Deseje-me se puder - Capítulo 40
— Para onde esse desgraçado foi agora?
— Ele nem trabalha direito, e ainda assim nem consegue ficar parado no mesmo lugar.
— É óbvio. Provavelmente está na casa de alguma mulher dessa vizinhança, se divertindo enquanto a gente se ferra.
Ninguém podia discordar. Eles mesmos já tinham presenciado as escapadas de Grayson e sabiam muito bem o quanto ele era… ‘sociável’. E, claro, se os colegas estavam se matando de trabalhar, isso definitivamente não era problema dele.
—Vamos embora.
A voz de Ezra cortou a conversa, todos o encararam, surpresos. Ele estava visivelmente irritado e não fez questão de disfarçar.
— Ele já é bem grandinho. Que se vire. Se quiser voltar, que peça carona para alguma garota, chame um Uber ou vá andando. Tanto faz, Ele que se dane, foi ele quem decidiu sumir no meio do trabalho. O problema é dele. Não temos que perder tempo com isso, vamos!
— Por mim, tudo certo.
— É isso aí, chega! Ele que lide com as próprias merdas.
Um a um, os outros concordaram e, sem hesitação, entraram no carro. Dane não disse nada, mas apenas porque aquilo não lhe dizia respeito. Tudo o que queria era voltar logo para casa e descansar.
Sem olhar para trás, o carro arrancou. Só no dia seguinte eles perceberam que Grayson Miller tinha realmente desaparecido.
***
— Mas que diabos! Vocês perderam um dos seus e simplesmente foram embora?! Que tipo de equipe faz isso?! Vão todos se foder, seus desgraçados sem um pingo de lealdade!
A explosão do chefe de batalhão fez Wilkins encolher os ombros, incapaz de encará-lo. Ele nem sequer estava presente na hora, mas, como líder da equipe, não tinha como escapar da bronca. Depois de ouvir um sermão interminável, saiu do escritório parecendo uma alma penada.
— Wilkins…
Os outros o olharam com hesitação, claramente desconfortáveis. Nenhum deles ousava falar. Então Wilkins suspirou fundo, esfregou o rosto e olhou ao redor.
— Então… ainda sem notícias do Miller?
— N-não, senhor.
A princípio, todos pensaram que ele simplesmente tinha faltado ao trabalho, que provavelmente tinha se entediado e desistido – e ninguém reclamou disso. Na verdade, ficaram até aliviados. Mas essa tranquilidade não durou muito.
O chefe de batalhão notou a ausência de Grayson e começou a perguntar por ele. Foi só então que se deram conta de que ele não apenas não estava atendendo as ligações, como não dava notícias desde o dia anterior. E foi aí que tudo virou um inferno.
Eles tinham assumido que ele só tinha se mandado sem avisar, mas, na realidade, ele já estava desaparecido desde então. Droga, deviam ter verificado melhor.
— Miller já é um adulto. E olhem o tamanho dele! Quem diabos teria coragem de sequestrar aquele brutamontes? Aposto que ele só resolveu sumir porque quis.
No meio do clima pesado, Diandre soltou sua frustração, cruzando os braços. Para ele, essa história de “desaparecimento” era um exagero. Os outros até pensavam o mesmo, mas não eram idiotas o suficiente para falar isso em voz alta.
E, como esperado, Wilkins fulminou Diandre com um olhar e o chefe explodiu.
— Seu idiota! Você acha que esses alfas dominantes andam com seguranças à toa?! Tem grupos criminosos que caçam esses filhos da puta! Sequestram, fazem ameaças, torturam e matam! Já ouviu falar dos terrorista que saem que por ia dizendo ser em nome de Deus cometendo atentados contra eles?! Como pode ser tão estúpido?! Você sabe lá o que pode estar acontecendo com o Miller agora?!
