Deseje-me se puder - Capítulo 26
No fim das contas, quem saiu ganhando foi o Dane.
Todo mundo pensou a mesma coisa até que, de repente, alguém lembrou de um detalhe importante.
— Pera aí… Então quem ganhou essa disputa?
O clima mudou na hora. Esse tipo de coisa não podia ser ignorado.
— Ué, óbvio que foi o Dane. O Miller trapaceou.
— Trapaceou? Como?
— Sei lá, mas não tem como o Dane perder para aquele desgraçado. Com certeza ele fez alguma sacanagem.
— Verdade, o Miller faria algo assim. Psicopata daquele jeito… E ainda por cima é um alfa dominante.
Os caras que estavam trocando opiniões agora voltaram sua atenção para o Dane.
— Confessa, cara. O que aconteceu?
— Não tem como aquele cara ter te vencido! Ele deve ter jogado sujo, certeza!
— Pode falar, estamos do seu lado.
— É, não tem como você ter perdido pro Miller. Você é o Dane Striker!
A confiança coletiva era impressionante. Mas Dane não parecia nem um pouco empolgado. Ele desviou o olhar com cara de quem queria estar em qualquer outro lugar. Grayson Miller ainda estava por perto. Parecia que ele estava só esperando para ver o que ia acontecer.
Dane soltou um suspiro cansado antes de finalmente responder:
— Eu perdi.
— Isso aí, sabia que…
— O quê?! O que você disse?
O grito veio na mesma hora. Ezra arregalou os olhos, chocado. Diandre também ficou confuso e repetiu a mesma pergunta várias vezes. Dane só coçou a nuca e respondeu num tom cansado:
— Todo mundo viu, eu cheguei depois. Aquele babaca ganhou. Vocês mesmos viram, não tem nada para discutir.
— M-Mas… mas… ele trapaceou, não foi?!
Alguém perguntou desesperado, gaguejando tanto que parecia que a vida dele dependia da resposta. Outros logo entraram na conversa:
— Isso mesmo! Se tivesse sido um jogo limpo, você não teria perdido. Você é o nosso melhor bombeiro!
— Fala a verdade, Dane Striker. Ele te ameaçou? Foi isso?”
— Ah, pelo amor de Deus, como se o Dane fosse cair numa ameaça… Se fosse por dinheiro, até dava para suspeitar.
— Espera… ele te pagou?! Quanto? Ei, eu cubro o valor! Só fala a verdade!
— Eu também ajudo, é questão de honra, não dá para aceitar essa derrota!
— Eu também, eu também!
Todos estavam cheios de entusiasmo, olhando fixamente para Dane, esperando que ele falasse. Já estavam tirando as carteiras dos bolsos, prontos para fazer uma vaquinha pelo orgulho do batalhão. Que, no máximo, seria uns 423 dólares e 82 centavos.
Mas, claro, Dane não ia dar a resposta que eles queriam.
— Vou repetir, eu entendo a indignação, mas isso não muda os fatos. Eu perdi. O Grayson Miller ganhou.
O grupo ficou em silêncio, com caras de quem tinha acabado de ver o mundo desmoronar. O plano perfeito de acabar com a arrogância do Miller tinha ido para o ralo.
Dane reforçou, como se quisesse que a mensagem entrasse na cabeça deles de vez:
— Eu cheguei atrasado. Ele cruzou a linha antes. Então, o vencedor é Grayson Miller.
Ele apontou para si mesmo, depois para o outro. A atenção dos homens seguiu seu dedo até parar no próprio Miller, que, é claro, sorriu como se fosse a porra do sol brilhando e ainda acenou, todo convencido. “ Isso mesmo, eu ganhei”, dizia a cara dele.
Ninguém sorriu de volta.
Só então algumas mulheres do batalhão começaram a comentar.
— Que pena, Dane. Mas se você perdeu, talvez tenha cometido algum erro.
— Pelo menos você não se machucou muito, isso já é bom. No fim, isso também depende de sorte.
Os comentários de conforto começaram a aparecer. Mas antes que a conversa esfriasse, Valentina resolveu gritar.
— O Grayson vai pagar uma rodada de drinks. Quem vai?
Já estava quase na hora de sair do serviço. A proposta veio no momento perfeito, e a reação foi instantânea. As mulheres comemoraram, levantando os braços animadas, enquanto os homens fizeram cara de desgosto e lançaram olhares furiosos para Grayson.
— Não podemos deixar barato.
Wilkins cerrou os dentes e chamou os outros.
— Eu pago a nossa parte. Vamos beber até cair, entendido?
— Isso aí!
Os homens gritaram em resposta, como se estivessem indo para a batalha.
Dane levantou a mão, parecendo querer dizer algo, mas Wilkins cortou antes mesmo que ele abrisse a boca.
