Deseje-me se puder - Capítulo 28
‘Bom, vamos ver.’
Dane repassou a situação na cabeça. Se tivesse dado tudo de si, talvez não fosse impossível. Se tivesse derrubado Grayson e escalado a rocha primeiro…
Mas, honestamente? Isso podia ter dado muito errado. Um dos dois podia ter despencado de verdade. E Dane não estava nem um pouco a fim de arriscar a vida por uma aposta idiota. Quem ia querer morrer por uma besteira dessas? Além do mais, como alguém disse por aí, ele precisava estar inteiro para cuidar da Darling.
Sem falar que, era óbvio que as coisas não iam acabar bem se ele se metesse com Grayson Miller.
Aquele cara tinha um olhar persistente demais. E, convenhamos, alfas dominantes geralmente não batem muito bem da cabeça. Grayson, então, era o segundo filho da família Miller, já conhecido por ser um encrenqueiro de primeira. A última coisa que Dane queria era dor de cabeça.
— Se você tivesse levado a sério de verdade…
Diandre lançou um olhar atravessado, ao que Dane respondeu com um dar de ombros preguiçoso:
— Não tinha nenhum prêmio em jogo, para que se esforçar tanto só pra derrotar aquele idiota?
— Se tivesse prêmio, a história seria outra, hum?
Ezra perguntou, como quem já sabia a resposta.
Dane assentiu sem hesitar.
— Óbvio. Eu venceria, sem dúvida.
Afinal, Darling precisava de um check-up, gatos com mais de dez anos exigiam todo um cuidado especial.
Os colegas, que não faziam ideia do que se passava na cabeça dele, ficaram com uma cara de desgosto.
— Devíamos ter apostado 100 dólares.
Ezra lamentou, mas Wilkins balançou a cabeça.
— Já era. Esquece isso.
— É melhor focar no que vem pela frente.
Assim que alguém tentou colocar um ponto final no assunto, Diandre logo respondeu com sarcasmo.
— O que vem pela frente? Ah, você tá falando do fato de que agora estamos ferrados e vamos ter que sair para os resgates grudados no Miller?
Assim que as palavras foram ditas, o clima na mesa despencou. Ninguém respondeu, ninguém sequer resmungou. Só se ouviam copos sendo erguidos e garrafas vazias se acumulando. O silêncio pesou tanto que dava para ouvir claramente a conversa na mesa ao lado.
— Grayson, você se esforçou muito hoje. Deve estar exausto, né? Fazer um novato treinar naquele percurso foi muita sacanagem, sério.
— Como é que alguém pode ser tão mesquinho e infantil? Se tivessem metade da paciência do Grayson, não precisariam recorrer a essas provocações idiotas.
O tom era doce, quase consolador, mas transbordava um exagero na compaixão e uma pontinha de pena. Não era só ironia disfarçada – era uma forma habilidosa de diminuir os outros enquanto elogiava Grayson.
Então, uma voz mais baixa entrou na conversa:
— Mesmo depois de um dia desses, você ainda vai ter que liberar os feromônios, não é?
A pergunta soou cheia de pena, mas com um toque de insinuação. Uma mão deslizou de leve sobre a mesa, o corpo se inclinou sutilmente, e os dedos roçaram de propósito no braço dele. A respiração baixa e calculada quase se misturou ao som ambiente. Os caras na mesa ao lado fingiram que não estavam vendo nada, desviando os olhos, mas era óbvio que escutavam cada palavra.
— Deve ser um saco ter que trocar de parceiro toda vez só para lidar com isso. Não é incômodo?
A pergunta continuou, e outra voz entrou na conversa.
— Pois é, não seria mais fácil escolher alguém fixo?
— Ficar procurando um parceiro toda hora parece um trabalhão. Se fosse eu, resolveria isso de um jeito mais prático.
— Mas os alfas dominantes são diferentes de nós. É sempre assim? Vocês trocam de parceiro o tempo todo?
Diante da curiosidade geral, Grayson abriu um sorriso preguiçoso.
— Na maioria das vezes, sim.
Antes que alguém começasse a tirar mais conclusões, Grayson se adiantou:
— Mas, na verdade, estou em busca da minha alma gêmea.
— Alma gêmea?
— Só uma?
As mulheres repetiram suas palavras, visivelmente surpresas, enquanto os homens olharam para trás com expressões de puro espanto, como se tivessem acabado de ouvir a coisa mais absurda do mundo. Agora, todos estavam à espera do que Grayson iria dizer em seguida. Mas ele, completamente despreocupado, continuou:
— Igual ao meu pai e ao meu papai. Não importa o que aconteça, eles sempre protegem e confiam um no outro… A pessoa que vai ficar ao meu lado até o fim.
