Deseje-me se puder - Capítulo 41
O caminhão parou diante da pequena multidão, que observava tudo com rostos cheios de curiosidade. Assim que a porta se abriu, Wilkins foi o primeiro a descer. Ao ver os olhares confusos dos moradores, ele deu um sorriso sem jeito antes de começar:
— Ah, desculpem aparecer de novo assim. Precisamos resolver um assunto importante. Alguém por acaso viu um dos nossos colegas ontem…?
Enquanto Wilkins tentava explicar a situação, os outros bombeiros saíram do caminhão e começaram a se espalhar pelo local. Mas assim que Dane apareceu, o que era um simples burburinho virou uma comoção.
— Aaaahhh! Ele veio!
— Dane! Dane Stryker!
— Olha pra cá! Dane! Dane!
— Por favor, pessoal, estamos aqui a trabalho! Hoje não vai dar, pessoal. Por favor, fiquem quietos…
Wilkins ergueu os braços, tentando acalmar a multidão, mas foi inútil. Os celulares surgiram como mágica, e logo os cliques e flashes das câmeras tomaram conta do ambiente. Diante da confusão, os bombeiros se dispersaram ainda mais para tentar coletar informações.
— Meu Deus, ele tá vindo pra cá!
Uma mãe e sua filha se entreolharam e seus rostos ficaram vermelhos instantaneamente. Apertaram as mãos uma da outra, claramente nervosas, enquanto Dane se aproximava.
— Sou Dane Stryker. Estamos procurando alguém…
— Sim, sim! O que quiser, pode falar!
De repente, até os vizinhos se juntaram à multidão, olhando para ele com entusiasmo. Desconcertado, Dane fez uma cara de desânimo ao ver pessoas correndo em sua direção, mesmo de longe. Ele já havia feito o suficiente no dia anterior e não tinha a menor intenção de se sacrificar novamente. Por isso, ele logo chamou Ezra:
— Ezra! As senhoras aqui disseram que podem te ajudar!
— Hã? Ah, ahhh…
Mesmo meio confuso, Ezra correu até a frente da multidão. Mal ele se colocou no lugar de Dane, vieram os lamentos cheios de frustração e tristeza.
— Ei, onde você está indo? Ainda estou aqui!
— Espera aí, vamos te contar, Dane!
— Dane, olha para cá! Dane!
Enquanto as mulheres gritavam, olhando para as costas de Dane, que já estava fugindo dali. Ezra, sentindo o suor frio escorrer, se forçou a ignorar a comoção e começou a falar.
— Então, como eu disse antes, estamos procurando alguém. Ele veio aqui ontem com a gente, é mais alto que o Dane, é… mais forte também. Loiro, com olhos roxos. Alguém viu um cara assim? Ele deve ter chamado a atenção.
— Hã?
Até então, ninguém parecia dar a mínima para o que Ezra estava falando, completamente hipnotizadas por Dane. Mas, por sorte, a descrição finalmente chamou atenção. Claro, não porque estavam genuinamente interessadas em ajudar.
— Loiro, olhos roxos?
— Ah! Vi sim. Você também viu, não foi?
— Sim, impossível não ver. Ele foi a primeira pessoa que notei.
Até aí, tudo certo. Ezra já estava começando a sentir um fiapo de esperança. Mas então veio a pergunta fatídica.
— Espera, ele é um Alfa dominante? Olhos roxos significam isso, certo?
— Ahhh, então aquele cheiro era de feromônio? Dizem que os Alfas dominantes soltam feromônio o tempo todo para não acumular.
— Por isso ele parecia um modelo de revista. Esse corpo de bombeiros só tem homens gostos… quer dizer, bonitos.
— Alguém conseguiu tirar foto dele?
— Eu! Aqui, aqui!
— Claro que tirei! Olha só!
— Ai, que delícia! Meu Deus, esse é o momento mais feliz do meu dia. Obrigada!
O lugar explodiu em risadas e gritinhos de animação. Ezra, já sentindo uma leve tontura, só conseguiu pensar numa coisa: Alguém me tira daqui.
