Deseje-me se puder - Capítulo 30
***
Os colegas de Dane ficaram olhando, meio pasmados, enquanto ele saía apressado do bar. Quando ele desapareceu de vez, começaram a comentar.
— Agora que parei para pensar… Alguém já viu esse cara namorando sério?
— Ah, esses alfas escrotos são tudo assim. Mas, pensando bem, o Dane é pior. Ele só quer putaria mesmo.
— Ele só não quer ter que se responsabilizar por nada.
— É a mesma coisa, seu imbecil.
— É? Sei não…
No meio da conversa sem rumo, Ezra inclinou a cabeça, pensativo.
— Mas por que será que ele não namora? Quer dizer, ele transa, mas nunca se envolve.
Os palpites começaram a surgir.
— Vai ver já se ferrou feio antes.
— O quê? Tá dizendo que o Dane já levou um pé na bunda? De quem?
— Sei lá, tô chutando.
***
‘Que merda.’
Grayson estava encostado no caminhão dos bombeiros, a expressão fechada, encarando o nada. Já fazia mais de um mês que estava trabalhando ali, e durante esse tempo, tinha dormido com todas as mulheres da corporação. Até mesmo com uma funcionária da empresa onde ele foi dar treinamento de combate a incêndios, mas todas foram em vão. Nenhuma delas tinha uma marca em forma de borboleta no quadril.
Nenhuma delas tinha a droga da marca em forma de borboleta no quadril.
‘Que inferno está acontecendo?’
Ele passou as mãos no rosto, frustrado. Será que ele tinha entendido tudo errado? Não tinha sido feromônio coisa nenhuma e ele só tinha apagado do nada? Fazia sentido encontrar um ômega raro duas vezes na vida? Não, não fazia. Se fosse verdade, significava que essa pessoa estava por perto. E se estava por perto, como diabos ele ainda não tinha encontrado?
E além disso… Por que essa pessoa teria causado um choque de feromônio nele?
Antes, Grayson ficou tão empolgado com a ideia de encontrar seu “destinado” que nem parou para pensar nisso direito. Mas agora, pensando bem, ele só conseguia se sentir um idiota.
‘Duas vezes? Como assim, duas vezes?’
Se ele não conseguisse uma resposta para essa pergunta, teria que encarar o fato de que pode ter sido tudo um engano. Ele foi enganado por aquela charlatã.
Nas outras vezes, quando percebia que não ia encontrar seu “destinado”, simplesmente ia embora. Mas agora… Agora não podia fugir.
Ele soltou um gemido frustrado ao lembrar da promessa que fez para Ashley. Uma cagada e agora estava preso por um ano inteiro. Isso sim era azar.
— Puta que pariu.
Murmurou, irritado. Foi quando ouviu um toque de celular familiar. Parou no meio do xingamento e pegou o telefone no bolso. Quando viu o nome na tela, franziu a testa, incomodado. Mas não desligou.
Atendeu com um sorriso cínico.
— Ora, ora, Stacy. Que milagre é esse? Você ligando.
Grayson cumprimentou sua irmã gêmea que nasceu com 5 minutos de diferença com uma voz suave, e do outro lado veio a resposta.
[Ouvi dizer que você arrumou um emprego no corpo de bombeiros. Como está indo? Aconteceu alguma coisa interessante?]
Stacy, que já havia ouvido de seu pai que Grayson estava trabalhando no corpo de bombeiros, provavelmente esperou um mês para fazer essa pergunta. Ela calculou que um tempo assim seria necessário para que algo realmente emocionante acontecesse. Sua voz estava mais animada do que o normal, como se estivesse esperando alguma bomba, e Grayson respondeu de forma tranquila.
— Não. Nada aconteceu. Está tão tranquilo que todos estão dizendo que é a primeira vez que não há nem pequenos incêndios florestais.
Claro que Stacy não estava apenas curiosa para saber se havia ocorrido incêndios, mas ele deve ter entendido isso. Stacy resmungou, parecendo genuinamente decepcionada.
[Que pena, não é?]
Sem esperar uma reação, Stacy mudou de assunto.
[E você, já encontrou alguém novo?]
Agora, sua voz estava mais animada, como se tivesse voltado a se interessar. O que Stacy realmente queria era ver Grayson falhar de novo, só para se divertir com isso. Ela esperava ver alguém ser deixado de lado e se descontrolando, mas a resposta de Grayson foi bem diferente.
—Não, ainda não.
[Não me diga que está pensando em desistir?]
A voz dela estava cheia de desconfiança, e Grayson respondeu, devagar.
— De jeito nenhum, jamais.
Ele repetiu as palavras e, com calma, acrescentou:
—Eu nunca vou desistir. Pode demorar o tempo que for, mas eu vou encontrar.