Ele pousou a mão sobre o peito e suspirou dramaticamente.
— A outra metade do meu coração está por aí em algum lugar. E eu vou encontrar essa pessoa.
— Meu Deus…
— Que romântico!
As mulheres suspiraram, encantadas, como se tivessem acabado de ouvir a declaração mais linda do universo. Mas os caras da outra mesa? Esses tiveram uma reação bem diferente.
— Que diabos esse idiota tá falando?
— O cara troca de mulher como quem troca de roupa e agora vem com essa de “metade do coração”? Fala sério.
Dane, até então, só observava, sem se importar nem um pouco com o quanto Grayson era problemático ou com as coisas que ele dizia. O que realmente interessava era manter distância dele – e, por enquanto, estava conseguindo.
Ele trocou olhares com a garçonete que tinha acabado de trazer mais uma rodada de cerveja, e quando ela deu um sorrisinho sugestivo, ele retribuiu de leve. Mas antes que pudesse sequer pensar em qualquer outra coisa, Ezra olhou para ele e fez uma careta.
— Nunca vi ninguém pior que você, Dane.
De repente, com todos os olhares voltados para ele, Dane parou por um instante, surpreso. Wilkins balançou a cabeça.
— Não, espera aí. Por pior que seja, Dane ainda está num nível diferente. —Por um segundo, parecia que Wilkins ia ficar do lado dele, mas aí veio o complemento: — Pelo menos ele não dorme com alguém de manhã e com outro a noite.
Dane franziu a testa, mas os outros não pararam por aí.
— Isso é porque ele está ocupado trabalhando. Quem sabe como ele se diverte nos dias de folga?
— Verdade.
— Aposto que troca três vezes por dia. O cara é praticamente um garanhão.
— Uhuu! Dane Stryker, o campeão invicto!
Dane ficou só observando enquanto o papo ia ladeira abaixo. O absurdo da conversa era evidente, mas como não estavam exatamente errados, ele preferiu só virar mais um gole da cerveja.
Entre as risadas e piadas, Diandre soltou de repente:
— Será que esse lance de “destinado” existe mesmo?
— Existe.
Ezra respondeu sem hesitar, balançando a cabeça com convicção. E, vindo dele, fazia sentido – afinal, o cara tinha casado com a namorada do colégio e já tinha três filhos com ela. Ninguém ali conseguia rebater isso.
Dane, por outro lado, olhou para ele com puro ceticismo.
— O grande amor da vida, aquele único pelo qual vale a pena apostar tudo?
— Isso mesmo!
Dane soltou uma risadinha carregada de ironia, mas, fosse pelo álcool ou pela confiança inabalável, Ezra simplesmente ergueu o copo e sorriu.
— Um brinde ao dia em que Dane finalmente encontrar esse alguém!
E, sem nem pensar, todos levantaram seus copos e brindaram, gargalhando.
Todos explodiram em gargalhadas, batendo os copos e virando mais um gole de cerveja. Dane riu junto, mas no caso dele, foi mais uma risada de puro deboche.
Talvez gostando da reação dele, Wilkins sorriu e resolveu continuar o assunto:
— Já que estamos falando disso… Não acha que já está na hora de sossegar um pouco? Não digo casar, mas pelo menos tentar um relacionamento sério. Que tal? Minha esposa tem várias amigas solteiras e bem legais. Quer que eu te apresente alguma?
— Não, valeu. Tô bem assim.
— Ah, Dane, mas…
Ezra tentou insistir, mas Dane nem deu espaço e cortou logo:
— Vou deixar bem claro: esse papo de amor é pura besteira. No fim das contas, não passa de um jogo hormonal.
— O quê?!
Ezra arregalou os olhos, como se tivesse acabado de ouvir a maior heresia do mundo. Mas Dane, sem se abalar, seguiu falando:
— No começo, você até se engana, acha que daria a vida por essa “grande paixão”. Mas é questão de tempo até perceber a burrada que fez e que perdeu tempo com algo que não valia nada. Depois de um tempo separados, duvido que se lembrem até da cara um do outro.
Os colegas piscaram, um pouco desconcertados com a frieza dele. Dane apenas deu um sorriso torto, carregado de ironia.
— Acreditar nessa baboseira e sair por aí “procurando” um amor verdadeiro… Isso sim é desperdício de vida. Ou a pessoa não tem noção do mundo, ou simplesmente está sem nada melhor para fazer.
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Continua…