Deseje-me se puder - Capítulo 32
Quando Grayson se lembrou do motivo idiota que o levou até ali – o que aquela maldito vidente havia dito – ele não conseguiu segurar a risada sarcástica.
— Haha….
O som curto e seco fez com que todos ao redor, incluindo Ezra, olhassem para ele de soslaio. Até o motorista lançou um olhar rápido pelo retrovisor.
‘Que foi isso? Por que ele tá rindo? Espera… será que ele está pensando em atear fogo no caminhão de bombeiros agora? A gente precisa impedir isso! Tudo bem, perdemos a última briga, mas se atacarmos todos juntos, talvez consigamos contê-lo. Pelo menos hoje temos o Dane do nosso lado!’
Dane, no entanto, não parecia minimamente interessado e já tinha virado o rosto para a janela. Enquanto isso, Grayson, alheio à tensão ao seu redor, franziu a testa ao se lembrar do rosto da vidente.
‘No fim das contas, nada de novo. Videntes sempre soltam um monte de besteira para enganar os outros. Já perdi a conta de quantas vezes caí nesse papo.’
‘Mas… fogo, hein? Bom, dessa vez ela não errou completamente.’
Grayson estreitou os olhos e pensou, com pura ironia: ‘Talvez eu devesse ir lá e queimar aquela desgraçada pessoalmente.’
***
Quando chegaram ao local do incêndio, a fumaça densa já cobria o céu, formando uma cortina escura que se espalhava por toda a vizinhança. Mesmo antes de saírem do caminhão, o cheiro forte de fuligem já irritava suas narinas. Assim que o veículo parou, eles saltaram rapidamente para avaliar a situação.
— Droga… que merda.
Alguém resmungou, soltando um suspiro pesado. E com razão – o fogo estava muito pior do que no chamado inicial.
A casa onde tudo começou já estava completamente destruída, engolida pelas chamas. O incêndio havia se espalhado para mais três casas ao lado, que agora ardiam sem controle. O chão estava coberto de estilhaços de vidro e restos carbonizados, e os moradores, que antes tentavam conter as chamas por conta própria, haviam desistido e se afastado, apenas assistindo a destruição de uma distância segura.
Wilkins gritou para as pessoas reunidas a certa distância, observando o incêndio com preocupação.
— Tem algum dono das casas que estão pegando fogo aqui? Todo mundo saiu?
Era o horário comercial, então a maioria das casas provavelmente estava vazia. Como ninguém respondeu, Wilkins rapidamente voltou sua atenção para o incêndio. Enquanto isso, os bombeiros sob seu comando já se moviam com eficiência, seguindo os protocolos. Equipamentos eram preparados, mangueiras estendidas, ordens repassadas. No meio de toda aquela movimentação, Grayson assistia à cena como um espectador. Na verdade, ele era exatamente isso. Não tinha a menor intenção de se envolver ativamente e sair correndo feito um idiota.
— Miller! Ei, vem cá!
Wilkins, que até então estava ocupado avaliando a situação e dando ordens, de repente chamou Grayson. No meio de tantos bombeiros ocupados, ele era o único parado, sem fazer absolutamente nada. Ainda assim, nem se deu ao trabalho de se mexer, respondendo apenas com um tom indiferente:
— O que foi?
Wilkins sentiu a raiva subindo, mas respirou fundo. O mais importante agora era controlar o fogo.
— Precisamos criar uma linha de contenção para evitar que as chamas se espalhem. Você fica responsável por esta área, daqui até aqui.
Grayson apenas franziu o cenho. Linha de contenção? Nunca tinha ouvido falar disso na vida. Continuou parado, olhando para Wilkins sem responder, o que fez o chefe dos bombeiros soltar um longo suspiro antes de, sem paciência, agarrar o braço dele e arrastá-lo para a área designada.
— Tá vendo? Você precisa remover tudo o que possa pegar fogo nesse perímetro. Qualquer coisa inflamável, aparelhos elétricos, objetos perigosos, tudo fora. Entendido?
Wilkins explicou como se estivesse falando com uma criança, encarando Grayson para ter certeza de que ele tinha captado a mensagem. O homem permaneceu em silêncio, desviando o olhar de um lado para o outro antes de coçar a nuca e soltar um suspiro preguiçoso. Pelo menos, dessa vez, não discutiu. Finalmente começou a se mover, o que fez Wilkins sentir um pequeno alívio. Precisavam de toda a ajuda possível naquele momento. Sem perder tempo, ele se virou para continuar coordenando o combate ao fogo.
O som de estruturas desabando, jatos de água atingindo as chamas, vozes gritando ordens e o zumbido de máquinas enchiam o ambiente. Wilkins passou por Deandre, que estava usando uma serra elétrica para abrir a porta da garagem de uma casa em chamas, e seguiu rapidamente para o próximo ponto crítico, dando novas ordens pelo caminho.
