Deseje-me se puder - Capítulo 39
Grayson permaneceu imóvel, com os sentidos aguçados, tentando captar qualquer som. O silêncio se estendeu por tempo suficiente para fazê-lo questionar se tinha apenas imaginado aquilo.
‘Será que ouvi errado?’
Ele estava prestes a ignorar quando o som veio de novo. Não, não podia ser engano. Ele ergueu levemente as orelhas – um velho hábito involuntário – e, com o cenho franzido, analisou o entorno.
Casas comuns de um bairro residencial, todas praticamente idênticas, alinhadas de forma monótona dos dois lados da rua. Nada ali parecia fora do normal.
Ele precisava se concentrar.
Mais uma vez, o som surgiu, e dessa vez estava mais claro.
— Socorro.
À medida que avançava, a origem do chamado se tornava mais óbvia. Ele parou diante de uma das casas, sem nada que a diferenciasse das demais, e varreu os arredores com um olhar atento.
— Por favor, alguém me ajude!
Ao ouvir seus passos, a voz infantil se ergueu novamente, agora carregada de pânico. Sem hesitar, ele abriu o portão lateral e entrou. Sob seus pés, sentiu a grama áspera. As folhas mortas, já amarronzadas, deixavam claro que ninguém cuidava daquele lugar há tempos.
— Me ajudem! Por favor!
A criança soava cada vez mais desesperada. Ele encostou o ouvido na parede e esperou. Nenhum outro som vinha da casa aparentemente estava abandonada. Provavelmente, a criança sabia disso e por isso gritava com tanta urgência.
Pensando nisso, Grayson olhou para baixo, na direção de onde o som vinha.
Lá, havia uma grande porta de porão (Cellar Door). O som estava abafado pela porta fechada, mas ele conseguia ouvir claramente. Provavelmente, havia uma abertura em algum lugar para permitir a passagem de ar. Ele se ajoelhou, encostando a cabeça na porta.
— Tem alguém aí?
O grito do outro lado veio imediatamente, mais alto e urgente.
— Si-sim! Eu estou aqui! Por favor, me tire daqui, por favor!
A voz chorosa da criança estava completamente rouca, de tanto gritar.
—Tsk…
Grayson suspirou, com um toque de falsa compaixão, antes de perguntar:
— Qual é o seu nome? O que você está fazendo aí dentro? O que aconteceu?
O menino soluçou antes de responder:
— Eu… eu sou o Santiago. Meu pai disse que… que eu sou um menino mau e que eu tenho que ficar aqui…
A última parte se dissolveu em lágrimas. Grayson assentiu devagar, como se já esperasse por algo assim.
— Entendi. Tudo bem, eu vou te ajudar.
Ajudar os outros era quase um reflexo para ele – uma daquelas coisas nobres e altruístas que as pessoas gostavam de dizer que faziam, mas raramente faziam de verdade. Grayson sempre estava pronto para dar uma mão quando a oportunidade surgia – porque, desde muito cedo, foi ensinado que esse era o certo a se fazer. E, claro, desta vez não seria diferente.
Ele abriu uma das portas do alçapão. Lá dentro, o porão parecia mergulhado na escuridão. No fundo, um garotinho tão pequeno que mal chegaria à altura de seu joelho estava parado, com uma expressão tensa, olhando para ele com os olhos arregalados.
Santiago ficou na ponta dos pés, esticando os braços o máximo que conseguia, como se tentasse se agarrar à própria esperança. Em seu rosto havia um brilho de expectativa – acreditava, de verdade, que aquele homem de aparência quase reluzente finalmente o tiraria daquele lugar escuro e assustador. Que aquele seria o fim dos dias de pesadelo.
Mas então.
— …O quê?
De repente, Grayson pulou para dentro do porão.
A porta se fechou atrás dele com um baque surdo, e a escuridão os envolveu novamente. Santiago não fazia ideia do que estava acontecendo. Ele ficou parado, piscando confuso, quando um feixe de luz tênue entrou pelas frestas da porta, iluminando o rosto marcante do homem. Foi só então que Santiago percebeu que o homem, em vez de resgatá-lo, havia entrado naquele lugar terrível junto com ele.
— O-o que você está fazendo?! Você tem que me tirar daqui!
