Deseje-me se puder - Capítulo 42
A conversa, que já estava indo para um lado totalmente aleatório, fez com que Dane perdesse a paciência e cortasse a menina. Assim que ele se calou, Dane franziu ainda mais a testa e perguntou de novo.
— Tá certo, volta a falar do seu amigo. Você disse que ele sumiu faz alguns dias?
— Sim!
Ela confirmou com a cabeça.
— Eu falei com os adultos, mas ninguém ligou. Mas você é bombeiro, você vai me ouvir, né? Vai achar meu amigo?
— Haah.
Dane soltou um longo suspiro, olhando para o céu.
— Certo.
Piscou algumas vezes e então se abaixou, agora com uma expressão bem diferente da de antes.
— Onde é a casa do seu amigo? Anda, me mostra o caminho.
— Sim, senhor!
A garota, toda empolgada, saiu correndo na frente. Dane foi atrás, mas não resistiu e perguntou enquanto corria.
— Ei, qual o nome do seu amigo? Preciso saber.
A menina virou a cabeça para trás, ainda correndo.
— Santiago! Santiago Domingo!
—Ah, merda.
Dane acelerou o passo. Com duas passadas largas, já tinha alcançado ela. Sem cerimônia, agarrou-a pela gola e a ergueu, carregando-a debaixo do braço como se fosse uma mochila.
— Então, onde é?
— Para direita!
Seguindo as instruções da menina, Dane virou para a direita. O céu, que antes estava limpo, começou a se cobrir com nuvens escuras, e logo gotas de chuva começaram a cair.
***
Um som fraco ecoou pelo espaço. Santiago, que estava deitado no chão frio, se encolheu levemente. O menino estava exausto. Fazia dias que não bebia nem um gole d’água. Ele tinha reunido cada grama de força que ainda tinha para pedir ajuda, mas só conseguiu piorar a própria situação. Tinha achado que ia sair dali, mas, no fim, se viu ainda mais preso no fundo desse buraco.
Com suas forças, ele não conseguiria empurrar a porta. E Grayson definitivamente não estava interessado em ajudá-lo a escapar. Só restava uma coisa: a total falta de esperança.
Grayson, que estava deitado ao lado de Santiago, apertando sua mão, abriu os olhos. Ele também ouviu o som. Um som distante e irregular, que aos poucos foi ficando mais próximo, era o som da chuva.
Curioso, ele pensou. Quem diria que ia chover na Califórnia?
Bom, no último inverno, o tempo ficou meio maluco e choveu por dias seguidos. Agora que pensava nisso, logo ia começar a esfriar. Era óbvio.
— Santiago.
Ele chamou o menino pelo nome enquanto se levantava.
— Está com frio?
Nenhuma resposta.
Grayson encostou a mão no ombro do menino e deu um leve sacolejo.
— Santiago, está tudo bem?
Esperou um momento e, quando não obteve resposta, decidiu falar de novo.
— Ele morreu.
***
—Aqui! É aqui!
A garota, ainda pendurada na lateral de Dane, esticou o braço e apontou com força. Dane lançou um olhar rápido para a casa. Por fora, parecia uma casa comum. Talvez fosse só impressão, mas tinha um ar meio sombrio.
— Por ali! Dá para entrar por aquela porta!
Dane correu até a porta lateral, mas parou por um segundo. Se simplesmente invadisse, poderia ser acusado de invasão de domicílio. E se o dono da casa tivesse uma arma?
Confiar cegamente no que a garota dizia era uma ideia estúpida. A última coisa que queria era levar um tiro porque alguém resolveu defender a própria casa.
— Fica aqui e não saia do lugar.
Colocando a menina no chão, Dane foi até a janela e tentou espiar lá dentro. Estava escuro e silencioso. Nenhum sinal de movimento, talvez Santiago estivesse mesmo de cama, doente. Se fosse isso, então estava apenas perdendo tempo…
Ele virou a cabeça, pronto para reconsiderar a situação, e logo percebeu que a garota tinha sumido.
