Deseje-me se puder - Capítulo 31
— Agora temos que dar um jeito nesse desgraçado!
Diandre gritou, furioso.
— Isso aí! Vamos amarrá-lo e arrastá-lo para cá!
— E não esqueçam de dar uns socos e pontapés!
— Se o chefe tentar defender ele de novo, dessa vez eu derrubo o chefe junto!
— Eu também não vou segurar a vontade de arrebentar esse imbecil!
Os bombeiros estavam à beira de explodir, com raiva acumulada no limite. Se pudessem, já teriam saído correndo para caçar Grayson Miller e pendurá-lo de cabeça para baixo. Enquanto eles rugiam de indignação, Dane ficou em silêncio, sem se dar ao trabalho de se juntar à confusão. Sabia que, se chamasse atenção, iam dizer que ele era pior que o próprio Miller e só ia estragar o clima. Ele pensou: “Ah, eles vão esquecer isso logo”, e voltou a fazer seu exercício de levantamento de peso.
Foi exatamente nesse momento que o som estridente da sirene ecoou pela estação.
Uooooooon!
Todos os gritos cessaram ao mesmo tempo. Mas foi só por um segundo. Com anos de experiência, eles reagiram como molas sendo liberadas, saindo disparados para suas posições. Dane soltou os pesos e correu a toda velocidade. Em segundos, já estava de uniforme e do lado de fora, pronto para a ação.
Wilkins, já na viatura, abriu a porta do passageiro e gritou:
— Anda logo! Suba aí! Rápido, rápido!
Ele gesticulava sem parar, impaciente. Ezra, que estava prestes a entrar no caminhão, parou ao ouvir o chefe gritando, parecendo estar com os nervos à flor da pele. Os colegas atrás dele também pararam, e ele, parecendo confuso, olhou para o lado e gritou:
— Ei, Miller! O que você tá fazendo aí parado? Anda logo!
Os outros, que ainda estavam tentando entender, finalmente perceberam o que estava acontecendo e fizeram uma expressão feia.
Grayson, encostado despreocupadamente na parede, também franziu a testa, claramente sem entender por que estavam chamando ele. Ele franziu a testa, mas Ezra não ligou e continuou chamando ele.
— Entra logo, vamos! Vem cá, temos que ir!
— Você enlouqueceu?
Um dos caras, que demorou para entender a situação, agarrou o ombro de Ezra com urgência. Com os olhos arregalados e a voz baixa, ele pressionou Ezra:
— Por que diabos você chamou aquele lunático? Você acha que ele vai ajudar em quê?
— Pois é. Se ele não estragar tudo, já podemos nos considerar sortudos. Se der errado, vamos acabar em cinzas junto com o resto.
— Deixe esse idiota aí e suba logo no caminhão.
Os outros rapidamente se juntaram ao protesto, acrescentando seus próprios comentários. No papel, até fazia sentido, mas Ezra pensava diferente.
— Ah, tá bom. E se deixarmos ele aqui e, do nada, ele resolver tacar fogo no quartel? Quem vai estar vigiando essa peste?
Grayson Miller era, essencialmente, um desastre ambulante. Ele já fazia besteira suficiente na frente deles – imagina se ficasse sozinho? Não dava para prever o desastre que ele poderia causar. Com certeza, o quartel dos bombeiros viraria cinzas, e eles acabariam dormindo em barracas na rua.
O silêncio caiu de repente. Os olhares dos colegas vacilaram, e Ezra aproveitou para reforçar seu ponto.
— Se ele não estiver no nosso campo de visão, vai dar merda. É melhor levar ele junto e deixar ele por perto, de bobeira. Pelo menos assim, ou alguém do grupo fica de olho, ou algum curioso percebe se ele tentar fazer alguma loucura.
O argumento fazia sentido. Ainda mais considerando que, antes mesmo da ocorrência, já estavam falando dele. Ezra não estava exagerando.
— É… pensando bem, você tem razão.
Assim que um concordou, os outros logo acompanharam.
— Melhor levar. Só de imaginar ele solto por aí, já fico nervoso.
— Não que eu ache que ele vá realmente atear fogo em tudo, mas…
— Esse cara é um alfa dominante, um verdadeiro psicopata. Ele é perfeitamente capaz de fazer algo absurdo que a gente nem consegue imaginar, sem nem pestanejar. Temos que evitar que o nosso quartel desapareça, não é?
Se levá-lo junto pudesse evitar esse desastre, então valia a pena. Com essa lógica, o consenso foi imediato e, sem mais discussão, começaram a chamar Grayson em coro.
— Ei, Miller, anda logo! Finalmente temos uma ocorrência!”
