?
O sol já estava se pondo. Diante da pergunta desesperada de Wilkins, ninguém respondeu. Óbvio. Ninguém sabia onde Grayson estava, exceto por uma pessoa.
Esse filho da mãe não cansa de dar trabalho.
Engolindo um palavrão, Dane saiu correndo de volta para aquela casa.
***
O som das gotas grossas de chuva batendo no chão era quase ensurdecedor. Grayson estava sentado no chão frio do porão, cantarolando uma melodia desafinada sem muito propósito. Um velho hábito da infância.
Passar o tempo assim era algo normal para ele. Ele ficava imaginando coisas, cantando ou até dormindo, até que a porta trancada finalmente se abria e chegava a hora de ser libertado. Dessa vez não seria diferente.
Encostado na parede, ainda cantarolando, ele ouviu o barulho da chave girando na fechadura, misturado com o som da chuva. Alguém tinha entrado na casa.
‘Será que é o pai do Santiago?’
Grayson nem se mexeu. A porta ia abrir a qualquer momento. Ele não estava errado. E, como esperado, não demorou muito. Os passos iam e vinham entre a cozinha e a entrada, às vezes mais perto, às vezes mais longe.
‘Quando essa porta vai abrir?’
Para quem espera, o tempo sempre parece se arrastar. Grayson sabia disso melhor do que ninguém. Quando ficava sozinho no porão, quando todos os seus irmãos já tinham encontrado seus parceiros destinados e ele era o único deixado para trás, ele sempre pensava assim.… Ele já tinha entendido a verdade: a espera faz o tempo parecer mais longo do que realmente é.
‘Na realidade, o tempo nem passa tão devagar assim.’
‘Então, eu posso esperar o quanto for necessário.’
‘Olha ai.’
O som dos passos voltou a se aproximar. Assim que a chave girou na fechadura, Grayson sorriu de canto, já prevendo o que ia acontecer.
‘Esse cara já foi e voltou umas cem vezes.’
O som metálico da fechadura enferrujada ressoou pelo local, e finalmente a porta do porão que levava à sala foi aberta.
— Que porra é essa?
O homem, esperando ver o rosto do próprio filho, franziu a testa em confusão. Seus olhos percorreram o porão escuro, tentando processar o que estava vendo – ou melhor, o que não estava vendo. Quando percebeu que o filho não estava lá, seu olhar voltou, assustado, para o estranho na sua frente.
— V-você… Quem diabos é você? Cadê o meu filho?!
A voz saiu trêmula e aguda, denunciando o nervosismo. Grayson se levantou devagar, sua altura quase tocando o teto. O homem engoliu em seco e deu um passo involuntário para trás.
— P-p-p-para aí! Não se mexa!
— Meu nome é Grayson Miller.
Grayson se apresentou educadamente, sorrindo. Ele sabia exatamente como sorrir ao cumprimentar alguém – tinha aprendido isso a vida inteira. Era o tipo de sorriso que fazia as pessoas baixarem a guarda, que fazia ele parecer simpático e confiável.
Mas não dessa vez. O homem ficou ainda mais pálido e recuou bruscamente, como se tivesse acabado de ver um fantasma.
— Eu mandei parar! Não chegue mais perto!
O cara tava quase surtando, mas Grayson continuou falando como se nada tivesse acontecendo.
— Santiago… Ele precisava ser punido, mas alguém acabou interrompendo…,
Pelo jeito, o homem estava agitado porque o filho havia escapado sem receber o castigo merecido. Nada que uma conversa calma não resolvesse. E, sinceramente, se ele precisasse partir para força bruta, não seria um problema. O homem era menor que ele, nem chegava ao seu peito e Grayson estava confiante de que poderia dominá-lo fisicamente se necessário.
Bom… Pelo menos era isso que ele pensou antes do cara surtar de vez.
—PARE, NÃO SE APROXIME! SE VOCÊ DER MAIS UM PASSO, EU ATIRO!
O homem gritou com voz furiosa, pegando uma pistola que estava atrás dele e apontando para Grayson. O sorriso dele sumiu.
Olhos vermelhos de raiva, a arma tremendo nas mãos do homem. ‘Droga.’ O cara tava falando sério.
‘Bom… eu não esperava por isso.’
Grayson levantou os braços lentamente, em sinal de rendição. Uma tensão pesada pairou no ar entre os dois.
* * *
Na frente da casa, havia um caminhão velho que não estava lá antes. Parecia que o pai de Santiago havia voltado. Em poucos segundos, vários pensamentos passaram pela mente de Dane. Miller já teria ido embora? Era melhor dar meia-volta? Mas e se aquele idiota ainda estivesse lá dentro?
‘Desgraçado inútil, sempre causando problemas. Se eu pegar ele, juro que vou socá-lo até ele desmaiar’
A porta da frente estava destrancada. Ele entrou silenciosamente, sentindo um arrepio subir pela espinha. Nenhum som. Mas o ambiente estava carregado, denso, como se algo estivesse prestes a explodir.
—Achei que as pessoas geralmente deixavam as armas em casa, mas você carrega a sua por aí. Você é um homem perigoso, hein?
A voz inesperada fez Dane parar no meio do caminho. Ele reconhecia aquele tom de longe – era, sem dúvida, do cara que ele tinha vindo procurar.
‘Não… Não pode ser, merda.’
Dane tentou negar a realidade. Na verdade, ele queria dar meia-volta e sair de fininho, mas, infelizmente, ele acabou encontrando a fonte de toda essa tensão sem querer. No momento em que ele se virou para sair dali, viu, a poucos passos da entrada, as costas de um homem apontando uma arma em direção ao porão.
‘Ah, puta merda.’
Dane esfregou a testa, xingando mentalmente. Logo em seguida, ouviu a respiração pesada do homem, e viu seus ombros se sacudindo de raiva. Do outro lado, parado onde definitivamente não deveria estar, havia outro homem. A pior cena possível entre todas as que ele tinha imaginado estava acontecendo bem diante dos seus olhos.
Atirar no Grayson Miller era algo que só existia na sua imaginação. Mas, agora que isso estava prestes a acontecer de verdade, Dane sentiu um misto de emoções. O motivo pelo qual ele nunca tinha feito isso antes era porque lidar com as consequências depois iria dar um trabalhão. E agora alguém ia obrigá-lo a lidar com essa merda de qualquer jeito? Que absurdo
Ele precisava resolver essa bagunça antes que tudo virasse uma merda ainda maior. No momento em que ele se preparava para tomar uma atitude que não queria, o homem gritou:
— CALA A BOCA, SEU FILHO DA PUTA! CADÊ MEU FILHO?! ME DIZ ONDE O SANTIAGO ESTÁ!
— É exatamente o que eu estou tentando te explicar.
Ao contrário do grito carregado de fúria do homem, a voz de Grayson era tranquila, até casual. Ele continuou com aquele tom debochado de sempre.
— Você mesmo jogou seu filho no porão porque ele foi um menino mal. Mas aí aconteceu um imprevisto, e agora ele não está mais aqui. Só eu fiquei. Então relaxa, não precisa surtar porque o menino saiu antes de completar o castigo. Já que alguém tinha que ser punido, está tudo resolvido. No fim, o que importa é ter alguém para culpar, não é?
Era a maior besteira que alguém podia dizer numa situação dessas. E, claro, Dane não era o único que achava isso.
— Mas que porra de merda você tá falando, seu desgraçado…?
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Continua..