Deseje-me se puder - Capítulo 33
— Ei, Ezra… Ah, não vai dar. Dane… já entrou? Então…
Wilkins foi chamando um nome atrás do outro, mas acabou segurando a cabeça com as mãos, frustrado. ‘Droga não tem ninguém!’
— Se precisar de alguém para entrar com você, eu posso ir.
Antes que o desespero tomasse conta, uma voz inesperada soou atrás dele. Wilkins virou rápido, animado… e congelou no lugar assim que viu de quem se tratava.
Grayson.
Com aquele mesmo sorriso cínico de antes, olhando diretamente para ele.
— Ah, não, não precisa! Você não tem experiência…
Desde o começo Wilkins tinha uma sensação ruim sobre ele, então vinha tentando ignorá-lo o máximo possível. Agora não seria diferente. Mas Grayson apenas continuou, indiferente:
— Passei um mês inteiro treinando. Acho que já sei o suficiente. Além disso, em algum momento eu teria que fazer isso, certo? Vocês vivem reclamando que faltam pessoas para os resgates. Pelo menos foi o que eu ouvi por aí.
Ele não estava errado. Mas mandar um novato direto para um incêndio desses, sozinho com um veterano, era loucura. O fogo já tinha se espalhado demais e a situação exigia um nível de experiência que Grayson simplesmente não tinha. E se algo desse errado? Um novato tende a travar no meio do caos. E então… Dane teria que…
Wilkins continuou sua longa reflexão e, finalmente, pensou consigo mesmo. Ele não poderia perder um amigo dessa forma.
— Não, sério, está tudo bem. Melhor deixar para outra oportunidade–
Ele tentou recusar de novo, mas não teve tempo para discutir. Dane, que vinha ouvindo tudo sem se importar, apenas ajustou a máscara e seguiu em frente como se nada estivesse acontecendo.
— Estou indo.
— Ei, espera! Dane!
Wilkins tentou segurá-lo antes que ele sumisse pela porta. Era uma situação de emergência, então não havia escolha. Grayson podia ser um maluco, mas talvez, só talvez, pudesse fazer um bom trabalho. Desde que não enfrentasse uma situação crítica, ele só precisaria seguir Dane de perto.
Wilkins finalmente tomou sua decisão e se virou para Grayson.
— Certo, já que você quer tanto, vai. Mas não se esforce demais, apenas siga Dane de perto. Se algo acontecer, não tente sair sozinho de jeito nenhum, cuide de Dane… entendeu?
Grayson estava certo, mais cedo ou mais tarde isso teria que acontecer. Mesmo que seu tempo na equipe fosse limitado a um ano, sempre faltavam pessoas para o serviço. Se ele ao menos fosse útil, por que não aproveitar?
Enquanto Wilkins repetia suas instruções, tentando convencer a si mesmo de que era uma boa ideia, Grayson manteve o mesmo sorriso despreocupado.
— Entendido. Então, vou indo…
Sem hesitar, ele rapidamente colocou a máscara, ajustou o equipamento e entrou correndo na casa em chamas. Dane já havia avançado com a mangueira.
— Não faça nada sozinho! Apenas siga as instruções do Dane! — gritou Wilkins, aflito.
Mas Grayson já havia sumido dentro do incêndio.
***
O som de móveis desabando e estalando no fogo ecoava por toda parte. O calor era sufocante, queimava a pele mesmo através do uniforme. Sem o equipamento, respirar ali seria impossível. Grayson seguia Dane de perto, observando-o controlar a mangueira e avançar com firmeza.
Cinco minutos. Foi o tempo que levou para Grayson se arrepender.
Talvez não tivesse sido a melhor ideia tomar essa decisão só para ver Wilkins desesperado.
Ele estava no meio desse pensamento quando um estrondo ensurdecedor veio de cima.
Um pedaço enorme do teto desabou.
— Uau!
Grayson recuou instintivamente. Por pouco! Ele assobiou, encarando os destroços caídos à sua frente, e soltou uma risada irônica.
— E eu achando que ia morrer queimado… quase fui esmagado antes.
Ele riu alto, mas Dane nem sequer olhou para ele, apenas continuou avançando. Grayson fechou a cara e inclinou a cabeça de lado.
— Que chato.