Um sorriso leve apareceu no rosto de Grayson.
— Meu único e verdadeiro amor neste mundo.
[Espero que você encontre logo. E me avise primeiro quando encontrar, certo?]
Se fosse qualquer outra pessoa, provavelmente teria interpretado como uma mensagem de apoio sincero, cheia de interesse pelo futuro do ente querido. Mas não era qualquer outra pessoa. Era Stacy. Grayson sabia exatamente o que ela queria: que ele falhasse de novo, e que o caos surgisse depois disso. Mesmo assim, ele respondeu com calma.
— Claro, você é minha outra metade.
Na verdade, como gêmeos, “metade” não fazia muito sentido. Mas ele jogou essa frase de forma tão natural que nem se importou. Stacy, percebendo a mentira, riu de forma sarcástica e completou:
[Te amo, Grayson.]
—Te amo, Stacy.
Ambos disseram as palavras sem convicção, mas o tom de cada um era claro: eram só palavras vazias. Quando a ligação foi cortada, Grayson fez uma expressão feia e murmurou com um ar de desprezo:
— Maluca.
Ele xingou baixinho, mas nem isso o fez se sentir melhor. Passou a mão pelo cabelo, frustrado, e soltou um longo suspiro.
‘Agora o que eu vou fazer?’
Ele teria que ficar ali, preso por um ano inteiro, sem poder sair. Havia alguma forma de escapar dessa situação? Algo… qualquer coisa, alguma solução.
— E se eu botasse fogo no quartel dos bombeiros?
Ele falou em tom de brincadeira, mas a ideia não parecia tão ruim assim. PANN! Nesse momento, ouviu um barulho. Virou-se e viu Ezra, com o rosto pálido, olhando para ele com uma expressão de surpresa. Assim que seus olhares se encontraram, Ezra ficou tão desconcertado que rapidamente pegou uma lata caída e saiu apressado. Grayson ficou observando a cena por um instante, murmurando um xingamento baixo antes de desviar o olhar.
‘Não é uma ideia tão ruim assim’, pensou enquanto tocava o queixo. Mas antes que pudesse continuar com os próprios pensamentos, percebeu que Ezra estava espiando-o de trás de um prédio. Quando o viu correr em direção à sala de ginástica, Grayson apenas deu de ombros.
***
— Aquele cara, ele definitivamente é perigoso.
Assim que entrou correndo na sala de ginástica, Ezra gritou. Os colegas, que estavam focados nos aparelhos, o olharam, surpresos com o grito repentino. Ezra, com a cara pálida, apontou para trás enquanto continuava falando.
— Eu estava pegando uma bebida agora há pouco, e vi o Miller, e sabem o que aquele maluco estava murmurando sozinho? Ele disse que ia botar fogo no quartel dos bombeiros!
— O quê?!
— Sério? Esse maluco realmente falou isso?
Todos pararam o que estavam fazendo e se viraram para ele, com expressões sérias. Ezra, com o rosto ainda pálido, assentiu e olhou ao redor, ainda mais tenso.
— É verdade. Ele estava com uma cara séria, pensando em alguma coisa, e então falou isso. Fiquei tão chocado que nem perguntei o que ele queria dizer e vim correndo.
Os outros ficaram se olhando, perplexos. Se fosse qualquer outra pessoa, talvez fosse apenas uma explosão de raiva sem sentido. Mas Grayson… ele é outro nível. Aquele cara era maluco o suficiente para realmente fazer o que diz.
— Que diabos ele está falando de repente?”
Alguém perguntou, mas ninguém soube responder. Outro rapaz passou a mão pelos cabelos desgrenhados e falou nervosamente:
— Por que caralhos ele botaria fogo no quartel dos bombeiros? Ele enlouqueceu de vez?
— Dizem que, quando os feromônios se acumulam, os alfas dominantes ficam loucos.
— Ele já dormiu com todas as mulheres aqui, não é? E agora os feromônios estão se acumulando? Se for isso, então ele devia cortar o pau fora!
A conversa foi ficando cada vez mais agitada, com palavras pesadas sendo trocadas. O que diabos aconteceu com aquele cara? Desde então, ninguém no quartel dos bombeiros havia mexido com Miller. Claro, também não falavam com ele, mas Grayson não se importava com isso. Basicamente, eles haviam traçado uma linha clara e viviam como se estivessem em mundos completamente separados, ignorando-se mutuamente.
Mas o que Grayson havia dito agora era claramente uma provocação que ultrapassava os limites. Eles não podiam simplesmente ignorar isso. Botar fogo no quartel dos bombeiros, o lugar que deveria prevenir incêndios? De jeito nenhum!
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Continua…