***
Conseguindo finalmente escapar daquele barulho infernal, Dane soltou um suspiro cansado e olhou ao redor. O lugar não tinha nada de especial, só uma cidadezinha pacata onde ninguém imaginaria que um sequestro pudesse acontecer. Confirmando mais uma vez o quão ridiculamente tranquilo era o cenário, ele revirou os olhos e coçou a nuca com irritação.
‘Onde diabos esse estorvo foi parar?’
— Merda, filho da puta desgraçado.
Ele mal terminou de xingar quando sentiu um olhar sobre si. Virou a cabeça no reflexo e deu de cara com uma criança encarando ele. Dane franziu o cenho. Normalmente, qualquer um sairia correndo só com esse olhar, mas o moleque nem se mexeu. Ficou ali, firme, com os punhos cerrados como se estivesse encarando um vilão de desenho animado.
‘Que porra é essa agora?’
Dane bufou, ignorando o pirralho. Ele não tinha tempo para esse tipo de provocação sem sentido. Só queria resolver logo essa merda e voltar pra casa. Apressou o passo, mas de repente ouviu o som de pequenas pernas correndo atrás dele.
— Tio! Tio! Espera aí, tio! Eu tenho uma denúncia! Tioooo!
‘Ah, puta merda…’
Dane parou no meio do caminho e respirou fundo, encarando o céu como se implorasse por paciência. A criança praticamente gritava no volume máximo. Não tinha jeito, ele ia ter que lidar com isso. Virou-se de uma vez e caminhou até o garoto com passos largos. Em questão de segundos, já estava na frente dele, alto o suficiente para fazer o menino esticar o pescoço inteiro para olhar para cima.
Sem dizer nada, Dane apenas abaixou os olhos e esperou.
— Então, qual é o problema?”
O incômodo na voz de Dane era evidente. Dava para ver que ele já tinha certeza de que era só mais uma besteira qualquer, que não valeria o esforço de ouvir. Além disso, com aquele tamanho intimidador, a criança claramente ficou nervosa, mas, para a surpresa dele, não saiu correndo chorando. Só parecia estar segurando as lágrimas.
— A-Ah… O senhor é, é bombeiro?
A garotinha gaguejou, tremendo dos pés à cabeça. Dane olhou para ele com uma expressão cínica antes de responder.
— Se você sabe ler, então sim.
Ele apontou com o polegar para as costas da própria camisa, onde “CORPO DE BOMBEIROS” estava estampado em letras garrafais. A menina, só para garantir, se inclinou um pouco para ler e depois voltou a encará-lo.
— Po-Por favor, ache meu amigo.
— Amigo?
Dane franziu a testa. Já imaginava que ia ser alguma coisa sem sentido.
— Ele também é um Alpha dominante?
— Quê? O que é isso?
A menina arregalou os olhos, parecendo confuso. Claro que não era. Dane revirou os olhos e acenou com a mão, dispensando a pergunta.
— Esquece. Então, o que exatamente você quer?
— Meu amigo! Eu quero que ache ele!
A menina continuou firme, mesmo com aquele olhar hesitante, como se estivesse fazendo um boletim de ocorrência oficial.
— Ele sumiu faz uns dias. Ele não foi para a escola. A mãe e o pai dele são divorciados, ele mora só com o pai e quando fui lá, disseram que ele estava com sarampo e não podia sair. Mas é mentira! Meu amigo tomou a vacina, eu sei! A mãe dele levou a gente ao hospital para tomar junto!
Dane ficou encarando o menino, sem dizer nada. Não parecia que ele estava inventando história. Percebendo que tinha a atenção, o garoto tomou fôlego e continuou, falando ainda mais rápido.
— O pai dele bate nele às vezes. Diz que é porque ele se comportou mal, mas meu amigo é super legal! É estranho ele fazer isso. Meu pai adora quando eu corro para abraçar ele quando ele chega do trabalho. Mas eu já vou fazer 10 anos. Dez anos já é quase adulto, né? Acho que não deveria mais fazer isso. Também não posso mais comer os cookies que minha mãe faz, né? Os biscoitos de cachorro são muito gostosos… o senhor gosta mais de cachorro ou de gato? Meu amigo tem um hamster e—
— Espera, espera, para.
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Continua…
joicevidal
Criança corasoja