Resmungando, ele retomou a caminhada, mantendo-se na trilha deixada por Dane. Mesmo com o tanque de oxigênio, respirar não era fácil. O calor intenso atravessava as camadas do uniforme e os mantinha constantemente em alerta. Dane, no entanto, parecia imune a tudo isso, seguindo cada vez mais fundo na casa sem hesitar.
‘Esse cara nem sente calor?’
Grayson estreitou os olhos e o observou por um instante. Só quando percebeu a mangueira sendo puxada que voltou a se mexer, seguindo o outro.
A visibilidade era horrível. O fogo tomava conta de tudo e a fumaça densa tornava quase impossível enxergar. Mas, de alguma forma, Dane se movia como se já soubesse exatamente para onde ir.
— Charles!
Foi a primeira vez que Dane falou desde que entraram. Ele gritou repetidamente pelo cachorro, mas sua voz se perdeu no barulho do prédio desmoronando ao redor.
— Não adianta.
Grayson precisou gritar para ser ouvido. Dane finalmente olhou para ele, e Grayson não perdeu a chance de provocar.
— Ele já deve estar morto. É por isso que não responde.
Dane não disse nada, apenas olhou para ele e chutou a porta à sua frente com força. A porta, enfraquecida pelo fogo, voou pelos ares, e Dane entrou imediatamente no quarto.
— Ha.
Grayson soltou um riso seco, incrédulo.
‘Ele acabou de me ignorar?’
O sangue subiu-lhe à cabeça. Irritado, ele avançou rapidamente para o cômodo onde Dane havia entrado. Mas, no exato momento em que ia cruzar a porta, deu de cara com ele saindo, aparentemente sem ter encontrado nada.
Um estrondo reverberou pelo prédio, como um trovão. Outro pedaço da estrutura havia cedido. Mesmo com a máscara cobrindo seu rosto, dava para perceber que Dane havia franzido a testa.
— Sai da frente.
Sem nem dar tempo para Grayson reagir, ele simplesmente o empurrou para o lado.
— Ei! Qual é o seu problema?!
Furioso, Grayson gritou, mas Dane já tinha partido para o próximo cômodo.
— Charles! Charles, onde você está?!
Mais uma vez, a voz dele ecoou pelo fogo, chamando pelo cachorro. Grayson apenas observou, entediado, com um olhar cínico. ‘Quanto tempo até ele desistir?’
No início, assistir àquela busca inútil era até divertido, mas conforme Dane repetia o processo – arrombando portas, vasculhando cômodos e saindo sempre de mãos vazias – o entretenimento perdeu a graça.
— Ei, dá para conversarmos um segundo?
Grayson finalmente rompeu o silêncio. Dane, no entanto, estava ocupado destruindo a maçaneta de outra porta com um pé de cabra.
— Fala logo.
A resposta veio no mesmo instante em que ele arrancou a maçaneta e a jogou de lado. Em seguida, enfiou a mão pelo buraco na porta e entrou sem dar a mínima para Grayson.
Mas ele não estava disposto a largar o assunto. Acompanhou Dane para dentro do cômodo e despejou o que vinha segurando.
— Até quando você vai continuar com essa idiotice? O cachorro já deve estar morto. Não tem como ter sobrevivido a esse incêndio. Se não queimou vivo, já deve ter morrido asfixiado.
Vasculhar um inferno em chamas por um animal morto era um desperdício de tempo e esforço. ‘Já não chega? Quanto mais ele vai insistir nisso?’
Enquanto Grayson falava, Dane vasculhou um colchão, abriu e fechou as portas dos armários. Quando terminou, simplesmente saiu do cômodo sem dizer nada, nem mesmo um olhar na direção de Grayson. Ele apenas seguiu rumo à escada que levava ao segundo andar.
Mesmo sem resposta, a mensagem estava clara.
— Espera aí! Dane!
Grayson berrou, mas foi solenemente ignorado. Sem escolha, correu atrás dele, quase voando pelos degraus, e o agarrou no patamar.
— Você pode gostar de perder tempo com esse tipo de coisa, mas eu não. Não vou desperdiçar minha vida nessa busca inútil. Vamos dar o fora daqui.
Dane finalmente o encarou. Do outro lado da máscara empoeirada, seus olhos estavam… entediados? Ele soltou um suspiro – ou algo parecido com um – antes de finalmente falar:
— Engraçado ouvir isso de alguém que desperdiça a própria vida atrás de um “amor predestinado”.
— O quê?!
°
°
Continua…