— Abaixa isso! Sobe mais a mangueira! Jogue a água mais pra cima! Isso, mais alto, mais alto!
— O segundo andar já era? Droga, o telhado também foi completamente destruído.
— Quem entrou lá dentro? …Certo, ainda não encontraram ninguém? Entendido. Continuem procurando.
Ele circulava pelo local, ora apontando ajustes, ora incentivando a equipe, até que acabou voltando para onde Grayson estava.
— Oh.
Contra todas as expectativas, Grayson tinha feito o que lhe mandaram. Parecia um trabalho simples – só mover e limpar coisas – mas, na prática, novatos costumavam se atrapalhar na primeira vez. No entanto, ao ver a linha de contenção do fogo perfeitamente organizada, até ele teve que admitir que a cena era surpreendente.
— Bom trabalho. Você mandou bem.
Ele deu um tapinha no ombro de Grayson e já estava se virando quando avistou um dos bombeiros se preparando para entrar na casa. Imediatamente, seu cenho se franziu.
— Dane! Dane Stryker!
Ao ouvir o chamado, Dane, que segurava a mangueira e se preparava para entrar, parou e olhou para trás. Wilkins se aproximou rapidamente e perguntou:
— Vai entrar sozinho? Não tem ninguém com você?
— Como pode ver.
A resposta veio no mesmo tom indiferente de sempre. A equipe estava no limite, cada um tentando conter o incêndio da melhor forma que podia.
— Reforços de outro batalhão devem chegar logo. Por que não espera para entrar com eles? Ir sozinho é perig–
Foi quando aconteceu.
— AAAAH! NÃO!
De repente, um homem tentou correr desesperado para dentro da casa em chamas. Dane reagiu rápido e o segurou, mas o sujeito se debatia com força, tentando se soltar.
— Não, Charlie! Charlie!
Chorando copiosamente e repetindo o nome, o homem chamou a atenção de Wilkins, que rapidamente perguntou:
— O que está acontecendo? Você é o dono da casa?
A pergunta, dita num tom calmo, mas urgente, fez o homem soluçar e acenar freneticamente com a cabeça. Wilkins prosseguiu.
— Meu nome é Darius Wilkins. Qual é o seu?
O homem levou alguns segundos para responder entre soluços.
— Certo, senhor George Light. Você mora sozinho? Tem mais alguém na casa?
— Charlie… Charlie ainda está lá dentro…
— Calma, nós vamos ajudá-lo… Quem é Charlie? Está dentro de casa agora?
Os olhos vermelhos e a voz embargada deixavam claro o desespero. Ele tentou se soltar, sem sucesso.
— Charlie sempre me espera sozinho… e agora também deve estar lá dentro, me esperando! Me solta! Eu preciso salvar Charlie!
— Entendi! Mas o senhor precisa se acalmar!
A voz firme de Wilkins finalmente fez o homem hesitar. Ele caiu de joelhos, sem forças, chorando. Wilkins observou por um momento e depois perguntou com mais cuidado:
— Quantos anos Charlie tem? É sua esposa? Seu parceiro?
O homem fungou e murmurou:
— Doze anos… loirinho… um anjinho…
— Entendi. Seu filho.
O homem não conseguia nem falar direito por causa do choro, então Wilkins se adiantou e completou a frase por ele. O outro apenas negou com a cabeça, soluçando.
— É um cachorro… Charlie é um cachorro…
Dane e Wilkins trocaram olhares rapidamente. Logo descobriram que Charlie era um golden retriever.
— E mais alguém? Tem chance de haver outra pessoa lá dentro?
Wilkins continuou perguntando, mas o homem voltou a negar com veemência.
— Minha única família é Charlie. Por favor, salvem ele… Ele é tudo o que eu tenho… Por favor…
E então, desabou de vez, chorando incontrolavelmente.
Wilkins deu um tapinha reconfortante em seu ombro e olhou ao redor, procurando alguém que pudesse ajudar. Mas, como esperado, não havia ninguém útil por perto. Só Grayson Miller, que era praticamente um peso morto.
Ao perceber o olhar de Wilkins, Grayson abriu um sorriso. Mas não era nada além de um reflexo automático, uma expressão vazia sem qualquer real intenção por trás. Wilkins franziu a testa com desgosto e desviou o rosto imediatamente, voltando a procurar qualquer outro voluntário.
Nada.
— Droga, isso é um problema… Não pode entrar sozinho.
O incêndio já estava grande demais. Se algo desse errado – se inalasse muita fumaça ou ficasse preso – não teria ninguém para ajudar. Deixá-lo entrar sem suporte seria um risco enorme.
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Continua..