Deseje-me se puder - Capítulo 27
Os bombeiros haviam feito vários vídeos para os candidatos, um deles era uma comparação entre bons e maus exemplos de como se comportar na entrevista…
— Ele falou exatamente a mesma coisa?
— Sim.
O chefe de bombeiros acenou com a cabeça, e Wilkins soltou uma risada de incredulidade.
— Que cara sem noção, hein? Talvez seja por ele ser um playboy rico. Ninguém em sã consciência faria igual.
— Pois é.
O chefe de bombeiros concordou, mas ainda tinha mais o que dizer.
— Mas o problema é que ele copiou tudo, até os gestos com as mãos.
Wilkins continuou com o sorriso bobo, piscando os olhos, sem acreditar.
— …E daí?
Impaciente com a pergunta idiota, o chefe disparou num tom mais rápido que o normal:
— Ele não só repetiu as respostas, ele imitou o vídeo inteiro! Expressão facial, gestos com os dedos, olhares, tosses no meio… até o jeito que ele mexia os olhos! Ele copiou tudo nas perguntas que apareceram no vídeo!
Wilkins ficou em choque. Ele sabia que algumas pessoas tentam decorar as respostas dos vídeos, mas isso normalmente só envolve a parte do que dizer, nada de imitar gestos e expressões.
— Mas… você deve ter feito umas perguntas que não estavam no vídeo, certo? Fez?
— Claro que sim. Mas aposto que ele encontrou as respostas em outro vídeo e fez igualzinho. Eu não conferi, mas tenho certeza.
Wilkins ficou sem palavras. O chefe, no entanto, continuou, com a voz cada vez mais dura:
— Agora entendeu? O cara é um psicopata. Então, antes que alguma merda aconteça, é melhor deixar ele quieto. Não mexa com ele! Ninguém sabe do que ele é capaz. Grayson Miller é um alfa dominante louco por causa dos feromônios, ele não bate bem da cabeça!
Wilkins só conseguiu engolir em seco e responder:
— Entendo…
No meio da confusão, um arrependimento repentino cresceu dentro dele. Talvez tivesse se metido numa encrenca desnecessária.
***
— Um brinde ao vencedor do dia!
Com o grito da Valentina, as mulheres que estavam reunidas levantaram seus copos de cerveja, gritando e comemorando. Enquanto todos brindavam e esvaziavam os copos, Grayson, o único homem ali, estava sentado com um sorriso no rosto.
— No fim, a gente sempre acaba vindo para cá.
Diante do comentário de Rivet, outra colega de trabalho deu de ombros.
— O que é familiar sempre vence, né? Sem contar que esse é um dos poucos lugares que comportam todo mundo.
Era difícil encontrar um bar que aguentasse tanta gente. Por isso, sempre que tinham uma confraternização ou algum encontro, eles acabavam indo para esse bar. Era o mesmo lugar onde fizeram a festa de boas-vindas quando Grayson chegou.
— Os caras podiam muito bem sentar aqui conosco. Que frescura.
Valentina jogou um palito de batata na boca e lançou um olhar para o lado, chamando a atenção geral. Como se tivessem ensaiado, todas olharam na mesma direção. Havia duas mesas grandes lado a lado, ocupadas pelo pessoal que tinha saído do trabalho junto. Mas estava bem claro que o grupo havia se dividido: de um lado, Grayson e algumas garotas; do outro, Wilkins e os outros homens. A diferença não era só na quantidade de testosterona por metro quadrado, mas também no clima que rolava em cada mesa.
Com a provocação escancarada, Diandre resmungou com desdém:
— Nós, ao contrário de vocês, não precisamos beber às custas daquele babaca.
— Preferimos ficar entre nós. Obrigado, pelo convite, mas vamos recusar.
Wilkins se adiantou, tentando manter a pose educada. Ainda tinha bem fresco na cabeça o aviso do chefe. Em questão de segundos, sua mente viajou para um cenário catastrófico: um comentário atravessado, uma briga entre as mesas, Grayson surtando, virando a mesa e, com um sorriso tranquilo, quebrando uma garrafa de cerveja na cabeça de Diandre.
O problema não era o álcool. Não era a briga. O problema era Grayson. O chefe tinha razão.
Grayson fingiu beber um gole de cerveja e desviou o olhar, soltando uma tosse discreta. As mulheres entenderam a indireta e simplesmente o cercaram ainda mais, deixando os homens de lado sem a menor cerimônia. Para elas, o ego ferido dos colegas não tinha a menor importância. Na real, a atitude deles ultimamente estava cada vez mais patética. Enquanto o outro grupo ria e se divertia, os homens ficavam em silêncio, focados em virar os copos de cerveja.