— Nem tente. Não importa qual desculpa vai inventar, hoje não tem como escapar. E nem adianta falar que tem um gato esperando em casa, porque todo mundo sabe que, se não for para o bar, vai acabar bebendo sozinho.
— Não é desculpa, a gata realmente está…
— Ah, por favor. Nós sabemos que ela sabe comer muito bem sem ajuda.
— É isso aí! Além disso, você ainda ganhou dois dias de folga remunerados. Não tem como você fugir dessa.
Ezra reforçou ao lado, selando de vez o destino de Dane.
Ele franziu a testa, visivelmente contrariado, mas no fim abaixou a mão. Não adiantava resistir. Assim que o expediente terminou, o batalhão inteiro saiu praticamente em formação, seguindo para o bar. Cercaram Dane de todos os lados, impedindo qualquer tentativa de fuga. Ele nem tentou.
Só que, antes disso, o Wilkins teve que aguentar uma baita bronca do chefe.
Um estrondo ecoou quando o comandante bateu a mão na mesa, fazendo Wilkins se encolher, apesar do tamanho. O homem bufava de raiva, fulminando-o com o olhar.
— Quem te deu permissão para fazer isso, hein? Está com tempo sobrando? Se está sem nada para fazer, por que não se oferece para um trabalho voluntário numa escola?
— Desculpe, senhor…
Wilkins, apesar do tamanho, encolheu os ombros e abaixou a cabeça, pedindo desculpas com a voz fraca. Mas, claro, ele também tinha seus motivos.
— Mas, chefe, foi a única solução que encontrei. Desde que aquele desgraçado chegou, o time está um caos. Precisávamos dar um jeito de cortar as asinhas dele.
— Ah, é? E conseguiu?
A voz do comandante explodiu pelo escritório, fazendo Wilkins engolir em seco antes de responder, num fio de voz:
— …Não.
O chefe bufou, puxou a gravata para afrouxá-la e bateu no próprio peito, como se aquilo fosse ajudar a aliviar a frustração.
— Eu falei ou não falei para deixarem aquele cara em paz? Hein? Quantas vezes eu preciso repetir?! Por que vocês insistem em arranjar problema?! Acham que eu falo à toa?!
— …Mas não dava para simplesmente ignorar. O senhor mesmo viu! Desde que ele chegou, todo mundo tá fora de controle!
— Isso me dá uma dor de cabeça dos infernos… Era só um ano! Um ano, Wilkins! E vocês não aguentaram nem isso?! Você e seu time não têm um pingo de juízo, não?!
— Bom… O Miller realmente é assustador, mas…
— O Miller é o menor dos problemas! O problema é o Grayson! Esse desgraçado!
O chefe gritou, parecendo estar à beira de um ataque de nervos. Wilkins ficou confuso, piscando os olhos e apenas olhando para o chefe. Ele pensou que Grayson era só um cara bagunceiro e folgado. Todo mundo dizia que os alfas dominantes eram meio psicopatas, mas até agora ele não tinha feito nada de muito fora do comum.
Vendo a expressão confusa do líder da equipe, o chefe respirou fundo e falou com uma voz um pouco mais calma.
— Você sabe como foi a entrevista dele?
— …Não, senhor.
— Pois é. Óbvio que não. Nunca contei para ninguém.
Com essa resposta direta do chefe, Wilkins ficou completamente perplexo. Vendo a expressão perdida do subordinado, o chefe continuou com sua voz grave:
— As perguntas que fiz para o Miller eram bem básicas — o chefe começou. — Por que ele queria ser bombeiro, o que ele planejava fazer na corporação, se já tinha experiência em alguma outra profissão… essas coisas.
Wilkins assentiu. Realmente, eram perguntas padrão em qualquer entrevista. Ele esperou, meio perdido, até que o chefe continuou:
— Sabe o que o Miller respondeu?
— Não, porque o senhor ainda não contou.
Wilkins, esperto depois da última bronca, se adiantou na resposta. O chefe não pareceu muito satisfeito com a ousadia, mas seguiu falando:
— As respostas dele foram perfeitas. Sem um único erro.
— …E isso é ruim por quê?
Ainda sem entender, Wilkins ergueu uma sobrancelha. O chefe, de repente, apoiou as mãos na mesa e se inclinou para encará-lo diretamente nos olhos.
— Porque ele respondeu exatamente igual ao vídeo. Palavra por palavra.
— …Vídeo?
Wilkins piscou algumas vezes antes de finalmente se tocar.
— …Ah!
O chefe assentiu e recostou-se novamente na cadeira.
— Isso mesmo. Aquele vídeo que fizemos para treinamento. O que colocamos no site.
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Continua…