— É, você passou nos testes, agora precisa agir como um bombeiro de verdade!
— Vamos logo, até arrumamos um lugar para você. Miller, venha cá, rápido!
Apesar da insistência, Grayson permaneceu parado, sem esconder a cara de desagrado. Mas eles não se deram por vencidos. Entre os gritos e o som insistente da sirene, estava claro que ninguém iria sair dali sem ele.
— Argh…
Soltando um suspiro irritado, Grayson se afastou da parede e começou a andar na direção do caminhão. Seu olhar exalava tédio, mas os outros ignoraram isso completamente, apenas esperando. Assim que chegou perto o suficiente, Ezra e os demais se adiantaram, agarraram os braços dele e o empurraram sem cerimônia para dentro do veículo.
— Vamos, vamos! Dane, tá esperando o quê? Sobe logo!
Os outros entraram apressados, chamando Dane, que assistia tudo com um olhar de puro desprezo. Sem dizer uma palavra, ele foi o último a subir.
De trás, a voz de Wilkins ecoou:
—Andem logo, estamos atrasados! Diandre, entra pelo outro lado! Todo mundo a bordo? Vamos partir!
Wilkins estava prestes a embarcar quando seus olhos pousaram em Grayson, que já estava confortavelmente sentado no banco de trás. Na mesma hora, as palavras do chefe do quartel vieram à mente, fazendo com que ele hesitasse por um momento. Mas não havia tempo a perder. Sem escolha, subiu no banco do carona e o motorista imediatamente arrancou.
O caminhão de bombeiros disparou pela estrada com a sirene ecoando pela cidade.
O incêndio havia começado em uma área residencial bem tranquila. Era um daqueles bairros antigos, sempre calmos e pacíficos, onde crianças corriam pelas ruas e idosos cuidavam de seus jardins. Um incêndio ali parecia fora de lugar.
— A minha sogra mora lá.
O comentário veio de um dos bombeiros, um pai de duas filhas, que parecia visivelmente inquieto. Preocupado com a família, ele já tinha pego o telefone para ligar para casa. Enquanto isso, outro colega se virou para Wilkins e perguntou:
— As pessoas lá já foram evacuadas?
— Eles provavelmente estão ocupados tentando apagar o fogo. Se o incêndio estiver muito grande, todos já devem ter saído. Espero que não haja vítimas… Precisamos chegar lá rápido para verificar.
O clima no caminhão era tenso, com conversas ansiosas indo e vindo. No meio disso, Dane, que até então estava apenas de braços cruzados esperando a chegada, percebeu algo estranho. Do outro lado do veículo, Grayson estava olhando diretamente para ele.
Quando seus olhos se encontraram, Dane sentiu aquele doce aroma que sempre percebia ao redor de Grayson, só que mais intenso. Não era por causa do ambiente fechado do caminhão. E ele não era o único a sentir isso – os outros também voltaram seus olhares para Grayson.
Em teoria, conter o próprio feromônio era uma questão básica de etiqueta TPO (Time, Place, Occasion/Tempo, Lugar e Ocasião) assim como respeitar um código de vestimenta em diferentes situações. Mas, claro, alfas dominantes como Grayson raramente se importavam com coisas triviais como boas maneiras.
Mesmo com os olhares desconfortáveis sobre ele, Grayson não demonstrou o menor incômodo. Pelo contrário, parecia até ligeiramente animado. Diferente de antes, quando resmungava por ter sido arrastado para a missão, agora seu rosto exibia um leve rubor, e um sorrisinho discreto nos lábios. Todos ficaram em silêncio ao ver a expressão de Grayson Miller, e até mesmo os colegas que antes reclamavam dele na sala de treinamento, agora evitavam olhar diretamente para ele. Dane pensou consigo mesmo: “É, era de se esperar.”
Dane, no entanto, não desviou. Pelo contrário, franziu o cenho, estreitou os olhos e se recostou na cadeira, abrindo as pernas em uma postura desafiadora. Grayson, por sua vez, manteve o olhar fixo nele.
Por um tempo, os dois apenas se encararam, sem trocar uma única palavra. No caminhão em movimento, o silêncio era quase sufocante.
Foi Grayson quem cedeu primeiro. Um sorriso torto apareceu em seu rosto, claramente carregado de sarcasmo. Dane reagiu com um sutil movimento da sobrancelha, mas não passou disso.
Enquanto o encarava, Grayson se lembrou de algo que alguém lhe disse uma vez:
〈Pode significar que, ao ajudar os outros em algo relacionado ao fogo, você encontrará essa pessoa. De qualquer forma, a palavra-chave é fogo.〉
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Continua….