— Ah, pelo amor de…
Antes que pudesse terminar a frase, ouviu uma voz sussurrando com urgência:
—Aqui, aqui!
Dane girou o corpo num reflexo e congelou. A pentelha já tinha aberto a porta lateral e espiava lá de dentro, gesticulando como se aquilo fosse uma missão secreta.
—Sua pequena…!
Por pouco, por muito pouco mesmo, ele não xingou em voz alta. Mas antes que pudesse fazer algo, a menina já tinha se enfiado para dentro da casa.
— Merda.
Sem outra escolha, Dane avançou pela porta atrás dele.
— Eu mandei você ficar parada.
Ele falou baixinho, mas ela ignorou completamente. A menina, agitada, apontou para uma grande porta de porão. Dane olhou para o rosto da garota e para a porta, e ela gritou:
— Ele tá aqui embaixo! O Santiago tá no porão!
Dane franziu a testa. Ainda dava tempo de cair fora, abrir aquela porta seria cruzar um limite. E se não houvesse nada ali? Ela provavelmente ia querer entrar na casa de qualquer jeito.
— Santi, responde! Santiago! Viemos te salvar!
A voz aflita da garota ecoou pelo lugar. Dane ia mandar ele calar a boca, mas então uma resposta fraca chegou aos seus ouvidos.
— Alice…? Alice, é você…?
A voz era fraca, forçada, como se cada palavra fosse um esforço absurdo.
— Sim! Sou eu! Eu vim te tirar daqui!
A garota estava prestes a perder o controle. Dane segurou ela e a colocou de lado.
—Saia dai.
Segurando a maçaneta do alçapão, ele respirou fundo.
CLAC.
O rangido foi alto e sinistro. No mesmo instante, um relâmpago iluminou tudo. Por um segundo, o porão inteiro ficou tão claro quanto o dia. E foi então que Dane viu.
Lá embaixo, caído no chão, estava um garoto. E ao lado dele, de olhos abertos e encarando ele diretamente… estava Grayson.
Um trovão estourou bem acima deles. E a chuva começou a cair com força.
Grayson ficou parado por alguns segundos, olhando para ele sem dizer nada.
‘Que porra é essa?’
‘O que exatamente eu tô vendo aqui?’
Grayson piscou algumas vezes, parecendo pensar a mesma coisa.
— O quê…
Dane quebrou o silêncio primeiro.
— O que você tá fazendo aí?
A cena era tão absurda que ele não conseguiu evitar a expressão de pura incredulidade. Não fazia o menor sentido. Ele tinha sido sequestrado e trancado no porão? Mas a porta nem estava trancada. Aquele desgraçado conseguiria sair dali facilmente se quisesse. Então ele ficou preso por vontade própria? Por quê?
Mas não teve tempo de processar tudo isso. Alice soltou um grito e correu para dentro do porão.
— Santi, Santi! Acorda! Eu vim te buscar!
A chuva começou a cair com força, respingando no rosto de Grayson. O tempo tinha virado de vez. Sem perder mais tempo, ele desceu correndo os degraus e pegou o garoto caído no chão. Não tinha tempo para lidar com Grayson agora – nem para perguntar nada, para esculachar ele, e muito menos para socar aquela cara de idiota. Isso ficaria para depois. A prioridade era tirar o garoto dali.
— Chefe, temos uma emergência. Encontramos um garoto desacordado. Sim, tudo indica que foi caso de abuso. Ele ainda está consciente, mas muito fraco. Vamos levar ele para o hospital agora…
Alice correu atrás dele com toda a força, tentando acompanhar o ritmo. Enquanto isso, Grayson ficou parado, encarando a porta escancarada.
— Ah….
Ele soltou um suspiro, mais para ele mesmo do que para qualquer um.
—Putz… Eu tô ferrado.
°
°
Continua…
joicevidal
O modo dele pensar é totalmente diferente das outras pessoas