Se tivessem ido para outro bar, não estariam nessa situação tão deprimente. Quando Grayson falou que ia pagar a bebida, todos toparam na hora, mas o problema foi não pensar que não tinha outro lugar decente para ir. Agora, com a outra mesa lotada de risadas e bom humor, era impossível animar o próprio grupo.
— Caramba, estamos num velório ou o quê? Que clima é esse?
Diandre finalmente perdeu a paciência e soltou a pergunta em voz baixa. Ezra suspirou e respondeu, sem muita energia:
— Sei lá… também não tem muito motivo para comemorar, não é?
O olhar dos outros deixava claro que concordavam. Isso só fez Diandre explodir ainda mais.
— Mas vocês precisam ficar tão na fossa assim? Olhem para lá. A gente não pode perder feio assim! Bora, todo mundo rindo! Agora!
Os caras trocaram olhares hesitantes antes de forçar umas risadas secas.
— Hahaha…
— Haha… ha…
Diandre, para mostrar que tava certo, deu uma gargalhada alta e bateu na coxa.
— WAHAHA! Hahahaha! Wahahaha!
O resto do grupo tentou acompanhar, mas nem precisava de muito esforço para notar o quão forçado estava. Pior, mesmo com toda essa cena ridícula, as mulheres da outra mesa nem se deram ao trabalho de olhar na direção deles. No fim, parecia brincadeira de moleque de escola tentando chamar atenção da garota que gosta.
— Cara, para com isso. Tá mais vergonhoso ainda.
A bronca de Ezra fez todos se calarem de vez. Como tinham chegado nesse ponto? O silêncio desanimado voltou a dominar a mesa, até que Wilkins, depois de esvaziar o copo, largou o vidro na mesa e quebrou o clima com um comentário inesperado.
— Perder acontece. Isso a gente aceita. Mas tem uma coisa que eu simplesmente não consigo engolir.
O grupo se virou para ele, curioso. Wilkins manteve o olhar fixo em Dane e perguntou:
— O que diabos aconteceu? Tá certo, você chegou depois, mas não foi só isso. Alguma coisa rolou, vai dizer que não?
— Pois é! Cara, estamos morrendo de curiosidade. Como diabos aquele desgraçado conseguiu te vencer?
Diandre foi direto ao ponto, falando rápido demais, ansioso por respostas. Sob os olhares pressionando por uma explicação, Dane respondeu de forma indiferente:
— Nada demais. Só trocamos uns socos.
— Vocês brigaram?! Por quê?
— Do nada?
Todos ficaram chocados e começaram a perguntar o motivo, mas Dane não respondeu. Diandre apenas tomou um gole de cerveja, parecendo ansioso. Dane nem olhou para ele e disse:
— Eu só tive vontade de dar um soco nele.
Todos ficaram confusos e se olharam, mas o que ele disse não era totalmente absurdo. Ezra concordou, balançando a cabeça.
— Faz sentido. Eu mesmo me seguro para não meter uma porrada nele todo santo dia.
— Tipo agora?
Assim que alguém concordou, a confissão coletiva começou.
— Cara, já pensei em trancar ele no depósito mais vezes do que posso contar.
— Eu já cogitei furar os pneus daquele maldito Jaguar.
— Se eu conseguisse dar só um soco bem dado naquela cara de babaca, minha vida estaria completa.
— Não, guarde seus desejos para algo mais importante. Eu quero ganhar na loteria.
— Filho da puta!
Depois de um pequeno momento de agressão justificada pelo comentário fora de contexto, a conversa seguiu seu rumo.
— Certo, vocês brigaram. Mas por que você chegou depois?
Diante da pergunta de Ezra, Dane fez uma breve pausa antes de responder:
— Estávamos trocando socos, rolamos para o lado errado e quase caímos do penhasco.
— O QUÊ?!
— Aquele penhasco no fim da trilha? Caralho, vocês são doidos!
O choque geral tomou conta da mesa, mas Dane deu de ombros, sem se abalar.
— Não precisa desse drama todo. No fim, não aconteceu nada.
Bem… essa era metade da verdade. Eles realmente não tinham caído, mas por um triz. Acabaram presos no meio do penhasco e tiveram que escalar de volta. O que significava que, mesmo depois de se espancarem, precisaram trabalhar juntos para não morrer. Os dois encontraram um caminho para subir quase ao mesmo tempo. E então…
Dane levou o copo aos lábios e completou, sem pressa:
— Quase caímos, mas conseguimos subir, e Miller foi mais rápido que eu, e é isso.
O resumo completamente seco fez os outros se entreolharem, desconfiados. Até que um deles estreitou os olhos e perguntou:
— Mas falando sério, você podia ter ganhado dele, não podia?
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Continua…