Santiago gritou, desnorteado. Enquanto o garoto tentava entender o que estava acontecendo, Grayson inclinou a cabeça para o lado, fingindo confusão.
— Por quê? Você não está de castigo?
— …Hã?
Santiago piscou, ainda sem entender, e Grayson, com um tom paciente, explicou como se estivesse ensinando algo óbvio:
— Você não pode fugir no meio do castigo. Isso é coisa de criança má.
O garoto não conseguia processar aquelas palavras.
‘O que ele acabou de dizer…?’
Com uma voz supostamente compassiva, Grayson falou para o garoto, que agora estava pálido e assustado:
— Mas está tudo bem agora, Santiago. Não se preocupe.
Ele estendeu a mão lentamente. Santiago recuou, assustado, e Grayson manteve a mão no ar, com um sorriso radiante no rosto.
— Eu vou ficar aqui com você.
A esperança desapareceu completamente do rosto do garoto e foi substituída por puro pavor.
***
Depois que tudo foi resolvido, eles se reuniram para voltar. Ezra, que havia tirado a última foto, devolveu o celular, e os outros, que estavam esperando, começaram a se alongar e suspirar.
— Pois é… Dane Stryker. Sempre que esse cara aparece, as mulheres surtam.
O comentário arrancou risadas, e logo começaram a chover opiniões.
— Não são só as mulheres, não! Tinha uns caras ali também querendo tirar fotos com ele.
— Nós deviamos lançar uma campanha com o Dane como modelo. Se tivéssemos umas fotos sensuais dele, o impacto seria absurdo!
— Tipo uma campanha de serviço público?
— Isso! Algo sobre prevenção de incêndios, seria perfeito! Só imagina a chamada: ‘Se você não tomar cuidado, o Dane pode ser o último bombeiro que você verá’.
— Ou melhor ainda, uma campanha de apoio emocional! Já ouvi falar dessas coisas ultimamente. Se for algo oficial do corpo de bombeiros e for o Dane quem apareça… Meu Deus, a comoção seria geral!
— Boa ideia! Dane, o que você acha? Não é uma ideia incrível?
O grupo, empolgado, esperou pela resposta. Até aquele momento, Dane só observava, com um olhar meio vazio. Então, por fim, abriu a boca e murmurou, sem qualquer entusiasmo:
— Eu odeio trabalho voluntário mais do que qualquer coisa no mundo.
E assim, a discussão morreu ali mesmo.
A única razão pela qual ele autografou os calendários e tirou fotos hoje foi porque estava trabalhando. Dane levava essa separação a sério: trabalho era trabalho, vida pessoal era vida pessoal. Se estivesse de folga, pouco importava quem pedisse ou por quê – ele simplesmente ignoraria.
Com um grande bocejo, ele escancarou a boca e se espreguiçou. Diandre o olhou de lado e cochichou:
— Esse cara deve ter saído para curtir de novo ontem à noite, quer apostar?
Outro assentiu, convicto.
— Muito provável. Dane sempre vai para a balada nos dias de folga.
— Impressionante como ele é dedicado… só para as coisas erradas.
—Tá, tá, chega. Vamos embora logo, já está tarde.
Ezra deu duas batidas na lateral do caminhão, sinalizando a partida. Dane foi o primeiro a subir, seguido pelos outros, que ainda trocavam risadinhas. Foi só quando o veículo estava prestes a arrancar que alguém finalmente percebeu:
— Espera… Tem alguma coisa errada. Parece que tá faltando alguém.
Assim que alguém apontou o óbvio, Diandre reagiu no mesmo instante.
— Cadê o Miller?
Foi só então que todos se deram conta do problema. Olharam em volta, confusos, mas, por mais que procurassem, Grayson simplesmente não estava lá.
— Ah, merda!
— Miller! Grayson Miller!
— Onde diabos ele foi? Vamos logo, aparece, porra!
— Miller!
— Grayson Miller! Caralho!
Eles saíram do carro às pressas, berrando o nome dele para todos os lados, mas a única resposta foi o silêncio.
— Filho da puta desgraçado!
Furioso, Diandre deu um chute na roda do carro, os dentes cerrados de raiva. Ele bufava de irritação, mas não era o único de mau humor. O resto do grupo também não parecia nada satisfeito.
°
°
continua…
joicevidal
Interessante 🥰