Os gritos ensurdecedores do chefe fizeram o grupo inteiro ficar atordoado. Alguns chegaram a cambalear, de surpresa. E, no meio disso, um infeliz teve a brilhante ideia de abrir a boca:
— Mas… por que alguém sequestraria esses caras? Por dinheiro?
— Esperma.
Foi outro que respondeu, como se isso fosse óbvio.
— O sêmen de um alfa dominante vale uma fortuna. Quem não quer DNA de primeira linha?
— Então ele que andasse com um segurança, porra. Por qu–
Diandre começou, mas parou no meio da frase quando percebeu o erro. Só que já era tarde. Wilkins, previsivelmente, explodiu outra vez.
— TINHA UM MONTE DE GENTE AO REDOR, E NINGUÉM VIU NADA?!
Silêncio absoluto.
Dessa vez, Ezra resolveu intervir. Ele, pelo menos, tinha mais tato que Diandre.
— Podemos começar fazendo o que está ao nosso alcance: chamar a polícia.
Ele mal terminou de falar e já se formou um motim.
— A polícia?!
— Tá maluco?! O que aqueles incompetentes podem fazer?!
— Se a polícia precisar de um dia para encontrar ele, a gente resolve isso em uma hora! É melhor não meter esses palhaços nisso.
Os bombeiros e os policiais viviam em pé de guerra, e ninguém perdeu a chance de esculachar os rivais. Mas, claro, o sentimento era recíproco.
— Tá, tá certo, todo mundo cala a boca.
Wilkins ergueu as mãos para acalmar os ânimos. Quando voltou a falar, estava mais frio e focado.
— Se a polícia pode fazer algo, nós também podemos. Na verdade, podemos fazer melhor e mais rápido, todos sabemos disso, não é? Então, vamos pensar. Onde ele desapareceu? A resposta deve estar lá. Vamos começar por aí, certo? Vamos, pessoal. Rápido, rápido.
Ele começou a andar na frente, acenando com impaciência para que o seguissem. Sem outra escolha, todos se organizaram, gritando palavras de ordem antes de correr para os veículos. O último a entrar foi Dane, com uma expressão de puro desagrado.
***
‘Que inferno de cara mais irritante.’
Dane cerrou os dentes, sentado no banco do carro, sacudindo a perna com impaciência. Desde o dia em que conheceu Grayson Miller, sua vida tinha ficado mais complicada. O sujeito nunca perdia a chance de ser um incômodo.
Teve aquele episódio ridículo em que ele, no meio de uma situação de emergência, resolveu soltar feromônios deixando aqueles ômegas completamente enlouquecidos. Depois, apareceu do nada dizendo que queria ser bombeiro, forçando uma competição absurda. Até na porra do bar, quando Dane estava ocupado no que deveria ter sido uma noite agradável, Grayson conseguiu enfiar o nariz onde não devia e arruinar tudo.
E agora isso.
Se ia sumir, que sumisse de vez. Mas não, claro que tinha que arrastar todo mundo junto para o caos dele.
— Ah, porra, que inferno!
O xingamento escapou antes que pudesse se segurar. Os outros no carro se entreolharam, surpresos. Dane não costumava demonstrar emoções tão abertamente, muito menos frustração. Isso fez com que ninguém ousasse dirigir uma palavra a ele pelo resto do caminho.
***
“Uóóóóó, uóóóóó.”
O silêncio pacífico da pequena cidade foi abruptamente quebrado pelo som estridente das sirenes. Pessoas que estavam relaxando dentro de suas casas começaram a sair, curiosas. Quando viram que se tratava da mesma equipe de bombeiros do dia anterior, as especulações começaram.
— O que houve agora?
— Não tem nenhum incêndio. Será que outro gato subiu na árvore?
— Será que é a mesma equipe de ontem? Aquele BOMBEIRO GOSTOSO voltou? Eu nem consegui ver ele direito…
(concordo com o bombeiro gostoso)
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Continua..
joicevidal
Eles vão formar um casal e tanto